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Detanico Lain: “Sobre a terra, sob o céu”, na Galeria Vermelho

"Sobre a terra, sob o céu" (2022), vista da exposição na Galeria Vermelho. Divulgação.
"Sobre a terra, sob o céu" (2022), vista da exposição na Galeria Vermelho. Divulgação.

Até o dia 10 de setembro, a Vermelho apresenta Sobre a terra, sob o céu, individual da dupla Detanico Lain, sendo esta a sua oitava exposição solo na galeria.

As obras de Angela Detanico e Rafael Lain são imbuídas de referências científicas, matemáticas e literárias. Elas lidam com temas relacionados ao tempo, ao espaço, à memória, à linguagem e à história. Em Sobre a terra, sob o céu, particularmente, são transpassadas sempre pela questão da linguagem.

Entre os trabalhos expostos está a série Vanitas (2018), onde palavras que se referem à passagem do tempo são escritas com um sistema de escrita no qual cada letra do alfabeto é designada por uma determinada quantidade de flores dentro de vasos. Um vaso com uma flor corresponde à letra A, um vaso com duas flores, à letra B, e assim por diante. E, no segundo andar, temos Terra Incógnita (2022), em que o título da obra aparece escrito em tinta acrílica sobre tela de linho, utilizando o sistema Timezonetype, desenvolvido por Detanico Lain. Timezonetype é uma tipografia criada a partir da relação entre fusos horários e as letras do alfabeto. A porção de terreno recortada pelo fuso horário é utilizada como a letra que ela designa.

Uma extensa e crítica mostra

Mural Marielle Franco (criação coletiva), Escadão Marielle Franco (criação coletiva) e Fumaça Antifascista (criação coletiva). Imagem feita em memória aos três anos do assassinato de Marielle Franco, uma ocupação de várias ações artísticas lembrando que a justiça ainda não foi feita. Foto: Reprodução

Frente ao caos sócio político do momento, o homem ainda conta com a memória como refúgio para reconstruir o espaço da utopia, do sonho e da resistência. A coletiva Histórias Brasileiras, que ocupa o 1º andar e o segundo subsolo do Museu de Arte de São Paulo (Masp), provoca conexões do homem contemporâneo com a sua ancestralidade, mistura ciência, saberes populares, reflexão sobre os povos originários e afros, rememora lutas sociais e políticas enfrentadas pelos brasileiros ao longo dos tempos.   

Seguindo as pulsões entre a tradição e a novidade, Adriano Pedrosa, diretor artístico do museu, e Lilia Moritz Schwarcz, antropóloga convidada, junto com mais nove curadores, orquestram a exposição com quase 400 obras assinadas por 250 artistas. O disparador conceitual da mostra é fugir da história oficial, imaginar enquadramentos temáticos que provoquem reflexões renovadas sobre nossa colonização. Pedrosa e sua equipe têm realizado exposições amarradas em torno de diferentes narrativas que começaram com Histórias da Infância (2016), Histórias da Sexualidade (2017), Histórias Afro-Atlânticas (2018), Histórias das Mulheres, Histórias Feministas (2019) e Histórias da Dança (2020), que ocorreu somente online por conta da pandemia. 

“Agora com o bicentenário da Independência realizamos Histórias Brasileiras. O Masp é um dos únicos grandes museus brasileiros a não criar nada em torno da Semana de Arte Moderna de 1922”, diz Pedrosa. Segundo ele, a instituição está mais voltada para a história social e para o campo da cultura. “Essa coletiva faz mais sentido para nós.” 

Os oito núcleos que balizam a grande exposição não constituem um guia, todos têm vida própria e são eles: Bandeiras e Mapas, Paisagens e Trópicos, Terra e Território, Retomadas, Retratos, Rebeliões e Revoltas, Mitos e Ritos, Festa. A coletiva começa mostrando a que veio. Em Bandeiras e Mapas, Bruno Battistelli mostra sua obra Bandeira Afro-Brasileira (2022), que não é só indicador do gosto do autor, mas uma prova de resistência e militância. O artista muda as cores da bandeira nacional e a transforma em bandeira afro-brasileira. Lilia, que divide a curadoria desse segmento com Tomás Toledo, vê essa obra como um troco. “Aqui temos o sequestro de volta, não só pelo ativismo negro, mas também pelo ativismo LGBTQ+ e pela retomada dos mapas. Todo mapa é imaginário e um mapa do século 16 não é menos imaginário do que o mapa do Jaime Lauriano, que desmistifica a democracia racial.” 

Na verdade, os artistas estão fazendo a ocupação dos símbolos nacionais, como observa Lilia. Tudo é feito com suportes de várias procedências – tela, saco de lixo, objetos descartados – enfim, uma mistura do que é mais provisório com o que é mais permanente. Diante de uma sociedade armada e violenta, é agregadora a presença de 5664 Mulheres, (2014), trabalho de Beth Moysés. As cápsulas de balas de revólver são sustentadas por tule com pérolas e representam as 5664 mulheres assassinadas por seus parceiros no Brasil, em 2013. 

Em Mitos e Ritos há o questionamento da ocupação colonial portuguesa que até hoje parece mantida em segredo público. A maioria dos artistas desse segmento é de origem africana e suas obras foram garimpadas pelos curadores Fernando Oliva, Glaucea Britto e Tomás Toledo. “Muito mais do que religiões esse núcleo trata de mitos, religiosidade, questionando o projeto colonizador,” comenta Oliva. Os cruzamentos que movem os dois grupos de inflexão com as religiões de matrizes africanas e indígenas reverberam na história da arte brasileira, embora, segundo Oliva, seja difícil detectar isso no Brasil, no campo da visualidade.

Gênero canônico dentro da história da pintura, o retrato ganha um grande “corredor” na exposição, com dezenas de obras. Segundo Pedrosa, o Masp tem tradição de retrato de corpo inteiro, de escala natural como os de Velázquez, Rubens, Ticiano, Victor Meirelles. “Quis comissionar e fazer justaposição, contraste, contraponto deles com a obra de artistas contemporâneos.” Nesse contexto, o curador solicita a Panmela Castro, para o núcleo dedicado ao gênero, um retrato da Maria Auxiliadora da Silva; no mesmo segmento, o pintor No Martins mostra uma obra a partir de uma fotografia, a única aí que não é autorretrato. 

A história do Brasil é tensionada por qualquer ângulo que se tente entendê-la. Terra e Território deixa latente as lutas por espaços territoriais desde o século 16. Pedrosa cura esse segmento com Isabella Rjeille e comenta que o tema envolve artistas nacionais e estrangeiros. O pintor afro-americano Hank Willis Thomas, criou uma das obras mais sintéticas do gênero, o mapa da América do Norte ligado ao da África, numa clara alusão à rota dos navios negreiros. O poeta Langston Hughes, negro, comunista, ligado aos beatniks e ativista na década de 50, já havia falado sobre essa ponte maldita sobre esses dois continentes.

O Brasil, com seus quilômetros de litoral e densas florestas, é um multiplicador de paisagens. Com Guilherme Giufrida, Lilia trabalha o tema Paisagem e Trópicos e lembra que o Brasil sempre foi representado pela humanidade decaída, que são teorias da mestiçagem e, por outro lado, pela eternização da paisagem nos grandes trópicos, como o éden na terra. Aqui está em jogo a questão da horizontalidade tema debatido entre os curadores, portanto não é surpresa que Histórias Brasileiras tenha essa linguagem que se revolve num horizonte contínuo, endêmico, como explica Lília. Entre as obras garimpadas destacam-se as pinturas Paisagem com Jiboia (1660), de Frans Post, que representa a paisagem brasileira, e a fotografia Natureza Morta 1 (2016), de Denilson Baniwa, que traz a silhueta de um indígena morto na floresta amazônica, uma analogia ao extermínio simultâneo tanto da mata quanto dos povos tradicionais.

Com André Mesquita, Lilia revive Rebeliões e Revoltas. “O Brasil sempre guardou a imagem mitológica de país pacífico, harmonioso, no entanto foi o último a abolir a escravidão.” Hoje as revoltas nascem contra o passado, como o protagonismo de falsos heróis como os Bandeirantes. A curadora ressalta a presença da obra Confronto com as Tropas de Arthur Oscar, do cearense Descartes Gadelha, além do coletivo a Linha do Horizonte, que fala de censura com bandeiras das mães de maio. André Mesquita comenta pontos da mostra como a greve dos de anarquistas nas ruas de São Paulo em 1920. Essas lutas são feitas com o uso de panfletos, a partir de uma produção efêmera que é transformada em arte. No meio da sala, a escultura agigantada de Rubens Gerchman de 1968, criada sinteticamente com as letras L.U.T.E., fez parte do ativismo do artista contra a ditadura militar nos anos 1960.

Avançamos para o núcleo Retomadas, com a curadoria de Clarissa Diniz e Sandra Benites, que decidiram cancelá-lo em protesto contra a não inclusão de fotos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da luta indígena, feitas por João Zinclar, André Vilaron e Edgar Kanaykõ Xakriabá. Depois das negociações com a diretoria artística do Masp, as fotos voltaram, e elas concordaram em retomar o núcleo. 

Clarissa aponta vários trabalhos de ocupação com diferentes formas de luta presentes neste segmento. A curadora milita na fronteira entre a resistência e a descoberta. Entre os achados de Histórias Brasileiras destaca-se a “ressureição” do povo puri, por meio da cultura, da língua, e, sobretudo pelo trabalho de organização e pela publicação de um dicionário cujo vocabulário foi recuperado com viajantes ou jesuítas puri. “Com isso, um grupo de descendentes, que não conhecia nada sobre essa etnia, começou a estudar puri e também a compor, fazer poesia e se comunicar nessa língua,” explica Clarissa. 

Múltiplas narrativas contra-hegemônicas estão por todos os núcleos. O movimento de descolonização iniciou-se por volta de 2010 e hoje ganha corpo e espaço. Chama a atenção Monumento à Voz de Anastácia (2019), obra de Yhuri Cruz, representação da escrava torturada e obrigada a usar grilhão e máscara de flandres até sua morte. 

De descendência Guarani, Sandra Benites diz que a luta dos povos indígenas no Brasil é ampla e violenta. “A diversificação é grande, há indígenas morando em zonas demarcadas, na cidade, nas favelas, todos apagados como sujeitos. Nos confrontos pela retomada de nossas terras, a grande mídia vê a todos como invasores”, lamenta Sandra.

O núcleo Festas encerra a exposição e os seus curadores, Amanda Carneiro e Adriano Pedrosa, acreditam que os trabalhos ali presentes coloquem o público em contato com as contraditórias maneiras de celebrar, de diferentes grupos. Chama a atenção a navalha da Madame Satã (Pernambuco, 1900-Rio de Janeiro, 1976). João Francisco dos Santos, o mítico Madame Satã, era homossexual, uma espécie de bandido grã-fino, que vivia na Lapa dos anos 1930, território-livre da malandragem carioca, e que também faz parte das lendárias histórias do Brasil. 

SERVIÇO

Histórias Brasileiras
Masp (Museu de Arte de São Paulo): Av. Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo (SP)
Em cartaz até 30 de outubro de 2022
Horários: Terças-feiras, das 10h às 20h (entrada até as 19h); de quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h)
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 50 (entrada); R$ 25 (meia-entrada); terças e quinta-feiras grátis

 

Uma nakoada pela arte

Vista de NAKOADA, no Mam Rio, com obra do MAHKU em destaque
"Kapewẽ Pukenibu", do MAHKU - Movimento dos Artistas Huni Kuin, obra comissionadas para "Nakoada". Foto: Fábio Souza / MAM Rio

Uma serpente atravessa o Salão Monumental do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, deglutindo obras modernistas, criações de diferentes comunidades indígenas e engolindo a própria arquitetura do museu. O que talvez pareça um conto é a proposta expográfica de Nakoada: estratégias para a arte moderna, em cartaz até novembro de 2022. Desapegada do cubo branco, a exposição é construída a partir da silhueta de uma cobra, e é caminhando por seu corpo que tomamos contato com a seleção de trabalhos expostos. 

Com curadoria de Denilson Baniwa e Beatriz Lemos, a mostra entra para a longa lista de programações que buscam dialogar com o centenário da Semana de Arte Moderna, reunindo obras das coleções do MAM Rio — especialmente a de Gilberto Chateaubriand, que reúne um importante e vasto acervo do período e está em comodato com a instituição há anos — peças do Museu do Índio e trabalhos de artistas contemporâneos. Porém, ao invés de um caráter celebratório ou crítico frente à efeméride, a mostra propôs uma outra estratégia: trabalhar perspectivas de futuro, e o fez impulsionada por uma ética baniwa, a koada. 

“Não tem uma tradução que satisfaça o valor da palavra ‘koada’. Ela pode ser entendida como vingança, troca, revolta, retomada…”, explica Denilson em entrevista à arte!brasileiros. Trata-se de uma estratégia de guerra do povo Baniwa da região do Alto Rio Negro, no Amazonas. Praticada a partir do estudo da cultura e dos saberes de outros povos – permitindo uma compreensão do contexto presente a partir da avaliação de situações passadas -, ela visa dar continuidade à existência da própria comunidade. Já o termo ‘na’ “é um prefixo que significa ‘nossa’ ou ‘nós’. Então nakoada seria ‘nossa retomada’, ‘nossa restituição’, ‘nossa revolta’, ‘nossa volta’, coisas desse tipo”, completa o curador.  

Como ressalta Beatriz, essa ética baniwa não se propõe como tema, “não é uma exposição sobre esse conceito, mas é uma possibilidade de vivê-lo no corpo”. Assim, pretende-se convidar o público a uma nakoada pela arte, a enxergar o que pensamos conhecer sobre o modernismo e o Brasil que ele almejava e a revisar os legados do passado e seus usos no presente. 

Para isso, grandes nomes do movimento, como Anita Malfatti, Candido Portinari, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, se encontram em diálogo com obras contemporâneas criadas especificamente para a exposição por Cinthia Marcelle, MAHKU, Novíssimo Edgar e Zahy Guajajara e com criações de diversas etnias indígenas. Tudo isso costurado em uma proposta expográfica que toma forma de serpente cósmica. “Essa simbologia é recorrente em diversas culturas ocidentais e orientais. A cobra digere a nossa história e carrega, dentro de seu bojo, esse tempo expandido”. Assim, quem caminha pelo Salão Monumental da instituição encontra diálogos, enfrentamentos e negociações entre os trabalhos, seus contextos, os períodos que os abrigaram, os autores e as visões de mundo que os criam.

“Se antes nakoada era usada num contexto de guerra e a estratégia servia como um guia para retribuir ou retomar um território; hoje, pensando uma nakoada pela arte, nós estamos nesse mundo fazendo pequenos movimentos de reapropriação do que nos foi tirado: a voz, a presença, a autonomia, a existência”, diz Denilson. 

Uma capoeira com a memória

No momento em que o evento marco do modernismo completa 100 anos, elaborar uma mostra que trabalhe um dos principais acervos de obras do período – abrigado por um museu que é em si fruto desse movimento – era algo imprescindível. “Quando existem essas demandas, acho que o mais interessante é exatamente olhar o entorno, entender o que faz sentido hoje, o que a gente pode trazer de novos olhares. Não exatamente uma exposição sobre esse acervo, mas com esse acervo”, conta Beatriz Lemos. 

A escolha por estabelecer um diálogo do contemporâneo com a coleção modernista foi resposta a um ensejo da dupla curatorial. Como explica Denilson: “A gente queria fazer um comentário sobre o modernismo, mas não invalidar ou queimar esse acervo, não atacar de forma deliberada tudo isso, porque a quem interessa queimar as coisas, né? Fico pensando como fazer, então, com que tenha uma reflexão da importância do modernismo, que teve equívocos, só que também possibilitou uma presença indígena, negra, LGBTQIA+, feminina dentro de um contexto de produção de arte no Brasil”. Ao que Beatriz complementa: “existe um lugar de dançar com a história, que a gente não pode chegar e simplesmente negar tudo, jogar fora e apagar essa memória. É importante tentar jogar com o próprio tempo, negociar com o tempo”.

Essa negociação ganha forma em uma série de pequenos ‘atos nakoada’ espalhados pela mostra – por vezes na escolha das obras e de seus posicionamentos, por outras, nos textos de parede e recursos que nos guiam pela exposição. 

Contra-ataques e aproximações

Com 12 metros de comprimento, o painel Kapewẽ Pukenibu, feito pelo MAHKU – Movimento dos Artistas Huni-Kuin especialmente para a exposição, é a obra que primeiro recebe quem chega à Nakoada. Representando o jacaré canoa, uma figura encantada da narrativa huni-kuin de fundação dos mundos, a tela nos leva à seção Natureza, invenção e paisagem, ficando lado a lado com quadros de Alberto Guignard e Anita Malfatti. Se os trabalhos modernistas nos trazem um Brasil interiorano e de paisagens bucólicas sob um olhar contemplativo, a pintura do Mahku propõe re-orientações, tratando de se relacionar com a impossibilidade de domesticação da natureza e colocando-a não sob um ponto de vista estetizante, mas enquanto um ser plural, encantado e familiar. 

“Existe uma retomada, uma revolta, uma retribuição, uma vingança também em algum sentido, em colocar o acervo do MAM sendo engolido pela serpente cósmica do tempo, e ao redor – fazendo as ações de contra-ataque e ataque, afastamento e aproximação – os artistas contemporâneos”, explica Denilson Baniwa. 

Esse impulso talvez seja ainda mais explícito Meditação da ferida ou a escola das facas, trabalho de Cinthia Marcelle que distribui 25 faqueiros, que trazem em seu interior apenas a silhueta de facas e punhais usados como armas por diferentes povos. “A ausência dessas ferramentas indica que elas estão sendo usadas no espaço. Então é justamente chegar e visualizar que elas estão aqui em conflito, né? Porque o conflito é dado. Então, esses punhais estão com o colonizador, ou com aqueles que são colonizados”, explica Beatriz. 

Alguns desses embates (simbólicos) são percebidos na exposição. Como no posicionamento de Pata Ewa’n – o coração do mundo, pintura de Jaider Esbell que traz a imagem de um cavalo-marinho, ser cultuado por várias culturas afro-indígenas por sua ligação às narrativas de origem. Com mais de dois metros de altura, o quadro fica ao lado de Urutu, de Tarsila do Amaral, que mede pouco mais de 60 centímetros, e de três telas de Rego Monteiro, ainda menores. “Colocar artistas como Jaider Esbell quase que engolindo a Tarsila e o Rego Monteiro — pelo tamanho inclusive das obras — é legal pra provocar sobre as presenças que ocupam hoje”, conta Denilson. 

Já a seção retratos é composta em grande parte por corpos negros, indígenas e de mulheres. Em sua maioria, pintados há cerca de 80 ou 100 anos, “quando o intuito era apreender esse outro, como algo generalizado desse corpo”, explica Beatriz. A exposição, porém, busca despertar outra leitura sobre essas mesmas obras. “Por mais que esses corpos racializados e femininos tenham sido retratados nesse lugar de um olhar moderno, aqui eles estão autônomos, firmes, altivos e com muita propriedade de suas próprias identidades e subjetividades. Então é um dos gestos dessa outra perspectiva de olhar um acervo histórico”, completa a curadora. 

A video-instalação de Zahy Guajajara se aproxima dessa seção. Com uma proposta de futurismo indígena, o trabalho reflete sobre o contato entre as culturas originárias e o colonizador, com seus impactos, suas contradições, presenças e ausências; apropriando-se da linguagem tecnológica como suporte para a sobrevivência das tradições. 

Logo ao lado, outras nakoadas podem ser percebidas na presença das peças de acervo do Museu do Índio. As bonecas karajás aproximam-se dos estudos de Antropofagia e A negra, de Tarsila do Amaral, evidenciando a semelhança entre os aspectos formais e as possíveis referências da pintora. E, ao serem exibidas junto a obras modernistas de renome e trabalhos de artistas da cena contemporânea, as criações indígenas instauram outros embates: “desde provocações a respeito do que é arte e o que é artefato, até questionamentos sobre quem estabelece essas definições. Qual é o poder que essas pessoas têm de definir o que é arte grande, o que é arte pequena, o que é artefato, o que é arte contemporânea? É bem legal colocar isso em debate em um museu como o MAM”, compartilha Denilson.

A reflexão se estende aos materiais complementares da mostra, ao que, junto aos textos de parede, tomamos contato com gravações em áudio de narrativas de povos indígenas – os tikis. “Colocar textos técnicos junto com textos dos tikis é um modo de provocar sobre que tipo de conhecimento a gente considera intelectualizado ou não, né?”, provoca Denilson.

Estratégias de permanência

Como contam os curadores, trazer esses embates ao MAM Rio talvez tenha sido a primeira nakoada. “Todo o processo de fazer essa exposição foi de pequenas nakoadas cotidianas para mudar coisas dentro da própria estrutura do museu. Então, a exposição é uma matéria colocada dentro de um espaço, mas para além disso, ela é uma imaterialidade construída dentro do museu, que muda as relações com o acervo, as relações entre as equipes, o pensamentos dentro da estrutura da instituição”, conta Denilson. Ao que Beatriz faz coro, destacando também o contato com o Museu do Índio — instituição de base etnográfica e cujo acervo, há tanto fechado para visitação pública, ganha outra perspectiva na mostra em cartaz.  

O curador compartilha, ainda, que um dos pontos importantes nesse processo de construção da mostra foi ligado à sua participação, ao (nakoadamente) quebrar expectativas de pessoas do próprio museu em relação ao que seria uma curadoria feita por um profissional indígena. Compreendendo e afirmando sua presença para além de um caráter étnico. “É um papel político estar na curadoria de exposições. E não é que eu tenha vergonha, ou que tenha vontade de não parecer indígena, ou de não falar da cultura e da luta indígena. É que, pra mim, tudo isso já faz parte de quem eu sou. Acho que estou afim de pensar a nossa presença – de pessoas de origem indígena -, como uma presença para mais do que as nossas etnias representam, para mais do que esperam da gente. A gente está construindo, ou tentando construir, uma espécie de pensamento ou teoria de arte indígena que ultrapasse a expectativa de qualquer branquitude, ou qualquer convite feito apenas para ocupar um espaço específico. Acho que não cabe mais à gente, não em 2022; acho que já coube antes, mas agora não cabe mais.”  

“Pra mim, o desafio todo não foi fazer uma exposição sobre o modernismo, mas foi aproveitar uma exposição sobre modernismo para tentar pensar estruturas de um museu”, diz o curador, e completa: “Temos aqui um produto final disso tudo que a gente pode aproveitar pra construir tijolos de um novo tipo de museu, acho que esse é o desafio”.

SERVIÇO

Nakoada: estratégias para a arte moderna
MAM Rio – Av. Infante Dom Henrique, 85 – Rio de Janeiro (RJ)
Em cartaz até 27 de novembro de 2022
Visitação de quinta a sábado, das 10h às 18h; e domingos, das 11h às 18h
Entrada gratuita com contribuições sugeridas (R$ 10 a meia, R$ 20 a inteira)

Talks SP-Arte: confira a programação para a edição de 2022

Silvana Mendes, "Afetocolagens - Reconstruindo Narrativas Visuais de Negros na Fotografia Colonial", Série II, 2022 - PREAMAR. Cortesia SP-Arte.
Silvana Mendes, "Afetocolagens - Reconstruindo Narrativas Visuais de Negros na Fotografia Colonial", Série II, 2022 - PREAMAR. Cortesia SP-Arte.
Silvana Mendes, "Afetocolagens - Reconstruindo Narrativas Visuais de Negros na Fotografia Colonial", Série II, 2022 - PREAMAR. Cortesia SP-Arte.
Silvana Mendes, “Afetocolagens – Reconstruindo Narrativas Visuais de Negros na Fotografia Colonial”, Série II, 2022 – PREAMAR. Cortesia SP-Arte.

A SP-Arte Rotas Brasileiras acontecerá dos dias 24 a 28 de agosto, esta edição vem para substituir a antiga SP-Foto e busca estreitar laços com agentes das cinco regiões do país, assim como esmaecer fronteiras entre o popular e o erudito, e entre o centro e periferia. Como já é tradição da SP-Arte, para a edição Rotas Brasileiras também ocorrerão os Talks, no fim de semana anterior à Feira, no dia 20 de agosto, na Residência HOA.

Localizada na casa onde viveu Ruth Escobar no bairro do Pacaembu, a HOA receberá o público para três mesas de conversa, às 11h, 14h e 16h. As conversas são gratuitas, abertas ao público e serão transmitidas ao vivo e ficarão gravadas no canal de YouTube da SP–Arte, e também no site da HOA. 

A primeira mesa conta com a participação dos artistas Moisés Patrício e Aislan Pankararu em uma conversa sobre como questões de raça e classe estão implicadas na circulação de produções artísticas categorizadas erroneamente como populares ou “naïf”. A mediação é de Ana Beatriz Almeida.

"Madona negra" (2015). Marcela Bonfim. Foto: reprodução Prêmio PIPA.
“Madona negra” (2015). Marcela Bonfim. Foto: reprodução Prêmio PIPA.

O segundo terá a presença de Lázaro Roberto, fundador do ZUMVÍ Acervo Fotográfico – coletivo que surgiu em Salvador nos anos 90 –, e da fotógrafa Marcela Bonfim, cujo trabalho foca nas populações negras da Amazônia. Quem media é Thayná Trindade, integrante da equipe curatorial do Museu de Arte do Rio.

A mesa de fechamento apresenta o primeiro ciclo de ações do Preamar, projeto dedicado à arte contemporânea no Maranhão, realizado entre São Luís e Alcântara, cujo objetivo é de fomentar uma cena de arte sustentável em suas próprias condições locais, mantendo intercâmbio com os grandes centros. O Preamar será representado pela artista Silvana Mendes e Yuri Logrado, da residência artística Casa do Sereio, com mediação de Felipe Molitor, coordenador de conteúdo e programação da SP–Arte.

Em Vila Velha, no Espírito Santo, novo projeto propõe um diálogo entre a arte e a natureza

Inaugurado em 28 de maio deste ano, em Vila Velha (ES), o Parque Cultural Casa do Governador é uma das mais novas iniciativas culturais do País que propõem um diálogo entre a arte contemporânea e a natureza. Conhecido como Parque de Esculturas, ele abriga 21 obras, de artistas capixabas e de outros estados do Brasil, a exemplo da mineira Marilá Dardot, do carioca Alexandre Vogler, do uruguaio radicado em São Paulo Fernando Velásquez e do cearense Narcélio Grud.

Entre esculturas, instalações e site-specifics, os trabalhos foram todos selecionados por meio de um edital público, lançado em 2021, sendo dez deles temporários e 11, permanentes. Ao todo, foram investidos R$ 2 milhões, com fomentos de R$ 40 mil, 100 mil e até 200 mil por projeto, que é orientado e supervisionado pela primeira-dama do Estado, Maria Virgínia Casagrande, com o apoio de seu marido, o governador Renato Casagrande.

Aberto somente às terças e quintas-feiras, com entrada gratuita, o Parque recebe cerca de 200 visitantes por dia. As esculturas temporárias permanecerão no lugar até o fim de maio de 2023, quando então haverá outro edital para seleção de novas obras.

Sob curadoria de Nicolas Soares, também diretor do Museu de Arte do Espírito Santo, o projeto tem três eixos temáticos – ambiental, histórico e artístico –, explorados numa área de visitação com 93 mil metros quadrados, próximo à Praia da Costa. Ali também está instalada a residência oficial do Governo do Estado do Espírito Santo.

“A proposta curatorial passa pela relação entre arte e natureza, paisagem, arquitetura, história e também tecnologia”, conta Soares. “Mas não só num sentido da tecnologia da informação, do universo digital, mas também algo que pode ser ancestral, que traz um entendimento do ambiente, de suas intempéries. E os artistas foram levados a tirar partido disso, com instalações ao ar livre, expostas ao sol, ao vento, à chuva.”

Soares tem o apoio de uma equipe interdisciplinar e interinstitucional, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação (Fapes) e Secretaria da Cultura (Secult), com a participação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes).

O projeto arquitetônico do Parque ainda está em frase de implementação e, segundo o curador, ainda há muitas frentes de trabalho, de infraestrutura e de tecnologia, que ainda estão sendo construídas. Como, por exemplo, uma nova entrada – a atual ainda é feita pelo acesso oficial do governo –, além de dois mirantes numa parte mais alta do terreno e um auditório para atividades diversas com público. Há também o desejo de se criar galerias permanentes.

Para o curador, o Parque Cultural Casa do Governador cria a possibilidade de acesso a um lugar que já vivia no imaginário do capixaba, e a iniciativa, como um todo, reflete um bom momento da arte contemporânea no estado, em que há um diálogo cada vez mais intenso com o cenário artístico no restante do País.

“Há muitos artistas capixabas circulando fora do Espírito Santo e do Brasil. E, ao abrir um edital público deste porte, e de caráter nacional, nós trazemos, para o acervo do estado, trabalhos do País todo, colocando-nos numa discussão com a arte que fortalece a produção local, ao mesmo tempo em que reforçamos as possibilidades de visibilidade para fora do Espírito Santo”, conclui Soares.

Serviço

Parque Cultural Casa do Governador
R. Santa Luzia, Praia da Costa – Vila Velha (ES)
Visitação às terças e quintas, das 9h às 17h, mediante agendamento por telefone (27) 3636-1032
Entrada gratuita.

Pinacoteca anuncia sua nova curadora-chefe

Ana Maria Maia, nova curadora-chefe da Pinacoteca
Ana Maria Maia, nova curadora-chefe da Pinacoteca. Foto: Levi Fanan

A partir de setembro, a pernambucana Ana Maria Maia, de 38 anos, vai assumir o cargo de curadora-chefe da Pinacoteca, em São Paulo. Também no mês que vem, Ana Maria vai capitanear a primeira panorâmica de Jonathas de Andrade, no edifício Pina Estação. O anúncio foi feito ontem (16/8) pela instituição. A nova curadora-chefe substituirá Valéria Piccolli, que estava no cargo desde 2012.

Nascida em Recife, Ana Maria é pesquisadora e professora de arte contemporânea. Atualmente, faz doutorado em Teoria e Crítica de Arte na Universidade de São Paulo (USP). Há três anos, ela já atuava como curadora da Pinacoteca, onde foi responsável pelas individuais Hudinilson Jr.: Explícito (2020), Joan Jonas: Cinco Décadas (2020-2021), Rosângela Rennó: Pequena Ecologia da Imagem (2021) e Ayrson Heráclito: Yorùbáiano (2022). A curadora também participou da mostra coletiva Enciclopédia Negra (2021) e dos projetos especiais André Komatsu: Noite Longa (2021) e Lais Myrrha: O Condensador de Futuros (2021).

Em seu currículo, Ana Maria Maia traz ainda a curadoria editorial da segunda edição da Frestas – Trienal de Artes, junto com Júlia Ayerbe, a atuação como curadora adjunta do 33º Panorama de Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2013), assim como curadora do Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural (2011-2012). Também fez parte do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake (2011-2013) e foi assistente de curadoria da 29ª Bienal de São Paulo (2009-2010). No setor editorial, é organizadora do livro Flávio de Carvalho (Azougue, 2014) e autora de Arte-Veículo: Intervenções na Mídia de Massa Brasileira (Circuito e Aplicação, 2015), fruto de uma Bolsa Funarte de Estímulo à Produção Artística.

No comunicado divulgado pela Pinacoteca, Ana Maria destaca que “o trabalho da equipe de curadoria entrelaça cada vez mais o acervo da instituição com uma diversidade de narrativas, territórios e processos”. Já Jochen Volz, diretor-geral do museu, ressaltou que “sua escolha para o cargo garante não só continuidade, como também, a promoção de novas perspectivas e questões para o acervo e a programação da Pinacoteca.”

“Obscura luz”, coletiva de repertório visual e discursivo

Vista da exposição OBSCURA LUZ na Galeria Luisa Strina.
Vista da exposição "Obscura Luz", na Galeria Luisa Strina. Foto: Edouard Fraipont

Uma exposição coletiva pode ressignificar obras, inéditas ou já conhecidas. Obscura Luz, que ocupa toda a Galeria Luisa Strina coloca foco em trabalhos do acervo, agora enfeixados num conceito mediado pela luz, literal ou simbólica. Ao explorar a reserva técnica, a curadora Kiki Mazzucchelli funda um espaço relacional para as obras, sem romper com as categorias estéticas. O tema que norteia a coletiva é inspirado na obra Obscura Luz (1982) de Cildo Meireles, uma caixa branca montada na parede, com beiral sobre o qual se projeta a sombra de uma lâmpada. O paradoxo conceitual pode ser lido como estridência,  inversão da percepção ao mostrar uma fonte de luz que é ao mesmo tempo sombra.

A coletiva sugere um percurso que pode desvendar luminosidades literais ou intrínsecas e suas várias implicações. Sem se preocupar com analogia de linguagem, Mazzucchelli insere simultaneamente obras que têm repertórios visuais e discursivos diferentes dando ao público a tarefa de descobrir as afinidades. Logo na entrada o visitante é recebido por um conjunto de peças de pequenos formatos que exaltam a cor-luz e a exploração de texturas. Aqui destaca-se a obra de Enorê, desenvolvida entre o digital e o material. A jovem artista que vive em Londres se interessa pelo processo de transcodificação entre objetos físicos e o espaço digital, trabalha com 3D scanning/modelling, objetos têxteis, programação, cerâmica.

Na grande sala da galeria, a pintura de Fernanda Gomes sinaliza a polaridade do claro escuro que rebate em algumas obras. Como diz Vilém Flusser, “o significado das imagens é mágico” e a obra da Fernanda reafirma a máxima. Luz e sombra, binômio que produz metáforas e interpretações sobre onda, difração, forma vibratória de energia, opera de maneira concreta e opositiva na escultura de Anna Maria Maiolino. Como ela explica: “Os títulos desses trabalhos se referem à existência do oposto, o positivo ausente que foi separado do negativo. Eles formam um único corpo em dado momento do processo de feitura da escultura moldada. Assim, o procedimento desses trabalhos incorpora a nostalgia pela matriz. O molde, geralmente esquecido e descartado, ganha um novo valor pela ênfase dada às suas propriedades generativas, ao espaço vazio”. Essa operação de luz e sombra provoca surpresas, visuais e lúdicas, com hiatos alternados pela própria matéria. Há nesta proposta uma luz contundente alimentada pelo fundamento do construtivismo contemporâneo.

Jogando com possibilidades, movimentos e contrapondo-se à sua personalidade vibrante e inquieta, o trabalho de Laura Lima avança para uma sensorialidade de atmosfera zen. Contemplam-se nessa instalação jogos luminosos, planos e gravitações decorrentes de sua noção de arte como procedimento. O tecido branco, frágil, de transparência ímpar, originalmente portava foco de luzes com gelo seco e, por questões técnicas, como explica Mazzucchelli, agora não está ativado, mas ainda mantém a fluidez.

Remexer uma reserva técnica é ativar obras que estavam em repouso temporário. Evoco Harald Szeemann para lembrar que não há arte isolada, trancada em si mesma, arte é para ser compartida. O trabalho de Alexandre da Cunha pede a participação do observador. O quadro Sound I (2016) é revestido com tecido translúcido sob o qual emergem formas de duas grandes conchas, sobre as quais o visitante pode aproximar o ouvido e escutar sons. Duas perspectivas se cruzam neste conceito: a dimensão experimental da vida e a dramatização do que está oculto. 

Inspirados nos escritos de Walter Benjamin sobre noções de confronto, ordem e caos na sociedade contemporânea, Cinthia Marcelle e o cineasta Tiago Mata Machado produzem filmes motivados pelo entorno. Em Buraco negro o espectador acompanha a movimentação de uma porção de pó branco sobre uma superfície preta, causada pelo sopro de dois indivíduos ausentes do quadro. A performance provoca sons que contrastam com imagens abstratas lembrando constelações. Também sensorial, o trabalho de Tonico Lemos faz parte da série Paisagem noturna (2012). O painel executado com tecido trabalhado com figuras geométricas exibe a repetição de motivos triangulares que sugerem a silhueta de barcos a vela. O artista obtém esse efeito por meio da técnica de desfiar o tecido provocando uma trama aberta que depois é retrabalhada. Com um bastidor cria tons com diferentes intensidades que lembram desenho em carvão ou texturas de xilogravura. O artista faz referência à pintura modernista de Alfredo Volpi e a um trabalho de Mira Schendel de 1964.

A fotografia potencializa tudo aquilo que registra. A série Laudanum (1998) da australiana Tracey Moffatt é uma peça que opera em vários níveis de arte. Suas imagens se alimentam de algumas referências como o filme Nosferatu (1922), de Murnau. Do ponto de vista social e experimental alude ao consumo de láudano, planta usada para a produção de ópio e cocaína, classificada como opiáceo. Tracey tangencia a história da fotografia por meio do uso da fotogravura. A série tem luz especial e foi fotografada numa fazenda da era georgiana. Os negativos foram digitalmente remasterizados antes da impressão manual. Laudanum traz a particularidade de ser produzida na impressora de Mapplethorpe.

Obras de arte lidam com temporalidades que promovem fluxos diferentes entre elas. Os artistas contemporâneos propagam e constroem programas que sociabilizam os códigos de arte. Os objetos-instrumentos de sopro de Camila Sposati recuperam, ao mesmo tempo, mecanismo sonoros milenares e órgãos do corpo humano relacionados à fala e à audição. Confeccionada em argila branca, preta, e sob o título Phonosophia, a série iniciada em 2015 está intimamente ligada às suas pesquisas para procedimentos de transformação. Camila aproxima artistas e cidadãos comuns em um projeto/performance, impregnado de memórias afetivas entorno do barro e da inserção social na arte.

Considerada uma personagem errante, a fotógrafa Ingeborg de Beausacq nasceu na Alemanha, viveu em Paris antes se estabelecer no Rio de Janeiro em 1939. Como quase todos os migrantes precisava trabalhar, então decide estudar fotografia. No início faz retratos de crianças e mulheres da alta sociedade brasileira. Aos poucos vai entendendo a terra que escolheu viver, conhece artistas e, nos anos de 1945-1946, se apaixona e mantém uma relação turbulenta com o artista Flávio de Carvalho. Dois anos depois vai para os Estados Unidos onde se torna fotógrafa de moda. As imagens presentes em Obscura Luz fazem parte de sua produção de caráter mais autoral, as quais a notabilizaram.

Do grupo que fecha a mostra chama a atenção Sobrado dourado, obra de Baravelli exibida com mais 14 pinturas na 17ª Bienal de São Paulo, em 1983. Walter Zanini, curador daquela edição, destaca: “Um aspecto saliente da retomada da figura na pintura brasileira desenvolve-se na obra de Luiz Paulo Baravelli. Há dois vértices principais de preocupação na imaginária a que o artista se aplica com grande determinação. O primeiro diz respeito à construção de diferenciadas superfícies (em chapas de Duratex) que são ao mesmo tempo suporte e silhueta do que é representado. O segundo concerne à linguagem narrativa que o caracteriza.”

Estudos sobre identidade, consagração, pertencimento, dizem respeito a territórios. Lina Bo Bardi costumava dizer que quando o espaço é inteiramente familiar, ele se torna lugar. O extenso conjunto reunido em Obscura Luz, com suas travessias, coletividades e estranhezas constitui-se no lugar de legitimidade desta produção.

Vista da exposição OBSCURA LUZ na Galeria Luisa Strina.
Vista da exposição “Obscura Luz”, na Galeria Luisa Strina. Foto: Edouard Fraipont
Serviço

Obscura Luz
Galeria Luisa Strina: Rua Padre João Manuel, 755 – São Paulo, SP
Em cartaz até 3 de setembro de 2022
Visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 10h às 17h

Culturas indígenas celebram museu próprio em São Paulo

Xadalu Tupã Jekupé, obra da exposição “Invasão Colonial 'Yvy Opata' - A Terra Vai Acabar"/Foto: Maurício Burim

Praticamente há cinco anos em gestação, o Museu das Culturas Indígenas (MCI) foi finalmente inaugurado no fim de junho, em São Paulo, com três exposições temporárias, além de uma programação com diversas palestras e debates em torno de questões ligadas aos povos originários do Brasil. Uma instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, o MCI é gerido pela Organização Social de Cultura ACAM Portinari (Associação Cultural de Apoio ao Museu Casa de Portinari) em parceria com o Instituto Maracá, organização não governamental que busca proteger e disseminar o patrimônio histórico, ambiental e cultural dos povos indígenas.

As primeiras conversas para sua criação aconteceram em 2017, num evento do Goethe Institut de São Paulo, quando Sandra Benites, curadora e pesquisadora, descendente do povo guarani-nhandeva, do Mato Grosso do Sul, conheceu Cristine Takuá, fundadora do Instituto Maracá. Posteriormente, Sandra foi convidada para integrar o conselho do Maracá e ajudar a fortalecer a ideia de se criar um espaço dedicado, inicialmente, aos povos indígenas do Estado de São Paulo.

No segundo semestre de 2021, houve um encontro com os guarani do Pico do Jaraguá com o então governador João Doria, e foi decidida a criação do museu, com gestão posteriormente atribuída à ACAM, que por sua vez já se ocupava do Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre, em Tupã, no interior do estado. A gestão Doria designou o recém-reformado prédio de um conjunto desportivo para abrigar o museu. A transferência entre as secretarias de esporte e cultura aconteceu em fevereiro, e teve então início o processo de reestruturação do espaço.

Em março deste ano, Sandra foi convidada para fazer a curadoria da mostra temporária Invasão Colonial ‘Yvy Opata’ A Terra Vai Acabar, de Xadalu Tupã Jekupé, artista cuja carreira ela já vinha acompanhando desde 2020. Nela, por meio de uma estética de arte urbana contemporânea, o artista faz uma denúncia sobre os territórios originários em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que vêm sendo engolidos pela especulação imobiliária.

A instituição abriga também no momento a coletiva Ocupação Decoloniza – SP Terra Indígena, com obras espalhadas por todo o espaço do MCI, em que artistas indígenas desconstroem narrativas equivocadas sobre as culturas dos povos originários. Já em Ygapó: Terra Firme, o artista e curador Denilson Baniwa convida o público para uma imersão na floresta Amazônica por meio de experiências sensoriais.

Logo após a abertura, Sandra foi convidada para ser a consultoria de programação cultural e de exposição do Museu das Culturas Indígenas, onde enxerga, como sua missão, traduzir a tradição da memória oral indígena para um museu, conceito por si só alheio povos originários. A tarefa exige dela também o papel de intermediadora entre a instituição e os guaranis.

“Isso me motivou a aceitar o convite, fez com que eu me mudasse para São Paulo. E, como tudo está ainda muito no começo, é um trabalho que requer muito diálogo coletivo para que os conteúdos e as programações de fato reflitam nosso entendimento do que deva ser um museu de nossa cultura. A partir dessas conversas e demandas, estamos pensando, para o futuro, uma mostra permanente”, explica Sandra, que foi também a primeira curadora indígena do Masp, de onde pediu demissão em maio, após a direção do museu recusar fotos do MST para o núcleo Retomadas, da exposição Histórias Brasileiras. Posteriormente, o museu veio a recuar da decisão, e Sandra voltou à instituição.

Além das mostras, o Museu das Culturas Indígenas vem abrigando palestras e outras atividades. No próximo dia 21 de agosto, o escritor e tradutor do guarani Luiz Karaí vai participar do debate A Resistência do Povo Guarani: História, Língua e Cultura, que também contará com uma performance de dança das kunhataingue, mulheres das etnias Kaiowá e Guarani. Começa às 15h, a entrada é gratuita, porém as vagas são limitadas e devem ser reservadas pelo e-mail contato@museudasculturasindigenas.org.br.

Ainda que não haja ainda mostras permanentes, as obras da artista Tamikuã Txihi, indígena pataxó, criadas especialmente para o museu, foram apresentadas na abertura e marcam, segundo ela, a presença indígena com história, memória e resistência, e ficarão na instituição como símbolo de luta. São pinturas de onças e de seus filhotes, presentes em uma das empenas do prédio, mas também nas paredes internas. Para a artista, a onça é um “símbolo de resistência de seu povo e da mãe e irmã natureza”. Para ela, como indígena, o museu, ainda que esteja em um processo em construção, traz visibilidade e protagonismo aos povos originários.

“É uma memória viva, e é importante a ocupação desse território com um espaço em que, como protagonistas de nossa própria história, estamos usando a arte como um instrumento de luta, para que assim se possa não apenas recuperar a memória e a história contadas pelos nossos próprios povos, mas mostrar que continuamos aqui, vivos e resistindo, apesar de tudo que nos aconteceu e ainda vem acontecendo. Fazendo do museu, uma nomenclatura que mesmo sem fazer parte de nossa cultura, pode ser uma casa de transformação”, afirma.

Serviço

Museu das Culturas Indígenas
R. Dona Germaine Burchard, 451 – Água Branca, São Paulo (SP)
Horários: terça a domingo, das 9h às 18h; quintas-feiras, das 9h às 20h
Ingressos: R$15,00 (inteira) e R$7,50 (meia entrada); gratuito às quintas-feiras

Reapropriar para reparar: o centenário da Semana de 22 sob a ótica decolonial

Luiz Zerbini, "A Primeira missa", 2014. Foto: Pat Kilgore.
Luiz Zerbini, "A Primeira missa", 2014. Cortesia Masp. Foto: Pat Kilgore.

Por Alessandra Simões

Reapropriação para a reparação. Esta tem sido a tônica das comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, que reforçam as mudanças que vêm atravessando o sistema da arte nos últimos anos. O centenário está pintado com os tons do decolonialismo em uma operação complexa, que revela as circularidades entre as noções de alteridade e apropriação cultural, porém com um final aparentemente simples: não há mais como discutir classe, sem discutir raça e gênero. Grande parte destas discussões versam sobre a noção de “re-antropofagia”, independentemente da ligação da Semana de 22 com o momento antropofágico posterior (tema de debate na historiografia em geral). Isto é, se as vanguardas históricas almejavam o forjamento da identidade nacional com base na noção de classe social/geopolítica e nas apropriações culturais a partir do sequestro identitário das culturas originárias, para os artistas contemporâneos esta conta não fecha. É preciso lançar mão da interseccionalidade, juntar tudo no caldeirão da decolonialidade e reapropriar-se destas ideias e estéticas para reparar os males causados pela colonização ao campo das artes, o maior deles, o silenciamento das poéticas indígenas e afro-diaspóricas. Neste sentido, inúmeras exposições, debates e algumas publicações neste ano salientam o saqueio cultural e a subalternização intelectual das culturas tradicionais, regionais, indígenas e afro-brasileiras, e das regiões fora do eixo Rio-SP, por parte das vanguardas modernistas brasileiras. Estas ações realimentam os contornos conceituais acerca do viés decolonial como a pauta mais urgente na arte contemporânea, que encontra neste marco do modernismo brasileiro a oportunidade para a rediscussão de temas exíguos no debate artístico daquele momento, como segregação racial e de gênero.

Uma das novas lentes para a reinterpretação deste momento histórico tem sido a ideia de “re-antropofagia”, utilizada por artistas para definir a necessidade da devoração daqueles que antes os devoraram. Estes artistas mostram que o termo tão alardeado por Oswald de Andrade (1890-1954) para definir a deglutição cultural dos valores europeus encobria a outra devoração que ocorria paralelamente, a da cultura dos povos originários e afro-diaspóricos por parte de artistas da elite aristocrática da época. A reinterpretação do termo já havia ganhado força com a exposição ReAntropofagia, em 2019, no Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense, tendo entre seus curadores o artista Denilson Baniwa, que apresentou na ocasião a tela homônima que representa a cabeça decepada de Mário de Andrade (1893-1945), ofertada em uma bandeja de palha, e ao lado do livro Macunaíma com um pequeno bilhete que diz: “Aqui jaz o simulacro Macunaíma, jazem juntos a ideia de povo brasileiro e a antropofagia temperada com bordeaux e pax mongólica. Que desta longa digestão renasça Makunaimî e a antropofagia originária que pertence a nós, indígenas”. Makunaimã, a divindade que habita o monte Roraima em tempos imemoriais, também já havia sido “redevorado” pelo artista Jaider Esbell em seu trabalho poético-imagético (2018), e pelo coletivo que escreveu a peça Makunaimã: o mito através dos tempos (2019) uma interessantíssima conversa entre várias pessoas que questionam a apropriação cultural de Mário de Andrade. Na peça, se destila o quebra-cabeça: Mário de Andrade que se apropriou de Theodor Koch-Grünberg, que coletou a mitologia sagrada indígena, que agora é re-apropriada por aqueles a quem ela originalmente pertence. Tudo com muito respeito, como está no livro: dedicado a Akuli Taurepang e Theodor Koch-Grünberg. 

Se a antropofagia modernista ainda não estava contextualizada pela tensão entre raça-etnia e gênero, atualmente, este tem sido o mote de sua revisão crítica. Afinal, no Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade, em 1928, não havia realmente nenhuma menção acerca da cultura afro-brasileira (CARDOSO, p. 207, 2022). A afirmação “Só a antropofagia nos une”, presente no manifesto, se tornou atualmente uma pergunta, “Só a Antropofagia nos Une?”, estampada na capa da revista The Brooklyn Rail, lançada em fevereiro de 2021 e coeditada pela escritora norte-americana Sara Roffino e pelo artista brasileiro Tiago Gualberto. A edição traz textos de vários autores e autoras brasileiros (as), como Sandra Benites, Denilson Baniwa e Vivian Braga dos Santos. As escritas são respostas diretas ao idealismo da época, como o belo texto poético do artista negro Caetano Dias, A Qualquer Hora Carne Dura, que se inicia assim: “Minha terra não tem palmeiras, nem cantos de sabiás. Nesse descampado, não há mato e tão pouco cães sem dono e de caminho encruzilhado”. Baniwa apresenta um pequeno contra-manifesto modernista, também intitulado Re-antropofagia, no qual pede que “(…) renasça Makünaimî e a antropofogia originária que pertence a Nós indígenas”. 

Segundo a revista Select, Sara e Tiago começaram sua interlocução em 2018, quando, devido à retrospectiva de Tarsila do Amaral no MoMA-NY, Sara ficou espantada com a pintura A Negra (1923). Para ela, a exposição demonstrou uma visão reducionista sobre o modernismo no Brasil, com aspectos racistas e idealistas. A propósito, a obra de Tarsila foi o ponto de partida para a “reapropriação” da artista Renata Felinto na obra Axexê da Negra ou O descanso das mulheres que mereciam ser amadas (2017), performance que, a partir de referências na ritualística do candomblé nagô, propõe entre suas ações o enterro de uma reprodução da obra como metáfora para o enterro da espiritualidade coletiva de mulheres negras que foram amas de leite no Brasil (como a modelo da obra, a anônima babá de Tarsila). Trata-se assim do enterro do “culto infinito aos modelos modernistas que carregam em si a gênese racista das elites escravocratas”, como afirmou Felinto.

Colagem digital de Tadeu Kaingang, 2022. Cortesia do artista.
Colagem digital de Tadeu Kaingang, 2022. Cortesia do artista.

O coletivo Kókir, formado pelos artistas Sheilla Souza e Tadeu Kaingang, trabalha com a premissa de uma “antropofagia da re-volta” para fazer uma crítica à modernidade eurocentrada. O coletivo sinaliza para a recusa da subalternidade imposta pela colonialidade aos indígenas, por meio de ações coletivas e compartilhadas que articulam artistas, não artistas, indígenas de diversas etnias, não indígenas; estratégias de ocupação de territórios urbanos e indígenas para debater o direito, a etnografia e a política dos espaços; proposições altamente conceituais, mas que abarcam a compreensão e o prazer da forma e da contemplação; usos de tecnologias e novas mídias para falar de ancestralidade; trânsitos entre objetos e fazeres prosaicos, como as cestarias Kaingang, que revelam a generosidade estética da vida cotidiana. Se trata de um processo de deglutição estético-político que inverte a “antropofagia” dos colonizadores como signo de submissão e extermínio. A “antropofagia da re-volta” indicaria o caminho da volta à afirmação da identidade dos povos originários, o que pode ser visto em suas obras expostas este ano em três mostras: Ẽpry Nẽn Mág – Caminhos do Mato, na Casa de Eva, em Campinas; Krecidade, no Consulado do Brasil, na Holanda: em Amsterdam; e na mostra Antropofagia da Re-volta, dentro da coletiva ARTES para DESCOBRIR as CULTURAS INDÍGENAS, com curadoria de Sebastián Gerlic (realização compartilhada entre Helder Camara Jr. e a ONG Thydêwá), que ficou em cartaz no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília (versão online: www.AEI.art.Br/artes/). Uma outra interessante “reapropriação para a reparação” também está presente nesta mostra coletiva. Se trata da obra Tapuya Abaporu (2022), do artista indígena Kadu Tapuya, que homenageia os 100 anos do Modernismo no Brasil, remixando o “Abapuru” com uma colagem digital na qual expressa sua poética baseada na ideia de um “futurismo indígena”.

Tapuya Abaporu, Kadu Tapuya, colagem digital. Cortesia do artista.
Tapuya Abaporu, Kadu Tapuya, colagem digital. Cortesia do artista.

Fazendo coro ao revisionismo decolonial, o Itaú Cultural optou por lançar uma série de entrevistas em seu site a partir de perguntas como: O que seria essa semana de oposição ao conservadorismo na arte se ela ocorresse atualmente? Seria mais plural, menos centralizada, mais inclusiva? Quem estaria na “turma” dessas pessoas se a Semana de arte moderna acontecesse hoje? O Mekukradjá – círculo de saberes, ciclo de debates, realizado anualmente pela instituição – partiu este ano do poema Erro de Português, de Oswald de Andrade, para fazer mais uma pergunta: O que aprendemos se o indígena despir o Brasil? Com curadoria dos educadores Daniel Munduruku e Naine Terena e da antropóloga Júnia Torres, o Mekukradjá também se baseou na noção de reantropofagia de Denilson Baniwa, que afirmou no site da instituição: “Reantropofagizar é rever – ver de novo – o que não foi visto. Talvez revelar – tirar o véu – do que nos foi ocultado quando as vozes ancestrais não tinham eco em uma sociedade brasileira que ensaiava se conhecer conhecendo o desconhecido, propositadamente deixado oculto. Querer reantropofagizar é deixar de ser apenas o alimento e ser, também, aquele que se alimenta com o que fizeram de nós.” A Pinacoteca de São Paulo também lançou uma série de debates intitulada 1922: modernismos em debate com o objetivo de reunir uma grande diversidade de opiniões sobre o marco.

A revisão crítica sobre as narrativas estabelecidas a partir da Semana de 22 também foi o ponto de partida para a proposta curatorial da exposição Nakoada, com curadoria de Denilson Baniwa e Beatriz Lemos, que ficará em cartaz no MAM do Rio de Janeiro, entre julho de 2022 e janeiro de 2023. Com projetos comissionados de artistas contemporâneos e um recorte das principais obras modernistas presentes nas coleções do MAM Rio, a mostra Nakoada traz em seu título o conjunto de éticas de guerra Baniwa. Em seu vasto campo de significados, Nakoada seria o estudo e profundo entendimento de outra cultura para exercer a habilidade de capturar conhecimentos não-indígenas e construir narrativas que sejam radicais na continuidade da vida e dos saberes indígenas. “Em outras palavras, uma contra-antropofagia ou re-antropofagia”, afirmou Beatriz Lemos, confirmando o propósito curatorial em criticar os discursos de legitimação e centralidade de um ideal modernista no país, cuja construção insiste na invisibilidade de pessoas, criações e narrativas localizadas fora dos grandes centros e originárias de outras percepções de mundo.

Apesar de não declarar uma política específica de comemoração da Semana de 22, o Masp vem realizando exposições que integram o biênio de programação do museu dedicado às Histórias brasileiras, em 2021-22, que inclui mostras de Alfredo Volpi (1896-1988), Luiz Zerbini, Dalton Paula, Joseca Yanomami, Madalena dos Santos Reinbolt (1919-1977), Judith Lauand e Cinthia Marcelle, além de uma grande coletiva, Histórias brasileiras. A mostra Abdias Nascimento: um artista panamefricano, curada por Amanda Carneiro, curadora assistente, e Tomás Toledo, curador-chefe, é a maior exposição dedicada ao trabalho visual do artista, ativista, escritor, dramaturgo, ator, diretor de teatro, poeta, jornalista e professor universitário, figura fundamental na vida política e cultural brasileira recente. Na mostra, estão presentes 61 pinturas realizadas ao longo de três décadas, de 1968 até 1998, o período mais frutífero do artista. O catálogo-livro da exposição mostra um apanhado de grande fôlego a respeito da obra visual do artista, na qual figuram personagens, iconografias, insígnias e temas de religiosidades afro-brasileiras, elaborados em diálogo com a tradição da abstração geométrica e na representação dos símbolos africanos, como os adinkras. Organizado por Adriano Pedrosa e Amanda Carneiro, o volume contém ensaios inéditos de Amanda Carneiro, Glaucea Helena de Britto, Kimberly Cleveland, Raphael Fonseca e Tulio Custódio e uma entrevista histórica com Elisa Larkin Nascimento conduzida por Tomás Toledo, além de textos republicados de Lélia Gonzalez e de Abdias Nascimento.

Até mesmo a exposição Luiz Zerbini: a mesma história nunca é a mesma, curada por Adriano Pedrosa, diretor artístico, Masp, e Guilherme Giufrida, curador assistente, pode ser interpretada dentro do viés da releitura da Semana de 22. A ideia de que “a mesma história nunca é a mesma” aponta para a repetição das histórias ao longo dos séculos, bem como para a necessidade de se criar outras narrativas para esses episódios, fazendo emergir novas leituras, protagonistas e imagens. Com cerca de 50 trabalhos, em sua maioria inéditos, a exposição inclui cinco pinturas de grandes dimensões de forte impacto estético, quatro delas produzidas especialmente para a mostra, em que o artista revisita de maneira crítica a pintura histórica. Utilizada para representar eventos marcantes de uma nação, como guerras, batalhas, independências e abolições, este gênero de pintura “pré-semana de 22” frequentemente idealizava ou romantizava marcos e personagens a serviço das ideologias dominantes. Em 2014, Zerbini recriou uma das imagens mais clássicas da pintura histórica brasileira, em sua icônica Primeira missa, formulando uma nova representação para essa cena ocorrida em 1500, que é um emblema da colonização portuguesa no Brasil. Estas obras também são apresentadas em um extenso livro-catálogo. A mostra inclui ainda 29 monotipias em papel da série Macunaíma (2017), concebidas para uma edição do livro do mesmo nome de Mário de Andrade (1893-1945), um marco da literatura modernista brasileira.

O debate ecológico, também uma importante vertente do decolonial, foi expresso por meio da revisão da Semana de 22 na exposição Semana de Arte Mundana, na Galeria Kogan Amaro. Lama da tragédia criminosa de Brumadinho, cinzas de queimadas no cerrado, na Amazônia, na Mata Atlântica e no Pantanal e óleo que atingiu as praias do nordeste são elementos que o artista Mundano já havia utilizado para suas obras. Agora, em relação especificamente à Semana, o artista se apropriou da estética do icônico cartaz da Semana de Arte Moderna, de Di Cavalcanti, propondo um questionamento sobre o momento atual e sua aceleração vertiginosa rumo à destruição do patrimônio ambiental brasileiro. A obra ganhou versão NFT, com uma animação em stop motion na qual aparece a troca do enunciado original para Semana de Arte Mundana e a imagem do brotinho que cresceu e acabou cortado como muitas árvores, dando a ideia de ruptura.

Uma das maiores exposições referentes ao centenário de 22 é a mostra Brasilidade Pós-Modernismo, no Centro Cultural Banco do Brasil (inicialmente no Rio de Janeiro), com curadoria de Tereza de Arruda, que também se focou na atualidade para repensar o histórico, reunindo obras de 51 artistas, produzidas a partir da década de 1960 até a atualidade, sendo algumas inéditas, ou seja, já com uma maturidade e com um distanciamento histórico dos primórdios da modernidade brasileira. Pintura, fotografia, desenho, escultura, instalação, novas mídias, entre outras linguagens, procuram mostrar uma versão sobre as discussões ensejadas pela Semana de maneira diversificada e miscigenada, regional e cosmopolita, popular e erudita, folclórica e urbana. A sensação é de que se trata de um grande traçado da Semana, cujo ápice é a contemporaneidade, com a participação de artistas como Adriana Varejão, Alex Flemming, André Azevedo, Anna Bella Geiger, Armarinhos Teixeira, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Barrão, Berna Reale, Beatriz Milhazes, Camila Soato, Caetano Dias, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Daniel Lie, Delson Uchôa, Ernesto Neto, Emmanuel Nassar, Fábio Baroli, Farnese de Andrade, Flávio Cerqueira, Floriano Romano, Francisco de Almeida, Gê Viana, Glauco Rodrigues, Gisele Camargo, Jaider Esbell, Joaquim Paiva, Jorge Bodansky, José De Quadros, José Rufino, Judith Lauand, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Lina Bo Bardi, Lúcio Costa, Luiz Hermano, Luzia Simons, Márcia Xavier, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Mira Schendel, Nelson Leirner, Oscar Niemeyer, Paulo Nazareth, Rejane Cantoni, Rodrigo Braga, Rosana Paulino, Rosilene Luduvico, Shirley Paes Leme e Tunga. A pluralidade de vozes também aparece no catálogo da exposição com textos de Bel Santos Mayer, Ernani Chaves, Idjahure Kadiwel e Leonor Amarante.

Entre os livros lançados por ocasião da Semana de 22, dois se destacam pela proposta revisionista de cunho decolonial. A obra Modernismo em preto e branco: arte e imagem, raça e identidade no brasil, 1890-1945 (Cia das Letras), de Rafael Cardoso, questiona a associação do modernismo a um seleto grupo paulistano e reinvindica a modernidade de manifestações da cultura de massas, como a imprensa ilustrada, a publicidade, a música popular e até o Carnaval, especialmente, a partir do panorama da capital carioca. O livro apresenta uma pesquisa extremamente consistente e com um viés bastante inovador, iluminando pontos inusitados sobre o modernismo brasileiro, incluindo principalmente a questão racial. Já o livro Modernismos: 1922-2022, organizado por Gênese Andrade, traz 29 ensaios inéditos, com a participação de intelectuais como José Miguel Wisnik, Lilia Moritz Schwarcz, Renata Felinto e Walnice Nogueira Galvão, que contribuem com um amplo panorama de reflexões sobre a Semana de 22 e seus desdobramentos, revisitando suas memórias e fortuna crítica.

O centenário da Semana de 22 parece evocar e confirmar um novo momento para o sistema da arte brasileira, que vem encontrando muitos vieses interessantes para a discussão da decolonialidade. Em um momento político tão nebuloso, em que as políticas de opressão da cultura evidenciam ainda mais os mecanismos de estratificação cultural no país, a possibilidade de se debater e revisar este marco histórico com dados realistas e sem idealizações banais aponta para um amadurecimento da discussão decolonial, que mostra o quanto é possível reconhecer as limitações do passado, sem recair em discussões generalizantes e vazias. As ações ocorridas este ano têm mostrado que é preciso reconhecer o caráter inovador de 22, quando artistas propunham a superação de paradigmas europeus e a acolhida de novos parâmetros para a arte nacional. Porém, pontuam que estas mudanças estavam restritas majoritariamente a uma elite permeada pela cultura escravocrata e racista, consolidada ainda mais pela centralidade paulistana. 

Como afirmou Bel Santos Mayer (2022), também podemos celebrar o fato de que, com o advento do modernismo, a literatura deixou de ser assunto exclusivo de acadêmicos(as) sobre “imortais e suas bibliotecas majestosas”. A autora pontua ainda que a proposta de Mário de Andrade, de abrasileiramento da língua e da literatura como forma de liberdade e de independência das normas lusitanas, causou estranheza até ser vista como contribuição à linguística nacional. “Seus passos abriram caminhos para que, nos anos 1970, a intelectual e ativista Lélia Gonzales (1935-1994) apontasse a africanização no português falado, principalmente, pelas mulheres negras: o ‘pretuguês’. Nos anos 1990, outra intelectual negra, Conceição Evaristo, cunha o termo ‘escrevivências’ para falar da vida escrita e da vida que se escreve em uma sociedade marcada pelo racismo”. Assim, a Semana de 22 se consagra como momento legítimo de liberdade para a produção artística, com expressivo valor por suas provocações sobre as noções de nação e identidade nacional. Atualmente, o movimento decolonial, que afirma a existência de outras experimentações e criações, sinaliza que o inventariado deste marco moderno será sempre mutante. Afinal, a arte se reconfigura à medida em que o mundo se transforma, sendo ao mesmo tempo agente transformador do mundo. É neste paradoxo que reside a riqueza do debate decolonial a respeito da Semana de 22.

Referências

ANDRADE, Gênese (org.). Modernismos: 1922-2022. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

BANIWA, Denilson. “O ser humano como veneno do mundo”. Entrevista concedida a Julie Dorrico e Ricardo Machado. IHU Online, São Leopoldo, n. 527, 2018. Disponível em http://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/7397-o-ser-humano-como-veneno-do-mundo Acesso em: 16 maio 2019.

CARDOSO, Rafael. Modernismo em preto e branco: arte e imagem, raça e identidade no brasil, 1890-1945. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

DINATO, D. ReAntropofagia: a retomada territorial da arte. MODOS. Revista de História da Arte. Campinas, v. 3, n. 3, p.276-284, set. 2019. Disponível em: ˂https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/ mod/article/view/4224˃. DOI: https://doi.org/10.24978/mod.v3i3.4224.

ESBELL, Jaider. Macunaima: meu avô em mim! In Imagem e Descolonização: imaginários plurais em movimento. Revista Iluminuras, v. 19 n. 46, 2018. Disponível em https://seer.ufrgs.br/iluminuras/article/view/85241. Acesso em 09/04/2022

GUALBERTO, Tiago; ROFFINO, Sara. Só antropofagia nos une? Disponível em:; https://brooklynrail.org/2021/02/criticspage/Cartas-aos-Leitorxs. Acesso em 07 de maio de 2022.

MARQUEZ, Renata. A língua das onças e das lontras. Arte e Ensaios, Rio de Janeiro, PPGAV-UFRJ, vol. 26, n. 40, p. 361-373, jul./dez. 2020. ISSN-2448-3338. DOI: https://doi.org/10.37235/ae.n40.25. Disponível: http://revistas. ufrj.br/index.php/ae. Acesso em 04 de maio de 2022.

MAYER, Bel Santos. Ousadias literárias com sotaques brasileiros. In Brasilidade pós-modernismo (Curadora Tereza de Arruda). São Paulo: Base7 Projetos Culturais, 2021. Disponível: https://ccbb.com.br/programacao-digital/tour-virtual-360-brasilidade-pos-modernismo/ Acesso em 01 de maio de 2022.

TAUREPANG,… [et al.]. “Makunaimã: o mito através dos tempos”. São Paulo: Editora Elefante (2019).

Instituições e projetos têm chamadas abertas para artistas

CURA BH tem chamada aberta para artistas
Vista da Praça Raul Soares, em Belo Horizonte, com a pintura Shipibo feita no CURA 2021. Foto: Rogério Argolo

A arte!brasileiros preparou uma lista com quatro editais que oferecem oportunidades para artistas de diferentes linguagens. Todos os projetos têm inscrições abertas durante o mês de agosto. Confira:

Bienal Sesc_Videobrasil

Após um adiamento de quase dois anos por conta da pandemia de Covid-19, a 22ª Bienal Sesc_Videobrasil acontecerá em outubro de 2023 no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, atenta à produção contemporânea do Sul Global. Com curadoria do brasileiro Raphael Fonseca e da queniana Renée Akitelek Mboya, a Bienal tem chamada internacional aberta para seleção de artistas até 2 de setembro. Sob o título A memória é uma ilha de edição, o evento deste ano busca selecionar trabalhos que tratem das memórias coletivas, das lembranças e esquecimentos que constroem narrativas históricas e sociais, relativas a povos, nações e regiões geográficas. “Como se dá a equação entre lembrança e esquecimento? Quais as fronteiras éticas de um corte? Quem detém o poder de fazê-lo? Como uma sequência de imagens pode revisitar as narrativas que dizem respeito a uma família, nação ou região geográfica? Como forjar a memória daquilo que não vimos ou sentimos em nossos corpos? Quais os limites da memória?”, questionam os curadores.

Podem se inscrever artistas oriundos de países do Sul Global, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ou radicados neles há pelo menos cinco anos, e artistas indígenas de quaisquer nacionalidades, bem como coletivos em que pelo menos um integrante atenda aos requisitos. Serão aceitas obras realizadas em quaisquer linguagens ou suportes desde que inéditas em São Paulo. Cada artista e/ou coletivo selecionado receberá o valor bruto de R$ 3.000 pela participação. A 22a Bienal terá também uma série de premiações. Serão concedidas as seguintes distinções: Prêmio Estado da Arte, para o trabalho considerado pelo júri o mais instigante e potente do evento; Prêmio Sesc de Arte Contemporânea, que contempla obras produzidas por artistas brasileiros e que passarão a integrar o Acervo Sesc de Arte; Prêmio O.F.F., oferecido pelo Ostrovsky Family Fund e que contempla um artista que apresente uma investigação original sobre a imagem em movimento; e, por fim, prêmios de residência artística, que garantem períodos de residência em instituições parceiras. Acesse o site do Videobrasil para saber mais.

Cura 2022

O tema articulador do Circuito Urbano de Arte deste ano é a terra, um espaço de acolhimento das lutas, de reconhecimento do passado e cultivo do futuro. Na terra fértil, o corpo de luta vira semente para o levante coletivo: onde cai um, nasce um milhão. Nossa pergunta para você nesta convocatória é: qual imagem você convoca para a luta?”, destaca a organização do evento. Neste ano, o festival vai selecionar uma obra digital que se tornará NFT e também será impressa em formato lambe para ocupar a fachada do Hotel Sorrento, na praça Raul Soares, região central de Belo Horizonte.

Podem participar desta convocatória pessoas brasileiras ou naturalizadas brasileiras, maiores de 18 anos, que já tenham mintado pelo menos um NFT até a data de encerramento das inscrições e que tenham uma carteira válida na blockchain Tezos. A obra inscrita deve ser inédita e ainda não tokenizada – a mintagem acontecerá após e somente se o trabalho for selecionado. O responsável pela elaboração da proposta vencedorá receberá o valor de R$ 4.000, a fim de remunerar a concepção do projeto e a aquisição de um exemplar do NFT por parte do CURA, bem como a cessão dos direitos de utilização da imagem. O CURA arcará com toda a despesa de impressão e colagem da peça na fachada do Hotel Sorrento e se compromete a estar em contato com a artista durante todo o processo de montagem, a fim de garantir fidelidade à proposta artística. Acesse o site do festival para saber mais.

Delfina Foundation e Instituto Inclusartiz

Moradores da região Sul do Brasil podem concorrer a uma bolsa de residência artística de três meses em Londres, Inglaterra, na Delfina Foundation, entre 5 de janeiro e 30 de março de 2023. O projeto é uma parceria com o Instituto Inclusartiz e visa contribuir para a exposição e presença internacional de artistas e curadores brasileiros. O programa já recebeu nomes como Manauara Clandestina, Maxwell Alexandre e Vivian Caccuri. Estão à
frente do corpo de jurados da atual edição, que tem chamada aberta para artistas que
vivem e trabalham na região Sul do país, Ana Rocha (Museu de Arte Contemporânea do
Paraná), Igor Simões (Bienal Mercosul/Universidade Estadual do Rio Grande do Sul) e
Kamilla Nunes (Universidade do Estado de Santa Catarina/Instituto Mayer Filho). “O mais importante é que a proposta tenha coerência e pertinência nos tempos atuais, que
esteja aberta para experimentações e transformações ao longo da pesquisa/residência, que
consiga articular a poética, a estética, a ética e a política e, claro, que seja factível”, afirma
Kamilla Nunes.

As inscrições estão abertas até as 17h do dia 28 de agosto e devem ser feitas através do formulário disponibilizado pelas instituições. A residência inclui visitas guiadas a museus, galerias, organizações sem fins lucrativos, espaços e estúdios dirigidos por artistas, bem como viagens a instituições fora de Londres; oportunidades de conhecer e interagir com artistas, curadores, acadêmicos e pesquisadores por meio de apresentações organizadas, visitas ao estúdio, eventos e refeições; atividades de desenvolvimento profissional, incluindo apresentações e críticas, revisões de portfólio e atividades de orientação; e um intercâmbio colaborativo entre moradores por meio de encontros, críticas e refeições. Os selecionados terão também direito a um subsídio de subsistência de £ 30 por dia, orçamento de materiais de £ 700, um quarto de solteiro na Delfina Foundation, e auxílios referentes a transporte e viagem. Acesse o edital para saber mais.

Festival Ubatuba de Artes Visuais

Com inscrições abertas até as 16h do dia 22 de agosto, o Festival Ubatuba de Artes Visuais chega à sua 18ª edição em 2022. O edital possibilita a participação de artistas visuais em uma exposição de grande porte no Centro de Convenções da cidade, prevista para ocorrer no período de 22 de outubro a 19 de novembro deste ano. O evento busca difundir trabalhos artísticos e estimular o acesso da população à arte e à cultura. Dentre os selecionados para a exposição, serão concedidos um Prêmio Fundart de Aquisição, no valor de R$ 4.000; quatro prêmios estímulo, no valor individual de R$ 2.000 cada; e a fim de valorizar a criação artístico-cultural de artistas residentes na cidade de Ubatuba, serão concedidos um prêmio Destaque Ubatuba de Obra de Arte, no valor R$ 4.000 e um de estímulo no valor de até R$ 2.000, ambos exclusivos a artistas residentes no município.  De acordo com o edital da Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba (Fundart), podem participar do evento (de forma individual ou em coletivos) brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil, maiores de 18 anos. Cada participante pode se inscrever com até três trabalhos originais e recentes (feitos dentro dos últimos cinco anos). Serão aceitas diversas linguagens dentro do universo das visuais. Para mais informações, clique aqui e verifique o edital completo.