"Anna", Anna Maria Maiolino, 1967. Foto: Coleção da Artista

Psssiiiuuu… A onomatopeia – que pode ser assobio, chamado, flerte, pedido de silêncio, segredo, ou sinal – dá nome à nova mostra individual de Anna Maria Maiolino, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Uma seleção de cerca de 300 obras compõe a antologia curada por Paulo Miyada, e nos convida a uma caminhada pela ‘vida-obra’ de Maiolino – para utilizarmos um termo cunhado pela própria. A arte!brasileiros visitou a mostra e conversou com o curador. Confira:

Inaugurada em maio, mês em que a artista completou 80 anos, a mostra reúne pinturas, desenhos, xilogravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, peças de áudio e instalações de diferentes períodos de sua carreira. Para isso, a instituição reserva as três grandes salas do andar superior – raramente destinadas a uma mesma exposição, tendo sido antes dedicadas conjuntamente apenas às individuais de Yayoi Kusama e Louise Bourgeois.

Apesar de seu caráter antológico, Anna Maria Maiolino – psssiiiuuu… não se organiza como retrospectiva linear. É concebida como uma espiral que circula entre todas as fases e suportes da carreira da artista. “Vai-se adiante para se reencontrar o princípio, consome-se energia para devolver as coisas ao que sempre foram”, destaca Miyada. Em entrevista à arte!brasileiros, completa: “como nós não estamos lidando com a cronologia do calendário, nós fomos traçando espirais que se refletem em cada sala, que não são exatamente fases, mas são ênfases recorrentes na obra da artista”. São esses, os núcleos ANNA, Não Não Não e Ações Matéricas.

O primeiro nos convida a compreender como vida, biografia, desejo e multiplicidade convergem no corpo de obras da artista. Maiolino sobrepôs múltiplos papéis – como filha, artista, mãe, cidadã, mulher, amante, escritora, latino-americana, europeia e imigrante -, e assim mapeou seus deslocamentos físico e psíquico durante a vida, construindo uma compreensão de identidade como constante fluxo que vai e vem entre um e o outro, entre o eu e a multidão. Em ANNA, ficamos diante desses gestos de uma mulher que pode ser uma ou muitas, que deseja e é desejada, que cuida, que desaparece e abruptamente emerge novamente.

“A trajetória da artista encontra problemas macropolíticos como a fome, a ditadura, a censura, a repressão e a violência de estado” em Não Não Não, explica Miyada. Assim, a seção abrange obras como a instalação O amor se faz revolucionário – baseada em um projeto de 1992 que homenageava as mulheres que se organizaram para perseguir a verdade e a justiça depois de terem perdido seus filhos durante a ditadura militar argentina – e a remontagem de Arroz e Feijão (1979), que trata da aparente normalização da pobreza e da fome numa escala global.

Pressionar, moldar, cortar, agarrar, escorrer e rolar. Talvez esses verbos sejam os mais latentes em Ações Matéricas. É a partir dessas ações que Maiolino lida com argila, tinta, vidro, concreto e outros materiais, resultando em uma prática visual e escultural fortemente ancorada na escala do corpo. A seção inclui obras feitas há mais de 50 anos ao lado de trabalhos recentes, compondo uma espécie de paisagem com múltiplas peças que se relacionam de modo táctil e visual.

Os três anos de contato intenso e longas conversas entre Miyada e Maiolino resultam na mostra que poderá ser visitada até 24 de julho, e em ensaio aprofundado do curador sobre a produção da artista, publicado no catálogo – juntamente a reproduções de todas as obras expostas e de uma seleção inédita de escritos da artista ao lado de documentos, projetos, fotografias e esboços. 

SERVIÇO

Anna Maria Maiolino – psssiiiuuu…
Instituto Tomie Ohtake | Av. Faria Lima, 201 – Pinheiros, São Paulo (SP)
7 de maio (inauguração das 12h às 15h) a 24 de julho de 2022
Terça a domingo, das 11h às 20h

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