Início Site Página 138

3 livros para ler este mês

3 livros para ler
Christian Dunker

A Série literária “Imperdíveis” voltou à ARTE!Brasileiros. Indicamos 3 livros para ler agora e refletir sobre as relações construídas entre a arte e a sociedade.

Os títulos da vez tratam de temas que passam pela leitura tradicional feita pela antropologia da concepção da arte enquanto individual, coletiva e de modo geral, colocam em jogo a relação imagem-público-artista a partir da obra de Farías e investigam “as formas de amor, sobre suas interveniências políticas, sobre a possibilidade de ficar junto e separado”, como cita Dunker.

3 livros para ler agora

Christian Dunker, Editora Ubu, 320 páginas  

3 livros para ler
Christian Dunker

TRECHO 

“Uma investigação sobre as formas de amor, sobre suas interveniências políticas, sobre a possibilidade de ficar junto e separado”.

AUTOR

Professor titular em Psicanálise e Psicopatologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP, Dunker possui 26 anos de clínica e reflexão e é colunista em “Carteiro do Inconsciente.

Arte e Agência

Alfred Gell, Editora Ubu, 296 páginas

TRECHO

“(…)A “teoria antropologia da arte”seria a teoría da arte aplicada à arte “antropológica”. Mas não é isso que está em questão aqui.(…) A arte das culturas não ocidentais não é essencialmente diferente da nossa uma vez que é produzida por artistas com características individuais próprias, talentosos e engenhosos que deveriam contar com o mesmo nível de reconhecimento de que gozam os artistas ocidentais, e não serem vistos como filhos da natureza “tomados pelo instinto”que expressam espontaneamente seus impulsos primitivos ou, quando não, comoo expoentes servis de um rígido estilo “tribal”.

AUTOR

Alfred Antony Francis Gell foi um arqueólogo e antropólogo social britânico. Lecionou na Universidade de Sussex e realizou trabalhos de campo com os povos Umeda, na Nova Guiné, e Muria, na Índia.

Patricio Farías

Organizado por Adolgo Montejo Navas, Editora Iluminuras, 351 páginas

 

3 livros para ler esse mês
Patrício Farias

TRECHO

“Eu diria que como todas as coisas humanas [a questão da imagem é uma mola fulcral da arte, de que as coisas são complexas]. Se pensarmos no processo criativo de cada um, que é uma espécie de onanismo e solo íntimo, e que tu tornas público, de certa maneira, é claro que não tem como ser completo.”

AUTOR

Adolfo Montejo Navas (Madri, 1954) é artista plástico e autor de diversos livros. Atualmente colabora com publicações culturais da Espanha e do Brasil.

 

Aníbal López, um estranho no ninho

Trabalho do artista guatemalteco. Foto: Divulgação

É difícil medir a influência de Aníbal López na arte contemporânea da Guatemala. López propõe interferências e investigações colocando as relações de política e economia no plano ético. Com isso, cria disrupções dentro da arte produzida até o momento.

por Alexia Tala*

Um estranho no ninho

Assaltou uma pessoa e com esse dinheiro pagou o cocktail da sua exposição “El Préstamo”, 2000 – atualmente exposta na 33a Bienal de São Paulo, esparramou carvão nas ruas antes do desfile de aniversário do Exército guatemalteco (30 de junho de 2001), transformou a instituição que expôs seu trabalho em cúmplice de atividade de contrabando (500 caixas de contrabando, 2007). Entre outras intervenções.

Em 2014, surpreendeu à Documenta de Kassel ao levar à Europa um “sicário” (assassino de aluguel) por ele contratado a fim de responder perguntas dos visitantes. Entre elas, “quanto cobra para matar uma pessoa?”, “como assassina as crianças?”, “desenvolveu um estilo para assassinar?”, “como era o vínculo com a polícia que o encobria?”.

Testimonio, 2014, representa exemplarmente seu impulso. A potência da sua obra, pode-se dizer, consiste em “produzir cúmplices”. Assim, trazer ao plano da arte a radicalidade da própria realidade por meio de estratégias sofisticadas devido a sua simplicidade. López nos incrimina, nos envolve e nos mancha nos delitos que calcula.

O efeito Aníbal López

Seu raciocínio de criação é produzir fatos reais eliminando o plano da representação, exibindo o paradoxal no campo da arte. O paradoxal da sua fragilidade ética ou a violência da sua imunidade legal.

O efeito é frequentemente desorientador, pois provoca grandes questionamentos: quais os limites entre o bem e o mal enquanto conceitos crus relativos à América Latina? Essa crueza se comprova no deslocamento que sua obra produz na Documenta e na Bienal de Veneza.

Assim, parece extremamente pertinente o destaque recebido na 33a Bienal de São Paulo, Afinidades Afetivas. Não só porque a cena regional está em dívida com seu reconhecimento, mas também pela semelhança de conflitos entre Guatemala, Brasil e seus passados recentes.

Referências como Aníbal, para quem foi crucial ter vivido na violenta e dividida Guatemala, colaboram mais do que nunca para pensar a situação de divisão social. Seja ela entre a extrema direita e as esquerdas radicais, as elites e os grupos vulneráveis e segregados. Vejo como uma homenagem a resolução curatorial e, conhecendo a obra, gostaria de apontar duas questões.

Série Ladino, todas as imagens são cortesia da coleção Hugo Quinto e Juan Pablo Lojo, Guatemala.

Uma específica: a falta de obras da série Ladino, um grupo de obras gráficas e instalações nas quais López trabalha em torno das semelhanças anatômicas do corpo humano. A partir da fragmentação de corpos e faces que pinta sem pele, enuncia que as diferenças econômicas, sociais e raciais estão na superfície.

Ela demarca um momento crucial de sua trajetória, anterior às ações que veremos, onde se reconhece um diálogo com Santiago Sierra. Este erro de ênfase vemos também na forma museográfica em que se apresenta Testimonio.

Por outro lado, um comentário geral. Na Bienal, sua obra representa o maior “coeficiente de contexto”, dada a situação do país. Com relação ao conteúdo da edição, a obra de López é a única a envolver-se com as problemáticas do entorno. Ele forma parte do grupo de artistas sensibilizados com as violências locais e também globais. Potencial catalisador para os artistas contemporâneos de corte mais político.

Seu legado artístico ainda não foi devidamente valorizado pela arte internacional. Atrevo-me a dizer que dentro da América Latina não há outro artista que utilize-se deste tipo de recurso de forma tão sagaz e firme no tempo. Insisto: a influência de López é fundamental para a atual geração de artistas na América Central, na Guatemala. E, com o resgate certo, da expansão da sua obra para outras latitudes.

*Alexia Tala é investigadora e curadora. Atualmente curadora-chefe da Bienal de Arte Paiz Guatemala 2020, curadora do Projeto Solo em SP-Arte 2019 no Brasil e diretora-artística da Plataforma Atacama. Foi co-curadora da 8va Bienal do Mercosur em 2011.

 

Confira indicações de leitura imperdíveis

O Mundo como Verdade e como Representação – Tomo II, Artur Shopenhauer Tradução de Jair Barboza Editora Unesp, 808 páginas

A Série Imperdíveis está de volta com indicações de leitura que passam pelos campos da filosofia e história.

Indicações de leitura

Por Ligia Braslauskas

O Mundo como Verdade e como Representação – Tomo II
Artur Shopenhauer, Tradução de Jair Barboza, Editora Unesp, 808 páginas

O Mundo como Verdade e como Representação – Tomo II, Artur Shopenhauer, Tradução de Jair Barboza, Editora Unesp, 808 páginas

TRECHO

“Amor e ódio falseiam por completo o nosso juízo: em nossos inimigos vemos apenas defeitos, em nossos entes queridos, puros méritos e mesmo os defeitos destes parecem-nos dignos de apreciação. Um poder oculto semelhante a esse é exercido por nosso preconceito (…)”

AUTOR

Com seu estilo saboroso e irônico, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) influenciou decisivamente alguns dos grandes escritores e pensadores dos séculos 19 e 20, como Nietzsche, Tolstói, Machado de Assis, Freud, Einstein,  Jung, Thomas Mann e Becket.

O Pai Morto

Donald Barthelme, Tradução de Daniel Pellizzari, Rocco, 240 páginas

TRECHO

O Pai Morto, Donald Barthelme,
Tradução de Daniel Pellizzari, Rocco, 240 páginas

“Houve muitos homens, não vou negar, eram como moscas no mel. Tentei amá-los. Uma dificuldade danada. Eu tinha um arpão na janela. Acompanhava um por um com a mira enquanto andavam pela rua com sua dignidade ridícula. Nunca atirei mas poderia ter feito isso (…)”

AUTOR 

Barthelme (1931-1989) é um dos reis do chamado pós-modernismo literário (os outros seriam John Barth e Thomas Pynchon). Ele é principalmente conhecido pelos contos, a maioria deles publicada na revista The New Yorker.

Sêneca e o Estoicismo

Paul Veyne, Tradução de André Telles, Três Estrelas, 280 páginas 

Sêneca e o Estoicismo
Paul Veyne, Tradução de André Telles, Três Estrelas, 280 páginas

TRECHO

“Todos os homens, vítimas uns dos outros, vivem longe da natureza, no erro, na ilusão. Não que os estoicos os julguem maus: sua doutrina é mais uma medicina que uma moral; constatam, porém, que os homens são literalmente doentes mentais (…).”

Nascido em Córdoba, Sêneca (1 d.C.- 65 d.C.) foi não apenas o maior filósofo de seu tempo como também um importante homem de negócios, senador de Roma e preceptor de Nero. Este livro conta sua história e analisa seus escritos à luz da sensibilidade contemporânea.

AUTOR

A Dialética Invertida e Outros Ensaios, publicado em 2014, deu início à publicação da obra ensaística da historiadora, que agora segue com esta reunião de textos sobre o País, tratando da independência à crise mundial. Ao final, dois depoimentos da autora. 


Brasil – História, Textos e Contextos

Emília Viotti da Costa, Unesp, 352 páginas

Brasil – História, Textos e Contextos
Emília Viotti da Costa
Unesp, 352 páginas

TRECHO

“Os heróis míticos que povoaram a imaginação do homem primitivo, os santos, os cavaleiros medievais, os reis e os nobres, personagens das baladas e crônicas medievais ou do ‘Antigo Regime’ foram substituídos, nos tempos modernos, pelos heróis nacionais.”

Arqueólogo e historiador, Veyne (França, 1930) é um dos grandes especialistas na antiguidade greco-romana. Tem vários livros lançados no Brasil, dentre eles O Pão e o Circo, Sexo e Poder em Roma e Foucault, seu Pensamento, sua Pessoa.

AUTORA

A paulistana Emília Viotti da Costa era professora livre-docente da USP quando foi aposentada pelo AI-5, em 1969. Autora de vários livros importantes, como
Da Colônia à Senzala
, lecionou em universidades dos EUA, como as de Tulane, Illinois e Yale.

Euforia

Lily King, Tradução de Adriana Lisboa, Globo Livros, 248 páginas

Euforia, Lily King, Tradução de Adriana Lisboa, Globo Livros, 248 páginas

TRECHO

“É preciso prestar muito mais atenção em todo o resto quando não se entende as palavras. E, quando alcançamos a compreensão, muita coisa cai por terra. Você então confia em suas palavras, e a palavra nem sempre é a coisa mais confiável do mundo.”

AUTORA

Formada em Escrita Criativa e Literatura Inglesa, a autora fez extensa pesquisa sobre Mead, Reo Fortune, seu então marido, e Gregory Bateson, além de estudar a antropologia da época. As tribos mencionadas e seus costumes cruzam elementos fictícios e reais.

A Noite do Meu Bem

Ruy Castro, Companhia das Letras, 512 páginas

TRECHO

A Noite do Meu Bem
Ruy Castro, Companhia das Letras, 512 páginas

“Em 1962, Nelson Gonçalves estava entre o caos e o abismo. Sua vida passara a ser regulada por maconha, cocaína (tinha em casa, para uso pessoal, nunca menos de cem gramas) e remédios (…)  Os traficantes o visitavam em oito ou nove de uma vez.”

AUTOR 

Rigoroso na pesquisa, sem esquecer a graça jamais, o autor, conhecido por Chega de Saudade, sobre a Bossa Nova, montou uma “cançãografia” com os sambas-canção citados no livro e outros, além de completa discografia e filmografia. A edição traz ainda várias imagens de época.

 

Botchan

Natsume Soseki, Tradução de Jefferson José Teixeira, Estação Liberdade, 184 páginas

Botchan
Natsume Soseki
Tradução de Jefferson José Teixeira
Estação Liberdade, 184 páginas

TRECHO

“A água brilhava estranhamente sob o sol intenso. Seria capaz de ofuscar quem olhasse fixamente para ela. Ao perguntar a um encarregado do navio, fui informado ser ali o local de meu desembarque (…) Alguém devia estar zombando de mim.”

AUTOR

Ao lado de Ogai Mori (1862-1922), Soseki foi um renovador da literatura japonesa. Já com Eu Sou um Gato, de 1905, o ex-professor de Inglês conquistou público e crítica. Botchan foi escrito um ano depois e traz o mesmo espírito satírico do romance anterior.

História da Chuva

Carlos Henrique Schroeder, Record, 160 páginas

TRECHO

História da Chuva
Carlos Henrique Schroeder
Record, 160 páginas

“Na Índia, quando um boneco fica muito velho e deixa de ser usado, um pequeno ritual é feito ao pôr do sol e ele é imerso em um rio e carregado em procissão. Mas Arthur não era um boneco velho, e sabia nadar muito bem. Morreu a quatro quarteirões de seu apartamento.”

AUTOR

O catarinense Schroeder, nascido em 1975, é escritor, roteirista, crítico literário e editor. Seu livro de contos As Certezas e as Palavras recebeu o Prêmio Clarice Lispector da Fundação Biblioteca Nacional, e seu romance As Fantasias Eletivas será adaptado para o cinema.

 

Série Imperdíveis: indicações de leitura

Conversações com Goethe nos últimos anos de sua vida, 1823-1832, Johann Peter Eckermann, Tradução de Mario Luiz Frungillo, Editora Unesp, 718 páginas

Originalmente publicada em CULTURA!Brasileiros, a série Imperdíveis traz títulos relevantes da literatura.

Relembre a série Imperdíveis

Sul

Verônica Stigger, Editora 34,91 páginas

Um conto, uma peça teatral curta e um poema formam um estranho quebra-cabeça em que todas as peças se encaixam. O novo livro de Veronica faz uso consciente e singular da linguagem, que, do trágico ao cômico, do melancólico ao escatológico, encontra sempre a forma e o tom precisos.

TRECHO 

Sul, Verônica Stigger, Editora 34

“Mas o cheiro do sangue não é como o cheiro do mijo. O sangue tem um cheiro adocicado. Um cheiro persistente. Um cheiro de morte. O mijo tem um cheiro ácido. Um cheiro passageiro. Um cheiro de rodoviária.”

A AUTORA

Uma das vozes mais fortes da literatura brasileira atual, Veronica Stigger nasceu em Porto Alegre e mora em São Paulo. É escritora, crítica de arte e professora universitária. Já publicou dez livros de ficção e recebeu os prêmios Machado de Assis (autor estreante) e Açorianos (narrativa longa).

O Museu do Silêncio

Yoko Ogawa, Tradução de Rita Kohl, Estação Liberdade, 304 páginas

O Museu do Silêncio é uma obra de suspense excêntrica, com temas duros e polêmicos, que muitas vezes flertam com o grotesco. Como seria um museu que preservasse lembranças de pessoas que morreram? Essa é a essência da trama do primeiro livro de Yoko Ogawa traduzido para o português.

Yoko Ogawa, Tradução de Rita Kohl, Estação Liberdade

TRECHO
“O que eu quero fazer é um museu mais grandioso do que vocês jovens podem imaginar. Um museu que não existe em lugar nenhum do mundo, mas que é absolutamente necessário. Uma vez começado, não se poderá mais abandoná-lo.”

A AUTORA

Yoko Ogawa é uma das escritoras japonesas contemporâneas mais saudadas no Ocidente. Desde 1988 já publicou mais de 20 livros e ganhou todos os prêmios literários japoneses importantes.

O genocídio do negro brasileiro

Abdias do Nascimento, Perspectiva, 229 páginas

Em 1977, Abdias Nascimento apresentou um texto combativo demonstrando que a situação dos negros no Brasil era de uma condução ao “genocídio. Assim, a reedição deste texto em 2016 não é apenas uma homenagem histórica, mas a constatação de um fato: a situação continua inalterada.

TRECHO 

O genocídio do negro brasileiro, Abdias do Nascimento, Perspectiva

“Eu deixo vocês com um apelo: encontrem os caminhos e os meios de abrir os impulsos criativos que habilitem os negros individualmente, as nações negras, e as organizações de tais nações, a reconquistar o controle de seus destinos.”

O AUTOR

Uma das maiores vozes pelos direitos dos negros do Brasil, Abdias foi um dos pioneiros do moderno teatro brasileiro, fundou o Ipeafro e recebeu da Unesco o prêmio de Direitos Humanos e Cultura de Paz.

Céus e Terra

Franklin Carvalho, Record, 206 páginas

Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2016 na categoria romance, o livro conta a história de um menino que é decapitado por acidente. Nessa trama conduzida com leveza e agilidade, acompanhamos a trajetória do menino sem cabeça que vai se tornando um mito dentro de sua cidade.

Céus e Terra, Franklin Carvalho, Record

TRECHO 

“Quando eu tinha doze anos, fui ajudar a tirar um homem da cruz. Encontrei-o morto e acabei morrendo também.”

O AUTOR

Franklin Carvalho é jornalista e tem pós- graduação em Direito e Processo de Trabalho. Natural de Araci, no sertão da Bahia, é também autor de dois livros de contos independentes. Atua como fotógrafo e na divulgação de movimentos culturais e sociais.

Enclausurado 

Ian McEwan, Tradução Jorio Dauster, Companhia das Letras, 200 páginas 

Este livro é uma joia do humor e da narrativa fantástica.  Uma verdadeira amostra sintética e divertida do impressionante domínio narrativo de McEwan. Através de um narrador inusitado, um dos maiores ficcionistas da atualidade cria uma história de intriga e mistério.

TRECHO

Ian McEwan, Enclausurado, Companhia das Letras

“Então aqui estou, de cabeça para baixo, dentro de uma mulher. Braços cruzados pacientemente, esperando, esperando e me perguntando, dentro de quem estou, o que me aguarda.”

O AUTOR 

Inglês nascido em 1948, Ian McEwan é um dos maiores escritores de sua geração. Já escreveu mais de 20 livros,
que lhe renderam vários prêmios, entre eles o Booker Prize e o Whitbread Award.

São Francisco de Assis

G. K. Chesterton, Tradução de Luis Reyes Gil, *mundaréu

Ciente do espaço que São Francisco ocupa em nosso imaginário, na história e na religião, Chesterton cria um ensaio biográfico de notável perspicácia teológica e argumentativa, defendendo a capacidade que teria a religião no fortalecimento das respostas às grandes questões humanas.

TRECHO 

G. K. Chesterton, Tradução de Luis Reyes Gil, *mundaréu

“Em certo sentido, é sem dúvida uma triste ironia que São Francisco, depois de passar a vida pregando a concórdia entre todos os homens, tenha morrido em meio a crescentes desavenças.”

O AUTOR

Criador do Padre Brow, o inglês G. K. Chesterton foi também jornalista, historiador, teólogo, filósofo, desenhista e economista. É chamado de “príncipe do paradoxo”pelo brilhante conteúdo argumentativo de sua obra.

Conversações com Goethe nos últimos anos de sua vida 1823-1832

Johann Peter Eckermann, Tradução de Mario Luiz Frungillo, Editora Unesp, 718 páginas

Resultado das zelosas anotações diárias e observações de seu secretário particular Eckermann, Conversações definiu a imagem de Goethe para a posteridade. A imersão no cotidiano do grande poeta em seus últimos nove anos de vida possibilita conhecer melhor tanto o literato quanto a sua época.

TRECHO 

Conversações com Goethe nos últimos anos de sua vida, 1823-1832, Johann Peter Eckermann, Tradução de Mario Luiz Frungillo, Editora Unesp, 718 páginas

“Estou convencido de que estas conversações não apenas proporcionam algum esclarecimento e muitos ensinamentos para completar a imagem de Goethe que cada um terá formado a partir de sua multifacetada obra.”

O AUTOR 

O poeta e escritor alemão Johann Peter Eckermann era amigo e confidente de Goethe. Ficou mundialmente conhecido pela publicação de Conversações com Goethe nos Últimos Anos de Sua Vida.


Cildo – estudos, espaços e tempo

Organização de Guilherme Wisnik e Diego Matos, Editora Ubu, 304 páginas
                                           

Organizada por Guilherme Wisnik e Diego Matos, “Cildo – estudos, espaços e tempo”, Ubu Editora,

TRECHO 

 

“A palavra que eu acho mais bonita, entre as que eu
conheço, é “lejos” porque pressupõe que seu ser está aqui
e lá ao mesmo tempo. O lá é uma constatação do ser.
Cildo Meireles.”

O AUTOR 

Os organizadores que reuniram cerca de quarenta trabalhos, realizados ao longo de cinquenta anos de carreira de Cildo Meireles são Guilherme Wisnik e Diego Matos. O primeiro, professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Crítico de arte e arquitetura, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e da Latin American Studies Association (LASA). Autor de demais livros como Lucio Costa (2001), Caetano Veloso (2005) e Estado crítico: à deriva nas cidades (2009). Matos é pesquisador, professor e curador. Arquiteto pela Universidade Federal do Ceará, mestre e doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Gestão da Cultura e do Entretenimento – Direito, Arte e Liberdade

Organizado por Cris Olivieri e Edson Natale, Edições Sesc

TRECHO

Direito Arte Liberdade, Organizado por Cris Olivieri e Edson Natale, Edições Sesc, 272 páginas
“Nossa vocação é criar com o universo. Se existem deuses e demônios criadores, estão em nós e em toda natureza ou em lugar nenhum. (…) ”Fazemos parte dos Sem Nada – mas com Arte podemos conseguir transmutar os Sem Arte, para q não destruam o Planeta Terra: os que tatuaram em suas cabeças a Cruz Enrolada num Cifrão: $$$$+++…”, cita Zé Celso.
AUTORES
Cris Olivieri é advogada com especialização em gestão de processos comunicacionais e culturais e mestre em administração das artes pela Universidade de Boston. Edson Natale é músico, escritor e jornalista,

Livros: volta a série Imperdíveis

Jaqueta Branca ou O Mundo em um Navio de Guerra, Herman Melville, Carambaia

Confira os títulos destacados pela antiga CULTURA!Brasileiros, originalmente publicados em 2017 na série Imperdíveis.

Série Imperdíveis: livros para ler agora

O Progresso do Amor

Alice Munro, Tradução de Pedro Sette-Câmara. Biblioteca Azul, 384 páginas

Sexta coleção de contos da autora canadense. A história que dá título ao livro, lançado originalmente em 1986, reflete uma experiência autobiográfica. Trata de uma mulher divorciada que volta para a casa dos pais no interior e tem de lidar com a memória conturbada da infância.

Alice Munro, O progresso do amor, Biblioteca Azul

TRECHO 
“Eles não falavam por mal. Não tinham faro para perceber que alguma coisa devia estar errada. Marietta, porém, nunca conseguiu aguentar homens rindo. Havia sempre lugares pelos quais ela detestava passar, e ainda mais entrar neles, e era esse o motivo. Homens rindo.”

A AUTORA
Vencedora do Nobel de Literatura em 2013, Munro (1931) é tida como a “Tchekhov do Canadá”. Também ganhou o Man Booker Prize de 2009 e três vezes o Governor General’s Award.



De Tudo um Pouco

Ana Luisa Escorel. Ouro Sobre Azul, 220 páginas

Com edição bem cuidada, em capa dura e permeada de ilustrações, este pequeno livro traz textos escritos nos últimos 15 anos – de lembranças familiares, comentários literários e outros -, que estavam na gaveta ou que alimentaram o ótimo blog de mesmo nome.

TRECHO 

De Tudo um Pouco, Ana Luisa Escorel, Ouro Sobre Azul

“O Diabo andava muito desmotivado imerso num vermelho eterno, num excesso monocromático que não estimulava em nada as inquietações mentais dele. O tempo todo tudo igual, nenhum pontinho à volta que não fosse vermelho sangue,

vermelho escuro” (O Fastio do Diabo)

A AUTORA
Também designer e fundadora da editora Ouro Sobre Azul, Escorel (1944) venceu o Prêmio São Paulo de Literatura na categoria romance, com Anel de Vidro, em 2014.

 

 

Jaqueta Branca ou o Mundo em um Navio de Guerra

Herman Melville. Tradução de Rogério Bettoni. Carambaia, 464 páginas

Até agora inédito no Brasil, o romance se baseia numa das viagens marítimas de Melville, então um marinheiro de 24 anos. Em 1843 ele partiu de Honolulu numa fragata da marinha americana e passou pelo Rio de Janeiro, onde conheceu Dom Pedro II. A bela edição traz um glossário.

Jaqueta Branca ou O Mundo em um Navio de Guerra, Herman Melville, Carambaia

TRECHO 
“Em contraste com a luminosidade desses barões do Brasil, como empalideceram os cordões dourados dos barões da nossa fragata! E comparados com os longos floretes dos marqueses, os punhais de nossos cadetes de famílias nobres pareciam pregos dourados presos na cintura.”

O AUTOR
Melville (1919-1891) é o autor de Moby Dick, lançado em 1850, e Bartleby, o Escrevente, publicado originalmente na coletânea The Piazza Tales, em 1856.

 

 

Machado

Silviano Santiago. Companhia das Letras, 422 páginas

Misto de romance, ensaio e biografia, centra-se nos últimos dias de Machado de Assis. Viúvo, o autor de Dom Casmurro testemunha a modernização do Rio de Janeiro ao mesmo tempo que tem de lidar com a própria decadência, intensificada por fortes crises de epilepsia.

TRECHO 

Silviano Santiago. Machado, Companhia das Letras

“Poucas vezes fala a amigos da solidão angustiante por que passa e jamais exige a adesão sentimental dos escritores que lhe são próximos. Continua homem educado, operoso, fino e aflito. Aflitivo para alguns, já que o rosto se tornou ultrassensível às náuseas súbitas (…)”

O AUTOR
No romance Em Liberdade, Santiago também trata de um escritor brasileiro: Graciliano Ramos; e em Viagem ao México, escreve sobre Antonin Artaud.

 

O Ruído do Tempo

Julian Barnes. Tradução de Léa Viveiros de Castro. Rocco, 176 páginas

Celebrado pelo regime soviético na mesma medida em que foi perseguido, o compositor Shostakovich, um dos maiores do século XX, recebe aqui fino tratamento ficcional. Barnes, porém, não deixou de lado registros históricos como a própria autobiografia do angustiado músico russo.

Julian Barnes, O Ruído do Tempo, Rocco

TRECHO 
“À medida que o avião parecia alcançar camadas sólidas de ar, ele tentava se concentrar no medo imediato: de imolação, de desintegração, esquecimento instantâneo. O medo faz surgir outras emoções também; mas não a vergonha. Medo e vergonha se reviravam juntos em seu estômago.”

O AUTOR
Um dos grandes autores ingleses, Barnes é conhecido por O Papagaio de Flaubert e O Sentido de um Fim, que lhe rendeu o Man Booker Prize em 2011.

 

 

Walter Benjamin – uma Biografia

Bernd Witte. Tradução de Romero Freitas. Autêntica, 160 páginas

Registro breve da história do pensador alemão (1892-1940). O estilo é fluente, mas há densidade. O autor narra os fatos cronológicos: carreira, amigos, amantes, sem perder de vista a dimensão filosófica de Benjamin, além de tratar com delicadeza o aspecto trágico de sua vida.

TRECHO 

Bernd Witte., Walter Benjamin – Uma Biografia, Tradução de Romero Freitas. Autêntica

“Nessa situação precária, sua viagem a Moscou (…) para visitar Asja Lacis, é como se fosse uma fuga para frente. Mais uma vez (…) a nostalgia pela mulher amada que o havia aproximado ao marxismo como força política viva produziu uma ruptura.”

O AUTOR
Presidente da Sociedade Internacional Walter Benjamin e professor de Teoria Literária, Witte publicou diversos livros sobre autores alemães e judeus dos séculos XVIII e XX.

 

A Cura pelo Espírito

Stefan Zweig. Tradução de Kristina Michahelles. Zahar, 360 páginas

No perfis biográficos de Franz Mesmer, estudioso do hipnotismo, de Mary Baker Eddy, fundadora da seita ciência cristã, e principalmente de Freud, Zweig buscou demonstrar a importância da busca de si mesmo. A edição traz a inédita correspondência entre o autor e o pai da psicanálise.

Stefan Zweig, A cura pelo espírito, Tradução de Kristina Michahelles. Zahar,

TRECHO
“A medida mais segura de toda força é a resistência que ela consegue vencer. Assim, a façanha de demolição e reconstrução empreendida por Sigmund Freud só se revela plenamente se contraposta ao modo como se via (…) o universo dos impulsos humanos antes da Guerra”.

O AUTOR
Há 75 anos Zweig se matava em Petrópolis. Sua obra vem sendo sistematicamente reeditada, o que inclui Autobiografia: o Mundo de Ontem e Novelas Insólitas.

 

 

Caminhos Divergentes

Judith Butler. Tradução de Rogério Bettoni. Boitempo, 240 páginas

Ensaio em que a autora busca fazer uma crítica ao sionismo político e à violência do Estado israelense por meio da própria tradição intelectual judaica. Verdadeiro impulso ético, suas fontes estão no pensamento de Walter Benjamin, Hannah Arendt, Emmanuel Lévinas e Primo Levi.

TRECHO 

Judith Butler, Caminhos divergentes, Tradução de Rogério Bettoni. Boitempo

“(…) alguns aspectos da ética judaica exigem que nos distanciemos de uma preocupação voltada apenas para a vulnerabilidade e o destino do povo judeu. (…) é uma resposta às reivindicações de alteridade e cria base para uma ética na dispersão.”

A AUTORA
Referência nos estudos queer, Butler (1956) tem diversos livros publicados no Brasil, como Problemas de Gênero, Relatar a Si Mesmo, Quadros de Guerra e O Clamor de Antígona.

Debate na PUC-SP aborda o livro sobre Walter Benjamin

Passages - Homage to Walter Benjamin, Dani Karavan (Divulgação)

No dia 24 de setembro, o auditório Dom Paulo Evaristo Arns, na PUC-SP, recebeu o debate em torno da reedição do livro “Walter Benjamin: os cacos da história”, de Jeanne Marie Gagnebin. Promovido pela Universidade junto ao programa de Pós-Graduação e o Instituto Internacional de Estudos Contemporâneos, Jeanne Marie convidou Carla Milani Damião e Marc Beret para somar à conversa, cujas análises atualizam os escritos de 1982 para os dias atuais.

 

“O livro é antigo, para não dizer clássico”, 

Foto: Divulgação Editora N-1

brincou Gagnebin, arrancando risos dos presentes. A autora conta que a capa da reedição do exemplar da Editora N-1, foi baseada na homenagem prestada à Benjamin pelo artista israelense, Dani Karavan. “O artista fez uma escultura de ferro, como se fosse um túnel escuro no qual pouco a pouco, se enxerga o mar e a luz no fim do túnel. A gente precisa dela”, menciona em referência à atual situação política brasileira.

Walter Benjamin escrevia para si mesmo

Jeanne Marie critica o academicismo, que conduz a escrita filosófica pelas publicações, e enfatiza a escrita enquanto autorreflexão e análise histórica, como fazia Benjamin. “Quando penso na República de Weimar e em nossa situação hoje, me assusto com a República do Brasil. E também com esse fascismo cotidiano e a demanda por autoridade. Muito estranho e cruel é que me parecia haver em 1982, um período ditatorial, mais esperança no ar do que há hoje”, comenta.

Foto: Nayani Real

O título dado ao livro coloca os cacos como a resistência ainda necessária em 2018. “Eles são as coisas que se quebram e tendemos a pôr no lixo ou que não sabemos para que servem. Hoje os cacos nos dão uma dica para ficarmos atentos àquilo que é pequeno e por enquanto não tem serventia alguma, que pensamos não valer a pena guardar mas talvez sejam pequenos cacos de resistência”, analisa Jeanne Marie.

Beret aponta a amizade entre Benjamin e Bertolt Brecht como um símbolo de aliança contra as forças reacionárias do fascismo que se via àquele momento, com duas estratégias filosóficas, e elogia o trabalho de Jeanne Marie em restituir a obra de Benjamin sem perder a relevância do trabalho filosófico.

A professora na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Goiás (FAFIL-UFG), Carla Milani Damião, trouxe o exemplo da história da Independência Baiana para falar do efeito salvador da destruição, apontado em verbete de Dag T. Andersson sobre o conceito Benjaminiano.  “O aspecto salvador da destruição é a marca da memória, e a memória pode ter a marca brutal da intervenção destrutiva dirigida contra o esquecimento da tradição. A história, diz Benjamin, não é apenas uma ciência, mas uma forma de memória.  A memória dá ao passado um espaço no qual este não está exposto ao progresso, o progresso é o desastre como a tempestade anunciada. Sofrimentos passados e opressão não serão esquecidos em nome do futuro”.

Damião analisou as ideias de Benjamin repercutem com clareza no exemplo no sentido de que o gesto destruidor alegórico se caracteriza como um grito político e nos desdobramentos criativos de um grupo. E finaliza “Hashtag Ele Não”.

 

VKHUTEMAS: O futuro em construção (1918-2018)

A exposição VKHUTEMAS: o futuro em construção, apresentada no Sesc Pompeia até 30 de setembro, comemora o centenário da instituição universitária soviética homônima, reunindo peças de arte e design que foram desenvolvidas por nomes que passaram por lá.

É a primeira vez nas Américas que é apresentada uma grande variedade de obras referentes à escola, obras essas que foram recriados para a mostra.

Os curadores Neide Jallageas e Celso Lima reuniram cerca de 300 trabalhos de 75 artistas, provenientes dos 100 membros e mais de 2500 alunos que passaram pela VKHUTEMAS.

Criada a partir de uma junção entre a Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscovo e a Escola Stroganov de Artes Aplicadas, a instituição nasceu a partir de um decreto de Vladimir Lenin, impulsionado por um desejo da Revolução Russa de formar excelentes profissionais das artes, tendo projetos importantes nas áreas de moda, design, arquitetura, estamparia e mobiliário.

A instituição teve como base a vanguarda do pensamento estético, especialmente no que dizia respeito ao futurismo, ao racionalismo, ao suprematismo e ao construtivismo.

Na exposição, o público encontra obras de grandes nomes como Ródtchenko, Popova, Tátlin, Kandinski. As peças vão desde roupas até pisos hidráulicos para banheiro, passando por móveis e objetos de cerâmica, entre outros, mostrando um vasto cenário de criações do movimento.

 

Está muito difícil fazer cultura no Brasil

Lenora de Barros, "Homenagem a George Segal", 1984/2006.

 

O que há além da arte nas imagens de Ana Maria Maiolino na série Poemação da década de 70, na obra “O que sobra”, onde ela corta sua língua, seu nariz? O que há além de uma imagem perturbadora, instigante? Na fala dela “são imagens, reflexos de emoções que se sustentam na resistência. Uso meu próprio corpo não como uma metáfora, mas como uma verdade, algo que pertence ao domínio do real, dado que, em um momento de repressão e tortura como o da ditadura, todos os corpos tornam-se um na dor”. [A pele de Anna: Anna Maria Maiolino. Ed.Cosac Naify, 2016]. Ou nas obras de inúmeras mulheres que se utilizaram da ironia só para denunciar o lugar de invisibilidade em que foram colocadas num mundo de homens.

O que há além da arte nas obras de artistas que construíram seu trabalho baseando-se nas pesquisas de documentos secretos. Colocando luz no não dito, no censurado, no apagado.

O que há além da arte no Século XXI, numa Bienal que se constrói em torno de um novo mapa global. E outra que decide ter maioria negra no seu grupo curatorial. E quando artistas de diversos lugares do mundo, usam das mesmas metáforas visuais, em diferentes suportes para denunciar a xenofobia de seus países para com imigrantes. Países esses, na sua maioria de colonizadores.

A transcendência, um dos arcabouços da arte, hoje está impregnada não só pela força da aura, ou pela poética de que nos encanta e sim, também, pela sua capacidade de trazer a tona silêncios e memórias, num tempo acelerado que não quer saber.

Esta edição que acompanha a realização do nosso V Seminário Internacional, coincide com a abertura de exposições onde a radicalidade aparece das mais variadas formas.

Ficou muito difícil fazer cultura no Brasil. Nossa cultura está sendo queimada, literalmente. Não se trata apenas de descaso, é desinvestimento planejado, é uma escolha e, afinal, uma escolha de pessoas ineptas de pessoas cujos interesses são somente individuais, e predadores. São pessoas capazes de cumprir com a missão da destruição.

Pensar em cultura é pensar no outro. É pensar em como criar pontes, como enxergar o outro e como ouvir, como fazer conhecer, como incluir.

Tudo isso, aqui, está desaparecendo.

Existem dois Brasis: um que quer cuidar da memória, aprender com os erros e crescer; o outro quer fazer de conta que o diferente não existe. Para que cuidar ou investir no trabalho de educadores, de pesquisadores? Para que cuidar das obras de artistas se elas não estão à venda? Se elas não estão à venda, elas não valem nada.

Que dizer da vida, então?

Esse Brasil regido pela ambição, o poder e o obscurantismo está nos matando. O incêndio do Museu Nacional, que acabou com obras milenares, nos pegou em cheio porque ele foi um sintoma. Um sintoma que alerta para o que está se deixando de fazer e, pior, para o que está sendo feito.

A arte é uma ferramenta, um grito que nos permite continuar e ir em frente.

Nesse sentido, talvez não exista nada… além da arte.

O vídeo que abre a exposição Mulheres Radicais, em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Me gritaron negra!, da artista e poeta afro-peruana, Victoria Eugenia Santa Cruz, é um tapa na cara.

Histórias Afro-atlânticas traz debate necessário de forma convencional

Titus Kaphar, Space to Forget (Espaço para Esquecer), 2014

Ao expor “a arte do mundo colonizado ou pós-colonial, mostrando a obra dos marginalizados ou das minorias, desenterrando ‘passados’ esquecidos ou abandonados – tais projetos curatoriais acabam apoiando a centralidade do museu ocidental”, afirma o indiano Homi Bhabha, em citação usada por Adriano Pedrosa no catálogo de Histórias Afro-Atlânticas, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake (Ito) e no Museu de Arte de São Paulo (Masp) até 21 de outubro.

A questão é essencial quando museus por todo mundo buscam ampliar seus públicos dialogando com comunidades até então distantes e sem presença no cotidiano dessas instituições. Contudo, como é possível se aproximar desses públicos usando uma linguagem museológica que pertence a uma tradição que lhes foi negligenciada e, por que não dizer, mesmo negada? É possível uma virada efetiva nas políticas de inclusão dos museus sem de fato rever suas próprias práticas?

Histórias Afro-Atlânticas, organizada por cinco curadores, é superlativa nos números – mais de 400 obras, oito módulos, ocupando quase por inteiro duas instituições – mas pouco arrojada quando se trata de pensar em como se tratar de um tema mais que necessário sem recorrer aos mesmos dispositivos expositivos convencionais de sempre.

O Masp de Adriano Pedrosa tem se caracterizado por render uma série de homenagens a Lina Bo Bardi (1914 – 1992), a figura mais inovadora quando se trata de repensar o museu, mas incapaz de propor novos modelos no século 21.

A necessidade e urgência do tema de Histórias Afro-Atlânticas é inegável, especialmente em um país com maioria negra, com essa população sub-representada em todos os níveis de poder, especialmente o das artes. Por isso, a famosa faixa Onde estão os negros?, do coletivo Frente 3 de Fevereiro, que na abertura da mostra foi exposta no Ito, e em julho, no Masp, se torna uma pergunta mais que eloquente.

Afinal, nos círculos de poder de ambas as instituições, onde estão os negros?. Entre os cinco curadores – Pedrosa, Ayrson Heráclito, Hélio Menezes, Lilia Moritz Schwarcz e Tomás Toledo – eles são minoria, mas ao menos estão presentes. Contudo, no conselho, na direção do museu, na curadoria permanente, a questão se torna pertinente mas inconclusa.

Não há dúvida que a pesquisa é extensa e a mostra abarca uma compilação abrangente de obras, desde as imensas pinturas de Albert Eckout (1610 – 1665) retratando um casal de escravos, em 1641, uma das primeiras imagens produzidas na América, até trabalhos comissionados para a mostra. Contudo, o procedimento que vem sendo adotado nas exposições do Masp, em agrupar trabalhos por temáticas, em módulos como Ritos e Ritmos, onde há uma exaustão de pinturas retratando festas e cerimônias afro, simplifica por demais as obras, além de as transformarem em ilustrações de um conceito.

Dos oito módulos da exposição, o mais vibrante, tanto por seu conteúdo temático, como pela forma expositiva, é Resistências e Ativismos, com curadoria de Menezes e Schwarcz. Nele, a tônica está em representações que apontam para o empoderamento negro, tanto através das religiões afro, em imagens de Pierre Verger, quanto dos Panteras Negras, em foto atribuída a Blair Stapp. Entre os destaques ainda está a pintura “Mãe Preta ou A fúria de Iansã”, de Sidney Amaral, morto precocemente no ano passado. Não há aqui um agrupamento meramente formal, como ocorre nos módulos do Masp, mas uma reunião de intensos diálogos.

Histórias Afro-Atlânticas é uma espécie de continuação de Histórias Mestiças, realizada no próprio Ito, há quatro anos, organizado então por Pedrosa e Schwarcz, na época curadores
independentes. Agora, ambos participando de uma instituição do porte do Masp, era de se esperar que a mostra não ficasse apenas em uma revisão da história da arte, mas em novas atitudes dentro do museu. Essa questão não parece respondida com a mostra.

Isabelle Borges: Campos Sintéticos

The Plan, nr. 11, 2018

por Tereza de Arruda, de Berlim, setembro 2018

 

Aartista Isabelle Borges residente em Berlim há duas décadas apresenta sua mostra individual Campos Sintéticos idealizada para a Galeria Emmathomas sob curadoria de Ricardo Resende. Este é seu retorno a São Paulo após a mostra individual Seta do Tempo (Arrow of Time) realizada em janeiro de 2013 no MUBE – Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, em São Paulo.

A artista mantém-se fiel à expansão da pintura por ela cultuada em intervenções espaciais, colagens e objetos oriundos de sua visão pluralizada. A pintura de Isabelle Borges exalta elementos subjetivos e orgânicos delimitados por formas, traços e contornos definidos criando uma dinâmica própria e diálogo entre obra e público através de seu caráter envolvente como em uma imagem tridimensional ou mesmo escultural.

Sua produção é norteada por tendências respaldadas na tradição artística brasileira e alemã como por exemplo o concretismo e seus infinitos desdobramentos conceituais e estéticos. O concretismo que surgiu na Europa e teve seu apogeu na década de 60 quando Max Bill lecionava na Escola de Design de Ulm atingiu o Brasil quase que   simultaneamente e foi propagado por artistas locais como Lygia Clark, Amilcar de Castro, Franz Weissmann e Lygia Pape.

The Plan, nr. 11, 2018. Acrílica sobre tela e instalação

O concretismo é repleto de raciocínio e ciência, características visíveis também nas pinturas elaboradas por Isabelle Borges que tem cálculos de matemática como alicerce de sua obra a exemplo de um origami. Esta técnica de dobradura inclusive deixou de ser propagada por artesões nos últimos anos a fim de atender a ciência, tecnologia e indústria a exemplo da cátedra criada no MIT, renomado Instituto de Tecnologia de Massachussets, o qual difundiu esta técnica através de um programa específico de computador  formalizando novo princípio de matemática criando ferramentas específicas para que o mundo possa se “desdobrar” de forma mais efetiva.

Circle, nr. 5, 2018

Em Campos Sintéticos o espectador é recepcionado por uma vasta intervenção espacial efêmera concebida para o espaço da galeria e ao mesmo tempo atuando como suporte das pinturas que a complementam. Aos poucos os elementos pictóricos criam autonomia e podem ser observados isoladamente. Neles traços, cores e formas se complementam e contrapõem expandindo sua área de atuação através de reflexos, sombras e planos inusitados como no conto o Jardim das Veredas de Jorge Luis Borges que a inspirou onde supostamente todos os caminhos interpretativos são provisórios e simultaneamente plurais.