"O maestro", da série Viagem pelo Fantástico, de Boris Kossoy.

Nos anos 1970, personagens, manequins, figuras estranhas apareceram nas fotografias de Boris Kossoy. Regendo uma sinfonia muda num cemitério, na curva de uma estrada, nos espreitando por trás de uma janela. As fotografias foram reunidas num livro “Viagem pelo fantástico”. 50 anos depois o livro é republicado, acompanhado por um novo volume, com textos críticos. Mas não só. Conhecido por seus textos críticos sobre fotografia que nos ajudaram a entender os processos, os códigos, a simbologia das imagens, mas acima de tudo a interpretar estas mensagens dentro da história, Boris Kossoy aos poucos tem mostrado seu lado fotógrafo, seu olho que busca as ruas, o cotidiano. Os manequins, a encenação tão clara nas fotos dos anos 1970 foram abrindo espaço para personagens reais com os quais ele esbarra em suas andanças, em suas viagens. 

Em Fortaleza, no Museu da Fotografia, uma exposição perpassa este caminhar fotográfico. Com curadoria de Diogenes Moura, 92 fotografias, algumas inéditas, apresentam esta trajetória. “Estranhamentos”, é com este título que as fotos se apresentam, se arrumam nas paredes de museu, criam um discurso imagético.

Para Boris, suas fotografias inseridas no que se denominou na América Latina de “realismo fantástico”, são vestígios de um inusitado que encontramos nas ruas: “São fotografias que eu defino documentais, mas com abordagens diversas”. Não são, como há 50 anos, imagens inventadas ou encenadas são imagens encontradas: “Meus personagens foram deixando o palco e eu fui para as ruas”, comenta Boris. Já Diógenes Moura escreve no texto da exposição: “O estranhamento nos fala sobre o instante seguinte, mesmo que este instante esteja no passado. Procure”.

Na exposição, sob o olhar atento do curador, fica clara a força autoral: “Penso as imagens a partir de outras imagens, da imaginação. Imagens que tem camadas de profundidade, imagens que estão ancoradas nos sentidos da cultura. Imagens que se aproximam da literatura, do teatro e do cinema”, complementa Boris.

Mas quem inspira o teórico, o historiador? “Sem dúvida tenho uma grande ligação com a literatura, como Edgar Allan Poe, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges, Gabriel García Marquez, mas também cineastas como Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick”. Imagens e figuras de linguagem que ficaram – e ficam – guardadas em nosso imaginário, que criam nosso repertório, aliadas a sua reflexão sobre a imagem acabaram por criar esta percepção de mundo que ele persegue: “Sempre procurei nas fotografias a dicotomia entre o dado aparente e o dado oculto da imagem. O teórico e o fotógrafo se misturam. Minhas imagens me levaram ao pensar teórico que me levou a realizar minhas fotografias”. E é neste entrelaçamento que surge a produção de Boris: “Nunca é só uma imagem. Suas fotos são um reflexo do que ele é, de todo o repertório desse homem inteligente e com uma visão de mundo muito peculiar. Tudo o que Boris produz, tudo o que fala, fotografa ou escreve, são reflexões dele. O resultado de suas palavras é a imagem e a continuação dessa imagem é a palavra impressa. Então, é sempre uma coisa por dentro da outra”, enfatiza Diogenes Moura. 

Aos 81 anos Boris Kossoy continua inquieto e cheio de projetos, sobre os quais se nega a contar. Portanto, só nos resta esperar.

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