Vista da exposição "Brasilidade Pós-Modernismo" no CCBB Rio de Janeiro. Foto: Jaime Acioli

Entre os dias 8 e 12 de setembro, o Rio de Janeiro recebe a ArtRio. Considerada um dos grandes eventos de arte contemporânea na América Latina, a feira chega à sua 11ª edição reunindo galeristas, artistas, colecionadores e apreciadores de arte de diferentes cantos do país. Seguindo o modelo híbrido realizado no ano passado, a feira acontecerá de forma virtual, dentro da plataforma artrio.com, e também presencialmente, na Marina da Glória. De forma a garantir a segurança de todos, será necessário comprovante de vacinação contra a Covid-19 para entrada no evento e, no ato da compra do ingresso, deverá ser agendada a data da visita e o horário.

Os expositores estarão divididos em três programas: “PANORAMA”, no qual participam casas com atuação estabelecida no mercado de arte; “VISTA”, dedicado às galerias jovens, com até 10 anos de existência; e “SOLO”, dedicado a estandes de um único artista. A programação conta ainda com palestras, conversas entre artistas e curadores e visitas guiadas a coleções e ateliês, a serem transmitidas na plataforma online da ArtRio. 

Pensando em quem opta por visitar a feira presencialmente, montamos um roteiro de visitações com as principais mostras em cartaz na capital fluminense durante a semana do evento. 

À caminho do centro

A poucos minutos da ArtRio, no centro da cidade, o Paço Imperial recebe aquela que talvez seja a última exposição presencial do Prêmio PIPA. Com abertura marcada para o dia 9 de setembro, a mostra apresenta trabalhos de quatro ganhadores da premiação anual. Gê Viana, Maxwell Alexandre, Randolpho Lamonier e Renata Felinto, selecionados pelo comitê do júri, são foco da coletiva, que conta também com aquisições recentes do instituto. Para o curador Luiz Camillo Osório, a escolha de mais de um vencedor no último ano está ligada ao papel do PIPA como termômetro do que há de mais potente na produção artística atual. “Mais do que apontar um único caminho da arte contemporânea, é nosso papel revelar as várias bifurcações que estão constantemente sendo abertas nas rotas e narrativas hegemônicas.” A partir de 2021, pretende-se que as mostras presenciais sejam apenas da coleção do PIPA e a exposição dos premiados do ano aconteça em ambiente virtual. “A ideia é fortalecer o instituto, dar-lhe mais visibilidade e poder assim desenvolver outros projetos curatoriais junto aos artistas que fazem parte da coleção”, explica o curador. 

Por sua vez, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a cerca de 10 minutos de caminhada da ArtRio, inaugura Vulcão, instalação em grande escala criada pela artista Carmela Gross especialmente para a fachada do museu. “Uma obra que vem para provocar erupções, respondendo ao desejo de refletir sobre um mundo em convulsão, que se rebela e manifesta com a força dos cataclismas da história brasileira”, analisa a curadora Beatriz Lemos. Já a nova exposição em cartaz se debruça sobre a construção dessa história brasileira a partir do patrimônio. A memória é uma invenção reúne mais de 300 obras provenientes do acervo do próprio MAM Rio e de outras duas instituições: o Museu de Arte Negra/IPEAFRO e o Acervo Laje. Com pinturas, gravuras, esculturas, fotografias e azulejos, a mostra propõe reflexões sobre os processos de construção de patrimônio, legado e cultura comum. Ao serem apresentadas no mesmo espaço expositivo, as coleções mostram repetições e semelhanças nas escolhas de categorias e formatos, nos entendimentos do que faz uma obra ser conservada como parte de um legado e nos métodos de compartilhamento dos trabalhos como parte de uma memória coletiva.

A revisão das narrativas legitimadas e invisibilizadas em nosso passado segue até o Museu de Arte do Rio (MAR), com Imagens que não se conformam. Ao reunir cerca de 200 itens da coleção do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a coletiva interroga as visões sobre a história do país e lida com a reparação histórica associada aos discursos identitários. Já em YORÙBÁIANO, mostra individual de Ayrson Heráclito no MAR, a retomada da memória ganha um sentido de expurgação, de despacho. Em diversos dos trabalhos apresentados, o artista refaz a memória para secar feridas coloniais, abertas pela exploração dos corpos em busca de riquezas na cultura canavieira. Com trabalhos em diversos suportes, Heráclito evidencia a cultura Yorubá e busca representar a grande reinvenção poética e política de um Brasil Yorubano. Quem visita o Museu de Arte do Rio, também aproveita Paulo Werneck – murais para o Rio, que lança luz sobre a obra de um dos pioneiros da atividade mural no país.

Seguindo o mote histórico, mas mantendo olhar sobre a atualidade, Brasilidade Pós-Modernismo, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil celebra o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 focando não no passado propriamente dito, mas lançando luz aos traços, remanescências e conquistas que o movimento modernista trouxe, no decorrer dos últimos 100 anos, às artes plásticas do Brasil. Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra busca chamar atenção para as diversas características da arte contemporânea brasileira cuja existência se deve, em parte, ao legado da ousadia artística cultural proposta pelo Modernismo. O público poderá conferir obras de 51 artistas de diversas gerações, entre os quais Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Arnaldo Antunes, Cildo Meireles, Daniel Lie, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Tunga. “Não é uma mostra elaborada como um ponto final, mas sim como um ponto de partida – assim como foi a Semana de Arte Moderna de 1922 – para uma discussão inovadora a atender a demanda de nosso tempo, conscientes do percurso futuro guiados por protagonistas criadores”, explica a curadora. 

Indo à Zona Sul

As comemorações centenárias também perpassam a Zona Sul. É o caso da Pinakotheke Cultural que, com Lygia Clark (1920-1988) 100 anos, celebra e homenageia aquela que foi considerada pela crítica de arte brasileira e internacional como uma das artistas mais importantes do século 20. Em cartaz na casa em Botafogo até 9 de outubro, a exposição conta com cerca de 100 obras, em sua maioria inéditas ao público brasileiro. Com pinturas, desenhos, gravuras, bichos, trepantes, obra mole, casulo, objetos relacionais, fotografias e documentos, a Pinakotheke organiza a mostra em 17 ordens conceituais que compõem a trajetória de Lygia como artista, e as complementa com textos de parede do crítico Paulo Herkenhoff. A galeria também apresenta um ensaio fotográfico feito por Alécio de Andrade (1938-2003) da performance Arquiteturas biológicas II, criada pela artista em 1969 no Hôtel d’Aumont, em Paris.

Em contraponto aos 100 anos da já renomada Lygia Clark, a Galeria Nara Roesler, em Ipanema, nos apresenta a primeira individual do jovem Elian Almeida, Antes – agora – o que há de vir. O artista se debruça sobre a experiência e a performatividade do corpo negro na sociedade brasileira contemporânea e constrói uma arqueologia da memória, recuperando elementos do passado, imagens, narrativas e personagens, de modo a contribuir para o fortalecimento e divulgação da historiografia afro-brasileira. Nesta exposição, Almeida apresenta 16 retratos de mulheres negras de diferentes períodos e importâncias para a cultura do país. Contudo, a ausência de face nas obras pode nos apontar tanto para o apagamento desses indivíduos pela narrativa oficial, quanto representar um corpo coletivo, uma miríade de rostos possíveis, de todos que sofreram e ainda sofrem os efeitos do racismo estrutural. Para o curador Luís Pérez-Oramas: “São, pois, os retratos que Elian Almeida nos apresenta, a rigor, imagens fúnebres, necroretratos, emergentes: nos olham, sem olhos, a partir do seu esconderijo, e de lá retornam à certeza melancólica de que o que não nos esquece não pode, por sua vez, voltar plenamente, na plenitude da presença da qual foi amputado”.

Enquanto isso, no Jardim Botânico, Ernesto Neto ocupa a Carpintaria – espaço da Fortes D’Aloia e Gabriel na cidade – com dois corpos de trabalho inéditos que tratam da inter-relação entre o céu e a terra, cerâmica e crochê, escultura e espaço. Juntas, essas novas obras se entrelaçam à arquitetura da casa, onde o chão, a parede e o teto foram transformados, propondo uma experiência imersiva. Outras obras expostas em O beijo Vi de Só e Té Água e Fô e outras tecelá, feitas de galhos secos envoltos por barbantes, exploram a relação de tensão e equilíbrio entre diferentes materiais do cotidiano e formas da natureza.

Lembre-se de verificar quais exposições pedem agendamento prévio para a visita e, caso opte por visitar as mostrar posteriormente neste mês, não se esqueça de fazer o cadastro online para ter seu passaporte de vacinação contra Covid-19. A partir do dia 15 de setembro, o Rio de Janeiro exigirá o comprovante de imunização para entrada em ambientes de uso coletivo no estado – o que inclui as instituições culturais.

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