Pier Paolo Pasolini. Reprodução Wikimedia Commons.
Até o dia 17 de agosto, filmes, encontros e debates – organizados pelo Sesc São Paulo junto do Instituto Italiano di Cultura – homenageiam Pier Paolo Pasolini, emblemático cineasta italiano cujos 100 anos teriam sido completos em 2022. Ao todo, 19 filmes serão projetados no CineSesc, em cópias restauradas em 2k e 4K e uma sessão especial em 35mm. Um ciclo de palestras on-line com a presença de professores e críticos será realizado pelo Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. Além disso, duas aulas magnas sobre Pasolini com pesquisadores italianos serão disponibilizadas on-line. No dia 17 de agosto, cinco títulos dirigidos por Pasolini serão disponibilizados gratuitamente na plataforma Sesc Digital, onde ficam disponíveis por 30 dias ou até esgotarem os limites de visualização.
Para Michele Gialdroni, diretor do Istituto Italiano di Cultura de São Paulo, o centenário de Pasolini é uma oportunidade de homenagear a vida e obra de um autor inevitável. “Todos têm seu Pasolini, o apocalíptico e o elegíaco, o violento e o delicado, o comunista e o católico, o tradicionalista e o moderníssimo, o clássico e o vanguardista, o intelectual sofisticado e o frequentador das ruas de subúrbio, o filólogo e o cineasta, o poeta e o colunista. Eu também tenho meu próprio Pasolini”, declara.
Nascido em 5 de março de 1922, em Bolonha, no norte da Itália, Pier Paolo Pasolini era gay, católico e comunista. Formou-se em Estudos Literários pela Universidade de Bolonha, publicou livros de poesia, contos e romances. Foi poeta, editor, ensaísta, roteirista, jornalista e crítico cultural. Tornou-se cineasta em torno dos seus quarenta anos, ganhando assim projeção internacional e uma obra atacada por todos os lados. Inevitável nela era a crítica à sociedade do consumo e à burguesia.
Entre os destaques da programação (clique aqui para acessá-la por completo), o público que estiver em São Paulo poderá assistir ao primeiro longa-metragem do diretor, Accattone – Desajuste Social (1961); Mamma Roma (1962) – sobre uma prostituta de meia-idade que sonha em mudar de classe social para poder voltar a viver com seu filho adolescente, Ettore; O Evangelho Segundo São Mateus (1964) – prêmio do juri no Festival de Veneza; à trilogia da vida, realizada pouco antes de sua morte precoce, em 1975, e formada pelos filmes Decameron (1971), Contos de Canterbury (1972) e As Mil e uma Noites (1974); e à sua última produção Salò, ou os 120 Dias de Sodoma (1975), adaptação da obra do Marquês de Sade, onde o cineasta apresenta sua visão sobre o poder, a sexualidade, o conformismo e a juventude italiana dos anos 1970.
A fim de dar conta da extensa obra e pensamento de Pier Paolo Pasolini, um ciclo de quatro palestras apresenta diferentes aspectos e interpretações sobre seu trabalho. As palestras acontecem online, sempre das 15h às 17h, em youtube.com/cpfsesc.
O cinema moderno de Pasolini
08/08, das 15h às 17h
Uma abordagem sobre a concepção de Pasolini do cinema moderno como um “cinema de poesia”; uma formulação que supõe que este cinema, ao expressar a visão de mundo de seu autor, imprime, ao mesmo tempo, toda ênfase à “função poética da linguagem”. Ou seja, aquela construção formal que faz a obra de arte chamar a atenção sobre si mesma, ao contrário do cinema clássico que procura fazer com que a tela se torne uma janela transparente para o mundo. Colocada esta premissa, o objetivo é apresentar uma reflexão sobre a sua noção mais original: a de “subjetiva indireta livre” formulada a partir de uma reflexão que parte do chamado “estilo indireto livre”, conceito usado pela teoria do romance para qualificar um procedimento do narrador em sua expressão do ponto de vista de uma determinada personagem. Com Ismail Xavier, pesquisador, crítico e professor de cinema. Professor associado da Universidade de São Paulo, publicou diversos livros e artigos que são referência na área de cinema no Brasil e internacionalmente.
A lama de outras era: anacronismo como resistência no cinema de Pasolini
09/08, das 15h às 17h
Frequentemente evocado como grande polemista, Pasolini assumiu artística e biograficamente o combate contra uma forma pervasiva de fascismo que ganhava escala na sociedade italiana dos anos 1960 e 1970: a onipresença do consumo. Assim, ele engendra um universo poético que manifesta uma tomada de posição política: figurativizações de formas ancestrais e periféricas da vida social representam uma via de resistência contra a homogeneização das diferenças culturais. A estética apocalíptica do cineasta instaura assim a dinâmica do anacronismo: no interior da própria lógica industrial burguesa, emergem as temporalidades e mentalidades disruptivas de um mundo arcaico que não se deixa reduzir à assimilação mercadológica. Com Mariana Duccini, doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. É coorganizadora dos livros “Gêneros cinematográficos e audiovisuais: perspectivas contemporâneas” (volume 2 e volume 3, prelo).
A influência de Pasolini na vida cultural brasileira
15/08, das 15h às 17h
Pier Paolo Pasolini, poeta, romancista, cineasta, crítico, semiólogo, intelectual de intervenção, faria 100 anos em 2022. O fio condutor da aula é resumido nas palavras de Roberto Esposito: “o pensamento de Pasolini prospera nas zonas mais densas da matéria social: a política, a história e a vida”. Tanto os poemas e narrativas, os filmes como seu ensaísmo crítico serão vistos num constante movimento de experimentação que aterrizam, em ondas, na vida cultural brasileira desde o Cinema Novo, nos anos 60, até as mais recentes traduções como as dos poemas de “As Cinzas de Gramsci” e do ensaísmo de urgência do livro Escritos corsários (Editora 34, 2020). Com Maria Betânia Amoroso, professora colaboradora no Departamento de Teoria Literária da Unicamp, Livre Docente na área de Literatura Comparada. Entre os autores estudados, é central o conjunto da produção de Pier Paolo Pasolini.
A semiologia da realidade de Pasolini
16/08, das 15h às 17h
A palestra parte de um exercício especulativo: que leitura faria Pasolini da realidade atual, veria ele aí a emergência de um terceiro tipo de fascismo? Enquanto realizava filmes herméticos que causavam escândalo e eram alvo da censura e da homofobia, o cineasta formulava uma teoria da vida a partir de seu estudo da linguagem do cinema. Assim como a montagem organiza e dá sentido ao filme, Pasolini atribuiu à morte o poder de organizar o sentido da existência. A partir desse insight, ele passa a ler a realidade como um discurso vivo, atribuindo ao consumo uma revolução antropológica, capaz de produzir a mutação de um povo inteiro. Tal modalidade de fascismo, chamado de consumismo, era ainda mais insidioso do que o fascismo histórico. Com Luiz Nazário, professor titular de Cinema da Escola de Belas Artes da UFMG, doutor em História pela USP. Escritor e ensaísta, publicou, entre outros, os livros “Todos os corpos de Pasolini” (2007) e “O cinema errante” (2013).
Um dos assentos retirados do Pacaembu, agora à venda como um móvel na TokStok/Foto: Divulgação
Na última quarta-feira (27), a controversa concessão do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, teve mais um desdobramento no mínimo insólito: de um conjunto de 8 mil assentos, 600 foram transformados em cadeiras e banquetas pela TokStok, com preços que chegam até quase R$ 1800. Os itens foram doados à loja, e a renda será revertida para a fundação Gol de Letra. Logo após o anúncio da comercialização dos assentos, houve uma saraivada de críticas na internet.
“Não há nenhuma bondade aqui. Isso é fazer caridade com o chapéu alheio, no caso o chapéu do meu, do seu, do nosso Pacaembu”, escreveu Deborah Neves, em sua conta numa rede social. Doutora em História e especialista em Patrimônio Cultural, Deborah afirma que “as cadeiras […] se tornaram objeto de desejo”, “um ativo que poderá ser vendido pelo valor do fetiche”, enquanto “a concessionária privada […] está dragando o Pacaembu, esvaziando seu sentido, seu valor e deixando apenas o simulacro de um dos mais importantes estádios do País”.
Para urbanistas ouvidos pela reportagem, a doação dos assentos, que são bens públicos, de um patrimônio tombado por órgãos do Estado e do município, deveria ter ocorrido diretamente para uma entidade sem fins lucrativos, que decidiria a sua destinação. O repasse imediato ao setor privado permitiu que uma marca realizasse, a partir da iniciativa, uma ação de marketing, com uma roupagem de responsabilidade social. Uma crítica que reverbera outra passagem do texto de Deborah Neves: “A Fundação Gol de Letra deveria recusar essa reversão e cobrar que as pessoas doem diretamente sem dilapidar a história, a memória, a honra e o patrimônio do futebol”.
Diretor geral da Gol de Letra, Sóstenes Oliveira conta à arte!brasileiros que a fundação foi procurada em junho, não pela Allegra ou pela TokStok, mas pela agência de publicidade da empresa de decoração. “Fomos consultados pela DPZ se toparíamos participar. Naquele momento, havia ainda a possibilidade de que mais de uma entidade fosse beneficiada. A gente jamais iria atrás da Allegra ou coisa parecida, mas nós aceitamos. Enquanto convidados, e como não entendo os meandros do contrato de concessão, achamos bonita a iniciativa de dar uma utilidade, com apelo estético, ao que iria ser descartado. É claro que se trata de uma ação também de marketing, e que isso beneficia a marca”.
Após o anúncio feito ontem (28), de que o vereador Celso Giannazi (PSOL) acionou o Ministério Público paulista e o Tribunal de Contas do Município de São Paulo contra a venda, Oliveira consultou advogados, que consideram “a campanha um ato com base legal”. A verba, segundo ele, será destinada a projetos e programas da fundação, que acontecem no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A reportagem procurou a Allegra e a TokStok para esclarecer a linha do tempo e os critérios para a doação e a avaliação dos assentos, assim como detalhes do processo de adaptação deles para móveis, mas não obteve essas informações. A concessionária afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a avaliação ocorreu “entre janeiro de 2020 e agora”, e ressaltou que não eram itens originais, mas sim “assentos que foram implantados nos anos 1990 e seriam descartados no processo de reforma das arquibancadas leste e oeste”, o que não subtrai deles o caráter de bem público, tampouco seu valor como memória do patrimônio. Comunicou ainda que seu porta-voz está fora do Brasil até o dia 5/8 e não ofereceu uma alternativa para entrevistas.
Já a empresa de decoração, também via assessoria, não indicou um representante, afirmando que iria apenas “seguir o posicionamento oficial, feito em conjunto com a Allegra”. Ambos divulgaram uma nota em que qualificam a ação como uma “iniciativa socioambiental” e ressaltam que “não há qualquer restrição legal ou contratual”. A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Esportes (SEME), confirmou a ausência de restrições, declarou que cabia à Allegra “realizar a destinação e/ou descarte dos materiais e equipamentos existentes no Complexo do Pacaembu” e que “o reaproveitamento das cadeiras evitou seu descarte, dando a elas um novo propósito.”
Em entrevista à arte!brasileiros, Margareth Matiko Uemura, coordenadora do Instituto Pólis, organização da sociedade civil (OSC), de atuação nacional sobre questões relacionadas ao direito à cidade, considera que doar algo público para o privado é “muito estranho”, que a cessão dos assentos deveria ter sido feita diretamente a uma entidade sem fins lucrativos, como a própria Gol de Letra, não para uma empresa privada.
“A concessão não deveria permitir o desfazimento do patrimônio público. Afinal, o poder público não está doando aqueles bens, a concessionária não pode fazer o que quer. As concessões são longevas, mas, ao fim, o patrimônio volta ao poder público. No caso agora do Pacaembu, voltará sem essas cadeiras. É uma questão relevante, e as regras devem ser claras no processo de concessão e para a população”, afirma a arquiteta e urbanista.
A controvérsia anterior
A venda dos assentos é mais um episódio do controverso processo de concessão do estádio, do qual a Allegra saiu vencedora em janeiro de 2020, quando assumiu a gestão do Complexo Esportivo do Pacaembu por 35 anos. Até então sob gestão da prefeitura, o equipamento público, inaugurado na década de 40, havia sido tombado em 1988 pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) e, em 1998, pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), orgão da esfera estadual.
Em maio, a Allegra demoliu as duas arquibancadas centrais (leste e oeste) do estádio, sob a alegação de que precisava criar áreas de circulação de pessoas e ainda iniciar a construção, sob os assentos do lado da Rua Itápolis, de uma arena de e-sports, nome dado a competições com jogos virtuais. A concessionária afirmou, à época, que tinha autorização do Condephaat, o que foi confirmado em nota da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, à qual o conselho está ligado. O comunicado informa que “no projeto aprovado pelo Condephaat está prevista a demolição e reconstrução das arquibancadas laterais”. A Allegra divulgou que ambas as estruturas serão refeitas até a reabertura do estádio, em janeiro de 2024.
O arquiteto e urbanista Marcio Novaes Coelho Jr., que foi técnico do Condephaat de 2003 a 2007, e é professor de Preservação do Patrimônio na Faap e na Universidade Presbiteriana Mackenzie, queixa-se de que há falta de informação relativa ao processo como um todo. Quando ocorreu a demolição, Coelho Jr., que também é Diretor de Patrimônio Cultural da Associação Viva Pacaembu, questionou técnicos do conselho sobre onde poderia consultar as aprovações, e eles, por sua vez, indicaram um site sobre o projeto, mantido pela própria concessionária. “Eu entrei lá, e há menção a apenas um dos lados das arquibancadas”, conta.
Para o arquiteto, ainda que a Allegra tenha essas autorizações, trata-se de um bem tombado, e não se pode destruí-lo, alegando apenas que vai reconstruí-lo. “Isso não existe em nenhum lugar do mundo, nenhuma carta de preservação patrimonial fala sobre substituição do que foi demolido. Conceitualmente, é completamente equivocado. E, no caso do Pacaembu, há um agravante: tanto no tombamento do Conpresp quanto no do Condephaat, o primeiro item de reconhecimento de seu valor patrimonial fala como o estádio foi implantado de modo a tirar proveito de topografia do terreno, que formava uma arquibancada natural. Então ela era uma camada fina de concreto sobre a terra. Ainda que seja um valor simbólico, refere-se à importante relação da arquitetura com o território naquele projeto”, diz.
O argumento ecoa uma postagem em rede social feita à época da demolição por Nabil Bonduki, professor da FAU-USP: “As arquibancadas do Estádio do Pacaembu, tombado pelo patrimônio, assentadas sobre o talude da grota do córrego Pacaembu, em um exemplo da arquitetura em diálogo com o meio físico, foram destruídas pela concessionária Allegra Pacaembu”. Em entrevista à arte!brasileiros, Bonduki diz que, quando olhou o projeto, achou que a concessionária iria escavar sob a arquibancada, “fazendo uma estrutura de concreto por dentro, mantendo a parte de cima intacta”, explica. “Do ponto de vista patrimonial, a demolição foi um desastre.”
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Pacaembu, após demolição das arquibancadas, em maio/Reprodução: Twitter de Nabil Bonduki, professor da FAU-USP
Pacaembu, após demolição das arquibancadas, em maio/Reprodução: Twitter de Nabil Bonduki, professor da FAU-USP
Quanto às cadeiras, Bonduki diz que ao menos uma fração dos assentos poderia ter sido recuperada e mantida no estádio, como parte de sua memória. Para ele, se as pessoas estão pagando até R$ 1800 por uma cadeira, é porque tem valor histórico, e isso deveria ser usufruído por todos e não apenas por quem pode pagar. “Mas a Allegra se comporta como se aquilo fosse uma propriedade privada. Há uma concessão do estádio, e eles estão usando tudo o que está lá para exploração econômica. Você está pegando um estádio e transformando quase 100%, na região mais valorizada da cidade, em área comercial. O tobogã foi demolido para ali se erguer um prédio com hotel, restaurantes, lojas etc. O campo, vai virar arena de espetáculos”, exemplifica.
Em nota acerca da demolição, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo informou que “o projeto aprovado foi analisado tanto pela esfera Municipal quanto Estadual, portanto não há irregularidade ou dano ao patrimônio, mas sim uma intenção de ocupar o subsolo, assim como foi feito em diversos bens tombados como Museu do Ipiranga, Estação da Luz, Cidade Matarazzo, Estádio Olímpico de Berlim, entre outros, com vistas à modernização das instalações, ao aumento de área e provimento de serviços qualificados.”
Nabil Bonduki cita a privatização do do Ibirapuera como um contraexemplo ao que vem acontecendo no estádio: “Eu tenho críticas à sua concessão, mas, ele continua sendo um parque, de acesso público, embora com preços abusivo para consumo no local. A empresa o mantém funcionando, com limpeza e segurança, e o uso permanece como original. No Pacaembu, o uso para o futebol vai ser praticamente terciário. Deixou de ser o objetivo principal, um estádio para jogos importantes, do Corinthians, do São Paulo, do Palmeiras e, sobretudo do Santos, que não tem estádio em Sao Paulo, mas com grande torcida. Se não terá o futebol como atividade principal, por que não o venderam de uma vez? Porque eles iriam pagar muito mais do que pagaram pela concessão”.
Um processo bastante nebuloso
A ideia de uma gestão privada do Pacaembu não é nova – no fim dos anos 1990, ele já havia sido incluído na lista de bens a privatizar pelo então prefeito Celso Pitta e, em 2015, quando o estádio completou 75 anos, Fernando Haddad (PT) chegou a abrir um edital, sem sucesso. Foi somente a partir de 2017, com a prefeitura sob a gestão de João Doria (PSDB), que o projeto ganhou tração. Segundo Coelho Jr., a entrada do político, tanto na prefeitura quanto no governo do Estado, tornou esse processo todo “bastante nebuloso”.
“A direção do Conpresp, mesmo depois do fim da gestão dele, continua sendo feita por pessoas aliadas a ele. E logo que Doria assumiu o governo de São Paulo, ele mudou a composição do Condephaat, a quantidade de representantes da sociedade civil. Com a mudança, ele garantiu a maioria, para sempre, nas decisões do Estado”, explica.
Em nota, o Condephaat afirma que “o questionamento não procede” e que o conselho foi reformulado em 2019 “para ampliar a representatividade da sociedade civil e assegurar mais agilidade e rigor técnico nas decisões”. O comunicado acrescenta ainda: “Desde a reformulação, nenhuma reunião quinzenal deixou de ocorrer por falta de quórum, o que lamentavelmente era comum antes da reformulação. Há representantes do Governo do Estado, do Governo Federal, de universidades e de instituições da sociedade civil, além de especialistas em patrimônio material e imaterial com notório saber na área”.
Para Margareth Matiko Uemura, que é também integrante do Conselho Municipal de Política Urbana (CMPU), a concessão é, de todo jeito, inteiramente descabida. “Trata-se de um equipamento público importante, que atende a milhares de pessoas, além de ser bem localizado e um expoente da arquitetura, por isso tem proteção dos órgãos de proteção. Ela soma muitos atributos que deveriam estar sob tutela do poder público”, diz. “Tem um erro nestes processos de concessões e privatizações, em que o município se exime da responsabilidade, que é dele, de prover à população espaços públicos adequados e de boa qualidade, para uso de atividades diversificada e acesso amplo da população.”
Casa das Rosas, em São Paulo. Foto: reprodução do site.
Até o dia 30 de julho acontece o VII Encontro de Museus-Casas Literários, que terá como tema principal a discussão sobre como o passado é reconstruído no presente e reúne especialistas que atuam em museus-casas e outras instituições culturais de diversas regiões do Brasil. Um dos objetivos do encontro é aproximar esses espaços dos diferentes públicos e democratizar as informações sobre os acervos.
O Encontro de Museus-Casas Literários chega com uma programação totalmente gratuita voltada a diversos públicos, como profissionais e estudantes das áreas de museologia, arquivologia, biblioteconomia, letras ー línguas, literatura, teoria literária e tradução ー, artes plásticas, artes cênicas, história, sociologia, turismo e afins, representantes da comunidade acadêmica, de instituições públicas, além de interessados em museus e cultura.
As inscrições para as atividades online, relacionadas a seguir, devem ser feitas aqui.
Confira a programação completa:
Palestra: “Museu e anti-museu: outras histórias”
Sexta-feira, 29 de julho, às 11h
Com Francisco Régis Lopes Ramos
Atividade realizada virtualmente, via plataforma Zoom
Vagas: 200
Palestra: “Reconstruir passados em museus?”
Sexta-feira, 29 de julho, às 14h30
Com Aline Montenegro Magalhães
Atividade realizada virtualmente, via plataforma Zoom
Vagas: 200
Mesa 1: “A reconstrução do passado: experiências”
Sexta-feira, 29 de julho, às 16h
Com Márcia Luíza Freitas Ganem, Maria João Amado, Museu Gustavo Teixeira, Ivan Teixeira de Barros
Mediação: Tayna Rios
Atividade realizada virtualmente, via plataforma Zoom
Vagas: 200
Mesa 2: “A reconstrução do passado: experiências”
Sexta-feira, 29 de julho, às 18h
Com Ronaldo Alves de Oliveira, Marlene Gomes Vellasco, Ana Cláudia Rôla Santos,
Mediação: Davidson Kaseker
Atividade realizada virtualmente, via plataforma Zoom
Vagas: 200
Visita virtual: Casa Guilherme de Almeida, Casa das Rosas e Casa Mário de Andrade
Sábado, 30 de julho, às 11h
Com Alexandra Rocha
Atividade realizada virtualmente, via plataforma Zoom
Vagas: 200
Mesa 3: “A reconstrução do passado: experiências”
Sábado, 30 de julho, às 14h30
Com Ezequiel Barel Filho, Solange Duarte Alvarenga, Juliana Maria de Carvalho, Fernando José Arouca
Mediação: Cecília Machado
Atividade realizada virtualmente, via plataforma Zoom
Vagas: 200
Discussão: “Implementação de grupo de discussão sobre museus-casas literários”
Sábado, 30 de julho, às 16h
Com a participação dos representantes das instituições participantes do Encontro
Atividade realizada virtualmente, via plataforma Zoom
Vagas: 200
”Quase sarau”: Leituras de textos dos patronos dos museus, por seus representantes
Sábado, 30 de julho, às 17h
Com a participação dos representantes das instituições participantes do Encontro.
Atividade realizada virtualmente, via plataforma Zoom
Sidney Amaral, detalhe de Sem Título 1 [série Teatro do Meu Fascínio]. Foto: Estúdio em obra
O fogo que consumiu o Museu Nacional do Rio, a Cinemateca de São Paulo, as queimadas na Amazônia e no Pantanal, e até mesmo o ataque incendiário à estátua do bandeirante Borba Gato, no início do ano, na capital paulista, inflamaram o imaginário da equipe de curadores do 37º Panorama da Arte Brasileira, que acontece até o dia 15 de janeiro de 2023. Desde março do ano passado, o grupo – formado por Claudinei Roberto da Silva, Vanessa Davidson, Cristiana Tejo e Cauê Alves – buscou conceituar e montar uma exposição que refletisse, poetica e esteticamente, a simbologia de resiliência e renascimento que envolve o elemento da natureza, para falar das questões mais candentes do País no momento: as pautas sociais e ambientais, a ancestralidade, a promoção de igualdade étnica, de gênero e classe.
Com o título Sob as Cinzas, Brasa, a mostra abriga criações de 26 artistas, em sua maioria comissionadas para esta edição – com todas as dificuldades que o trabalho remoto imposto pelas restrições sanitárias da pandemia ainda vêm impondo. Para exibir as instalações, fotografias, pinturas, os vídeos e as esculturas, o Panorama buscou ampliar seu espaço expositivo, incluindo no circuito o Jardim das Esculturas, que acolhe um trabalho de Jaime Lauriano; e, numa parceria que dá prosseguimento a experiências anteriores com equipamentos da vizinhança, como o MAC USP e a Bienal, entra em cena agora o Museu Afro Brasil, onde se encontram as criações de Davi de Jesus do Nascimento e Lídia Lisboa.
O conjunto de obras apresentadas, no entanto, não necessariamente traduzem de forma didática o título deste Panorama. A interlocução se propõe mais sutil. “Não há uma ligação mais evidente, não houve uma preocupação de que as obras ilustrassem seu nome”, afirma Cauê Alves. As criações se debruçam sobre símbolos nacionais, território, cartografia, ancestralidade, trazem referências ao Bicentenário da Independência, à Semana de 22 e retomam a discussão sobre a identidade nacional. Mas a escolha do título ecoa, de toda forma, pela mostra.
“Há uma ambiguidade das palavras que levamos ao título do Panorama, que por sua vez remetem a cores com um sentido político e histórico. As cinzas geralmente são associadas à terra arrasada. O próprio nome do País se refere à primeira commodity que explorou, uma árvore, com uma madeira vermelha, como uma brasa. E a brasa arde, permanece como uma espécie de resistência da matéria, ainda que represente destruição, seja de um patrimônio ou nas queimadas de nossas florestas”, pondera Cauê.
“Uma obra como a da Gisele Beiguelman, que fica logo na entrada [uma reprodução do monumento de Borba Gato, cortado longitudinalmente ao meio e que serve como um banco] alude a este momento de nossas vidas em que estamos apagando incêndios, de modo figurado, mas também incendiando ícones, como os bandeirantes. O fogo surge também como possibilidade de uma ressurreição. É dali que a Fênix renasce, que as cinzas podem recuperar o solo”, conclui o curador.
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Jaime Lauriano, "Independência e Morte". Foto: Estúdio em obra
Bel Falleiros, "Vermelho como Brasil". Foto: Divulgação
Sidney Amaral, detalhe de Sem Título 1 [série Teatro do Meu Fascínio]. Foto: Estúdio em obra
Éder Oliveira, "Estudo para retrato de Cacique Guaimiaba (Cabelo de Velha)". Foto: Octavio Cardoso
Primeiro negro a fazer parte da equipe curatorial de um Panorama, Claudinei Roberto da Silva ressalta que a seleção de artistas desta edição reflete o “policentrismo” da produção artística brasileira no momento, o que por sua vez reforça seu caráter de diversidade. O curador afirma que, desde o convite para integrar o grupo, feito em 2020, ficou evidente que havia uma vontade de se criar “um diálogo maior com setores da sociedade que talvez não tenham sido exatamente privilegiados pela história da própria instituição” até este momento. “E essa nossa articulação me parece inédita, faz emergir uma força política que, embora existisse, não se apresentava de maneira tão organizada”, argumenta.
Claudinei conta que alguns dos artistas selecionados não têm na política o cerne de sua investigação criativa. Como Luiz 83 ou André Ricardo. “Os trabalhos deles não trazem uma marca de discurso político. Mas a gente entende que essa vocação política surge na maneira como privilegiamos este grupo de artistas. O Luiz 83 é frequentemente associado a um artista que adere a um partido concreto. De fato, talvez ele possa ser percebido como herdeiro de uma tradição do concretismo brasileiro. Mas ele sai de um lugar do mundo em que essa informação não estava presente. Mas ele faz com que pensemos suas obras também a partir de outras referências, que ainda precisam ser prospectadas. Ele é um artista periférico, mas o que significa sê-lo, num cenário de policentrismo, em que esta oposição entre centro e periferia começa a ser esgarçada?”, questiona.
O curador acrescenta que se pode falar o mesmo da obra de André Ricardo. “Ele tem um percurso extraordinário, foi aluno do departamento de artes da USP e absorveu essa cultura. Mas quando ele deixa o departamento, passa por um processo de autorreconhecimento, um homem negro, de pele clara, que tem passabilidade maior, por conta disso, do que um retinto. E a partir daí ele vai ficar mais sensível às histórias ligadas à própria origem. E você começa a perceber no trabalho que certos signos da cultura popular surgem. E ele usa têmpera, tem erudição muito grande. Daí ser comum que pessoas o remetam à obra de Volpi. Mas isso não é totalmente justo, porque a pesquisa dele pode até abarcar Volpi, mas não é devedora. Ele é mais devedor da observação que ele faz da arquitetura popular, que em São Paulo se origina também da diáspora nordestina”, diz.
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Vista da exposição com obras de Luiz 83 em primeiro plano. Foto: Estúdio em obra
Luiz 83, Sem Título. Foto: Estúdio em obra
Vista da exposição, com obras de André Ricardo. Foto: Estúdio em obra
Detalhe de obra de André Ricardo. Foto: Divulgação
Eneida Sanches, "Eu Não Sou Daqui". Foto: Tracy Collins
Em maio desse ano, quando foi feito o anúncio dos artistas selecionados para o Panorama, houve críticas ao grande número de artistas paulistas ou radicados em São Paulo (18 dos 26), formando um grupo que, de modo geral, representava mais uma produção artística sudestina do que propriamente dita brasileira. Para a curadora Cristiana Tejo, que é pernambucana, a seleção final e as obras daí resultantes são capazes de mostrar, por exemplo, as eventuais conexões que podem haver entre Caruaru (PE) e São Paulo.
“Meu olhar parte sempre de uma perspectiva do Nordeste. Mas não preciso necessariamente fazer uma exposição sobre a região, porque é uma mirada descentralizada. Como curadora, eu me volto para outras tradições artísticas que não apenas o concretismo paulista ou a Semana de Arte de 22, por exemplo. Embora eu tenha trabalhado muito, ao longo de minha trajetória, com a inserção do artista nordestino no cenário nacional”, pondera.
“Nosso Panorama, no entanto, foi feito durante uma pandemia, o que criou uma dificuldade de circulação pelo País e impactou nossa pesquisa. Além disso, enxergamos essa edição como complementar a várias exposições que têm acontecido nos últimos anos, na própria cidade de São Paulo. E outra questão é a renovada migração que tem havido do Nordeste para a capital paulista por conta do desmonte de políticas públicas para a cultura. Por exemplo, a Eneida Sanches é baiana, eu a conheci há dez anos lá, mas hoje ela mora aqui. Eu entendo a crítica, a demanda deve continuar. No entanto, neste momento, estamos olhando para outras questões, não apenas a regionalidade. Mas gênero, raça e classe social, por exemplo. Que respostas os artistas estão dando a elas? Que estratégias estamos criando, como sociedade, para lidar com estes ciclos repetitivos de destruição do Brasil?”, indaga.
Os curadores destacaram também o papel importante da expografia desta edição do Panorama, que ficou a cargo da arquiteta Anna Ferrari. O desejo deles era reforçar a integração entre os espaços expositivos e facilitar a visibilidade das obras. “A ideia, por um lado, era revelar a dimensão do MAM, e por outro, não criar anteparos entre os trabalhos expostos. O que me possibilitou chegar ao resultado desejado foi o fato de a maioria das obras serem volumétricas, de chão, soltas no espaço. Só não sabíamos de antemão como seriam ao fim, porque eram comissionadas em sua maioria”, conta.
“O maior desafio era conseguir definir uma expografia, um partido de ocupação do MAM inteiro, foi então um trabalho coletivo com os curadores e os artistas. Tentei deixar o máximo de espaço livre e usar a menor quantidade de painéis. Outra questão era o desejo latente de que o tema da exposição refletisse no meu trabalho, por isso decidimos pintar o teto de vermelho. Como uma arquiteta de formação na Escola Paulista, eu me senti lisonjeada de poder trabalhar num espaço histórico da arquitetura moderna da cidade”, conclui a arquiteta.
Maria Macedo, "Dança para um futuro cego", 2021. Foto: Cortesia da artista
Após dois anos em ausência, a Verbo: Mostra de Performance Arte volta a acontecer presencialmente em 2022. Com curadoria de Marcos Gallon e Samantha Moreira, a edição reflete sobre o atual estado das coisas — com ações que ecoam discussões ligadas a identidade, gênero, raça e ancestralidade — e busca pensar como se dá uma performance em tempos de pandemia, em que a presença física das pessoas e a circulação, por vezes, representam elementos de perigo.
De 27 a 30 de julho, a programação ocorre em São Paulo, na Galeria Vermelho, e nos dias 11 e 12 de agosto, em São Luís do Maranhão, no Chão SLZ. A edição conta também com um plano estendido de ações, que serão incorporadas ao programa regular de exposições da Vermelho entre os meses de setembro de 2022 e maio de 2023.
Dedicada a apresentação de performances de artistas brasileiros e estrangeiros, a Verbo teve início em 2005, com o objetivo de criar uma rede de artistas e público ligados à linguagem artística. Com a pandemia, viveu um hiato de dois anos. “Foi uma opção nossa, quando em 2020 resolvemos não fazer nenhuma ação que fosse virtual, por um esgotamento mesmo, por uma condição excessiva de tudo que estava acontecendo”, explica Samantha Moreira em entrevista à arte!brasileiros. Para a curadora, esse tempo de pausa ressoa na mostra atual: “Acho que depois de dois anos, vem com muita potência, muitas narrativas, muitas poesias e muitos desesperos a partir do que a gente viveu, além desse desejo do encontro”.
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Guilherme Peters, "Tentativa de dar uma aula de aquarela para Zé Carioca", 2022. Foto: Cortesia do artista
Bianca Turner, "Inventário em vida", 2021. Foto: Cortesia da artista
Neste ano, mais 400 propostas de diversas regiões do País e do mundo foram enviadas à seleção. Do encontro de suas latências, nasceu o recorte curatorial da 16ª Verbo. Isso, porque há anos a organização opta por criar o programaa partir da leitura dos projetos, ao invés de definir um conceito-guia a priori.
“Foi possível identificar algumas temáticas recorrentes, como aquelas relacionadas a questões raciais e de ancestralidade, apontando para a diversidade de temas prementes e essenciais evidenciados por conta da fragilidade dos sistemas políticos durante a pandemia; questões de gênero materializadas em performances e vídeos que reivindicam o empoderamento e a inserção de minorias no campo da arte atual, e de forma mais ampla na arena de políticas públicas; questões ligadas à identidade, ao estar no mundo materializadas a partir da precariedade e ambientadas em espaços reduzidos que constituem ‘diários de bordo’ sobre os dois últimos anos por meio de práticas diárias de manutenção da vida”, explicam Marcos Gallon e Samantha Moreira.
A mostra apresenta 38 ações, reunindo artistas e coletivos de 12 estados brasileiros das regiões Nordeste, Norte, Sudeste e Sul, e trazendo a participação de performers estrangeiros da África do Sul, Alemanha, México, Rússia e Suécia.
A edição deste ano traz ações presenciais, distribuídas entre a Vermelho e o Chão, e uma mostra de trabalhos em audiovisual. “A gente entendeu que a programação dos vídeos tinha que acontecer com uma intensidade. Tínhamos muitas performances em processo a partir da pandemia, feitas em vídeo. Muito acontece, claro, dessa relação corpo e movimento, ou corpo e não-movimento, a partir dessa experiência que tivemos mundialmente da Covid-19″, conta Samantha Moreira. A mostra de vídeos é comum a ambas as sedes e também ficará disponível online, de forma a alcançar um público mais amplo.
A programação maranhense conta ainda com uma fala da diretora artística do Festival de Sexualidades e Gêneros de Lausanne (Suíça), Valentina D’Avenia, que apresentará o evento numa conversa com artistas e público, e com uma residência artística na Casa do Sereio, em Alcântara, Maranhão. O projeto de pesquisa, coordenado por Yuri Logrado, receberá o artista carioca André Vargas que desenvolverá a ação a ser apresentada como parte da programação do Chão SLZ no dia 12 de agosto.
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T.F. Cia. de Dança, "Zona Cinzenta". Foto: Cortesia dos artistas
Abiniel João Nascimento, "Araçá", 2021. Foto: Cortesia do artista
Confira a programação completa:
Galeria Vermelho Verbo 16
Rua Minas Gerais, 350 – Higienópolis, São Paulo (SP)
27/07
20h – Darqueruim Comuna, de Depois do Fim da Arte, acontece na Banca
20h – Nem tudo que vai prá parede é obra de arte, de Marcel Diogo, é apresentada na fachada
20h – Rezos pra rasgar o mundo, de Tieta Macau, na Sala 3
21h – Cadafalso, de Luisa Callegari, Guilherme Peters e Sansa Rope, na Sala 1
28/07
20h – Darqueruim Comuna, de Depois do Fim da Arte, acontece na Banca
20h – O presente, amanhã, de Carla Zaccagnini, na Sala 2
20h30 – 123 ponteiros, de Elilson, na Sala 3
21h30 – Um ritual-recital-performático III, de Jamile Cazumbá, na Sala 1
29/07
20h – Darqueruim Comuna, de Depois do Fim da Arte, acontece na Banca
20h – Apagamento, de Marcel Diogo, na Sala 2
20h – Zona Cinzenta, da T.F. Cia de Dança, na Sala 1
21h – Fagia, de Paola Ribeiro, na Sala 3
30/07
11h às 17h – Programa de vídeos
Áurea Maranhão, “Argila”, 2021-2022. Foto: Cortesia da artista
Chão SLZ Verbo 16 Rua do Giz, 167 – Centro, São Luís (MA)
11/08 19h às 22h – Programa de vídeos
19h – O pornô ético: O que se faz a partir do sexo e das emoções, conversa aberta ao público com Valentina D’Avenia, diretora artística do Festival de Sexualidades e Gêneros de Lausanne (Suíça)
20h30 – Argila, de Áurea Maranhão
12/08 19h às 22h – Programa de vídeos
19h30 – André Vargas (obra em processo, desenvolvida na residência na Casa do Sereio)
21h – Toada — Retomada, do coletivo #Joyces
Auditório do Parque Natural, que abriga os shows da programação/Foto: Flavio Nogueira
Em 2020, a pandemia restringiu o Festival Arte Serrinha, em Bragança Paulista (SP), a uma programação híbrida, que mesclou lives, residências e oficinas, e teve como destaque a inauguração da land artTerzo Paradiso, do italiano Michelangelo Pistoletto. No ano passado, ainda por conta das restrições sanitárias, foi feita apenas uma exposição retrospectiva das duas décadas de atividades do festival, fundado por Fabio Delduque, artista visual e seu diretor artístico, pelo jornalista Marcelo Delduque e o empresário Carlão de Oliveira.
Para compensar, o evento chega neste ano à sua 20ª edição, totalmente presencial, com atividades que se estendem para além das fronteiras de seus endereços recorrentes – o bairro Serrinha, no qual ficam a fazenda de mesmo nome, onde nasceu o projeto, e o Galpão Busca Vida, além do bairro Água Comprida. Um dos destaques do evento é a exposição Brasis – Expedição Serrinha, com obras inéditas exibidas entre o Centro Cultural Teatro Carlos Gomes – que nas duas primeiras edições do festival, quando ainda era uma construção abandonada, recebeu parte de sua programação – e o novo Parque Natural Arte Serrinha.
A mostra é fruto de viagens feitas ao longo de quatro anos, em quatro estados brasileiros (Pará, Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo), por um grupo multidisciplinar: o maestro e pianista Benjamim Taubkin, o cineasta Beto Brant, o escritor Diógenes Moura, o designer e escultor Hugo França, a artista visual Laura Vinci, a coreógrafa Lú Brites, o fotógrafo Luiz Braga, a cozinheira Neka Menna Barreto, o estilista Ronaldo Fraga, e o próprio Delduque, que também assina a curadoria. Todos participaram dos quatro roteiros.
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Centro Cultural Teatro Carlos Gomes, onde ocorre a mostra Brasis - Expedição Serrinha/Foto: Eduardo Barcellos
Obras de Hugo França, em cartaz na exposição Brasis - Expedição Serrinha/Foto: Eduardo Barcellos
Videoinstalação de Laura Vinci e obras de Hugo França e Fabio Delduque, em cartaz na exposição Brasis - Expedição Serrinha/Foto: Eduardo Barcellos
Criação do estilista Ronaldo Fraga, presente na exposição Brasis - Expedição Serrinha/Foto: Eduardo Barcellos
Obra de Luiza Braga, em cartaz na exposição Brasis - Expedição Serrinha/Foto: Eduardo Barcellos
Instalação-banquete de Neka Menna Barreto, em cartaz na exposição Brasis - Expedição Serrinha/Foto: Eduardo Barcellos
O objetivo da expedição foi percorrer regiões que traduzem os grandes ciclos econômicos do País e sua diversidade cultural, como a Zona da Mata Sul (PE) e seus engenhos de cana-de-açúcar; a Ilha do Marajó (PA), com a história da borracha e dos vaqueiros marajoaras; a Serra da Moeda (MG), marcada pela mineração e exploração do ouro, e finalmente a Serrinha (SP), uma região cafeeira. O resultado dessas experiências são fotografias, pinturas, esculturas, filmes, instalações, roupas, croquis, músicas, textos e registros de performances produzidas pelos artistas.
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Instalação de Laura Vinci, no Parque Natural, novo museu ao ar livre da Fazenda Serrinha/Foto: Eduardo Barcellos
Instalação de Eduardo Srur, no Parque Natural/Foto: Fabio Delduque
Gigantografia de Luiz Braga, em exposição no Parque Natural, novo museu ao ar livre da Fazenda Serrinha/Foto: Eduardo Barcellos
Gigantografia de Luiz Braga, em exposição no Parque Natural, novo museu ao ar livre da Fazenda Serrinha/Foto: Eduardo Barcellos
A Oca, inaugurada em 2016, e que também abriga atividades do Festival Arte Serrinha/Foto: Carol Quintanilha
Carro Verde, obra do coletivo BijaRi, no Parque Natural/Foto: Fabio Delduque
A programação completa, até o encerramento, pode ser conferida no site do Festival Arte Serrinha. Entre as atrações dos próximos dias estão o desfile Brasis, de Ronaldo Fraga, que acontece às 16h, no Centro Cultural Teatro Carlos Gomes, e o show do grupo Bala Desejo com o DJ Dolores, às 23h, no Galpão Busca Vida, ambos no sábado (23/7). No dia 27/7, às 21h, haverá a exibição do filme Modo Ave, Expedição Serrinha, de Beto Brant, no ateliê da Fazenda Serrinha. Para o último dia (30/7), destaque para a apresentação de Otto com o DJ Davida, no Galpão Busca Vida, a partir das 23h.
SERVIÇO
20º Festival Arte Serrinha
Até 30/7
Fazenda Serrinha, Parque Natural Arte Serrinha – bairro Serrinha, Bragança Paulista (SP)
Ingressos: para shows e Parque Natural Arte Serrinha, acesse sympla.com.br.
Exposição Brasis – Expedição Serrinha
Até 28/8
Centro Cultural Teatro Carlos Gomes – centro de Bragança Paulista (SP)
Ingressos: gratuitos
Horários: de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h; aos sábados e domingos, das 10h às 17h
Alexandre da Cunha, "Coverman", 2001 / 2013. Performance. Foto: Divulgação
Frente a um mundo em colapso, algumas produções artísticas buscam “revirar nossas certezas, tratar daquilo que é urgente e nos colocar diante de novas perspectivas”, explica Solange Farkas, fundadora e diretora da Associação Cultural Videobrasil (VB). É dialogando com esta ideia que se constrói REVIRAVOLTA, em cartaz até 10 de setembro em Vitória, no Espírito Santo. Reunindo produções audiovisuais que fazem parte do acervo do VB e que ecoam o momento em que vivemos, o projeto acontece simultaneamente em dois espaços da capital capixaba: enquanto o Museu de Arte do Espírito Santo (MAES) recebe Reviravolta – Arte e geopolítica; a Galeria Homero Massena apresenta Reviravolta – Corpo e performance.
O convite para a realização da mostra veio em 2019, feito pelo governo do Espírito Santo. A proposta era de uma itinerância da 21ª Bienal Sesc_Videobrasil. Porém, em decorrência da pandemia, o projeto ficou parado. Nesses dois anos, outras reviravoltas se estabeleceram no mundo: os embates políticos tomavam outro corpo e a crise sanitária intensificava uma série de colapsos já latentes no que tange às desigualdades sociais, de gênero, etnia e raça — em especial quando tratamos de países do Sul Global, aqueles à margem do capitalismo central e dos grandes eixos de poder econômico e geopolítico.
“Quando finalmente retomamos, o clima político no país havia se deteriorado de tal forma que sentimos a necessidade de mostrar um panorama da produção do Sul mais focado na vocação política que a atravessa desde sempre, e cada vez mais”, explica Farkas em entrevista à arte!brasileiros. Assim, alteraram a configuração de REVIRAVOLTA: “Em lugar apenas da 21ª Bienal ou dos trabalhos premiados no evento, resolvemos tomar como base das curadorias o Acervo Videobrasil como um todo, buscando nele manifestações diversas e potentes do desejo dos artistas do Sul de criar reviravoltas na forma de fazer arte e de pensar o mundo”.
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Grupo Alto Amazonas Audiovisual. "About cameras, spirits and occupations: a montage-essay triptych". Videoinstalação. Foto: Reprodução
Paulo Nazareth, "L'arbre de l'oubier", 2013. Vídeo. Duração 27'31’’. Foto: Reprodução
Mas de que forma se dá esse giro na maneira como entendemos arte e vida? “Vindos de países que têm em comum um passado colonial – ou seja, uma experiência fundadora de submissão intelectual, política e cultural –, os artistas do Sul oferecem uma perspectiva necessariamente outra, digamos, se pensarmos nas narrativas oficiais que seguem se sobrepondo a dissidências e antagonismos”, explica Farkas. Duas obras expostas no MAES evidenciam como esse conceito toma corpo. Em About Cameras, Spirits and Occupations: a Montage-Essay Triptych, o grupo Alto Amazonas Audiovisual articula olhares indígenas e não indígenas para rever a posição tradicional de poder do etnógrafo sobre o Outro; já a performance L’Arbre D’Oublier, de Paulo Nazareth, retoma o ritual de ‘apagamento da memória’ a que homens africanos escravizados eram submetidos antes de partir para a América, ao que o artista volteia 437 vezes a Árvore do Esquecimento – “é uma imagem quase gráfica de inversão de perspectiva”, compartilha Farkas.
Hoje, as exposições no MAES e na Galeria Homero Massena apresentam um largo conjunto de obras em diálogos possíveis com o momento atual, além de materiais de apoio, como depoimentos de artistas e a série Videobrasil na TV, que aprofunda uma variedade de conteúdos a fim de complementar a experiência das mostras. Assim as obras do Acervo Videobrasil são exibidas pela primeira vez em conjunto significativo na capital do Espírito Santo. O projeto vai de encontro ao desejo histórico da instituição de acessar territórios fora dos grandes eixos de poder, não só no mundo (o Sul Global), mas também no próprio país (para além do eixo Rio-São Paulo). “A interlocução proposta com o Videobrasil em Vitória estimula um intercâmbio necessário para o fortalecimento das redes, dos artistas e suas produções para além das fronteiras dos territórios”, afirma Nicolas Soares, diretor do MAES, no release do projeto.
Frentes de ação
O convite feito pelo Governo do Espírito Santo ao Videobrasil se estendia a dois espaços expositivos da capital capixaba. “Fizemos, então, o exercício de imaginar dois recortes diferentes do Acervo que se adequassem às características de cada um deles – e, ao mesmo tempo, fossem complementares, no sentido de oferecer ao público de Vitória um panorama significativo do que é a coleção e de aspectos importantes da produção do Sul geopolítico”, conta Solange Farkas, que também assina a curadoria de REVIRAVOLTA.
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Vista da exposição "Reviravolta - Arte e geopolítica no Acervo Videobrasil", no MAES, em Vitória (ES) Foto: Gabriel Lordello
Vista da exposição "Reviravolta - Arte e geopolítica no Acervo Videobrasil", no MAES, em Vitória (ES) Foto: Gabriel Lordello
Enquanto o MAES apresenta um espaço expositivo mais aberto e uma proposta curatorial contínua ligada às linguagens contemporâneas, permitindo a exibição de trabalhos com grande presença espacial e representativos da produção recente em vídeo e instalação, a Galeria Homero Massena tem uma característica mais intimista – “é um espaço mais concentrado de fruição”, explica Farkas – e tornou-se mais propícia a um panorama retrospectivo de uma linguagem específica: a performance, “muito presente no acervo por causa da importância que o Videobrasil deu a ela desde as edições iniciais, nos anos 1980”, explica a diretora do VB.
Assim, Arte e geopolítica no Acervo Videobrasil, no MAES, parte da cartografia desenhada por duas recentes edições da Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil (2017 e 2019). A exposição apresenta trabalhos dos brasileiros Aline X (Minas Gerais), Alto Amazonas Audiovisual (Amazonas e Ceará), Ana Vaz (Distrito Federal), Gustavo Jardim (Minas Gerais), Luciana Magno (Pará) e Paulo Nazareth (Minas Gerais); e dos estrangeiros Bakary Diallo (Mali), Daniel Monroy Cuevas (México), Enrique Ramírez (Chile), Seydou Cissé (Mali) e Tiécoura N’Daou (Mali), além do coletivo indígena formado por Ana Carvalho, Ariel Kuaray Ortega, Fernando Ancil e Patrícia Para Yxapy (Brasil e Argentina).
Surgem na mostra práticas artísticas que borram as fronteiras entre arte e ciência e se constroem no campo do interdisciplinar, de forma a ampliar as concepções de mundo, bem como um reforço das práticas comunitárias como possibilidades de reconstruir o mundo a partir de coletividades ligadas a identidade e afeto. “A necessidade de fazer reverberar em toda a sua potência histórias não hegemônicas dá ao vídeo um fôlego narrativo que antes era privilégio do cinema. Ao mesmo tempo, e quase na mesma medida, os artistas mobilizam o poder da imagem para criar espaços e metáforas”, escreve Farkas em texto sobre a mostra.
Melati Suryodarmo, "Exergie - Butter Dance", 2005. Registro de performance. Foto: Divulgação
Melati Suryodarmo, "Exergie - Butter Dance", 2005. Registro de performance. Foto: Divulgação
Em paralelo, 200 registros de performance compõem Corpo e performance, na Galeria Homero Massena. A seleção é resultado de uma imersão nos registros de performances produzidos pelo Videobrasil ao longo de seus 40 anos – incluindo happenings, intervenções musicais, vídeo performances, entre outros. “Nos países do Sul Global, em meio à violência de Estado e à herança colonial, artistas plasmam corpo e imagem em uma produção que é signo de vida contra as políticas da morte. No programa principal desta exposição, eles manobram de formas diversas o repertório da performance para trazer para o próprio corpo o enfrentamento de temas urgentes, como racismo estrutural, terrorismo estatal e violência de gênero”, destaca Farkas.
A lista de artistas e coletivos participantes da mostra, vindos de diferentes cantos do globo, é vasta. Entre os internacionais, estão: Aya Eliav e Ofir Feldman (Israel), Coco Fusco (Cuba / Estados Unidos), Marcello Mercado (Argentina), Melati Suryodarmo (Indonésia), Michael Smith (Estados Unidos), Steina Vasulka (Islândia) e Stephen Vitiello (Estados Unidos). Já entre os brasileiros: Alexandre da Cunha (Rio de Janeiro), Ayrson Heráclito (Bahia), Chelpa Ferro (Rio de Janeiro), Eder Santos (Minas Gerais), Felipe Bittencourt (São Paulo), Frente 3 de Fevereiro (São Paulo), Lenora de Barros e Walter Silveira (São Paulo), Luiz de Abreu (Minas Gerais), Marco Paulo Rolla (Minas Gerais), Otávio Donasci (São Paulo), Paula Garcia (São Paulo) e Waly Salomão e Carlos Nader (São Paulo).
“Há ainda na exposição um programa especial dedicado a artistas capixabas com obras performáticas: Charlene Bicalho, Castiel Vitorino Brasileiro, Geovanni Lima, Fredone Fone, Marcus Vinícius, Natalie Mirêdia e Rubiane Maia. Parte significativa destes trabalhos expostos passarão a integrar o Acervo Videobrasil, que além de cuidar de sua salvaguarda assume o compromisso de dar maior visibilidade e circulação às obras e aos artistas”, complementa a curadora.
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Castiel Vitorino Brasileiro, "Maybe the calm is more important than freedom. E talvez eu não esqueça daquela chuva", 2022. Performance. Duração 11'30’’. Foto: Divulgação / Videobrasil
Apesar de ainda não ter previsão de realizar projetos semelhantes em outros estados do País — especialmente pelo atual foco do VB na próxima Bienal Sesc Videobrasil, que acontece em 2023 em São Paulo e celebra 40 anos de atividades da associação — Farkas não descarta a possibilidade. “O acervo nos oferece possibilidades curatoriais quase ilimitadas, de criação de programas e exposições que, sim, podem e devem viajar, alimentando circuitos novos e deixando que a produção artística do Sul global alimente novas gerações de artistas. Estamos abertos.”
SERVIÇO
REVIRAVOLTA Arte e geopolítica no Acervo Videobrasil 10 de junho a 10 de setembro MAES: Av. Jerônimo Monteiro, 631 – Vitória (ES) Funcionamento: terça a sexta, das 10h às 18h; sábado, das 10h às 16h REVIRAVOLTA Corpo e performance no Acervo Videobrasil 10 de junho a 10 de setembro Galeria Homero Massena: Rua Pedro Palácios, 99 – Vitória (ES) Funcionamento: segunda a sexta, das 9h às 18h; sábado, das 13h às 17h
O designer e arquiteto Jorge Zalszupin, cujo centenário de nascimento é celebrado neste ano. Foto: Acervo pessoal
Um dos expoentes da geração de arquitetos que atuou, entre os anos 1950 e 1980, nos campos do design e da arquitetura brasileira, o polonês naturalizado brasileiro Jorge Zalszupin nasceu em 1º de junho de 1922, em Varsóvia. Em 1945, formou-se em arquitetura na Romênia, e em 1949 veio para o Brasil, ainda fugindo da perseguição aos judeus em seu país. Deixou-nos em agosto de 2020.
Agora, quase dois anos depois, três mostras celebram o centenário de seu nascimento, que revelam facetas diversas de sua produção diversa, que não se limitava ao mobiliário moderno, com o qual ganhou mais notoriedade nos últimos anos após um consistente trabalho de resgate de sua memória e da reedição de seus produtos, um projeto capitaneado pela empresária e curadora Lissa Carmona, da galeria ETEL.
Até o dia 4 de setembro, a exposição Orgânico Sintético: Zalszupin 100 Anos acontece simultaneamente no Museu da Casa Brasileira (MCB), com curadoria do técnico do MCB, Giancarlo Latorraca, e na Casa Zalszupin, com curadoria de Lissa e do professor Guilherme Wisnik. A mostra apresenta criações inéditas do acervo de Zalszupin, como itens pessoais, a exemplo de um livro de piadas ilustrado. O trabalho de pesquisa teve apoio da museóloga Nathalia Reys, em parceria com a família do designer. A propósito de livros, está prevista para o segundo semestre a reedição do livro esgotado sobre Jorge Zalszupin, com conteúdo inédito sobre seu trabalho arquitetônico.
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Ilustrações para o livro de piadas, de Jorge Zalszupin, expostas na mostra "Orgânico Sintético: Zalszupin 100 anos". Foto: Acervo pessoal
Ilustrações para o livro de piadas, de Jorge Zalszupin, expostas na mostra "Orgânico Sintético: Zalszupin 100 anos". Foto: Acervo pessoal
Ilustrações para o livro de piadas, de Jorge Zalszupin, expostas na mostra "Orgânico Sintético: Zalszupin 100 anos". Foto: Acervo pessoal
No MCB, estão sendo apresentados novos aspectos da obra de Zalszupin, ligados à produção industrial de sua empresa L’Atelier (1959–1988), aos utensílios de plástico da série Eva e às séries de mobiliário para escritórios. Será também resgatado no museu seu trabalho como arquiteto, mostrando alguns edifícios que projetou na Avenida Paulista, no Centro de São Paulo e no bairro de Higienópolis.
Na Casa Zalszupin, morada projetada pelo próprio Jorge, e onde ele trabalhou e viveu por mais de 60 anos, o foco é em sua arquitetura residencial, marcada por uma organicidade expressionista, com volumes curvos e paredes grossas e brancas. Fotos de Nelson Kon e croquis inéditos ajudam a entender melhor esta sua faceta. O espaço abriga ainda alguns móveis de Zalszupin que faziam parte da própria casa, como sua emblemática poltrona Dinamarquesa, a reedição da ETEL para sua poltrona Ondine e a última peça que ele criou para a marca, a poltrona Verônica. Há também obras de arte da Almeida & Dale, de artistas como Tunga, Anna Maria Maiolino, Laura Vinci e José Resende, que conversam com a estética do designer.
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Casa Guarujá. Foto: Nelson Kon
Casa Guarujá. Foto: Nelson Kon
Casa Guarujá. Foto: Nelson Kon
Casa Guarujá. Foto: Nelson Kon
Casa Guarujá. Foto: Nelson Kon
Prédio Higienópolis. Foto: Nelson Kon
Administrado pela ETEL e pela galeria Almeida & Dale, a Casa foi aberta no ano passado e vem realizando exposições diversas, em que se busca diálogos com obras de arte do acervo da galeria, a própria arquitetura da residência e mobiliários de Zalszupin, ou ainda de outros designers, como Claudia Moreira Salles, que expôs criações suas lá, entre peças emblemáticas e lançamentos, até o fim de maio.
Originais
Até o dia 3 de setembro, a recém-inaugurada Galeria Teo – um espaço dedicado a preciosidades de grandes nomes design modernista, das décadas de 30, 40, 50, 60 e 70 – também homenageia os 100 anos de Zalszupin com uma mostra. A expografia é assinada por Teo Vilela Gomes, empresário à frente da Casa do Teo, que em 2022 completa 15 anos, e pelo arquiteto e designer gráfico Claudio Novaes. A exposição abriga 40 móveis do designer, originais e certificados, parte acervo da própria galeria, e outra parte foi cedida por colecionadores, para o período da mostra.
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Exposição em homenagem ao centenário de Jorge Zalszupin na Galeria Teo. Foto: Ramanaik Cunha Bueno
Exposição em homenagem ao centenário de Jorge Zalszupin na Galeria Teo. Foto: Ramanaik Cunha Bueno
Exposição em homenagem ao centenário de Jorge Zalszupin na Galeria Teo. Foto: Ramanaik Cunha Bueno
Exposição em homenagem ao centenário de Jorge Zalszupin na Galeria Teo. Foto: Ramanaik Cunha Bueno
A seleção apresenta móveis de jacarandá maciço da Bahia e outros de jacarandá curvado, feito de compensado laminado, técnica que Zalszupin aprimorou em suas criações. Nos detalhes, destaque para os acabamentos de metal cromado e latão. Vale ressaltar ainda a elegante execução da tapeçaria de todas as peças, muitas finalizadas com botões de jacarandá, costuras e pespontos.
SERVIÇO
Orgânico Sintético: Zalszupin 100 anos
Até 4 de setembro
Museu da Casa Brasileira (MCB): Av. Brig. Faria Lima, 2705 – São Paulo (SP)
Visitação de terça a domingo, das 10h às 18h, com exceção da sexta-feira, que tem horário estendido até 22h
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada); às sextas-feiras, entrada gratuita
Casa Zalszupin: Jardim Europa (oendereço compartilhado após agendamento da visita)
Visitação de segunda a sexta, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 14h Entrada gratuita mediante agendamento prévio no site casazalszupin.com
Exposição Centenário Jorge Zalszupin Até 3 de setembro Galeria Teo: Rua João Moura, 1298 – São Paulo (SP)
Visitação de segunda à sexta, das 9h às 18h; sábado, das 10h às 14h
Entrada gratuita
Detalhe de "Maria Firmina dos Reis" (2022). Foto: Paulo Rezende/Divulgação Masp.
A mostra Joseca Yanomami: nossa terra-floresta é a primeira individual dedicada aos desenhos do artista, apresentando parte expressiva de sua produção no marco de 30 anos da homologação da Terra Indígena Yanomami. Ela reúne 93 desenhos de personagens, cenas, paisagens e fenômenos do universo yanomami, tendo como referência a floresta, seus povos, suas histórias e os cantos xamânicos – um registro que dá cor e forma aos espíritos vistos apenas por aqueles que passam pelo processo de tornar-se um líder espiritual. “Quando eu aprendi a desenhar eu ouvia os pajés cantando e eu gravava na minha cabeça para desenhar depois”, conta Joseca.
“Quando Yamanayoma, o espírito feminino da abelha, continua andando com seus passos curtos e firmes pela terra, os alimentos crescem bem. Esta é Yamanayoma” (2013). Foto: Cortesia Masp.
Integrante da comunidade Watoriki (Terra Indígena Yanomami no Amazonas), Joseca fundou, na década de 90, a primeira escola de seu grupo, incentivando crianças no aprendizado da escrita e no estudo de línguas. Na época, participou da produção de inúmeros folhetos bilíngues (yanomami/português) para programas de educação escolar e de saúde criados por ONGs brasileiras. No começo dos anos 2000, Joseca foi o primeiro Yanomami a trabalhar na área da saúde. Nessa época, ele também começou a esculpir animais da floresta em madeira, e, logo em seguida, passou a se dedicar também a desenhos que ilustravam elementos e histórias da vida yanomami.
A exposição ainda conta com a exibição do vídeo SOPRO, do coletivo Barreira Y, com apoio do Fórum de Lideranças Yanomami e YeK’wana e do Instituto Socioambiental. A obra traz a projeção dos desenhos do Joseca Yanomami, acompanhada de falas de Davi Kopenawa Yanomami, realizadas em 2020 no congresso nacional, como parte da campanha #foragarimpoforacovid, contra o garimpo e a disseminação da Covid-19.
Já a mostra individual Dalton Paula: retratos brasileiros apresenta 45 pinturas que retratam lideranças e personalidades negras historicamente invisibilizadas no Brasil.
Detalhe de “Maria Firmina dos Reis” (2022). Foto: Paulo Rezende/Divulgação Masp.
Nascido em Brasília, Paula vive e trabalha em Goiânia, onde se formou em Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás (UFG). Em 2021 participou da exposição Enciclopédia negra, na Pinacoteca de São Paulo; em 2020 fez sua primeira exposição individual, Dalton Paula: um sequestrador de Almas, em Nova York, na Alexander and Bonin Gallery. No ano de 2019 expôs no 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). Em 2018 foi selecionado para a Trienal Songs for Sabotage, do New Museum em Nova York e teve trabalhos na exposição Histórias Afro-Atlânticas, no MASP e no Instituto Tomie Ohtake. Seu trabalho integra coleções importantes, como a do Museum of Modern Art (MoMA), de Nova York, do Art Institute of Chicago, em Chicago, da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do MASP.
Sua prática artística utiliza diversas linguagens, como pintura, performance, instalação, fotografia e objeto, para evidenciar relações entre imagem e poder. Em seu repertório, a figura central é o corpo negro em diáspora, seus rituais, com destaque para os retratos de personalidades negras que constituem uma proposta de revisão da historiografia oficial do Brasil, a fim de ressignificar e dar protagonismo às contribuições de personalidades afrodescendentes.
A exposição traz trabalhos de diferentes fases da trajetória do artista, de 2018 até os dias atuais, sendo 30 deles exibidos pela primeira vez. As obras resultam de um longo processo artístico que se inicia com a seleção de biografias, parte para uma pesquisa e a coleta de documentos, como fotos e recortes, e então segue para a fase de produção.
Ilustração da artista visual, quadrinista e zineira Line Lemos.
Recém-saído da zona crepuscular da pandemia, o “mundo da arte” retoma as atividades suspensas nesse período incomum: novas feiras são arquitetadas, bienais com calendários antes transtornados enxergam a luz do dia, finalmente, e as galerias ocupam outra vez o negócio cara a cara. Estagnado, porém, nessa movimentação ao novíssimo normal, encontra-se o debate sobre a presença da arte e da cultura no sistema prisional. Tampouco se discute sobre a política pública de cultura voltada a essa população em âmbito nacional, mas talvez esse fato tenha menos relação com os interesses do “mundo da arte” e mais com a realidade de que tal política, na verdade, inexiste. De todo modo, que papéis podem ter a arte e a cultura em um cenário liminarmente considerado como um “Estado Inconstitucional de Coisas” pelo Supremo Tribunal Federal?
Em Aprendizagem, Reabilitação e Artes nas Prisões: Um Estudo de Caso Escocês[1], Tett e colaboradores relatam que pesquisas conduzidas na América do Norte, Nova Zelândia e no Reino Unido demonstram que a participação em projetos artísticos dentro das prisões pode trazer significativas mudanças, como melhora no relacionamento entre detentos, com funcionários e com suas famílias; melhora da autoestima e autoconfiança; desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação; e incentivo ao trabalho conjunto e auxílio mútuo. No estudo, alguns dos participantes relataram que sua integração aos projetos artísticos os ajudou a resgatar memórias alegres do passado, sentimentos positivos que os pesquisadores relacionam a um fortalecimento na confiança dos detentos para participação em outras atividades de aprendizado. Esse conjunto de ações poderia ainda fornecer refúgios dentro do sistema prisional e fortalecer a capacidade do indivíduo para lidar com um ambiente hostil, além de, em certos cenários, auxiliar no preparo para o seu retorno à vida em liberdade.
Transportando esses resultados para o contexto brasileiro, é possível verificar a implementação de programas semelhantes? O Relatório das atividades culturais no sistema prisional, encomendado pelo Departamento Penitenciário Nacional em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 2016, relata: “De forma geral tais atividades acontecem por esforços pessoais dos gestores da administração prisional e/ou de instituições parceiras da sociedade civil com ações de pouca escala e sujeitas a interrupções e descontinuidades”. De modo que “ainda que haja normativas internacionais e nacionais sobre a garantia dos direitos culturais à população privada de liberdade, observa-se que a produção cultural no sistema prisional brasileiro ocorre de forma pontual, fragmentada e desarticulada das políticas públicas de cultura em níveis nacional e estadual”. Assim, nem todos os estabelecimentos prisionais brasileiros contam com a execução dessas atividades, e estima-se que 90% dos 622.202 brasileiros sob custódia do Estado não tenham acesso às mesmas.
Para as unidades onde as atividades culturais acontecem, elas se concentram nas áreas de artesanato, livro, leitura e bibliotecas, artes visuais (desenho, pintura, fotografia), música (canto/coral, violão, flauta, bandas), teatro, dança, audiovisual (exibição de filmes) e capoeira, ainda que outras expressões tenham sido mencionadas como a comunicação (Rádio, Fanzines) Hip-Hop e a Arte Digital. No entanto, é preciso ressaltar um importante fator limitante que é a insuficiência de espaços físicos disponíveis e adequados para a sua realização nos estabelecimentos prisionais, fazendo com que as ações de arte e cultura sejam realizadas em salas de aula, pátios de sol, quadras esportivas e, em alguns casos mais precários, nas próprias celas.
Tangendo o assunto, o pesquisador André Luzzi, do Laboratório de Gestão de Políticas Penais (LabGEPEN), vinculado à UnB, chama à atenção que, “apesar do orçamento da secretaria de administração penitenciária ser um dos maiores do estado de São Paulo, só dedica 2% desse orçamento para reintegração social, todas as ações de inclusão das famílias, regularização de documentos, atendimento psicossocial, localizar e encaminhar pessoas para as vagas de trabalho, incluindo as questões culturais”. Segundo o pesquisador, “é flagrante que a prioridade não é a preparação para a liberdade e as ações que promovam direitos sociais no Art. 6º. da Constituição Federal. O que nós precisamos também é ampliar a destinação do recurso, ele existe e não é pouco”, indo ao encontro da fala de Claudia Aratangy, educadora, advogada e coordenadora do Núcleo de Oficinas, Formações e Campanhas da OAB-SP: “Tudo o que diz respeito a melhorar as condições de presídios e da vida das pessoas encarceradas é colocado no final da lista. Acho que o empecilho é, na verdade, uma vontade política”.
A advogada encara com otimismo, no entanto, as recentes mudanças trazidas pela Resolução Nº. 391 do CNJ, de 10 de maio de 2021. Com ela, outras atividades em arte e cultura podem ser compreendidas para a remição de pena – a leitura já era considerada. Anterior à Resolução, o relatório Subsídios técnicos para elaboração de orientação sobre remição da pena por meio de atividades culturais – um documento também produzido pela parceria DEPEN/PNUD de 2016 – já indicava que “compreender as atividades em arte e cultura no sistema prisional para fins de remição da pena é entender que as ações culturais são lugar privilegiado para a promoção de valores éticos, de solidariedade e cooperação, de cidadania, de reconhecimento e respeito às diferenças, de ressignificação de trajetórias individuais e coletivas, de formação integral e humana e de valorização da vida”. Aratangy aponta que a Resolução Nº. 391 amplia ainda a remição para pessoas estrangeiras, pessoas não alfabetizadas, e dá a possibilidade que não seja considerada apenas a escrita da resenha como comprovação de realização, em se tratando da leitura.
O relatório em questão enfatiza que em pé de igualdade está a abertura do sistema prisional para a sociedade civil e especialmente para os agentes do campo da arte e da cultura, “seja por meio da atuação dos diferentes fóruns de cultura, conselhos estaduais e municipais de cultura, das instituições de ensino superior, da rede de equipamentos culturais, dos pontos de cultura, educadores populares, dentre outros atores”. Explorando essa possibilidade, Aratangy conta que a própria OAB-SP vem tentando costurar algumas parcerias; a Santa Maria – fundação de livros didáticos que tem um projeto de leitura –, por exemplo, vai apoiar uma oficina de formação para que as mães encarceradas possam ser leitoras para seus próprios filhos.
Outro caso de interação sociedade-cárcere por meio da cultura é o conjunto de ações desenvolvido pela Pinacoteca do Estado de São Paulo que, desde 2017, tem uma parceria com a Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo – SAP para trabalhar com a população adulta privada de liberdade. Como fruto dessa colaboração surgiram oficinas, tanto com pessoas em regime semiaberto e que prestam serviço dentro da própria secretaria (resultando, posteriormente, em exposição), como em alguns centros de progressão penitenciária. Antes da pandemia, a Pinacoteca iniciou um processo, interrompido pela crise sanitária, no qual seriam desenvolvidas oficinas de serigrafia com as pessoas em regime semiaberto que prestam serviço na SAP; o material desses encontros geraria uma exposição itinerante, com planos de passar por três unidades prisionais da capital paulista, junto com a mediação dos autores dos trabalhos, além de um catálogo.
Apesar do plano não ter sido retomado até o momento, a Pinacoteca pretende realizá-lo no futuro. Além disso, o museu costuma receber visitas da população privada de liberdade adulta bem como dos jovens internos na Fundação CASA, trabalho que já se estende por 15 anos e que continua agora de modo híbrido, atendendo as visitas presenciais, mas também realizando percursos virtuais para as unidades do interior, as quais, devido à distância, dificilmente conseguiriam trazer os jovens para visitar o Museu em São Paulo.
Gabriela Aidar, Coordenadora dos Programas Educativos Inclusivos do Núcleo de Ação Educativa, conta que é importante ter uma abordagem específica para que esses públicos sintam-se “bem-vindos, acolhidos e participantes desse universo porque, de fato, à primeira vista é muito diverso, muito diferente, muito distinto do que é a realidade deles”.
“Primeiro nós estabelecemos parcerias para entender os processos que estão sendo desenvolvidos nas organizações de origem, então a visita ao museu tem que dialogar de alguma forma com o que está já sendo trabalhado nesses locais. A partir desses contatos nós pensamos em alguns roteiros que possam ser de interesse do grupo. ‘O que nós vamos conversar? O que vamos mostrar para esses grupos que pode ser relevante aqui no museu?’ Para cada grupo, vamos construindo percursos educativos particulares”, relata Aidar, reforçando o caráter participativo das visitas, com diálogo constante:
“Para quem está em situação de privação de liberdade, poder falar o que pensa, dar sua opinião, ser ouvido, valorizado, considerado, não é algo pequeno. Liberdade de expressão, nesse caso, não é algo secundário em absoluto. Esses impactos de ordem subjetiva são muito difíceis de mensurar, mas, para nós, são os principais de todas essas ações que desenvolvemos com esses grupos.”
Segundo Wellington Araújo, gerente artístico da Fundação CASA, “há uma inegável relação que se estabelece com o fazer artístico-cultural permitindo que a ideia de que fazer arte como algo apenas possível a quem nasceu com o ‘dom’ seja questionada. Isso abre possibilidades, não de se tornar artista com reconhecimento público, mas de que os conhecimentos e as habilidades imanentes ao fazer artístico sejam válidos a outras formas de existência em nossas vidas”. Já as visitações, segundo ele, têm como primeiro passo ultrapassar a barreira simbólica existente, permitindo acessar o espaço físico do local presente com seu corpo. As visitações dos adolescentes, mediadas pelas equipes educativas dos espaços culturais, também passam pelo Itaú Cultural, Catavento, Museu Afrobrasil, MIS, MIS Experience, Paço das Artes e outros com menor frequência. “O contato com o diferente sempre é enriquecedor, não é monocromático, mas colorido, permite observar com mais riqueza o que antes não se percebia”, afirma Araújo.
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Visita dos jovens da Fundação CASA na exposição Enciclopédia Negra, na Pinacoteca de São Paulo. A visita foi parte do "Projeto, Expresso", idealizado por Daniela Machado e dirigido pela mesma junto de Carla Plascak. A iniciativa envolveu ateliês de desenho, pintura, fotografia, música e audiovisual; além das visitações à Pinacoteca e ao IMS Paulista, e um ciclo de conversas com os 30 jovens participantes. Foto: Daniel Hafez / Divulgação
Visita dos jovens da Fundação CASA na exposição Enciclopédia Negra, na Pinacoteca de São Paulo. A visita foi parte do "Projeto, Expresso", idealizado por Daniela Machado e dirigido pela mesma junto de Carla Plascak. A iniciativa envolveu ateliês de desenho, pintura, fotografia, música e audiovisual; além das visitações à Pinacoteca e ao IMS Paulista, e um ciclo de conversas com os 30 jovens participantes. Foto: Daniel Hafez / Divulgação
Visita dos jovens da Fundação CASA na exposição Enciclopédia Negra, na Pinacoteca de São Paulo. A visita foi parte do "Projeto, Expresso", idealizado por Daniela Machado e dirigido pela mesma junto de Carla Plascak. A iniciativa envolveu ateliês de desenho, pintura, fotografia, música e audiovisual; além das visitações à Pinacoteca e ao IMS Paulista, e um ciclo de conversas com os 30 jovens participantes. Foto: Daniel Hafez / Divulgação
Visita dos jovens da Fundação CASA na exposição Enciclopédia Negra, na Pinacoteca de São Paulo. A visita foi parte do "Projeto, Expresso", idealizado por Daniela Machado e dirigido pela mesma junto de Carla Plascak. A iniciativa envolveu ateliês de desenho, pintura, fotografia, música e audiovisual; além das visitações à Pinacoteca e ao IMS Paulista, e um ciclo de conversas com os 30 jovens participantes. Foto: Daniel Hafez / Divulgação
As visitas, os debates e as oficinas, direcionados aos adolescentes da Fundação CASA ou aos adultos sob custódia do Estado, contribuem para “desafiar e romper construtivamente as identidades negativas que eles haviam internalizado e que eles sentiam que às vezes lhes era comunicado por outros dentro e fora do sistema prisional”, como afirmam Tett e colaboradores, na pesquisa citada no começo desta matéria. Os autores assinalam, a propósito, que nas teorias contemporâneas sobre reinserção social e desistência do crime, o contato com a sociedade é fundamental. Nesse sentido, a exibição de seus trabalhos artísticos e artesanato, a execução de peças teatrais, as leituras de poesia ou prosa, apresentações de música, entre outras performances públicas, oferecem às pessoas privadas de liberdade a chance de trocar com a comunidade, compreendendo “uma importante forma de ritual em que um público estimado reconhece e celebra conquistas e mudanças”, logo, “parte da função dessas apresentações é que elas confirmem, não apenas para o público, mas também para os participantes, a autenticidade de sua realização.
Essas experiências têm o potencial de estimular a crença nascente na possibilidade de mudança e, assim, ajudar a construir novas identidades, redes sociais e contatos nos quais essas novas identidades possam ser inseridas. Ademais, essas performances podem ajudar os indivíduos a imaginar diferentes futuros possíveis”.
A partir disso é válido considerar – além das dimensões simbólica (relacionada ao imaginário, às expressões artísticas e práticas culturais) e cidadã (a cultura como direito e importância em contextos de vulnerabilidade social) – a dimensão econômica da cultura, como geradora de crescimento, emprego e renda.
O que está por vir
Uma vez libertos, é possível para os ex-detentos dar continuidade a esse estímulo – do saber e produzir artístico e cultural – iniciado durante os projetos realizados nos estabelecimentos prisionais? De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), em 2014, 75% dos encarcerados não tinham cursado o ensino médio (um indicador de baixa renda); caso essas pessoas queiram dar continuidade aos estudos e ao contato com a arte tidos enquanto estavam detentos, é plausível supor que elas teriam que equilibrar estudo e trabalho, cuja conquista é ainda mais árdua quando se carrega um estigma como dos egressos do sistema prisional.
No estudo O Desafio da Reintegração Social do Preso: Uma Pesquisa em Estabelecimentos Prisionais, divulgado pelo Ipea em 2015, foram entrevistados participantes da administração do sistema prisional, da elaboração e execução de programas, projetos e ações voltados à reintegração social, atores do sistema de justiça, além dos próprios apenados (cujas identidades são respeitadas pelos pesquisadores, que decidiram mantê-las em sigilo). “Nenhum dos entrevistados desconsiderava este estigma que envolve o cárcere, ao que atribuíam uma das principais causas da reincidência criminal. Geralmente a sociedade não oferecia espaço de êxito social para o preso, considerando-o inapto para o convívio em sociedade, tratando-o com preconceito e discriminação, o que gerava revolta, pois consideravam injustos os rótulos vindos de fora”, registra o estudo.
“Eu estou bastante trilhado. Não quero mais crime, não quero mais nada. Só que a sociedade não está preparada para receber um ex-preso. E é difícil… Quando a gente passa pelo sistema, as portas fecham, principalmente as oportunidades de trabalho, fecham mesmo. Ter antecedentes criminais é complicado, a sociedade não quer saber”. Esse é o depoimento de um dos entrevistados, condenado a regime fechado, que pode ser complementado pela fala de um agente do mesmo complexo penitenciário: “Então, o preso pode ser ressocializado? Pode, mas, para que ele não volte ao sistema prisional, ele tem que ter oportunidades lá fora”.
Eventualmente é possível se libertar desse estigma? Como aponta Marina Dias, advogada e diretora executiva do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD): “O estigma fica, é muito difícil conseguir bloquear essas informações, então infelizmente é algo que acaba atormentando o egresso, muitas vezes, para o resto da vida”. Mesmo com o processo de Reabilitação Criminal – que torna sigilosas ao âmbito civil as passagens criminais de quem já teve a pena cumprida –, ainda há ocorrências de acesso a essas informações por ente que não diz respeito ao âmbito judiciário. “É por isso que a gente precisa refletir sobre essa máquina de triturar gente que é o sistema prisional”, completa.
Por fim, a discussão sobre política cultural destinada à população privada de liberdade passa obrigatoriamente pela contrapartida social uma vez que esses indivíduos tenham cumprido sua pena e retornado à liberdade, para que não lhes seja negada a possibilidade de gozar também da dimensão econômica da cultura. Dessa forma, a reflexão mais imediata e tangível é que se deve cobrar dos agentes do mundo da arte, se não um envolvimento, pelo menos um interesse pelos artistas que estão passando ou que já passaram pelo sistema prisional.
Em uma pesquisa feita pela reportagem, foi perguntado a 42 galerias de arte que participam das feiras nacionais de maior porte se elas poderiam apontar artistas egressos, representados pelas mesmas e/ou que já haviam exposto ou vendido obras na galeria: 80% responderam não reconhecer artistas com tal trajetória ou não ter conhecimento de tal histórico entre os artistas representados e/ou cujas obras já haviam sido vendidas pela galeria, enquanto 20% não forneceram resposta sobre a questão.
Embora não seja feita qualquer relação direta entre essa ausência e as mazelas do estigma recaído sobre os egressos, é oportuno questionar se não é passada a hora do mercado e das instituições começarem uma busca ativa por artistas egressos do sistema prisional ou facilitarem sua inclusão nos mesmos espaços.
[1] – Lyn Tett, Kirstin Anderson, Fergus Mcneill, Katie Overy & Richard Sparks (2012) Learning, rehabilitation and the arts in prisons: a Scottish case study, Studies in the Education of Adults, 44:2, 171-185