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Marcia Pastore e Nazareth Pacheco são os novos nomes da Emmathomas Galeria

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Márcia Pastore e Nazareth Pacheco passam a integrar corpo de artistas representados pela Emmathomas Galeria. A escolha pelas artistas está de acordo com a proposta da galeria, que busca apresentar ao público a diversidade da arte brasileira. A ideia é captar a essência de diversos artistas, em diferentes regiões do País e também no exterior.

A arte de Marcia Pastore e Nazareth Pacheco

“As duas são artistas de uma mesma geração, mas com vertentes distintas. Trazem a multidisciplinaridade típica do que é a arte contemporânea”, diz Ricardo Resende, diretor artístico da Emmathomas.

Enquanto Marcia Pastore se dedica a explorar a relação entre o espaço e a escultura, Nazareth Pacheco transita especialmente pelo campo tridimensional.

Pastore experimenta variadas situações de duplicação de sua própria imagem e do universo em que está inserida, trazendo esculturas e instalações enquanto desdobramentos. Pacheco, por sua vez, trabalha esculturas e instalações que exploram questões autobiográficas e o corpo feminino.

A Emmathomas Galeria

Fundada em 2006, a galeria Emma Thomas nasceu como um espaço experimental e alternativo, focado em arte contemporânea. Em sua primeira década, mais de 200 artistas e projetos passaram pela galeria, que conquistou o posto entre as mais ousadas do cenário brasileiro.

Em agosto de 2017, o artista, colecionador e empresário Marcos Amaro a comprou e rebatizou como Emmathomas. Como proprietário da galeria, Marcos soma sua experiência enquanto empresário visionário e bem-sucedido à sua sensibilidade artística. A nova direção busca estabelecer laços afetivos e criativos entre as pessoas.

Para respirar liberdade, 70 anos da declaração dos direitos humanos

Otávio Roth, instalação “Peninhas”, atividade colaborativa

A imensa árvore, que toma todo o saguão do Sesc Bom Retiro, cria no espectador um frenesi visual com a repetição exaustiva das pequenas folhas em papel, com um colorido e transparência que reverberam diferentes jogos luminosos no espaço, dependendo do andar em que o espectador estiver. Essa instalação monumental, de 400 metros quadrados, que atinge os quatro andares do prédio, abre a mostra Para Respirar Liberdade-70 Anos da Declaração dos Direitos Humanos, do artista Otávio Roth.

Artista de muitos recursos, desenho, gravura, fotografia, ele mudou completamente seu trabalho a partir do assassinato de Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-Codi, em outubro de 1975, em São Paulo. Depois desse episódio deixou de fazer cinema e desenhos animados para se dedicar à arte de conteúdo social. Tudo o que buscava em sua obra estava na epígrafe do jornalista morto, sintetizado na frase: “defesa dos direitos humanos”.

A árvore concebida no Sesc, com inusitada montagem tridimensional, reconstruída no formato de um grande móbile, foi especialmente desenhada para o átrio interno, pelo arquiteto Pedro Mendes da Rocha. Em outros formatos bidimensionais, a obra já foi realizada em alguns países, de acordo com a arquitetura do espaço. A execução coletiva em São Paulo contou com a participação de 70 mil jovens de várias escolas públicas e particulares, ao longo de dois meses de oficina. Concebida por Roth, que participou das montagens iniciais, a obra continua viva mesmo depois de sua morte, ao se multiplicar pelas mãos de milhares de estudantes. Nomes, idades, país de origem, de todos eles, estão em fichas que podem ser consultadas durante o período expositivo.

Otávio Roth, “A Árvore”, instalação participativa in progress

Em São Paulo, o crítico Fábio Magalhães, e a filha do artista Isabel Roth, assinam a curadoria, enquanto o projeto é de Pedro Mendes da Rocha. Ativo e engajado, o artista colocou toda sua experiência gráfica a serviço da luta pelos direitos humanos. O trabalho colaborativo, uma de suas marcas, deu vida a uma obra horizontal pulsante. Muitos artistas brasileiros se engajaram em questões políticas. “Desde os anos de 1930 Di Cavalcanti já produzia para a imprensa ilustrações com críticas contra o fascismo. Portinari mostrava o drama da miséria e exaltava a força do trabalhador e suas qualidades humanas”, lembra Magalhães. Durante o período da ditadura surgiram algumas obras seminais, como o trabalho/performance Quem Matou Herzog? De Cildo Meirelles. Trata-se de “um carimbo em que a pergunta era aplicada nas notas de dinheiro, denunciando a mentira e a violência do aparato repressivo da ditadura”. Ainda sobre o mesmo tema Magalhães fala do pintor Antonio Henrique Amaral com a tela Morte no Sábado, feita no calor da luta.

Roth morreu prematuramente aos 42 anos, morou em Israel, Inglaterra, Noruega, Estados Unidos e, nesses países, desenvolveu sua técnica como gravador e seu interesse por temas políticos. Em Oslo, onde residiu por três anos, criou em xilogravura a primeira série ilustrada da Declaração dos Direitos Humanos, em norueguês e posteriormente feita em inglês, composta por 30 peças e que também compõe a exposição. Em 1981 a versão em inglês foi adotada pela ONU e, desde então permanece em exposição nas sedes de Genebra, Viena e Nova York.

Além da ativa contribuição política, Otavio Roth cria em 1979 a Handmade, a primeira oficina de papel artesanal do País, com o objetivo de produzir papel para o uso artístico com qualidade. Na procura de novas descobertas chega a trabalhar no IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica), em 1982, no mesmo ano em que expõe no Masp e no MAM, do Rio, a primeira mostra sobre a natureza do papel. Roth se interessou pela obra de Ben Shan, mestre da gravura norte-americana e a de Robert Rauschenberg, ligado à pop art. Com concepção gráfica diferenciada, executa para o Comitê Brasileiro de Anistia um calendário feito em gravura com pensamento de Charles Chaplin, Che Guevara, Santo Agostino, Carlos Marighela entre outros.

Como artista plástico produziu “peninhas” e as instalações com esse material sintetizam, segundo sua filha e curadora, “o encontro entre dois grandes eixos da obra de Roth: estudo do papel artesanal e o papel do indivíduo na sociedade”.

Com essa forma executada com a menor folha de papel que conseguiu produzir, o artista dá início a uma obra participativa e experimental construindo instalações de grandes proporções, expostas em museus da Alemanha Dinamarca, Japão e Estados Unidos e do Brasil. A árvore que “floresceu” no saguão do Sesc é o projeto mais ambicioso já criado por ele. Em tempos de escuridão político-ideológica que nos invade hoje, essa instalação itinerante, política, alegre, festiva, composta de milhares de folhas adesivas pintadas, com mensagens das crianças, nos faz lembrar que, apesar de tudo, estamos na primavera.

Basel Miami a todo vapor

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Do dia 6 ao dia 9 de dezembro de 2018, o público poderá conferir uma das maiores e mais importantes feiras de arte dos Estados Unidos, que ocorrerá no Miami Beach Convention Center. Muito agitada, a feira Art Basel de Miami é uma aposta forte de várias galerias brasileiras, especialmente por ser um evento que valoriza muito a arte latino-americana. O preview ocorre no dia 5.

Nesta edição, a feira terá a participação de 14 galerias brasileiras, entre as 268 que estão envolvidas. São elas: A Gentil Carioca, Bergamin & Gomide, Casa Triângulo, DAN Galeria, Fortes D’Aloia & Gabriel, Mendes Wood DM, Galeria Nara Roesler, Simões de Assis Galeria de Arte, Galeria Luisa Strina e Galeria Vermelho estarão no setor Galleries; a SIM Galeria é a única brasileira presente no setor Positions; as cariocas Silvia Cintra + Box 4 e Anita
Schwartz Galeria de Arte estarão na seção Nova. Para completar, a Galeria Jaqueline Martins terá seu espaço no setor Survey.

É o quinto ano que a galeria Bergamin & Gomide partici pará do evento, tendo um estante no setor Galleries, no qual a curadoria escolheu levar obras de arte brasileira moderna de nomes consagrados dos anos 70 aos anos 90, colocando as obras para conversar com artistas internacionais. Estão inclusos nomes como Mira Schendel, Lygia Pape, Ivan Serpa e Fabio Mauri. A diretora da galeria, Antonia Bergamin, comenta que a Art Basel Miami Beach foi a primeira feira de grande importância que participaram: “Foi o que impulsionou a internacionalização da galeria. É importante para a manutenção de contatos e de clientes”, conta. Ela explica que a maioria de seus clientes hoje vivem nos EUA. Também participa
da seção Kabinett, comtrabalhos de Paulo Roberto Leal. Maxwell Alexandre deve ser o artista principal d`A Gentil Carioca na feira. A diretora da galeria, Elsa Ravazzolo, conta que tem trabalhado para queo artista seja conhecido internacionalmente e para inseri-lo em grandescoleções de instituições. É o décimo ano que a galeria está no evento: “É com certeza a feira mais importante na América. Ela cria um ponto de junção entre a América
Latina e a América do Norte”, diz Elsa. Capa desta edição da ARTE!Brasileiros, Rubem Valentim terá três trabalhos na feira, levados pela Mendes Wood DM e cedidos pela galeria Almeida e Dale. As obras são: Emblema (1971), Emblema 79 (1979) e Emblema
logotipo-poético (1974). O artista tem grandes mostras individuais em três lugares em São Paulo: Masp, Caixa Cultural e galeria Mendes Wood DM. A Galeria Nara Roesler entra em seu 11o ano de feira e levará obras de Abraham Palatnik, Antonio Dias, Artur Lescher, Daniel Buren, Daniel Senise, Eduardo Navarro, José Patrício, Julio Le Parc e Vik Muniz.

A DAN Galeria também tem uma mostra na seção Kabinett, apresentando pinturas de Alfredo Volpi. Para seu estande no Galleries, levará obras nomes como Macaparana, Wyllys de Castro, François Morellet e Ferreira Gullar. A curadoria, segundo o diretor Flávio Cohn, busca seguir o histórico da galeria e tem como objetivo: “Apresentar uma ponte entre arte construtivista e concreta brasileira e internacional”.

NOVOS ARES

Murilo Castro, diretor da galeria homônima de Belo Horizonte, pensou por dois anos em para onde levaria uma outra sede. Percebeu Miami como um importante polo de propagação da arte latino-americana, carro chefe da galeria, e não teve dúvidas em abrir um espaço na cidade: “É o melhor lugar em termos de feiras nos EUA e facilita nossa logística para participar das feiras no país”, ele pontua. A galeria ainda não participará da Art Basel Miami Beach, mas confirmou presença em outras feiras. O novo espaço
foi inaugurado no dia 17 de novembro, com a exposição This is Brazil, uma coletiva com obras de Anna Bella Geiger, Amélia Toledo, Luiz Hermano, Vítor Mizael, dentre outros.

O AI-5 e a Pré-Bienal de Paris

Horas antes da abertura da exposição dos artistas selecionados para a Bienal de Paris de 1969, militares chegaram ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Era uma sexta-feira, 30 de maio. Não demoraram para fechar a mostra que incluía obras de Antônio Manuel, Humberto Espíndola, Carlos Vergara e Evandro Teixeira.

O motivo: consideraram como “provocação” selecionar para Paris o flagrante registrado por Evandro Teixeira da queda de um motociclista da Força Aérea Brasileira. “O Departamento Cultural (do Ministério de Relações Exteriores) não tomou nenhuma outra providência no sentido de explicar como ficará a questão da representação brasileira na Bienal que será aberta, em setembro, com a participação de artistas do mundo inteiro”, registrou no dia seguinte o jornal Correio da Manhã. As obras deveriam ser enviadas para a França até 1º de julho, mas isso jamais aconteceu. Afinal, estava em vigor o AI-5, que acabou com os direitos individuais e oficializou a censura prévia.

Aconteceu há 50 anos, a censura e o cerco à liberdade de expressão se estabeleceram por décadas, mas os artistas selecionados não se deixaram destruir pela mão pesada do regime. Naquele ano, no entanto, o Brasil participou da Bienal de Paris de 1969 com apenas com duas maquetes (dos arquitetos Abrão Assad, Roberto Gandolfi, Jaime Lerner, Luiz Forte Netto e José Sanchotene) e três composições musicais (de Almeida Prado,
Cardoso Lidembergue e Marlos Nobre).

Por outro lado, a X Bienal de São Paulo, também de 1969, aconteceu com convidados de última hora. Artistas de diferentes países assinaram o manifesto Non à La Biennale, que circulara na Europa e nos Estados Unidos, e desistiram de exibir suas obras no Brasil. Entre eles estava Pierre Restany, que organizaria uma sala especial sobre Arte e Tecnologia, junto com Pol Bury. Espaços vazios nos salões refletiram o impacto do movimento na mostra que acabou conhecida como a Bienal do Boicote. Tristes tempos. Ainda mais tristes no momento em que o fantasma da censura volta a pairar sobre o país.

Rio explicita conflitos do país

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Sempre me pareceu contraditório que as condições da violência política e social no Brasil, especialmente os homicídios contra jovens e pobres trans, negros e indígenas, não gerassem obras e mostras contundentes com essa temática.

Claro, há casos isolados, e duas edições recentes da Bienal de São Paulo, 2014 e 2016, trouxeram essa questão de forma bastante explicita, em obras contundentes, como Apelo, de Clara Ianni e Débora Maria da Silva na Bienal. Como… coisas que não existem, de 2014. Mesmo assim, em um circuito tão intenso e vibrante, não são temáticas de fato presentes como se vê, por exemplo, em Israel, que também vive sob forte situação de conflito e onde muitos trabalhos abordam esses dramas de forma crítica, muitas vezes se opondo ao próprio papel do Estado.

Andre Griffo, A sala dos provedores, 2018

O Rio de Janeiro, sob intervenção federal deste o início deste ano, é possivelmente onde essas contradições se tornem visíveis de maneira mais evidente e não é, portanto, uma surpresa, que duas mostras tenham sido inauguradas em setembro passado explorando feridas que costumam frequentar apenas as páginas policiais ou da política, e não da cultura: Arte Democracia Utopia – Quem não luta tá morto (até 05/2019), no Museu de Arte do Rio, e Com o ar pesado demais para respirar (20/09 a 24/11), na nova sede da galeria Athena.

São exposições bem distintas, uma institucional, fruto de uma longa pesquisa do curador Moacir dos Anjos, outra comercial, mas com um processo de construção que partiu de uma provocação de Lisette Lagnado.

“Como o noticiário tem atingido seu cotidiano”, perguntou a curadora a cada um dos artistas representados pela galeria, que “viveram sua maioridade durante o período em que o país teve um governo de esquerda que assumiu como programa a redução da miséria e da fome”, segundo sua constatação no texto que acompanha a mostra.

Com essa estratégia, a exposição alcança uma temperatura às vezes até documental, que apresenta um quadro complexo da situação atual. Há referências ao incêndio que destruiu o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio, na obra de Frederico Filippi, Com o ar pesado demais para respirar, que dá titulo à mostra, composta por chapas de aço cobertas por tinta preta, sobrepostas por sua vez por desenhos e rabiscos em branco. É como se os resíduos do incêndio estivessem ali contidos. Quase ao lado, a pintura de André Griffo, “A sala dos provedores”, que representando um espaço museológico com retratos de “benfeitores”, reforça a crítica a uma elite branca, que parece incólume à realidade.

Matheus Rocha Pitta, Laje #77, (A primeira pedra) , 2017

A questão política, contudo, aparece de maneira mais explicita em obras de Lais Myrrha, Matheus Rocha Pitta e Vanderlei Lopes. É dele “A democracia é um mito”, uma escultura em bronze pintada com guache, onde se vê um jornal cuja manchete é o próprio nome da obra junto à imagem de um ônibus pegando fogo, sendo que a obra também foi levemente queimada. Em época de fake news, mídia partidarizada e eleições manipuladas, a
escultura é a síntese de 2018.

Rubens Gerchman
Identificados policiais da Chacina (Série Registro Policial), 1988
Colagem, espelho, óleo sobre madeira, telefone e televisão de plástico
150 x 166 x 25 cmJunto aos 12 artistas representados pela galeria – a maioria criou obras para a mostra -Lagnado reuniu um time de “históricos” como Antonio Dias, Antonio Manuel, Rubens Gerchman, Artur Barrio e Letícia Parente, entre outros, que nos anos 1960/70 também produziram trabalhos absolutamente voltados ao seu tempo, como as ”Trouxas ensanguentadas”, de 1970. Com isso, a curadora aponta para os tempos cíclicos da arte, da política e da própria sociedade, afinal,um distanciamento necessário para quem vive a barbárie dos dias atuais.

Já no MAR, Moacir dos Anjos segue a série de exposições que tiveram início em 2009 no projeto Política da Arte na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife. Desde então, o curador organizou diversas exposições que trabalham essa questão, seja em galerias comerciais ou espaços institucionais. Arte Democracia Utopia – Quem não luta tá morto me parece a maior delas e, dadas as condições atuais, de uma cidade sob intervenção, que após 8 meses não resolveu o assassinato de Marielle Franco e Anderson Pedro Gomes, e de um país dividido em uma eleição após o golpe parlamentar, a mais forte de todas.

Esse contexto aumenta a tensão, obviamente, e Moacir soube trazer essa temperatura das ruas e das redes para a mostra, incluindo de tirinhas da Laerte às ações do coletivo #coleraealegria. Com isso, o curador aponta para situações limites, onde não interessa tanto de onde vem a ação, mas a importância de usar a linguagem em novas formas.
Nesse sentido, a presença de Claudia Andujar, uma artista sempre incluída nas exposições do curador, ganha caráter de precursora, já que seu trabalho com os índios nunca esteve preocupado com a arte em si, mas a defesa de uma causa.

Rivane Neuenschwander

O panorama construído por Moacir é amplo: são mais de 50 artistas e coletivas, que ocupam um andar inteiro do museu e apresentam distintas vertentes poéticas. Está lá ”Apelo”, o vídeo visceral sobre a morte de adolescentes pela polícia na periferia de São Paulo visto na Bienal de São Paulo, em 2014, a uma nova versão de “Rio Utópico”, de Rosângela Rennó, visto antes no Instituto Moreira Salles.

Rosângela Rennó, #rio utópico, 2018

A mostra, contudo, ganha ao questionar a própria estrutura da instituição, já que estruturas foram construídas sobre as paredes de vidro que limitam a entrada no MAR, permitindo que seja possível entrar no museu de outra forma, ao mesmo tempo que esse novo espaço seja ocupado tanto por debates como por coletivos que o desejarem. O próprio espaço expositivo também contem uma área para reuniões, e é por conta desse tipo de acolhimento que a mostra se diferencia de uma exposição convencional. Ela não é apenas um compêndio de arte e política, mas sim um espaço para se praticar arte e política.

Artistas e galerias do Brasil contra-atacam na Art Basel Miami Beach

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Por Anna Brady*, no The Art Newspaper

Mendes Wood, com sede em São Paulo, Bruxelas e Nova York, mostra pinturas recentes de Antonio Obá que respondem ao recente exílio auto-imposto do artista afro-brasileiro na Europa e nos EUA Foto: Vanessa Ruiz

As galerias brasileiras são a maior delegação de expositores latino-americanos da Art Basel em Miami Beach, respondendo por 14 estandes – e as respostas à recente e controversa eleição do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro podem ser sentidas em torno da cidade esta semana. O ex-capitão do Exército, que toma posse em janeiro, foi apelidado de “Trump dos trópicos”, e suas opiniões controversas e a aparente falta de uma política cultural causaram alarme no setor de arte do Brasil.

Mendes Wood DM, com sede em São Paulo, Bruxelas e Nova York, mostra pinturas recentes de Antonio Obá que respondem ao recente exílio auto-imposto do artista afro-brasileiro na Europa e nos EUA. Obá recebeu centenas de mensagens ameaçadoras depois de sua performance em 2015, Atos de Transfiguração: O Desaparecimento de uma Receita para um Santo, em que ele tritura uma estatueta da Virgem Maria e derrama sobre seu corpo nu. A performance foi compartilhada por grupos de extrema direita nas mídias sociais no ano passado. O diretor da galeria, Renato Silva, diz que Obá, nas pinturas, está “tentando ressuscitar o corpo e a mente que [a extrema direita] roubou dele”.

MUITOS INTELECTUAIS DE ESQUERDA ESTÃO USANDO SUA AGÊNCIA NA ARTE PARA EXPRESSAR SUA OPOSIÇÃO À SITUAÇÃO POLÍTICA. MAS QUEM SABE POR QUANTO TEMPO MAIS PODEREMOS FAZER ISSO?

– MATTHEW WOOD, DA GALERIA MENDES WOOD

O artista agora está sendo processado pelo estado por indecência moral pública e danos a um objeto religioso. “Dada a nomeação de Bolsonaro, provavelmente teremos que tirá-lo do país ”, conta o co-fundador da galeria, Matthew Wood. A Mendes Wood também exibe trabalhos de Sônia Gomes, a primeira mulher afro-brasileira viva a fazer uma exposição individual em um grande museu brasileiro (Still I Rise, Museu de Arte de São Paulo/MASP, até 10 de março). Wood diz: “Muitos intelectuais de esquerda estão usando sua agência na arte para expressar sua oposição à situação política. Mas quem sabe por quanto tempo mais poderemos fazer isso?”.

O artista brasileiro Marcius Galan, cuja obra está exposta na Galeria Luisa Strina na feira, diz que, embora seja muito cedo para conhecer as políticas de Bolsonaro, alguns planos, como o “fim do ministério da cultura” e “a criminalização do ativismo”, são preocupantes. Apontando para o encerramento de uma exposição dedicada à arte queer no Centro Cultural Santander em Porto Alegre em 2017 após protestos, Galan diz: “Eu acho que artistas são o maior risco para um sistema autoritário de governo, então hoje uma narrativa cruel está sendo construído para desmoralizar artistas”.

A ascensão divisora ​​de Bolsonaro ecoa uma política cada vez mais polarizada em todo o mundo, desde a eleição do presidente Donald Trump nos EUA até o Brexit, o voto do Reino Unido para deixar a União Européia. “A população estava tão dividida – as famílias estavam brigando, as amizades estavam sendo destruídas”, diz Thiago Gomide, co-diretor da Bergamin & Gomide, outra galeria sediada em São Paulo que mostra a feira.

“Um pouco menos galerias brasileiras estão expondo em Miami este ano”, comenta Ariella Grubert, gerente de produção da Latitude – Plataforma de Galerias de Arte Brasileiras no Exterior. “Em 2017, apoiamos 16 galerias brasileiras na Art Basel em Miami Beach, mas este ano estamos apoiando 11. Acho que é porque é ano de eleições, há muita incerteza”, aponta Grubert. “Alguns artistas podem sair do Brasil por causa de Bolsonaro, mas outros estão pensando ‘este é meu país, e eu vou ficar’ – há um sentimento de resistência”.

*Publicado em 6 de dezembro no The Art Newspaper

Art Basel Miami Beach: pintura, cor e collage

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*Patricia Rousseaux, diretora editorial da ARTE!Brasileiros, viajou a convite da feira.

 

há uma dificuldade natural em sistematizar a visita anual à feira Art Basel Miami Beach. Não apenas é necessário acompanhar 268 expositores, com 5 ou 6 artistas em média escolhidos, vindos de 35 países, como também é necessário constatar algumas tendências. Na presença maciça de galerias americanas, várias europeias e asiáticas, a pintura esteve notavelmente presente. Seja apresentando artistas consagrados ou mais jovens, uma irrupção de cor parece competir com escolhas minimalistas. Com o novo investimento de Art Basel em Hong Kong, o público americano que se desloca durante a semana, ganhou acesso a arte asiática.

Clássicos da pintura contemporânea como Philip Guston, 1976, foram vendidos no primeiro dia pela Hauser & Wirth (Zurich, London, Somerset, Los Angeles, New York, Hong Kong, London) por U$ 7.5 milhões.

Philip Guston, Shoe Head, 1976

Algumas galerias como a Goodman, fundada em Johannesburgo, na África do Sul, em 1966. Com espaços tanto em Joanesburgo como na Cidade do Cabo, representa artistas estabelecidos e emergentes da arte contemporânea na África do Sul.

 

 

Nyideka Akunyili Crosby, Tea Time in New Haven, 2013, Victoria Miro de Londres.O artista nigeriano  vive e trabalha em Loa Angeles Califórnia. A arte de Akunyili Crosby “negocia o terreno cultural entre seu lar adotivo na América e sua Nigéria nativa, criando pinturas baseadas em colagem e transferência de fotos que expõem os desafios de ocupar esses dois mundos”.

 

 

Milton Avery, Seaside, 1931 na Victoria Miro

 

Contundentes, a pintura e o collage estiveram nas mostras de Museus e Coleções que abrem suas portas durante a semana. Uma das maiores coleções privadas na América do Norte, a Coleção Rubell, na região de Wynwood, um grande bairro no qual localizam-se galerias de arte de design e espaços culturais, o espaço é aberto na semana, com novas aquisições.

Jill Mulleady, Finissage, 2017, nasceu em Montevideo, mora e trabalha em Los Angeles,CA.

 

Uma nova consciência e juventude

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Daniel Jablonski, “Diante do Aparelho”, 2016

Como os jovens veem o período de ditadura militar pelo qual o Brasil passou entre as décadas de 60 e 80? Esse é o recorte da exposição Estado(s) de Emergência, realizada pelo Paço das Artes. A mostra apresenta o tema pela perspectiva de artistas que nasceram na época da abertura política e redemocratização do País.

A exposição é apresentada na Oficina Cultural Oswald de Andrade, no bairro do Bom Retiro. Isso porque a instituição não tinha uma sede definitiva, tendo sido tirada da Cidade Universitária/USP em 2016 e funcionando no Museu da Imagem e do Som (MIS-SP) desde então. Em setembro, finalmente, o Paço recebeu a boa notícia de que terá um novo lugar para chamar de seu. Cedida pelo Governo do Estado de São Paulo, a casa da instituição agora será o Casarão Nhônhô Magalhães, em Higienópolis. A inauguração contará com uma exposição de Regina Silveira.

Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado, “Comunidade”, 2011.

Estado(s) de Emergência, a última exposição do Paço antes de se fixar na nova sede, tem curadoria de Priscila Arantes e Diego Matos, e se forma na intensa vontade que a curadora, que também é diretora artística, tinha de falar sobre o assunto nessa perspectiva. O recorte se deu ao pensar sobre o próprio trabalho do Paço que, segundo ela, “trabalha nas bordas”. O projeto já vinha sendo realizado há dois anos, quando Arantes convidou Diego para realizar a curadoria conjunta, por afinidades em pesquisas.

“Trabalhamos muito com resistência. Não só no sentido temático e político da palavra, mas micropolítico também. Ampliando a palavra: uma arte que resiste a entrar no mercado, que cria críticas em relação a pensamentos hegemônicos”, diz Priscila. Muitos dos artistas selecionados –  como Lais Myrrha, Daniel Jablonski, Rafael Pagatini e Romy Pocztaruk – já passaram pela instituição em trabalhos para a Temporada de Projetos, realizada todo ano. Para Diego, o tema sempre o fascinou e o inquietou desde sua formação escolar. Ele já havia realizado uma exposição no Paço, pela Associação Cultural Videobrasil, com certa similaridade a essa. Ele pontua que a exposição também reflete outras, como o Estado de violência no Brasil. “A ideia de um Estado extremamente conflituoso e a ditadura talvez seja última sombra disso”.

Fernanda Pessoa, Histórias que o Nosso Cinema (Não) Contava, 2017. Stills do trailer

A história de ditaduras ao redor do mundo, especialmente na América Latina, já tinha sido abordada em outras mostras ao longo da existência do Paço. As mais conhecidas talvez sejam as individuais Operação Condor, do português João Pina, realizada em 2014, e Migrações, do argentino Marcelo Brodsky, que aconteceu em 2016.

Diego conta que observa desde 2013 uma ascensão do assunto ditadura militar na produção desses artistas mais jovens. “Existe um termo que acho bastante interessante, que já vi, por exemplo, Márcio Seligmann também concordar e a própria Priscila. Uma ideia de desassombramento, porque são pessoas que, como não viveram ou não têm uma relação traumática direta necessariamente com o tema passam a olhar para isso de uma forma mais acurada, até como pesquisadores propriamente”, comenta Matos.

Mais um still do trailer to filme de Fernanda Pessoa

Para os dois curadores, o que leva artistas mais jovens a falarem sobre a ditadura, mesmo não tendo vivido sua pior fase ou ter tido algum contato direto, são vários fatores. Os mais evidentes seriam a crise institucional da Nova República, trazendo um desejo de entender como se chegou até isso, e a transparência trazida nos últimos 15 anos pelo governo. A última, que permitiu a realização da Comissão Nacional da Verdade e o acesso a vários documentos da época, oferecendo muito material para trabalharem.

O artista Daniel Jablonski, que apresenta na exposição o trabalho Diante do Aparelho, de  2016, decidiu homenagear os esconderijos de diversos militantes perseguidos na ditadura com sua obra. Apartamentos que serviam como moradia ou espaço para reuniões eram chamados de “aparelhos” na época. “Entre 2008 e 2011, quando fui morar sozinho, tive a ideia de fazer uma espécie de inventário de todos que parraram pelo meu apartamento pela primeira vez”, explica.

As pessoas posaram para o artista embaixo de um letreiro com o nome do apartamento, o qual ele intitulou “aparelho”, por uma razão histórica e afetiva. “Além da questão política, ele também tem uma questão demográfica muito interessante. O ‘aparelho’ foi o primeiro apartamento de muita gente, porque a maioria dessas pessoas que vivem neles tinham 20 e poucos anos mesmo. Estavam não só planejando uma ‘revolução’ contra o Estado, mas promovendo uma mudança de costumes contra o modelo de afeto, de sexualidade e de família que existia na casa dos parentes”, aponta Jablonski.

Detalhe da obra de Daniel Jablonski

Já Fernanda Pessoa apresenta na íntegra o seu filme Histórias que o nosso cinema (não) contava. Premiado em vários festivais dentro e fora do Brasil, o longa é uma montagem de trechos de quase 30 filmes populares. Muitos, do gênero pornochanchada, da década de 70, demonstram alguma relação com o período ditatorial. Ela conta ter aprendido muito sobre como era o funcionamento da sociedade no longo processo de pesquisa e montagem do filme.

O longa também aborda, de forma muito forte, outras questões de opressão que existiam, como o machismo simbólico. Fernanda considera que o que mostra isso de forma mais explícita é uma analogia que aqueles filmes traziam entre o corpo feminino e o milagre econômico prometido pelos militares. “Eu fiz o filme justamente para tentar entender um momento que eu não vivi. Acho que o problema hoje é que ainda não estudamos direito o que foi a ditadura”, confessa.

Livro reforça Walter Zanini como intérprete da arte contemporânea

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Há livros que causam curiosidade antes de serem lançados pelo protagonismo do objeto de estudo. Este é o caso de Walter Zanini: vanguardas, desmaterialização, tecnologia na arte, com textos do crítico, professor, historiador e curador Walter Zanini, com organização de Eduardo de Jesus, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. O fecho intelectual da pesquisa resulta da estreita relação de Zanini com a vivência cotidiana da arte, revelando enigmas de sua fisionomia artístico intelectual.

O método Zanini de trabalhar inclui troca de experiência com os artistas e uma incansável forma de questionar o papel da arte. Dois momentos exemplificam essa prática: o laboratório de arte criado no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo MAC/USP (dirigido por ele desde a sua inauguração em 1963, onde abre espaço a
jovens artistas, à arte conceitual, arte postal, videoarte, performance e poéticas tecnológicas, até 1978) e, suas curadorias renovadoras na 16a e 17a edições da Bienal de
São Paulo. Foi ele quem instituiu a analogia de linguagem ao eliminar, definitivamente, o conceito de exposição das obras por países, compondo um grupo internacional de
críticos e curadores de museus para ajudá-lo nesta tarefa. O livro é uma investigação teórico-conceitual da presença das tecnologias na produção artística, no Brasil e no
exterior, a partir da passagem dos séculos 19 ao 20. Os textos revelam o olhar sistemático do crítico sobre a função reveladora da arte contemporânea, em um processo em constante mutação. Os textos mostram o avanço da arte, quando os processos artesanais de produção foram postos frente a frente às inovações tecnológicas e seus diversos canais. Há muito o que descobrir nessas camadas sobrepostas que têm como ponto de partida as experiências da Art Nouveau e da Deutsche Werkbund. A pesquisa passa por análises de movimentos das vanguardas históricas, como o futurismo italiano e o russo, dadaísmo
e construtivismo, chegando aos anos de 1980. Essa linha do tempo perpassa pela arte cinética, arte cibernética e eletrônica, crise do objeto, a contestação dos suportes
tradicionais e a evolução da videoarte.

O capítulo inaugural refere-se à arte e uma de suas questões de identidade. Da Arte Artesanal e Mecânica à Arte Eletrônica problematiza as interfaces entre arte e
tecnologia à luz de suas relações com as transformações da arquitetura e do design no século 19. Desse período seorigina o capítulo sequencial Arte cinética, o impulso para
o imaterial, aspectos da contribuição do cinema de artista e experimental. Vários grupos ligados ao movimento são citados como o Zero, de Dusseldorf, 1957, do qual partici-
pou o brasileiro Almir Mavignier; Recherche d ́Art Visuel (GRAV), de Paris, 1960, comandado pelo argentino Júlio Le Parc; MID de Milão,1964; Anonima, de Cleveland,1960,
entre outros. O trabalho de Abraham Palatnik no Brasil é só citado e, depois comentado em outro segmento. O cenário das exposições, a partir desse momento, muda substancialmente, misturando trabalhos tradicionais com realidades imagéticas inéditas que surgiam de novas máquinas, incorporando as múltiplas manifestações do
período caracterizadas pela imaterialidade. Em Impulso para o imaterial há o “incontestável reconhecimento da obra musical de John Cage” e de dois alunos preferidos: Robert Rauschenberg, seu também colaborador, e de Allan Kaprow, criador da arte corporal. A expressão “desmaterialização da arte” surgiu pela primeira vez com a crítica americana Lucy R. Lippard, em artigo assinado com John Chandler, em 1968. Em uma de suas entrevistas diz que “hoje tudo, incluindo a arte, existe dentro de uma situação política”. Esse olhar novo surgiu em Lippard, depois de uma viagem que ela fez à Argentina, em 1968, onde conheceu artistas engajados no movimento arte/ política, dentro dos acontecimentos de maio de 1968. O grupo CoBRA aparece nesse capítulo com destaque para Asger Jorn, e sua ideia de “laboratórios de estudos, como os institutos científicos”. O objetivo do artista dinamarquês era ensinar jovens a alcançarem não só resultados artísticos práticos como também crescerem no campo da teoria da arte. Os temas fragmentados, não longos, tentam demonstrar o pensamento de Zanini, sobretudo,
em dois segmentos aos quais ele se dedicou: a videoarte no Brasil, em que traça um histórico das primeiras experiências eletrônicas que surgem por aqui, entre 1969 e 1973. Enquanto nos Estados Unidos esse movimento já tomava corpo no final de 1960, no Brasil, por falta de recursos, se inicia tardiamente. Zanini comenta a arte e a tecnologia “como manifestações que remontam do período entre 1940 e 1950 com as experiências cibernéticas de Abraham Palatnik, precursor da complexa passagem dos procedimentos artesanais da arte no Brasil”. Não havia ferramenta portátil para os artistas nessa época dos imensos computadores IBM, quando um só deles ocupava uma sala de 50 metros quadrados.

“Waldemar Cordeiro, o pioneiro da arte por computador, associado ao físico Giorgio Moscati, demonstrou em 1969 os primeiros resultados de sua pesquisa, que teve
reconhecimento internacional, mas logo interrompida com sua morte em 1973”. Depois dele, outros artistas foram atraídos pela eletrônica como Wesley Duke Lee, Artur Barrio, Gabriel Borba Filho e Antonio Dias. E, entre os teóricos, Zanini comenta a participação de Vilém Flusser, intelectual checo, fundador da disciplina Teoria da comunicação, na Faap, do qual fui aluna. O discurso multimidiático de Flusser, teórico definido por Zanini como “o filósofo de aderência fenomenológica, identificado sobretudo a Heidegger”, atraiu artistas e teóricos de todo o mundo. Ao falar dos Primeiros tempos da arte/tecnologia no Brasil, Zanini observa que, sobre “sob influxos internacionais, as experiências comportamentais
foram logo seguidas pela rápida propagação do uso de audiovisuais e filmes super-8 e 16 mm, às vezes registros de ações conceituais”.

O intenso envolvimento do crítico com os problemas estruturais da arte contemporânea está refletido ao longo dessa coletânea, como uma espécie de fio condutor. Nos textos reunidos em Aspectos da contribuição do cinema de artista e experimental emerge o grupo de Milão, liderado por Lucio Fontana, argentino/italiano, autor do Manifesto del movimento spaziale per telezivione, 1952, exprimindo a convicção de que “a arte deveria se libertar de sua materialidade”. Entre os trabalhos citados aparece o do Grupo Fluxus, que Zanini trouxe à Bienal de São Paulo, em 1983, e colocou o Brasil em contato com a obra de Vostel. “A iniciativa de um vídeo do coreano Nam June Paik, em 1965, marca o momento inaugural da videoarte”, anota Zanini. Paik influenciou artistas como Vito Acconci, Bruce Nauman, Davidson Gilliotti. Também optaram pela videoarte Dan Graham, Dennis Oppenheim, Richard Serra, Bill Viola, Gary Hill e outros mais.

No conjunto, o livro reforça que Walter Zanini é um dos críticos brasileiros mais expressivos no comprometimento com a arte contemporânea mundial e seu trabalho, obra de consulta permanente.


Walter Zanini – Vanguardas, Desmaterialização, Tecnologias Na Arte
Jesus, Eduardo De
Wmf Martins Fontes
R$ 25,00

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Novo território de arte e cultura sustentável

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Com a missão de preservar e fomentar a memória e a experiência artística contemporânea na cidade de ITU e região, a Fábrica de Arte Marcos Amaro – FAMA inaugurou mais duas salas de exibição. Em menos de um ano, uma equipe chefiada pela diretora da Fundação, Raquel Fayad, e o curador e organizador, Ricardo Resende, colocou em pé uma seria iniciativa e importante investimento do artista e empresário Marcos Amaro.

Em junho de 2018, a FAMA deu início aos trabalhos abrindo sua primeira exibição, intitulada O Tridimensional na coleção Marcos Amaro: frente, fundo, em cima, embaixo, lados, volume, forma e cor.

“De Aleijadinho, passando por Almeida Júnior à Adriana Varejão, Cildo Meireles, Iole de Freitas e Nelson Leirner, esses são alguns dos nomes que compõem a exposição – que se inicia no século XVIII e alcança a contemporaneidade, permitindo um percurso na História da Arte Brasileira. A mostra apresenta o acervo em formação, que tem como interesse o ato escultórico como categoria artística do tridimensional. Nessa configuração, os trabalhos saem do bidimensional para o tridimensional, entre o que seria uma pintura ou um relevo sobre a parede. Uma instalação ou uma escultura. De pequeno, médio e grande porte, com cor ou sem cor: é como a coleção se constituiu ao longo dos últimos dez anos”, diz Resende.

Os trabalhos selecionados trazem um recorte da Coleção de Arte Marcos Amaro para os galpões da FAMA. Nos jardins que rodeiam a fábrica em restauro, foram instaladas algumas das esculturas da coleção. Ao mesmo tempo, estas farão parte de uma exposição especialmente organizada junto à Prefeitura para serem expostas nas avenidas da cidade.

Estão presentes aí obras de Emanoel Araújo, Gilberto Salvador, Marcos Amaro, Mestre Didi, Mário Cravo Júnior, José Resende, León Ferrari, Caciporé Torres, Sérgio Romagnolo e José Spaniol.

Após meses de visitação, parcerias com instituições da região e o início de relacionamento com escolas, a FAMA já conta com mais dois espaços restaurados
para exibição. A exposição O Tempo e a Gravura no Espaço – Sala Negra apresenta a Coleção Guida e José Mindlin de Matrizes de Gravura, recentemente adquirida pela
Fundação Marcos Amaro.

Organizada pelo bibliófilo José Mindlin (1914-2010), que tinha paixão pelos livros, e sua esposa Guita (1916-2006), é uma coleção única. Essa coleção de 450 matrizes é o núcleo da exposição que reúne uma seleção de xilogravuras que mostram a dramaticidade do gesto de gravadores como Renina Katz (1925), Djanira (1914-1979), Mestre Noza (1897-s.l.1984), Oswaldo Goeldi (1895-1961). Na sequência trabalhos mais lúgubres como O Pássaro (2015-2018), de Laura Lima, com coautoria do artista Zé Carlos Garcia, uma escultura feita de penas negras que simulam um pássaro morto caído no chão. De alta dramaticidade, fantasmagórica, parece ter saído de uma das matrizes vistas na exposição. A textura final das penas e seu posicionamento parecem dar vida a uma xilogravura, agora expandida no espaço. Nuno Ramos (1960) faz uma homenagem ao Oswaldo Goeldi ao gravar em baixo relevo sobre uma “lápide” de mármore branco uma imagem das suas xilogravuras banhada de óleo enegrecido, criando as sombras que caracterizam suas gravuras. Goeldi, como Nuno Ramos, é um artista que irradia uma densidade literária, que pode ser observada também nas pinturas de Rodrigo Andrade, nas gravuras de Wesley Duke Lee, na pintura de Iberê Camargo, de Siron Franco e na instalação de Tunga.
Independentemente de critérios curatoriais ou das escolhas das obras, que costumam ser sempre o alvo de críticas eminentemente estéticas, há um imenso valor ético e estético em colocar este acervo à disposição do público.

Agora, além das reformas arquitetônicas e da finalização das salas de reserva técnica, está na mira o planejamento e capacitação de um educativo capaz de acompanhar, escutar, contar histórias e sistematizar as experiências de visitação.

Na rota contrária ao fechamento de espaços culturais no país como um todo e da censura prévia na construção de projetos, a FAMA se coloca na rota de investir em cultura e arte contemporânea, permitindo que jovens e adultos sejam motivados a perguntar, a pensar e a refletir.