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Bienal de Arte Paiz, na Guatemala, coloca em foco diversidade cultural e crises na América Latina

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"Rastros que dejamos sobre la cara de la tierra", 2021, de Edgar Calel. Foto: Hugo Quinto/ Cortesía de Alexia Tala

Perdidos. No meio. Juntos foi o título da 22ª Bienal de Arte Paiz, realizada na Cidade da Guatemala, capital do país centro-americano, e na pequena cidade de Antigua Guatemala. Inspirado em uma publicação do artista holandês Jonas Staal sobre um grupo de refugiados em Amsterdam, o título ganhou novos sentidos ao ser deslocado para a realidade latino-americana, especialmente em um país com quase metade de sua população de origem indígena.

“O que geralmente se vê na América Latina não é a negação da cidadania às minorias, mas a negação de uma vida digna”, afirma a curadora-chefe da edição, a chilena Alexia Tala, em referência aos povos originários que “têm negados seus direitos de viver respeitando suas cosmovisões, suas formas de medicina e de organização comunitária”. O título se refere também aos muitos imigrantes que partem da América Latina para os países do Norte, em consequência de desemprego e pobreza, e que vivem como espécies de refugiados nestes países.

Levantando estas e muitas outras questões, a 22ª Bienal de Arte Paiz, encerrada dia 6 de junho, reuniu trabalhos de 40 artistas – entre eles os brasileiros Ayrson Heráclito, Detánico & Lain, Jonathas de Andrade e Vanderlei Lopes – e se espalhou por seis instituições das duas cidades guatemaltecas. Além das mostras coletivas, com grande presença de artistas locais, duas exposições individuais completaram a mostra: uma do artista guatemalteco Aníbal Lopez e outra da fotógrafa chilena Paz Errázuriz (que segue em cartaz após o fim da bienal).

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A curadora Alexia Tala. Foto: Divulgação

Em entrevista à arte!brasileiros, Alexia falou sobre a curadoria da Bienal – feita por ela em parceria com o curador adjunto Gabriel Rodríguez Pellecer -, sobre o contexto político latino-americano, sobre o momento pandêmico e uma série de outros assuntos. Leia a seguir.

ARTE! – Em primeiro lugar, gostaria que você contasse um pouco como foi pensado o projeto curatorial da 22ª Bienal de Arte Paiz e quais os principais eixos temáticos que percorrem a mostra. Dentro disso, poderia falar um pouco também sobre o título perdidos. en medio. juntos.

Vou começar a responder pela segunda parte. O título vem de uma publicação do artista holandês Jonas Staal e do projeto BAK que foca em um grupo de 200 refugiados a quem foi negada a cidadania. Este fato nos pareceu um espelho da situação das comunidades indígenas da América Central e de muitas pessoas que se veem forçadas a migrar, que por um lado são reconhecidos como cidadãos, mas por outro lhes são negados seus direitos de viver respeitando suas cosmovisões, suas formas de medicina e de organização comunitária. Além disso, também associamos o título a todos os imigrantes que podemos pensar também como refugiados, no sentido de que o principal motivo da migração para o norte é o desemprego, que é em si mesma uma forma de violência econômica.

O que geralmente se vê na América Latina não é a negação da cidadania às minorias, mas a negação de uma vida digna e de se poder viver em paz. Então veio a pandemia e o título ganhou força própria.

O trabalho de Jonas Staal, a forma como aborda as suas pesquisas e projetos, foi uma inspiração, uma espécie de base a partir da qual começamos a considerar a bienal como um projeto. Suas propostas de formação política, suas oficinas de discussão, as diversas formas de trabalhar no nível coletivo e suas formas particulares de problematizar nos serviram de ponto de partida para discutir sobre o local, o regional e o hemisfério sul em relação ao norte. E, dentro disso, sua base na desigualdade.

O projeto curatorial está dividido em três eixos temáticos: Universos da matéria; Passados. eternos. futuros; e Geografia perversa/ Geografias malditas. Todos os três abordam questões que estão interligadas e que tocam bem ali, naquele ponto onde tudo se desequilibra tanto social quanto politicamente, onde a história ancestral é confrontada com a história contemporânea e onde a matéria e as formas de abordagem dos objetos e da natureza se opõem.

Vista geral da exposição “Universos de la materia”, parte da bienal. Foto: Hugo Quinto/ Cortesía de Alexia Tala

ARTE! – Em seu texto curatorial você fala no conceito de “presentismo” para se referir a uma espécie de desorientação que vivemos no momento atual do mundo, relacionada também à uma dificuldade de olhar tanto para o passado quanto para o futuro. Poderia falar um pouco sobre essa ideia, sobre como ela é abordada pela curadoria e como se relaciona com a produção artística contemporânea?

Exatamente, esse presentismo de que fala Koselleck nos levou a pensar em uma questão de temporalidade, de análise da capacidade e incapacidade de vislumbrar futuros em um momento em que – ainda mais com a pandemia – se acentuou essa falsa ideia de interconectividade, que ao mesmo tempo nos bombardeia e nos cega. Dentro desta temporalidade está o passado ancestral Maia, que em um país multiétnico e multilíngue onde 60% da população é indígena, assume uma importância crucial.

A curadoria procurou aproximar-se disso, desde o nosso lugar de brancos mestiços falando a partir da conjuntura histórica de uma overdose de presente e nos permitindo entrar em territórios ancestrais que pertencem a estes artistas do altiplano e de outros convidados. O importante era fazer isso por meio de suas próprias vozes, dos artistas Kakchiquel, Tz´utujil, Garífunas e afrodescendentes de outros lugares da América Latina, assim como artistas da África.

Os trabalhos apresentados na bienal dialogam entre si e entre os eixos temáticos. Há uma multiplicidade de vozes que se revelaram, passadas duas semanas da inauguração, mais potentes do que eu mesma como curadora poderia ter imaginado. A decisão de abrir um espaço para as vozes indígenas e populares, sem pretender ser tradutora de nada, resultou em uma percepção coletiva do público guatemalteco de que tudo o que está ali exposto faz sentido em suas vidas. E essa é a maior recompensa ao trabalho da equipe.

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Trabalho do panamenho Antonio José Guzmán na Bienal de Arte Paiz. Foto: Juan Carlos Mencos/ Cortesía Silvia de Tres

ARTE! – Sobre a seleção dos artistas, há uma predominância de latino-americanos (35 dos 40 participantes). Este olhar que parte do que chamamos de Sul Global, e mais especificamente da América Latina, é o foco principal da exposição? Gostaria que falasse um pouco sobre essa escolha.

Sim, o foco foi a América Latina, tanto por questões curatoriais quanto de logística. Embora muitas das obras respondam ao contexto guatemalteco, a ideia sempre foi tomar a Guatemala como o espelho a partir do qual podemos ver todas essas desigualdades que historicamente afligem o Sul Global. E por isso, junto ao Gabriel Rodriguez, meu co-curador, convidamos também artistas como Nelson Makengo, do Congo, Emo de Medeiros, de Benin, e Heba Y. Amin, do Egito. As obras destes três artistas têm funcionado como uma espécie de conector de realidades muitas vezes desconhecidas do público centro-americano.

ARTE! – Mas mesmo que haja este recorte regional, existe uma produção feita dentro desta vasta região que é também bastante diversa. Como surge essa diversidade na mostra? 

Sim, é uma produção muito diversa e também muito desconhecida, por se tratar de uma região bastante marginalizada e invisível para o circuito global da arte contemporânea. Este circuito perde a oportunidade de encontrar uma infinidade de artistas incrivelmente interessantes e talentosos e, além disso, perde a chance de se aproximar de um fenômeno que está ocorrendo com os artistas do altiplano e suas formas de abordar a arte contemporânea a partir de sua própria indigeneidade que, apesar de fazer críticas terrivelmente profundas, são resolvidos de maneiras altamente estéticas e poéticas.

A diversidade também surge na mostra a partir do momento em que decidimos que 70% das obras seriam comissionadas, ou seja, novos projetos. Fizemos pesquisas prévias para poder entregar aos artistas material que culminou em uma publicação intitulada Paraíso (re)partido, que contém uma série de temas relevantes ao contexto, desde questões históricas até assuntos contemporâneos.

Os artistas estrangeiros viajaram para a Guatemala, o que resultou em uma série de colaborações que surgiram organicamente não apenas com artistas locais, mas também com pessoas de outras áreas, desde guias espirituais e curandeiros botânicos, tecelãs de tear de cintura, poetas, cineastas, arqueólogos forenses e advogados. Ayrson Heráclito, por exemplo, trabalhou com Wingston González na obra Onagulei: Mensageiro dos ancestrais. Enfim, uma série de outros saberes entraram na bienal e, junto com a arte, chegaram a soluções estéticas.

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Série “Ladino Hardware, na exposição de Aníbal López na Bienal de Arte Paiz. Foto: Hugo Quinto.

ARTE! – Pensando no âmbito mais local da mostra, quase metade dos artistas são da Guatemala. Queria saber um pouco sobre como foi feita essa pesquisa no país e quais as preocupações que você percebe mais latentes na produção destes artistas. 

Exatamente, esta edição tem uma proporção bastante equilibrada de artistas nacionais e internacionais. Propusemo-nos a incluir vários artistas Tzutujil, Kakchiquel e Garífuna que, como eu disse, estão a tornar a arte contemporânea mais surpreendente e que – não interessados ​ou influenciados pela crítica institucional – estão profundamente enraizados na sua visão de mundo ancestral. E integramos artistas populares que utilizam técnicas tradicionais ou ancestrais, mas que conseguiram desenvolver seu próprio imaginário dentro do que fazem.

Esta pesquisa, na verdade, venho fazendo há 6 anos, quando me envolvi com diversos projetos na Guatemala. Quando fui convidada para fazer a curadoria da bienal, já conhecia de perto a cena local e o contexto e isso me levou muito organicamente a desenvolver um projeto altamente contextual.

As inquietações presentes na produção dos artistas centro-americanos eu diria que são bastante marcadas. Sem homogeneização, poderia pensar em duas questões que as atravessam: a desigualdade em todos os seus sentidos e as questões territoriais. Essas fronteiras invisíveis que existem dentro de um mesmo território denominado estado-nação, fronteiras que são habitadas, que são um território mais do que um limite – e o que elas têm em comum é que nos falam de segregação política, pois têm o componente de racialização e da desigualdade.

ARTE! – Falando em racialização, há um grande número de artistas de origem indígena. Poderia comentar um pouco este aspecto da mostra?

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que eu fujo das categorizações. O que vemos nesta bienal são muitos artistas indígenas que estão produzindo arte contemporânea. Não é pelo fato de sua origem que poderia ser criada uma nova categoria. Mas pensando em que aspecto eles podem se diferenciar de outros artistas contemporâneos, vejo que a diferença é que eles desenvolveram seus trabalhos, muitos deles altamente conceituais, a partir de seu próprio lugar, falando desde sua própria indigeneidade, de sua própria visão de mundo. E eles têm evitado a crítica de arte institucional, ou seja, em hipótese alguma você vê esses artistas tentando se encaixar no que o circuito está procurando. Até mesmo sua forma de abordar as questões políticas é muito própria. Suas obras falam de sua história, da desigualdade, da destituição, de sua cosmovisão e da personhood (status de pessoa) que a natureza e os objetos têm em sua vida diária. Eu não diria que desenvolvemos um enfoque na arte indígena, pelo contrário, criamos os cenários onde as suas obras, em conjunto com as de outros artistas, ganham maior força através do diálogo.

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“Lacandón”, 2006, de Aníbal López. Foto: Cortesia Coleção Quinto – Lojo

ARTE! – Seria interessante falar também sobre as duas exposições individuais, uma do artista guatemalteco Aníbal Lopez e outra da fotógrafa chilena Paz Errázuriz. Como se deu a escolha destes artistas e como suas obras dialogam com a Bienal como um todo? 

Essas duas exposições funcionam dentro de dois eixos da Bienal, tanto em Geografia Perversa/ Geografias Malditas quanto no eixo dos Pasados. eternos. futuros. Ambas as propostas buscam tornar visíveis as fissuras do tecido social, fissuras que provêm de problemas históricos do passado e outras que provêm de problemas locais. No caso do Aníbal, provém da realidade guatemalteca e no caso de Paz da realidade do contexto chileno, um país altamente classista onde as margens da sociedade nunca conseguem se integrar.

Sempre soubemos que queríamos fazer duas mostras individuais, uma em homenagem a um artista da América Latina e outra a um artista da Guatemala. Aníbal é sem dúvida o artista mais influente da América Central, suas ideias surgem com fortes raízes intelectuais e com uma força que frequentemente superam a si mesmas. O confronto que López faz entre arte e realidade é muito bruta e evidencia questões ligadas à ética e à moral. Foi muito importante resgatar seu legado por meio dessa retrospectiva – A1-53167: Lugares sitiados – e investigar e produzir material para disponibilizar aos pesquisadores. Por isso desenvolvemos parte do Arquivo Oral Aníbal López, um arquivo que contém entrevistas com pessoas próximas a ele em termos de pensamento e produção.

Os debates sobre identidade e principalmente sobre racismo estão latentes nas exposições, principalmente no eixo Passados. eternos. futuros. Hierarquias raciais existem desde o passado e continuam até hoje, e é neste hoje que estamos construindo o passado para o futuro.

Paz Errázuriz luta há anos para dar visibilidade e reconhecimento aos direitos sociais das minorias em geral. Hoje, em um mundo unido pela internet, essas lutas são tão locais quanto globais, e por isso a força que adquirem dialoga com tantas outras diferenças histórico-culturais em outras geografias.

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Paz Errázuriz, série “La Manzana de Adán”, 1982- 1990. Foto: Cortesia da artista

A mostra A grandeza da margem, para a Bienal de Arte Paiz, corresponde à primeira vez que Errázuriz fotografa fora do contexto chileno. Ela retrata uma comunidade transgênero em sua série Tran Guatemala (2020), seguindo a linha de La Manzana de Adán. O segundo trabalho comissionado que Errázuriz desenvolve é a série Sepur Zarco (2020), onde ela retrata um grupo de mulheres Quechí que levaram a julgamento militares que, durante a guerra, as submeteram à escravidão doméstica e sexual. Este julgamento teve sucesso, dando aos militares sentenças de 120 e 240 anos de prisão. Por isso foi muito midiático, mas elas esconderam seus rostos ao longo do processo. Hoje, Paz as retrata na tentativa de dignificar seus frágeis corpos que carregam com muito sofrimento mas, ao mesmo tempo, com muita força.

ARTE! – A Bienal de Arte Paiz, assim como tantas exposições e eventos culturais no mundo, teve que ser adiada por conta da pandemia de Covid-19. Esse adiamento e esse novo contexto resultaram em mudanças na forma e nos conteúdos da mostra?

Sim, foi adiada. Eu diria que consideramos primeiro fazer uma bienal presencial, depois uma solução online, que rapidamente descartamos, e depois uma bienal híbrida, para ao final voltar à ideia de uma bienal presencial, mas com um forte foco no local e com projeto educacional reforçado. Ao mesmo tempo desenvolvemos vários eventos online, palestras, workshops e um simpósio que têm procurado não nos desvincular do diálogo internacional. Embora os aviões não cheguem e muitas fronteiras estejam fechadas, esse diálogo tem sido importante. Quanto ao conteúdo das mostras, isso não foi afetado, apenas algumas estratégias de produção tiveram que ser modificadas devido à impossibilidade de deslocamento.

ARTE! – Além disso, de que modo você acha que essa Bienal dialoga com a nova realidade global?

Esta bienal foi concebida como uma plataforma catalisadora das relações entre a história e o contemporâneo. Nesse sentido, o diálogo com a realidade global é constante, pois a realidade global não se compõe apenas do hoje, é algo que vem se arrastando e agregando acontecimentos. A bienal aborda esses debates que prevalecem hoje a nível mundial.

Por exemplo, as obras de Paz Errázuriz de que falei; ou as de Uriel Orlow, que trabalhava com curandeiros botânicos no tempo em que Dom Domingo Choc foi assassinado acusado de feitiçaria; Oswaldo Maciá, que fez uma instalação sonora e olfativa para falar sobre a migração em nível planetário; Edgar Calel, que aborda as questões ecológicas metaforizando com as marcas que deixamos na terra; e Andrea Monroy, que trabalha o sincretismo da sabedoria ancestral e da religião.

“Cómo se llamaban las plantas antes de que tuvieran nombre”, 2020-2021, do suíço Uriel Orlow, na Bienal de Arte Paiz. Foto: Hugo Quinto/ Cortesía de Alexia Tala

ARTE! – Voltando à questão do foco da Bienal no território, do qual você falou, no contexto atual muito tem se falado de que exposições, feiras de arte e bienais talvez passem a receber principalmente um público mais local, em consequência de uma diminuição nos deslocamentos pelo mundo. Queria saber como você percebe isso…

Como sabemos, as feiras e bienais têm adquirido uma posição internacional cada vez mais forte ao longo do tempo, tendo um público massivo e, no melhor dos casos, um projeto pedagógico com trabalho relevante sobretudo junto às escolas locais, que se dá através da arte, das obras expostas e suas várias formas de abordagem. Isso pensando a partir do local, mas todos esses eventos que se repetem ao longo do tempo não são relevantes apenas para o público da região, mas para todo o ecossistema da arte: curadores, críticos, artistas e até galeristas e colecionadores. Por isso é importante pensar em novas formas de alocar os orçamentos, pois embora as exposições e o contato direto com a obra de arte não tenham comparação com o contato online, parte desses recursos deve servir para fortalecer projetos educacionais tanto presenciais quanto online, isso é algo indispensável. Ao mesmo tempo, você deve trabalhar duro para ter um alcance internacional por muitas razões que todos nós conhecemos, mas principalmente para poder tornar visível o pensamento dos artistas, seus processos criativos, suas obras e os diálogos que eles geram entre si.

ARTE! – E como tem sido a recepção do público nesta edição da Bienal de Arte Paiz?

Não posso esconder a grande satisfação que sinto. A bienal superou todas as expectativas que eu mesma tinha em relação ao público local, ela tem sido um sucesso de visitas e de crítica. Mas o mais importante é que esse esforço de fazer uma bienal profundamente contextual foi percebido pelo público não especializado, que se identificou plenamente. Tenho recebido mensagens muito emocionantes no Instagram de pessoas desconhecidas que têm ido visitar as exposições. Além disso, os diretores dos museus estão pedindo o adiamento das datas de encerramento das exposições. Acabamos de receber a confirmação de que a mostra da Paz Errázuriz ficará aberta um mês a mais do que o previsto. Isso para mim dá ainda mais sentido ao projeto e me faz sentir que três anos de trabalho árduo e um ano de incertezas pandêmicas valeram a pena.

Com “A extinção é para sempre”, Nuno Ramos busca resposta multilinguagem à conjuntura brasileira

"Chão-Pão", segundo episódio de "A extinção é para sempre", projeto idealizado por Nuno Ramos. Foto: Matheus Brant

Em memória a todos que perderam a vida na pandemia, uma chama se acendeu esta semana no Sesc Avenida Paulista. Um pequeno isqueiro zippo, que geralmente manteria a flama por cerca de quinze segundos, foi aceso e assim ficará de forma ininterrupta por um ano. A escultura é o primeiro episódio de A extinção é para sempre, projeto multilinguagem idealizado por Nuno Ramos e realizado pelo Sesc São Paulo com apoio do Goethe-Institut. Fechada para visitação, a obra pode ser apreciada no site da iniciativa, onde sua transmissão acontecerá ao vivo até que o fogo se extinga. 

Envolvendo artes visuais, literatura, música, teatro, dança e cinema, o projeto é composto de sete episódios, desenvolvidos através de diálogos com artistas de diversas origens e linguagens, como a escritora Noemi Jaffe, o cineasta Jorge Bodanzky, a atriz Edna de Cássia, o coreógrafo Eduardo Fukushima e o encenador Antônio Araujo. “É quase que a configuração de um corpo que anda junto, uma orquestra de câmara, na qual esses trabalhos tem que jogar um com o outro, mas têm muita voz independente”, explica Nuno Ramos.

Apesar da potência individual de cada ato e de seus conceitos próprios, os episódios giram em torno de uma mesma questão: a busca por uma resposta poética à conjuntura brasileira e à pandemia, situação que para Nuno se configura através de uma série de extinções. “O que sinto é que não vamos voltar ao que era antes através de uma eleição. Vamos precisar de muito mais”, diz. E completa: “Existe a entronização da própria violência na Presidência da República, como um projeto que teve o aval da elite e do próprio ressentimento popular. O Brasil está passando por uma tragédia inacreditável, não só pela Covid-19 – que é uma espécie de visualização explícita disso -, mas também na destruição minuciosa de toda uma trama institucional.”

O artista Nuno Ramos durante os ensaios de Chão-Pão. Foto: Matheus Brant

Para o artista, essa situação foi agravada ao que o mundo político oficial se paralisou, sem conseguir superar as divergências e apontar um caminho de reação à barbárie. “Tenho a impressão de que a gente precisa realmente criar esse lugar de respiração, de trocas, de sublimação, de simbolização da vida. Então acho que tem um pouco desse desespero: como é que eu faço frente a uma situação como essa que a gente está passando?”. Junto a outros artistas, Nuno agiu pela cultura, expressando-se através de múltiplas linguagens de forma simultânea. “É uma forma de fazer arte ‘a quente’, uma produção em movimento, que vá contra o atual estado de apatia e responda aos assuntos que percorrem o espaço público hoje – como o luto, a violência, a ameaça às instituições e a relativização da nossa história”, declara.

A arte!brasileiros conversou com o artista sobre os conceitos que envolvem cada um dos sete episódios de A extinção é para sempre. Atualmente configurado como um laboratório artístico. O projeto segue em desenvolvimento e está previsto para durar um ano, o tempo da chama acesa no zippo.

A caminho da extinção

Se em 2020, em Marcha à Ré – performance feita pelo artista em parceria com o Teatro da Vertigem e comissionada pela Bienal de Berlim – buscava-se reverter a energia de descaso do governo frente à pandemia de coronavírus, homenageando suas vítimas, CHAMA aprofunda essa ideia, ao se configurar como um gesto artístico de luto. Nas próximas semanas, o público poderá participar ativamente da obra, entrando na transmissão ao vivo. “Se uma pessoa no Canadá quiser fazer uma fogueira e nos mandar, colocamos o fogo na transmissão. Outro vai pegar uma lata de combustível embaixo de um viaduto em Jacarepaguá? Coloco o fogo dele. Assim, vamos mantendo uma chama acesa ao vivo, numa espécie de monumento da chama eterna”, explica Nuno.

Imagem horizontal colorida. Isqueiro zippo aceso. Monumento virtual CHAMA, de Nuno Ramos, parte do projeto A EXTINÇÃO É PARA SEMPRE.
“CHAMA”, monumento virtual que compõe o projeto “A extinção é para sempre”, de Nuno Ramos. Foto: Eduardo Ortega

Entre os dias 28 e 30 de maio, Chão-Pão vai ao ar, sempre às 20h30. Nesse episódio, um grupo de performers monta um chão feito com lajotas e pães impróprios para consumo. Sobre esse terreno, caminham e dançam, quebrando e modificando esse chão-pão. No meio da cena, dois monitores trazem em loop trechos dos filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe, de Glauber Rocha, nos quais a fala “a culpa não é do povo” está presente. “Os atores jogam um pouco com a ambiguidade dessa frase e dessa estrutura. Com esse pão sustentando e sendo despedaçado por esse chão do qual ele é a base original, que ele é quem segura”, explica. “Então tem algo da perda de horizonte popular, da perda de vocalização do que era ainda vocalizado há alguns anos e que foi sumindo.”

Essa dificuldade de expressar as situações está presente também no terceiro episódio de A extinção é para sempre, construído a partir de Os Desastres da Guerra, de Goya. Nele, teremos um tableau vivant (pintura viva), no qual atores vestidos de soldados napoleônicos vocalizam os duros depoimentos de pessoas que perderam seus parentes na guerra, colocando em foco as vítimas da violência do Estado. A brutalidade dos relatos os torna difíceis de ouvir e Nuno buscou trazer essa ideia à apresentação. Para isso, os textos foram traduzidos para o braile e então transformados em partitura percussiva. “No braile, temos dois pontos por casa: um tempo forte e um tempo fraco”, explica. É a partir disso que os músicos tocam os relatos, sobrepondo a fala dos atores. “Estamos lidando com a impossibilidade de representação de uma violência dessas, através de uso amalucado de todas as linguagens”, conta.

Registro de “Os Desastres da Guerra”, terceiro episódio de “A Extinção é Para Sempre” Foto: Matheus Jose Maria

Os ataques ao meio ambiente e às identidades indígenas são outro ponto de barbárie que vem sendo denunciado nos últimos anos. É visando se aprofundar nas discussões ecológicas e antropológicas que o filme Iracema – uma transa amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, é retomado em Iracema Fala. O episódio, que está previsto para ser lançado em agosto, funciona como “uma espécie de reparação e também uma atualização dessas questões”, explica Nuno. Para isso, Edna de Cássia, atriz principal do filme, que saiu da carreira artística logo após o prêmio recebido por sua atuação, revisita o texto que interpretou nos anos 70, dirigindo e interferindo em uma reencenação.

O quinto episódio traz foco à polêmica em torno de monumentos espalhados por todo o Brasil. Elaborado em colaboração com a escritora Noemi Jaffe, o trabalho busca reinaugurar uma estátua em uma das praças da cidade de São Paulo. Porém, ao invés das autoridades comumente chamadas para discursar nesses eventos, uma sequência de reinaugurações convida pessoas de várias configurações sociais, que travam discursos a partir de suas vivências dissidentes – “como que tentando reencontrar um espaço de significação para aquela escultura que já não quer dizer nada, ou que quer dizer algo muito ruim, que carrega uma memória muito violenta”.

Então, o luto volta à cena. Helióptero, sexto episódio, retoma Antígona, que enfrenta o Estado para poder velar o corpo de seu irmão morto. Em A extinção é para sempre, a tragédia grega é atualizada; Creonte, o Estado, passa a ser representado por uma máquina de guerra: um helicóptero. Com sua linguagem militar e a memória de violência e assassínio que carrega ao passar sobre as favelas brasileiras, a aeronave enfrenta Antígona, que no chão se expressa através do funk, projetado por caixas de som voltadas ao céu.

Do luto à extinção de fato, o projeto se encerra com o episódio que o dá nome. Uma pequena peça, escrita por Nuno Ramos e dirigida por Antônio Araújo, conta a história da última tartaruga gigante, que não conseguiu reproduzir e levou consigo seu código genético. Ao lado de um personagem sobrevivente de A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, a tartaruga palestra sobre sua vida e as extinções que permanecem em sua memória.

O projeto será disponibilizado de forma virtual ao longo desse um ano na plataforma de A extinção é para sempre, bem como nas redes sociais do Sesc Av. Paulista, e está sujeito a alterações de cronograma devido à pandemia de coronavírus. Porém, como coloca Nuno Ramos no texto base da iniciativa: “Vivemos algo da ordem do irreversível, numa proporção cujo desenho é difícil definir. Podemos perder tudo e, por isso, o que quer que façamos agora é dramático e decisivo. A hora é nossa”.

Imagem horizontal em tons de vermelho, com escritos em preto. Reprodução da tela principal da plataforma online de A EXTINÇÃO É PARA SEMPRE. Um isqueiro zippo aceso é encoberto por uma série de finas linhas vermelhas, que criam um filtro da cor na imagem. Sobre o zippo lê-se em caixa alta, com letras pretas, A EXTINÇÃO É PARA SEMPRE, e espalhados os nomes de cada um dos episódios do projeto, sendo HELIÓPTERO, CHÃO-PÃO, MONUMENTO, CHAMA, IRACEMA FALA, OS DESASTRES DA GUERRA e A EXTINÇÃO É PARA SEMPRE.
Tela principal da plataforma online “A extinção é para sempre”. Foto: Reprodução

A extinção é para sempre 
ONDE: Clique aqui para acessar a plataforma virtual do projeto
QUANDO: 25/05/2021 a 25/05/2022

Bienal de São Paulo anuncia lista completa de participantes da 34ª edição

34ª Bienal de São Paulo. "La Cena" (The Supper), 1991, da artista cubana Belkis Ayón, uma das participantes da Bienal
"La Cena" (The Supper), 1991, da artista cubana Belkis Ayón. Foto: José A. Figueroa/ Cortesia de Belkis Ayón Estate

A Fundação Bienal de São Paulo acaba de anunciar a lista completa de artistas participantes de sua 34ª edição, intitulada Faz Escuro mas eu canto. A mostra será composta por 91 nomes – sendo dois duos e um coletivo – de 39 países (veja os nomes abaixo). Iniciada em fevereiro de 2020, a edição vem se desdobrando no espaço e no tempo com programação física e online – leia aqui matéria sobre a exposição coletiva Vento, realizada no último ano, e aqui entrevista com o curador Jacopo Crivelli Visconti e o curador adjunto Paulo Miyada. Entre os 35 novos nomes anunciados estão três brasileiros – Arjan Martins, Mauro Restiffe e Sueli Maxakali -, além do francês radicado no Brasil Pierre Verger.

Todas as ações culminarão na mostra coletiva que vai ocupar o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Ibirapuera, a partir de setembro de 2021, simultaneamente à realização de dezenas de exposições individuais em instituições parceiras na cidade de São Paulo. Segundo Crivelli, em texto de divulgação: “Desde sua concepção, e com um sentido de urgência ainda maior após os acontecimentos dos últimos meses, a 34ª Bienal de São Paulo busca estabelecer pontes entre obras e artistas que refletem múltiplas cosmovisões, culturas e momentos históricos. O processo de colocar em relação e ressonância todas essas vozes foi intenso e estimulante, vivificando um dos conceitos de Édouard Glissant que mais nos inspirou nesse caminho, o de que falamos e escrevemos sempre na presença de todas as línguas do mundo”. 

A Fundação também lança pela primeira vez um catálogo inteiramente digital para uma de suas edições (veja aqui). A publicação, intitulada tenteio – inspirado na obra do poeta amazonense Thiago de Mello, assim como o título da 34ª Bienal -, compõe uma narrativa visual e textual formada por contribuições dos 91 artistas participantes elaboradas exclusivamente para a ocasião. Diante dos desenhos, fotografias, poemas e textos compartilhados pelos artistas, Elvira Dyangani Ose (editora convidada) e Vitor Cesar (designer e autor da linguagem visual da edição) se debruçaram sobre a realização de um catálogo que refletisse as poéticas de ensaio aberto e de “relação”, preceitos norteadores para a curadoria. Seu conteúdo será incorporado ao catálogo impresso da mostra, a ser lançado em setembro.

Veja a lista completa dos artistas participantes da 34ª Bienal de São Paulo:

Abel Rodríguez, 1944, Cahuinarí, Colômbia
Adrián Balseca, 1989, Quito, Equador
Alfredo Jaar, 1956, Santiago, Chile
Alice Shintani, 1971, São Paulo, Brasil
Amie Siegel, 1974, Chicago, EUA
Ana Adamović, 1974, Belgrado, Sérvia
Andrea Fraser, 1965, Montana, EUA
Anna-Bella Papp, 1988, Chișineu-Criș, Romênia
Antonio Dias, 1944, Campina Grande, PB, Brasil – 2018, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Antonio Vega Macotela, 1979, Cidade do México, México
Arjan Martins, 1960, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Beatriz Santiago Muñoz, 1972, San Juan, Porto Rico
Belkis Ayón, 1967 – 1999, Havana, Cuba
Carmela Gross, 1946, São Paulo, SP, Brasil
Christoforos Savva, 1924, Marathovounos, Chipre – 1968, Sheffield, Reino Unido
Clara Ianni, 1987, São Paulo, SP, Brasil
Claude Cahun, 1894, Nantes, França – 1954, Saint Helier, Jersey
Daiara Tukano, 1982, São Paulo, SP, Brasil
Daniel de Paula, 1987, brasileiro, nascido em Boston, EUA
Darcy Lange, 1946, Urenui, Nova Zelândia – 2005, Auckland, Nova Zelândia
Deana Lawson, 1979, Nova York, EUA
Dirk Braeckman, 1958, Eeklo, Bélgica
E.B. Itso, 1977, Copenhague, Dinamarca
Edurne Rubio, 1974, Burgos, Espanha
Eleonora Fabião, 1968, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Eleonore Koch, 1926 – 2018, Berlim, Alemanha
Eric Baudelaire, 1973, Salt Lake City, Utah, EUA
Frida Orupabo, 1986, Sarpsborg, Noruega
Gala Porras-Kim, 1984, Bogotá, Colômbia
Giorgio Griffa, 1936, Turim, Itália
Giorgio Morandi, 1890 – 1964, Bolonha, Itália
Grace Passô, 1980, Belo Horizonte, MG, Brasil
Guan Xiao, 1983, Chongqing, China
Gustavo Caboco, 1989, Curitiba, PR, Brasil
Hanni Kamaly, 1988, Hedmark, Noruega
Haris Epaminonda 1980, Nicosia, Chipre
Hsu Che-Yu 1985, Taipei, Taiwan
Jacqueline Nova, 1935 – 1975, Gante, Bélgica
Jaider Esbell, 1979, Normandia, RR, Brasil
Jaune Quick-to-See Smith, 1940, Reserva Flathead, Montana, EUA
Joan Jonas, 1936, Nova York, Nova York, EUA
Jota Mombaça, 1991, Natal, RN, Brasil
Jungjin Lee, 1961, Daegu, Coreia do Sul
Juraci Dórea, 1944, Feira de Santana, BA, Brasil
Kelly Sinnapah Mary 1981, Guadeloupe, França
Koki Tanaka 1975, Kyoto, Japão
Lasar Segall, 1889, Vilnius, Lituânia – 1957, São Paulo, Brasil
Lawrence Abu Hamdan, 1985, Amã, Jordânia
Lee ‘Scratch’ Perry, 1936, Kendal, Jamaica
León Ferrari, 1920 – 2013, Buenos Aires, Argentina
Lothar Baumgarten, 1944, Rheinsberg, Alemanha – 2018, Berlim, Alemanha
Luisa Cunha, 1949, Lisboa, Portugal
Lydia Ourahmane, 1992, Saïda, Argélia
Lygia Pape, 1927, Nova Friburgo, RJ, Brasil – 2004, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Manthia Diawara, 1953, Bamako, Mali
Mariana Caló e Francisco Queimadela, 1984, Viana do Castelo, e 1985, Coimbra, Portugal
Marissa Lee Benedict e David Rueter, 1985, Palm Springs, EUA e 1978, Ann Arbor, EUA
Marinella Senatore, 1977, Cava de’ Tirreni, Itália
Mauro Restiffe, 1970, São José do Rio Pardo, SP, Brasil
Melvin Moti, 1977, Roterdã, Holanda
Mette Edvardsen 1970, Lørenskog, Noruega
Nalini Malani, 1946, Karachi, Paquistão
Naomi Rincón Gallardo, 1979, Cidade do México, México
Neo Muyanga, 1974, Soweto, África do Sul
Nina Beier, 1975, Aarhus, Dinamarca
Noa Eshkol, 1924, Kibbutz Degania Bet, Palestina – 2007, Holon, Israel
Musa Michelle Mattiuzzi, 1983, São Paulo, SP, Brasil
Olivia Plender, 1977, Londres, Reino Unido
Oscar Tuazón, 1975, Seattle, Washington, EUA
Paulo Kapela, 1947, Uige, Angola –- 2020, Luanda, Angola
Paulo Nazareth, 1977, Governador Valadares, MG, Brasil
Philipp Fleischmann, 1985, Hollabrunn, Austria
Pia Arke, 1958, Uunarteq, Groenlândia – 2007, Copenhague, Dinamarca
Pierre Verger, 1902, Paris, França – 1996, Salvador, BA, Brasil
Regina Silveira, 1939, Porto Alegre, RS, Brasil
Roger Bernat, 1968, Barcelona, Espanha
Sebastián Calfuqueo Aliste, 1991, Santiago, Chile
Silke Otto-Knapp, 1970, Osnabrück, Alemanha
Sueli Maxakali, 1976, Santa Helena de Minas, MG, Brasil
Sung Tieu, 1987, Hai Duong, Vietnã
Tamara Henderson, 1982, Sackville, Canadá
Tony Cokes, 1956, Richmond, Virginia, EUA
Trajal Harrell, 1973, Douglas, Georgia, EUA
Uýra, 1991, Manaus, AM, Brasil
Victor Anicet, 1938, Marigot, Saint Martin
Vincent Meessen, 1971, belga, nascido em Baltimore, Maryland, EUA
Ximena Garrido-Lecca, 1980, Lima, Peru
Yuko Mohri 1980, Kanagawa, Japão
Yuyachkani, Grupo teatral fundado em 1971 no Peru
Zina Saro-Wiwa, 1976, Port Harcourt, Nigéria
Zózimo Bulbul, 1937 – 2013, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

SERVIÇO: 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto
De 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021
Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera
Entrada gratuita

 

Arjan Martins tem trajetória retratada em livro

"Américas" (2016), Arjan Martins. Foto: A Gentil Carioca.
"Américas" (2016), Arjan Martins. Foto: A Gentil Carioca.

AEditora Cobogó acaba de lançar Arjan Martins, publicação que apresenta mais de 100 obras do repertório do artista carioca, além de um ensaio do organizador do livro, Paulo Miyada, hoje curador do Instituto Tomie Ohtake e curador adjunto da Bienal de São Paulo, outro do crítico Michael Asbury, professor-associado da Chelsea College of Art e da University of the Arts London, e ainda uma entrevista feita com Arjan Martins pela historiadora Raquel Barreto. O volume chega às livrarias em edição bilingue.

"Atlântico" (2016), Arjan Martins. Foto: A Gentil Carioca.
“Atlântico” (2016), Arjan Martins. Foto: A Gentil Carioca.

“Tem muito material que me torna um artista, mas que não necessariamente são temas artísticos”, afirma Arjan no livro. “Às vezes está dentro da ciência política, dentro da economia, dentro da história. Enfim, acho que existe uma convergência de temas e de suportes também. O que pode me tornar um artista é um pouco o meu modo de receber essas informações e como eu as devolvo ao mundo. Entendendo que a pintura ainda é um meio, um dispositivo com o qual você pode chegar até as pessoas. A pintura remonta à história da arte, mas o seu recado é mais horizontal. Acho que é isso que me torna um artista: esse atrito, essa zona de inconformismo obsessivo construtivo.”

O trabalho de Arjan Martins já foi apresentado em diversas das instituições mais importantes do Brasil, como MAM-SP, MAM Rio, Instituto Tomie Ohtake e MAR (Museu de Arte do Rio). Nascido em 1960, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha, o artista começou a frequentar os cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage na década de 1990. Após um período de intensa produção que dava destaque a figuras anatômicas, sua obra foi aos poucos se conduzindo para a criação de desenhos nos quais desenvolveu uma técnica pictórica que mistura espaços vazios a texturas, colorações e composições intensas. Os rostos de suas figuras negras são muitas vezes borrados, traduzindo uma negação da identidade.

No que Miyada define como “cartografias mnemônicas das histórias e do presente do povo negro”, as imagens de imigrantes e descendentes africanos são parte fundamental do repertório do artista, evocando questões como herança colonial, segregação e invisibilidade. Sua imagética trabalha os símbolos do período das expansões marítimas e da escravidão dos corpos negros, como a caravela, o globo terrestre e as ferramentas de navegação como marcas desse tempo. “A poética de Arjan Martins convida a permanecer em um estado de travessia, percorrendo o negro oceano que liga a África, a Europa e as Américas em jornadas que se cruzam com as de diversos pensadores da diáspora negra, como Frantz Fanon, Édouard Glissant, Derek Walcott, Achille Mbembe e Paul Gilroy – que, no Brasil, costumam ser lidos em diálogo com pensadores como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Abdias Nascimento e Zózimo Bulbul”, completa o organizador.

Oficina Brennand oferece novas residências culturais

Oficina Brennand. Foto: Fred Jordão / Divulgação.
Oficina Brennand. Foto: Fred Jordão / Divulgação.

Até 11 de junho é possível se inscrever em duas residências culturais oferecidas pela Oficina Brennand, em Recife. Ambas tomam como ponto de partida o acervo permanente da oficina para desenvolvimento dos trabalhos e desdobramento de ações e programas públicos. Planejadas com formato híbrido, elas têm seu início previsto para julho e agosto, respectivamente – no momento, o local permanece fechado para o público, em atendimento ao Decreto nº 50.433, publicado em março pelo Governo do Estado de Pernambuco.

Residência Cultural – Moldar o Existir: Vivências Mediadas pelo Barro

Coordenação: Renata Felinto

Serão selecionadas seis propostas, entendidas nos campos das artes visuais, artes cênicas, artes do corpo, música, literatura, bem como as suas subáreas. O programa é voltado para profissionais das artes de todo o país, maiores de 18 anos de idade, e acontecerá em formato híbrido, remoto e presencial, na Oficina Brennand, em Recife, observadas as condições sanitárias e de segurança dos profissionais selecionados. A residência acontecerá entre os meses de agosto e novembro de 2021.

O programa propõe intercâmbios criativos entre diferentes agentes profissionais das artes que participam e contribuem com processos de pesquisa, criação, execução, registro, documentação e reflexão acerca das artes em sua trajetória.

Acesse o edital aqui.

Faça sua inscrição aqui​.

Residência Processos de Criação em Educação

Coordenação: Gleyce Kelly Heitor​

Voltado para educadores com atuação e prática em todo o Estado de Pernambuco, serão selecionadas seis propostas para compor um grupo transdisciplinar de pessoas que podem ter em sua trajetória diferentes formações, sejam elas acadêmicas ou/e através de uma educação popular construída dentro de comunidades. A residência acontecerá entre os meses de julho e setembro de 2021.

O programa se propõe a fundamentar valores como coletividade, colaboração e experimentação enquanto base para a construção de um programa de educação na Oficina Brennand atravessando os eixos território, natureza e cosmologias.

Acesse o edital aqui.

Faça sua inscrição aqui.

Oficina Brennand. Foto: Deco Bastos.
Oficina Brennand. Foto: Deco Bastos/Divulgação.

Planos para o futuro e a celebração do cinquentenário

Vista aérea da Oficina Brennand. Foto: Divulgação.
Vista aérea da Oficina Brennand. Foto: Divulgação.

Em 11 de novembro deste ano, a oficina-museu criada pelo artista plástico Francisco Brennand – ao transformar a antiga fábrica do pai, Ricardo, em seu ateliê – completará 50 anos. Estimulada pela celebração, a instituição vem estruturando um projeto para transformar o local em uma referência artística internacional, nos moldes do Inhotim, em Brumadinho (Minas Gerais). Aliás, para tal, a ex-diretora artística do espaço mineiro, Júlia Rebouças, assume o cargo na Oficina Brennand. Além dela, Lucas Pessôa foi elencado como diretor geral do instituto, tendo anteriormente ocupado o posto da direção de operações no MASP, onde ajudou o museu a escapar de uma possível falência. Juntando-se aos dois, na nova etapa da Oficina Brennand está também um grupo de conselheiros de atuação nacional: a antropóloga Lilia Schwarcz; a mecenas Frances Reynolds; Keyna Eleison, diretora artística do MAM-RJ e Tiago Pessoa, do grupo Morgan Stanley.

Em razão do cinquentenário, para o final do ano, a oficina prepara uma mostra celebratória que reunirá três mil obras de Francisco Brennand em uma releitura inédita. Acompanhando essa retrospectiva, o instituto ainda articula a vinda de obras do artista que estão no acervo de colecionadores particulares ou que integram conjuntos de museus. Incorporada à comemoração de meio século da oficina está a inauguração de Maracanarvera, instalação do artista carioca Ernesto Neto. Por conta do seu caráter interativo, porém, há possibilidade de que a exposição da obra seja realocada para 2022. Por fim, Spider, de Louise Bourgeois, também deve ser exposta nos jardins do instituto, em empréstimo com o Itaú Cultural.

 

 

Bienal do Mercosul tem chamada aberta para artistas pela primeira vez em sua história

A exposição "Transe" acontecerá no Instituto Caldeira, em Porto Alegre. Foto: Alexandre Raupp

Olhando para os territórios de expansão da arte contemporânea e buscando compreender as poéticas e estéticas de um novo momento do mundo, a 13ª Bienal do Mercosul lança chamada aberta para artistas e coletivos que busquem uma experiência imersiva entre arte e tecnologia. Com inscrições até 20 de julho, o edital selecionará 20 propostas para integrar a exposição Transe, que acontecerá em 2022 no Instituto Caldeira (RS), compondo a programação da Bienal. Os projetos serão desenvolvidos em uma residência artística.

Transe busca estimular a ligação entre a arte contemporânea e novas tecnologias, materiais e recursos”, declara o curador Marcello Dantas. Em parceria com os curadores adjuntos Laura Cattani e Munir Klamt, ele será responsável pela seleção, a ser feita em três etapas: análise cega da proposta, análise de portfólio e entrevistas.

Os projetos selecionados contarão com o acompanhamento da curadoria e da curadoria adjunta no desenvolvimento e na execução das propostas artísticas. Também será oferecido suporte técnico por meio de entidades parceiras, que colocarão à disposição dos artistas laboratórios, materiais e equipamentos. “Buscamos fazer uma mostra inclusiva e muito disruptiva”, afirma a presidente da 13ª Bienal do Mercosul, Carmen Ferrão. Por meio de tecnologias de comunicação, pesquisa de materiais e técnicas, modelagem, programação, prototipagem e síntese de novos compostos orgânicos e sintéticos, bem como através da revisão de saberes tradicionais – tais como vidraria, marcenaria, culinária, tecelagem, dentre outros -, as residências terão como um dos objetivos gerar conexões entre diferentes áreas do conhecimento, estimulando a criação de obras inéditas. Para a Fundação, uma parte muito importante desse processo, em especial nos dias de hoje, é valorizar a diversidade de pensamento e a originalidade das pesquisas e propostas artísticas.

“Precisamos entender que 2020 é o início de um novo século. Tudo que vinha acontecendo até então era a evolução do século 20. 2020 absolutamente é rompedor, ele abre possibilidades de pensarmos tudo de forma diferente. Todas as nossas relações se tornaram, de certa forma, obsoletas, e a gente precisa edificar uma nova forma. A Bienal é uma plataforma pra discutir esse novo tempo”, explica Marcello Dantas em live organizada pela Bienal. As novas tecnologias, foco de Transe, são apenas uma parte dessa transformação.

Instituto Caldeira, em Porto Alegre. Foto: Alexandre Raupp

Na opinião do curador, “a grande matéria prima da arte, através do tempo, sempre foi uma espécie de trauma, só que um trauma individual. Isso muda de figura quando acontece um trauma coletivo”. Se a vivência da pandemia configura um trauma coletivo, quais são os novos rumos da criação artística?

Isso nos guia ao mote geral da 13ª Bienal do Mercosul. De forma mais ampla, a edição deste ano almeja refletir sobre os impactos deste trauma coletivo na arte e no imaginário comum, pensando na ativação do onírico e nos estratagemas de fuga desenvolvidos nesses momentos. “A sequência dessas três palavras – trauma, sonho e fuga – forma a linha narrativa que estamos buscando nas obras dos artistas para esta Bienal”, declaram os organizadores.

RESIDÊNCIA ARTÍSTICA E EXPOSIÇÃO TRANSE
Acesse o edital completo clicando aqui
Chamada aberta até 20 de julho de 2021: inscreva-se clicando aqui

Semana Nacional de Museus busca reimaginar o futuro das instituições brasileiras

Museu de Artes e Oficios - Sesi traz programação pensada para a Semana Nacional de Museus. Foto: Reprodução
19ª Semana Nacional de Museus acontece entre os dias 17 e 23 de maio

Estamos transformando os museus ou apenas os mantendo? Como estabelecemos as relações das instituições culturais com as pessoas, os territórios e as sociedades, delineando futuros? Essas são algumas das perguntas propostas pela 19ª Semana Nacional de Museus (SNM). Com o tema “O futuro dos museus: recuperar e reimaginar”, ela acontece de 17 a 23 de maio com programações virtuais desenvolvidas por instituições de todo o Brasil. 

Promovida pelo Conselho Internacional de Museus (Icom) e pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), a temporada cultural acontece anualmente desde 2003. Cada edição conta com um tema distinto, que serve como mote norteador para as instituições participantes, mas mantém os mesmos objetivos: promover e valorizar os espaços culturais, assim intensificando o envolvimento com a sociedade e aumentando o público visitante. Desde 2019, participam do evento instituições de todas as unidades federativas do país, desde aquelas localizadas em grandes metrópoles até as de pequenos municípios.  

Após mais de um ano de pandemia de Covid-19 e em meio a uma significativa adaptação ao universo virtual, parece inevitável lançar um olhar para o amanhã. Para a organização da SNM, isso está intrinsecamente ligado às atividades museais, ao que os acervos e as práticas e performances apresentados a público, estimulam e projetam narrativas. Porém, como pontua o Ibram em nota oficial: “Reimaginar um futuro para os museus significa não apenas dialogar com os avanços tecnológicos e os recursos e ferramentas deles advindos, mas também compreender como afetam nossa maneira de ser e estar no mundo”. Para a organização do evento, “inserir-se no futuro é, sobretudo, contribuir para um presente mais digno para a humanidade e para o planeta que habita. Significa enfrentar as barreiras daquilo que está secularmente musealizado, reinterpretar o passado, reparar os erros, rever memórias e reimaginar histórias”.

Museu de Artes e Oficios – Sesi traz programação pensada para a Semana Nacional de Museus. Foto: Reprodução

Neste ano, a programação é focada no virtual e acontece em todas as regiões do Brasil, com 660 museus participantes e mais de 1700 atividades, entre palestras, exposições, oficinas, debates e muito mais. 

Para que possa acompanhar de perto a Semana Nacional de Museus com atividades voltadas para o mundo das artes, a arte!brasileiros destaca algumas atividades de instituições de diferentes regiões do Brasil. No guia lançado pelo Ibram e pelo Icom, você tem acesso à programação completa do evento (acesse o guia clicando aqui).

O Centro Cultural Dragão do Mar tem ampla programação na Semana Nacional de Museus. Foto: Reprodução

Nordeste 

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura – Fortaleza (CE)

  • 19/05 às 15h: Núcleos Educativos do Museu da Cultura Cearense e do MAC Dragão realizam debate ao vivo para traçar caminhos sobre o museu do futuro. Transmissão pelo canal Youtube.
  • 20/05 às 16h: Live MAC Dragão. Transmissão pelo canal Youtube.
  • 21/05 às 09h: Lançamento da Mini publicação Coletiva. Transmissão pelo canal Youtube.
  • 22/05 às 16h: Oficina MAC Dragão. Transmissão pelo Instagram @macdragao.
  • 23/05 às 16h: Lançamento da publicação Um desvio nem sempre é um atalho, do Educativo MAC Dragão. Transmissão pelo Instagram @macdragao.

MAMAM – Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – Recife (PE)
O MAMAM se dedicou a uma produção exclusiva para as redes sociais do museu. Entre os dias 17 e 19 de maio, publica uma série de reflexões em vídeo sobre temáticas relacionadas ao futuro dos museus. Entre os dias 19 e 21, realiza mediações online sobre obras de seu acervo e as ações Passado/Presente/Futuro de interação com o público nas mídias do museu, sempre às 17h. As mediações online se debruçam sobre Cambraieta, de Izidório Cavalcanti; Composição Abstrata, de Mirella Andreoti; e NU-MULHER, de Marianne Perretti. Todo o material ficará disponível para consulta posteriormente. Acesse as redes sociais do MAMAM clicando aqui

MUNCAB – Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira – Salvador (BA)
No dia 17 de maio, o MUNCAB lançou seu novo site, onde está disponível o acervo expositivo do museu online.

  • 19/05 às 8h: Abertura da exposição virtual no site da instituição.
  • 19/05 às 19h: Live com artistas da exposição virtual do museu.
  • 20/05 às 19h: Live de lançamento da exposição.
  • 21/05 às 19h: Live sobre as futuras ações digitais do museu: os planos para exposições virtuais 360°.

Norte

Museu da Cidade de Manaus – Manaus (AM)
Programação transmitida pelo canal de Youtube da instituição.

  • 19/05 às 19h: Seminário Impacto na cadeia econômica cultural com a paralisação de um Museu, com participação de Leonardo Novellino, do Museu da Cidade de Manaus, e Marina Toledo, do Museu da Língua Portuguesa São Paulo.
  • 20/05 às 19h – Seminário Espaços Sacros de Manaus, com a teóloga Carmem Nóvoa, a arqueóloga Arminda Mendonça, o arquiteto Bepi Sirino e Edivan Viriato, especialista em História e Cultura Afro-brasileira.
  • 21/05 às 19h: Seminário Praças como museus a céu aberto, com Vanessa Benedito, historiadora e arqueóloga, e João Paulo Barreto, antropólogo e professor.
  • 23/05 às 19h: Seminário Grafismo Indígena e seu futuro – Recuperar e Reimaginar, com Ludimar Kokama, membro da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno – COPIME.

Coleção Amazoniana de Arte da Universidade Federal do Pará
A instituição promove em seu canal de Youtube a série de conversas Vozes Amazonianas: Reimaginando Coleções.

Durante a Semana Nacional de Museus, o Museu Afro-Brasil disponibiliza leituras de obras em suas redes. Dentre os artistas selecionados, está Sidney Amaral. Foto: Divulgação

Sudeste

MAM São Paulo – São Paulo (SP)

  • 20/05 às 16h: Encontro prático virtual de escuta de imagens com Elidayana Alexandrino. Como estamos nos relacionando com a quantidade de imagens que vemos e produzimos diariamente? Será que também nos tornamos imagens na era das multitelas? Encontro via plataforma Zoom, necessária inscrição prévia (clique aqui).
  • 21/05 às 16h: Oficina virtual Qualquer lugar é minha terra. Inspirada na obra Anywhere is my land, de Antonio Dias, na qual o artista afirma seu pertencimento a qualquer lugar do mundo, serão criados mapas afetivos, pensando o território poético expandido de cada participante, a partir de coletas de vivências e experiências pessoais e organização das histórias de vida. Oficina virtual na plataforma Zoom, necessária inscrição prévia (clique aqui).

Museu Afro-Brasil – São Paulo (SP) 

O museu abre visitas virtuais a fim de apresentar seus núcleos temáticos e gerar uma reflexão acerca dos desafios e potencialidades de mediação virtual. São necessárias inscrições prévias para as visitas, que serão realizadas via Plataforma Zoom. Além disso, em ocasião da Semana Nacional de Museus, a instituição disponibiliza em suas redes sociais, leituras de obras que compõem seu acervo, fornecendo estratégias de leitura e buscando aproximar o público do acervo.

Museu de Arte da Pampulha – Belo Horizonte (MG)

  • 22/05 às 15h: Oficina convida crianças e famílias a experimentarem processos criativos ligados ao universo do livro de artista e seus desdobramentos. Inscrições em map.educativo@pbh.gov.br

SESI Museu de Artes e Ofícios – Belo Horizonte (MG)

  • 20/05 às 10h: Visita mediada virtual para o público infantil via Instagram.
  • 20/05 às 19h: Roda de conversa com especialistas convidados para discutir a visão e a “reimaginação” dos museus. Inscrições no site da instituição, clique aqui.
  • 21/05 às 10h: Mesa redonda sobre a relação entre museus, arte e tecnologia social. Como pensar um presente mais digno para a humanidade e um ambiente mais sustentável para um futuro transformador a partir dos museus, da arte e da tecnologia social? Inscrições no site da instituição, clique aqui.

Pinacoteca de São Paulo – São Paulo (SP)

Durante a Semana Nacional de Museus, a Pinacoteca lança vídeo-visitas para professores,  integrando o acervo do Memorial da Resistência e da Pinacoteca de São Paulo com o objetivo de evidenciar suas potencialidades pedagógicas.

Reprodução do e-book “Museu Paulista e as memórias narrativas de Aimé-Adrien Taunay e Hercule Florence”, lançado pelo corpo docente do Museu Paulista e pelo Instituto Hercule Florence no último dia 18.

Sul

Centro Histórico Cultural Santa Casa – Porto Alegre (RS)
Transmissões pelo canal de Youtube do CHC SANTA CASA.

  • 19/05 às 19h: Live Museus em tempo de pandemia, com Profa. Dra. Zita Rosane Possamai e Profa. Dra. Ana Celina Silva.
  • 26/05 às 19h: Live Salvando a Monalisa, com Karine da Costa Lima. 

MAC Paraná – Curitiba (PR)

  • 19/05 às 17h: Mesa-redonda sobre NFTs e Arte Digital com Jack Holmer e Ana Lesnovski. Transmissão pelo canal de Youtube do MAC Paraná.

Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo – Pelotas (RS)

  • 19/05 às 19h: Exibição de imagens da exposição O Eu: entre o autorretrato e a selfie, no jardim do museu.

Centro-Oeste

Museu Correios – Brasília (DF)
A instituição promove um tour virtual pela calçada do Museu Correios, apresentando os quatro painéis de vidrotil realizados pela artista plástica Martha Poppe. 

Museu de Arte Sacra do Mato Grosso – Cáceres (MT) 

  • 20/05 às 19h: Live O presente e o futuro da Arte Sacra
  • 21/05 às 14h: Oficina de arte religiosa contemporânea e suas novas linguagens.
  • 21/05 às 19h: Live O presente e o futuro da arte sacra

Memory of the last things and then

Registros de memória em Tsunami, Photographs and Then
The photograph is part of the "Lost & Found" project and can be found in the book "Tsunami, Photographs and Then", its authors and stories remain unknown. Courtesy of Munemasa Takahashi.
“Alright, alright. Don’t forget what you see here”. That was the comment made by one of the patrons of the Kobune bar to Munemasa Takahashi, on April 26, 2011, after he said he was not in Miyagi Prefecture (Japan) as yet another volunteer, collaborating on the site that had been reached a month ago and a half before his visit, due to an earthquake of magnitude 9.1, which moved walls of water that bombarded the island’s coast.

Takahashi, who had studied photography and built a life around it, felt helpless with his helplessness in the face of disaster. “When the lifelines – electricity, gas and water – had stopped, when there was no food or fuel, and no way to keep warm, there was nothing photography could do to help them. The photographs just seemed to be documenting and delivering the scenes of the horrific event to the people in safe places”, he would later explain, about the coverage of the tragedy in images, in the prologue to the book Tsunami, Photographs and Then, organized later by him in an effort to portray the construction of the Memory Salvage and Lost & Found projects in a bilingual publication – Japanese and English – offering rich details, interviews with visitors to the exhibitions and, of course, some of the exposed images.

Before that, his greatest hope for avoiding inertia in the face of the tragedy was to travel to one of the least affected areas in the province, to spend money with local traders and to try to move the local economy a little.

Registros de memória em Tsunami, Photographs and Then
The photograph is part of the “Lost & Found” project and can be found in the book “Tsunami, Photographs and Then”, its authors and stories remain unknown. Courtesy of Munemasa Takahashi.

“Please let me know if you can help”, said a message spread over the networks eight days after his visit. It was a call by volunteers to integrate the cleaning and cataloging efforts of the photos – family portraits, home records etc. – taken by the tsunami and eventually rescued by the SDF (Self-Defense Forces).

Responding to the summons, Takahashi contacted Professor Kuniomi Shibata, who led the Memory Salvage project, under the supervision of the FUJIFILM Corporation. At this time, the volunteers were still working in the Shibata room, at Otsuma Women’s University, and there were barriers to be circumvented so that people could search for the photographs on their computers – later two pieces of software were developed so that the images could be found according to facial recognition and area in which they were rescued. It was necessary to digitize them. However, the electricity supply was scarce and irregular, which means that they needed a way to do it without depending on the inconsistent power supply, that is, using digital cameras. The obstacle of the method, in turn, was the scarcity of equipment and the working environment. It was contaminated, full of small dust particles from the dry sludge that could damage the equipment, meaning that any tool would have to be donated, not borrowed. Incredulous, again, Takahashi sent a request to the web. The equipment was offered in a few hours, some by totals unknown to the photographer, others by colleagues and teachers at his photography school.

As the cleaning and digitalization process started to go smoothly, with 20 to 80 volunteers showing up every weekend, the reproduced photos started to accumulate. In this way, a space was created to return them to the owners. They were indexed and put back together in physical albums, with three images on their covers for identification by the former owner, providing the return of a portion of what was usurped by the disaster. By 2014, at least 300,000 physical photographs had been returned to their owners. Perhaps, like the character Hana, by writer Amós Oz, people cling to memory like someone who clings to a parapet, in a high place, and in a time when things are so ephemeral, they entrust memories to external devices because they want to leave evidence that identifies them.

Hopeless Box

The photos arrived at the project washed, soaked and even completely obliterated. For a time, those that were considerably damaged, whose condition was practically impossible to be restored, were assigned to the Hopeless Box, a solution to leave them intact until the team found out what their fate would be, although more and more employees expressed that it would be better to simply discard them. As the campaign progressed, an issue that still hammered the heads of the organizers was the possibility of providing a financial return to the affected community. A temporary housing scheme was beginning to be implemented and needed funds to finance its construction and its workers. They agreed that it was significant to show these records to anyone who could not visit the collection.

One resolution was to expose the photos that were once lost, thus creating the Lost & Found Project, taking them from the International Photography Gallery, in Japan, to the Center for Contemporary Photography, in Australia, and the Aperture Foundation, in the United States. “We chose to show the photos in an exhibition format because we wanted people to see them face-to-face, not through printed matter or the internet”, reports Takahashi, noting that just before the exhibition went off the paper the organizers were still asking questions like: “What if we couldn’t raise enough money for the temporary housing communities? What if it was ethically wrong to show the photos publicly?”. 

Following the opposite direction, the show has become a way of delivering a narrative about the people affected by the tsunami that fled a story filled with numbers that would involuntarily be translated into a tale about tragedy or a compelling allegory about hope in the face of chaos. Lost & Found – with records providing rich eminences of history, embracing a larger constellation of what remains of the tragedy and also visually impressive images as a result of its chemical deformation – provides a space for suspension in this dichotomy.

Why do we photograph?

“Why are people always taking photographs?” it is a question that seems to plague Munemasa Takahashi recurrently, at least throughout the writing of the book Tsunami, Photographs and Then.
Registros de memória em Tsunami, Photographs and Then
The photograph is part of the “Lost & Found” project and can be found in the book “Tsunami, Photographs and Then”, its authors and stories remain unknown. Courtesy of Munemasa Takahashi.

Photography creates a reality that exists precisely in it, neither before nor outside it, it provides an indicative trace of who was there, as they looked like. Walter Benjamin would affirm that “in the cult of the memory of loved ones, distant or disappeared, the value of cult of images is the last refuge. In the fleeting expression of a human face, in old photos, for the last time emanates aura. That is what lends them that melancholy beauty, which cannot be compared to anything”.

If the photographs grouped for the Lost & Found project are well received by visitors, it may be possible to speak of a reframing of what these photographs have symbolized, moving away from an exclusive testimony of disaster, returning to approach a channeler of the universal issues of being human; as Ursula Le Guin wrote, of what is “in time’s womb, and death, and chance”.

Leia em português, clique aqui.

‘Come and See’

João Pereira de Araújo photographed by Gideon Mendel for his "Submerged Portraits" series.
"I have seen many floods in my life, but never this high. My home is built on stilts, but now the lower floor is submerged. I look out of the window and see street after street under water – so many homes and shops. All we can do is wait for the water to go down, clean up and continue". João Pereira de Araújo, Rio Branco, Brazil, 14 March 2015.

“There was a point for me where I was researching the imagery of climate change and I felt that it was very white on many levels, and very distant – images of polar bears and glaciers and often very beautiful scenarios”, once reported Gideon Mendel to journalist Adele Peters. The South African photographer – with a body of work related to climate disasters that goes beyond a decade – seeks to offer another facet for the representation in images of one of the most perplexing global crises.

Mendel confesses to Peters: “A lot of the dialogue around climate change and the organizational response is very linked to that sort of white, middle-class environmental, previously hippie eco movement”, which would be limiting its effectiveness, given that climate change affects many people of color around the world. “I really feel it [the world] needs an injection of a much more radical kind of activism”, he completes. Gideon’s observation is not unreasonable, as researcher Emmanuel Skoufias notes: “while the eyes of the world have been riveted on polar bears, Antarctic penguins, and other endangered inhabitants of the Earth’s shrinking ice caps, relatively few researchers have turned serious attention – until recent years – to quantify the prospective long-term effects of climate change on human welfare”.

“I bring people into the depiction of climate change”, says Gideon, who is based in London. With his Submerged Portraits project, he began documenting floods in 2007, when a series of summer rains caused much of central and northern Britain to be submerged. Within a matter of weeks of the first episode, millions of people from Bangladesh to India and Nepal had to escape floods far greater than they had ever seen. The contrast between the impacts of the two events (while sharing a certain vulnerability that seems to provide a stimulus for unity) motivated the photographer to put in practice the idea of a series portraying flood victims. Since then, he has visited Australia, Bangladesh, Haiti, Kashmir, Pakistan and the United States, to name some of the 13 countries that, within the project, represent 19 floods.

Even before developing Submerged Portraits (encompassed by a larger project called Drowning World), Mendel was no longer a beginner. He had captured imagetically themes such as Apartheid and the HIV/AIDS crisis in South Africa, for which he won the World Press Photo. He sees Submerged Portraits as a departure from classic photojournalism: “I am not a documentarist, I am kind of an intervener of sorts”, he claims. To which he adds, “I am not just photographing what is in front of me, I am constructing scenarios with the people. I am choosing the background, I am choosing where to place people. I am not coming to those people at home and taking their pictures as they are. In a certain way, what I’ve been trying to do is produce a consistent image from place to place, with a familiarity in it, a repetition of the gaze. I am not just making evidence, I am seeking to make pictures that speak through being aesthetically powerful and even a disconcerting beauty amidst the horror.”

From "Submerged Portraits" by Gideon Mendel: "It often floods here, almost every year, so most of our homes are on stilts. But nobody can remember a higher flood. We are all camping now. We have no choice but to be in the water, even though the snakes make it dangerous. I’ve heard the government has plans to move us away and turn this area into a park. But I’ve heard this for years and we are still here. It’s not a big deal: when the floods come, we take our stuff and leave for a while". Francisca Chagas dos Santos, Rio Branco, Brazil, 10 March 2015.
“It often floods here, almost every year, so most of our homes are on stilts. But nobody can remember a higher flood. We are all camping now. We have no choice but to be in the water, even though the snakes make it dangerous. I’ve heard the government has plans to move us away and turn this area into a park. But I’ve heard this for years and we are still here. It’s not a big deal: when the floods come, we take our stuff and leave for a while”. Francisca Chagas dos Santos, Rio Branco, Brazil, 10 March 2015.

There is, indeed, something disconcerting about the images. On the one hand, they are conventional portraits of people standing in front of the camera and looking at it. However, the context, the landscape and the environment are extraordinary. Therefore, they are disconcerting together. This classic portrait format helps to give honesty to Submerged Portraits, an admission of scene manipulation.

There’s a sense of being witnessed. I can’t help people, I haven’t got the resources to bring change. But I offer a kind of witnessing. And some people seem to value and appreciate.

When he came to Rio Branco, in 2013, the level of the Acre River had reached 17.88 meters, having exceeded its historical quota registered in 1997, when it reached 17.66 meters. According to the G1 news portal, five public shelters were set up at the time, in the capital of Acre, to keep the flood victims safe: approximately 6,000 people were made homeless and another 70,000 were affected. It was also detailed by G1 that forty of the city’s 212 neighborhoods were impacted by the flooding of the Acre River, whose level is usually around six to eight meters – in periods of drought it can be below three. Mendel reports that when he got there, the water level had already turned down, having previously passed over the roofs of some houses. “The people [I portrayed] belonged to a poor community and they may have no access to running water, so they would use the flood waters to clean their walls”.

From the "Floodlines" series: Mendel registers the mark left by the increase in the water level at the entrance to a house in the district of Taquari. Rio Branco, Brazil, March 2015.
From the “Floodlines” series: Mendel registers the mark left by the increase in the water level at the entrance to a house in the district of Taquari. Rio Branco, Brazil, March 2015.

Analyzing the scenario of environmental response since then, the photographer makes the reservation: “It was not as the government before Bolsonaro was brilliant in terms of its response to the environment, I think it was acting in very contradictory sort of ways. What is terrifying, in a global sense, is that, in a moment in history when you need concerted global action – particularly in Climate Change -, there are so many populists leaders around the world who are doing their best to undermine environmental efforts – and I think with huge support from the petrochemical industrial complex”.

In 2011, in the article Four phrases that make Pinocchio’s nose grow, the Uruguayan journalist and writer Eduardo Galeano also notes the support of industry sectors in this reversal of environmental efforts – although, at that time, not referring to the phenomenon of populism. Galeano reminds us that of the ten largest seed producing companies in the  world, six manufacture pesticides (Sandoz-Ciba-Geigy, Dekalb, Pfizer, Upjohn, Shell, ICI).  “The chemical industry has no masochistic tendencies”, writes the Uruguayan. He says: “The recovery of the planet or of what is left of it implies the denouncing of the impunity of money, and human freedom. Neutral ecology, which rather resembles gardening, becomes an accomplice to the injustice of a world where healthy food, clean water, clean air and silence are not everyone’s rights – but rather the privileges of the few who can pay for them”.

The relationship between class and the environmental crisis, highlighted by Galeano in this section, has been gaining more attention in the last decade. This is a factor that Mendel didn’t overlook, due to the time-spatial diversity among the ones portrayed by him, people who – even belonging to the same country, but in different regions – will have different conditions to deal with the damage caused by the floods and the reconstruction of their lives.

In a report released by the United Nations Department of Economic and Social Affairs (DESA-UN), social inequality (not only economic, but also of political power) and the climate crisis are interconnected – mainly – by three factors: the exposure of disadvantaged groups to “adverse effects of climate change”; the susceptibility of disadvantaged groups to damage caused by climatic hazards; and the relative ability of these groups to cope and recover from the damage they suffer. In the case of floods, for example, disadvantaged groups are more likely to live in areas prone to flooding, however, they have less economic and political power to recover from the damage caused by the floods and/or to collect compensation from the State.

“We live in capitalism. Its power seems inescapable. So did the divine right of kings. Any human power can be resisted and changed by human beings. Resistance and change often begin in art”, said the late writer Ursula K. Le Guin in 2014, at the age of 84. Regarding Le Guin’s speech, Mendel confesses: “I would be very happy to agree, I wish I could agree, but I am bleak for the future”. Despite this, he also notes that he might be surprised. “Coming of age in South Africa, in the late 1980s, I would have never imagened that Apartheid would have come down, it was completeley incomsiveble, so one can be surprised of how things change”.

Photo from the "Fire" series, by Gideon Mendel
“I’ve had fires get away on me in the early years. This was a monster; it was racing as fast as my van would go… I don’t have one photo to show them what their grandmother looked like. I’m hoping my siblings might have some. I don’t have photos of my childhood or anything I’ve done as a teenager. It’s like I’ve never existed”, says Anthony Montagner. In the photo from the “Fire” series, Anthony is with his family, his wife Fina and their children Christian (9) and Dylan (6), where used to be their home, now completely blown down by the flames. Upper Brogo, Australia, 18 January, 2020.

The hopelessness in his speech is put to the test, however, by the continuity of his projects, which according to the photographer are established in a pyramid sustained between documentary, art, and activism. “With Drowning World, it has always been a debate: when do we finish? Can I finish? In what point is complete? And that is a question I haven’t quite resolved for myself because there’s always more to do”. Mendel also plans to continue the Fire project, which covers another facet of climate disaster driven by human action. For his next venture with Fire, the photographer plans to raise funds to finance a return to California, where he photographed in 2018, and to Brazil, to document the consequences of the burning of the Pantanal.

With Drowning World, it has always been a debate when do we finish? Can I finish? And at what point? In what point is complete? And that is a question I haven’t quite resolved for myself because there’s always more to do.

Besides continuing these two works, he studies the possibility of making an unprecedented production based on his family history. His parents were German Jews who found refuge in South Africa. His paternal grandmother also tried to leave Germany but ended up failing. The photographer’s father kept the documents that had been prepared for his mother’s coming, however. To this, Mendel adds correspondences and albums made by his grandmother, who studied photography in Berlin from 1915 to 1917. “I’ve been sitting with this work for so many years, and I’ve always resisted it, but the time’s come to try. Maybe I had to wait for my mother to die, she died two years ago. The problem is this is not a unique story, many families have been hurt by migrations, the question is how do I make it, what do I bring to it”. It remains to follow his course to know.

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*Modifications were made to the article for clarity.

Espaços de arte autônomos criam fundo colaborativo para artistas

Fundo Colaborativo
Arte de divulgação da iniciativa. Foto: Divulgação
Fundo Colaborativo
Imagem de divulgação da iniciativa. Foto: Divulgação

Em um momento de profunda crise no Brasil, alguns dos mais atuantes espaços independentes de arte do país se reuniram para conceber o Fundo Colaborativo para Artistas e Criadores. Desenvolvido a partir do FunColab, iniciativa do Solar dos Abacaxis (Rio de Janeiro) lançada em 2020, o Fundo Colaborativo reúne, alem do espaço carioca, a Casa do Povo (São Paulo), o Chão SLZ (São Luís), a Galeria Maumau (Recife), o JA.CA (Belo Horizonte) e o Pivô (São Paulo).

Com o objetivo de captar doações e distribuí-las para artistas e profissionais das artes de todo o país, o projeto tem como primeira inciativa uma ação intitulada BROTAR. Nela, cada participante, após receber um fomento no valor de R$ 800, é convidado a compartilhar suas práticas e pesquisas por meio das redes sociais do Fundo Colaborativo e, na sequência, indicar um próximo profissional para também receber recursos. Os primeiros nomes anunciados foram os da artista cearense Linga Acácio e do artista maranhense Layo Bulhão. Mais quatro participantes serão anunciados nos próximos dias.

“Dessa forma, sucessivamente, elabora-se uma corrente de apoio de cuidado que se desdobra em ciclos de seis participantes. Dessa maneira, os próprios artistas são responsáveis pela criação dessa rede, que, nesse primeiro ato, apoiará um total de 36 artistas”, explica o texto de divulgação do projeto.

Fundo Colaborativo
“Terra posithiva”, 2020, performance de Linga Acácio. Artista cearense, Linga pesquisa, escreve e produz conhecimentos que se atravessam nos campos da performance, interseccionalidade, dissidência de gênero e travestilidade, HIV+, contaminações entre corpo e espaço e estratégias anticoloniais. Foto: Divulgação.

Segundo as instituições envolvidas, “a iniciativa surge com a intenção de estimular a continuidade de processos criativos por meio de diversas vias de incentivo a artistas e profissionais das artes de todo o Brasil”. “Diante da grave escassez de recursos e da atualmente constante ruptura dos laços institucionais que visam a ordem democrática, criar redes de apoio mútuo e promover suas continuidades são formas de preservar as vidas de quem constrói a cultura compartilhada com o seu próprio fazer artístico. E neste momento de grave crise econômica intensificada tanto pela pandemia de Covid-19 quanto pelo total descaso governamental e sua falta de políticas públicas nacionais, a criação de redes de apoio sistêmicas torna-se cada vez mais urgente.”

Segundo Bernardo Mosqueira, diretor do Solar dos Abacaxis, a intenção do Fundo Colaborativo a partir desta primeira ação é alcançar outras parcerias. “Estamos abertos e desejantes por apoios individuais, de empresas, e institutos tanto do Brasil quanto do exterior. Pra gente é muito importante que cada campanha de distribuição de recurso seja acompanhada por uma campanha de arrecadação de recursos para que possamos dar sempre movimento a esse fundo e às nossas atividades”, diz ele. Paralelamente ao BROTAR, o Fundo Colaborativo lançou uma campanha de doações online (veja aqui).