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Bienalsur tem chamadas abertas para quarta edição

Imagem: Divulgação Bienalsur.
Imagem: Divulgação Bienalsur.

Até 27 de maio, artistas e curadores podem submeter trabalhos e/ou projetos curatoriais de pesquisa para integrar a programação da Bienalsur – Bienal Internacional de Arte Contemporânea do Sul. Todo o processo de candidatura é gratuito.

A Bienalsur tem entre seus propósitos contribuir desde o sul do mundo na criação de uma cidadania cultural. Seu formato particular e seu funcionamento colaborativo garantem que a arte de cada região não seja integrada ao cenário internacional como mera cota de diversidade, mas sim que se apresente em pé de igualdade com base em suas singularidades e posições relativas.

Como funciona a Chamada Aberta?

É possível se inscrever em 4 categorias diferentes: artista individual, artista de grupo, curador individual e curador de grupo. Para cada uma dessas categorias você pode fazer uma única apresentação.

A organização do evento disponibiliza um manual de instruções onde pode ser encontrado um guia passo a passo que orientará o participante no upload das informações necessárias. A plataforma permite que você salve e corrija suas aplicações quantas vezes quiser antes de enviá-los.

Terminado o período de inscrição, o conselho curador da Bienalsur avaliará as propostas que poderão seguir para a segunda etapa da seleção. A passagem para a segunda etapa da chamada não implica automaticamente a participação na Bienalsur 2023, mas reflete o interesse do conselho pela proposta apresentada e a possibilidade de acessar a segunda etapa de avaliação, a partir da qual os projetos que comporão a quarta surgirá edição da Bienalsur.

Com base em todos os projetos apresentados, o conselho curatorial da Bienalsur avaliará e buscará padrões comuns a partir dos quais serão traçados os eixos curatoriais que cruzarão a próxima edição. 

Alguns dos Eixos Curatoriais das edições anteriores foram: Consciência Ecológica, Modos de Habitar, Políticas de Arte, Trânsitos e Migrações, Constelações Fluidas, Questões de Gênero, Memórias e Esquecimentos e Modos de Ver, entre outros. O fato de esses temas terem emergido das chamadas abertas internacionais de edições anteriores não impede que reapareçam, se isso for revelado pelo conjunto de propostas coletadas para a Bienalsur 2023.

Saiba mais no site da Bienalsur, clique aqui.

ARCOlisboa retoma atividades presenciais

Cordoaria Nacional recebe a ARCOlisboa. Foto: Divulgação
ARCOlisboa 2022 acontece entre 19 e 22 de maio Cordoaria Nacional, em Lisboa (Portugal). Foto: Divulgação

Reunindo 65 galerias de 14 países, a ARCOlisboa retorna ao formato presencial neste mês. A feira organizada pela IFEMA MADRID e pela Câmara Municipal de Lisboa, celebra o seu quinto aniversário representando o momento de reencontro físico com a arte contemporânea na capital portuguesa. O evento acontece de 19 a 22 de maio na Cordoaria Nacional e os conteúdos dos expositores também podem ser vistos de forma virtual pela plataforma ARCO E-XHIBITIONS

Neste ano, a curadoria se divide em três núcleos: Programa Geral, África em Foco e Opening Lisboa. O primeiro, dedicado a um espectro mais amplo de expositores, reúne 42 galerias. Apesar do número, poucos países compõe esse núcleo; de forma geral, a feira mantém seu foco num amplo diálogo do cenário português com a arte europeia. Dentre as galerias selecionadas pelo comitê da organização estão três austríacas, 19 espanholas – sendo uma delas a Zielinksy, que conta também com sede em Porto Alegre, no Brasil -, 18 portuguesas – dentre as quais a Kubikgallery, que tem uma sede em São Paulo -, uma do Reino Unido e uma uruguaia. 

O programa África em Foco, por sua vez, volta a sua atenção à investigação da arte contemporânea do continente africano e de suas diásporas. Com curadoria de Paula Nascimento, será formado por oito galerias, com presenças de África do Sul, Angola, Moçambique, Uganda e de galerias europeias. Ao contrário do que se poderia pensar, o núcleo não ocupa um espaço específico e segregado na feira, mas é composto de estandes individuais espalhados em toda a extensão do evento. Os temas de trabalho vão das políticas de identidade à análise das histórias africanas (histórias pessoais e coletivas) em uma variedade de materiais, suportes e estilos. 

Como já é habitual, a Opening Lisboa demonstra interesse nas novas galerias que, “pelo seu curto trajeto ou pelas novidades que trazem ao contexto português, apresentam propostas interessantes e permitem descobrir outros criadores”, aponta a organização da ARCOlisboa em comunicação oficial. Com seleção feita por Chus Martínez e Luiza Teixeira de Freitas, a seção reúne 13 expositores. A presença europeia ocidental ainda se destaca, com suas 10 participações entre expositores belgas, espanhóis, franceses e portugueses, mas também será possível acompanhar as participações asiática – a partir do estande da Delgosha, do Irã -, latino-americana – representada pela brasileira Verve – e da Europa Oriental – pela presença da galeria ArtBeat da Geórgia.  

Para além dos estandes

Promovendo debates e reflexões sobre o mundo das artes contemporâneas, a ARCOlisboa apresenta o Millenium ArtTalks. Organizado pela EGEAC e pela curadoria de Filipa Oliveira, o programa é aberto ao público e oferece um conjunto de conversas com especialistas sobre diversas temáticas, tendo as práticas institucionais e as práticas dos artistas como principais eixos discursivos. Nesta edição, participam artistas e profissionais como Tobi Maier, Diogo Evangelista, Bernardo Mosqueira, Luis Silva, Margarida Mendes, Paula Nascimento, Tho Simões, Pauline Foessel, Sabrina Amrani, Adelaide Duarte, Luís Ferreira, Mário Teixeira da Silva e Teresa Kutala Firmino. Confira a programação completa no site da feira

O ArtsLibris também retoma atividades nesta edição da ARCOlisboa. Com 31 expositores nacionais e internacionais, o espaço especializado em publicações de artistas, fotolivros, pensamento contemporâneo, autoedição e publicações digitais, se estabelece no Torreão Nascente da Cordoaria com entrada gratuita ao público. Em paralelo, o programa desenvolve o Speakers’ Corner, programa que promoverá um ciclo de apresentações e debates focados no estado atual das publicações de arte.

Como novidade, a edição 2022 desenvolve ainda um Programa Internacional de Colecionadores, que inclui visitas exclusivas a instituições e coleções privadas, assim como acesso privilegiado à feira. 

Buscando promover o acesso a um maior número de visitantes, o preço geral da entrada será de 15 euros e de 5 euros para estudantes. Além disso, como novidade, no sábado (21), a partir das 17h, o acesso será gratuito para os jovens entre os 18 e os 25 anos.

Frieze New York: confira as galerias brasileiras participantes

"Our voltaic room" (2022), de Rebecca Sharp, que será exibida na Frieze New York. Foto: Sara Way. Cortesia da Sé e da artista.

A Frieze New York, uma das mais importantes feiras de arte do circuito internacional, acontece a partir do dia 19 de maio no The Shed, em Nova York, e online pelo viewing room do evento. As galerias brasileiras Fortes D’Aloia & Gabriel, Jaqueline Martins, Luisa Strina, Marilia Razuk, Mendes Wood DM e Sé estarão na feira com o apoio do Projeto Latitude, uma parceria da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

Para a Frieze New York, a Fortes D’Aloia & Gabriel trará exposição Pulse, criada especialmente para o evento e que investiga as múltiplas facetas do desejo. Efrain Almeida, Leda Catunda, Jac Leirner, Rivane Neuenschwander, Janaina Tschäpe e Yuli Yamagata estão entre os artistas brasileiros que produziram novas obras para a ocasião. A galeria traz ainda trabalhos de Alair Gomes, Sergej Jensen, Robert Mapplethorpe, Ernesto Neto, Adriana Varejão e Bárbara Wagner & Benjamin de Burca.

Já as galerias Marilia Razuk e Jaqueline Martins apresentarão De uma vez: provocação e reflexão, um diálogo inédito entre os brasileiros José Leonilson (1957-1993) e Hudinilson Jr. (1957-2013); destacando como suas documentações artísticas, tanto em diários quanto em fotografias, convergiram para grandes questões que marcaram profundamente sua geração: a liberdade sexual e a tragédia da pandemia do HIV.

A Mendes Wood DM exibirá uma seleção de destaques enfatizando uma recontextualização do Sul Global. Serão expostos trabalhos de Solange Pessoa, Paulo Nimer Pjota, Paulo Nazareth, Paulo Monteiro, Daniel Steegmann Mangrané, Mariana Castillo Deball, Kisho Suga e Anna Bella Geiger, Guglielmo Castelli, Alvaro Barrington, Paula Siebra e Mimi Lauter.

A Sé Galeria, que participa do evento na seção Frame (voltada a espaços jovens e talentos emergentes), levará o trabalho de Rebecca Sharp, artista brasileira radicada nos Estados Unidos, que apresenta uma série de novas pinturas e esculturas explorando o imaginário surrealista.

Já A Gentil Carioca participa da Independent Art Fair, outro evento que ocorre em Nova York no mês de maio de forma híbrida, com a primeira mostra solo internacional de Vinicius Gerheim. Encerrada no último dia 8, a feira segue com online viewing room até o dia 31. A galeria Gomide & Co também se dedicou a outro evento, a TEFAF New York – que esteve aberta a público até o dia 10 de maio -, na qual exibiu uma seleção de trabalhos de artistas como Mira Schendel, Hélio Oiticica, Ivan Serpa, Lygia Clark, Lygia Pape, Willys de Castro e Sergio Camargo. 

SERVIÇO

Quando: 19 a 22 de maio.
Onde: The Shed (545 West 30th Street, Nova York)
Online: Clique aqui
Ingressos:
Primeira prévia na quinta-feira, US$200;  Sexta-feira, US$ 155 antes das 14h, US$ 125 admissão geral;  Sábado e domingo, US$ 65 admissão geral, US$ 35 estudantes e jovens de 13 a 18 anos, US$ 5 crianças até 12 anos.

Mais informações no site da Frieze, clique aqui.

Vermelho abre individuais de Robbio e Banfi

Exposição Take 3, de Chiara Banfi, na Galeria Vermelho. Foto: Divulgação.
Exposição Take 3, de Chiara Banfi, na Galeria Vermelho. Foto: Divulgação.

A Vermelho abre neste sábado (14/5), em São Paulo, duas individuais: o argentino Nicolás Robbio (Mar del Plata, 1975) apresenta Onde cabe o olho, sua nona exposição na galeria; e Chiara Banfi (São Paulo, 1979) inaugura Take 3, sua sétima individual na casa. Ambas ficam em cartaz até 11 de junho e marcam os 20 anos de atividades da galeria paulistana, a serem comemorados no dia 17 de maio.

Robbio vai ocupar as salas 1 e 2 e o hall de entrada da Vermelho com uma “obra-ocupação”, em que propõe um exercício de subversão dos percursos do espaço. Em texto para a mostra, a curadora Clarisa Appendino questiona: “Tampinhas, elásticos, pérolas de fantasia, confetes, alfinetes, arruelas, bancos, fósforos… de onde vêm estes elementos que, como moedas no chão, recolhemos com o olhar durante o percurso? Embora seja uma pergunta válida, a resposta é evidente. Então, o que nos interessa não é somente a origem destes objetos, mas sim seu trajeto e o deslocamento que destinou os pequenos elementos a suspender seu ofício cotidiano para notar uma mancha acidental de verniz”.

Representado pela Vermelho desde a criação da galeria, o artista argentino vive e trabalha entre São Paulo e Buenos Aires. É graduado pela Escuela Superior de Artes Visuales Martin A. Malharro (1999). Além das individuais na galeria paulistana, Robbio realizou exposições como Testigo fantasma (Museu Sivori, Buenos Aires, 2019); Ejercicios de resistência (La Casa Encendida, Madri, 2017); Plano Expandido: questões ao traçar uma linha (Sesc Pompéia, São Paulo, 2016), Observações de uma realidade sincopada (Museu da Cidade, Lisboa, 2015) e Every Body Knows (Galerie Invaliden, Berlin, 2013), entre outras.

Na sala 3, Chiara Banfi traz dois desdobramentos de sua pesquisa sobre o som, a materialidade e as simbologias existentes em instrumentos, partituras musicais e LPs. Em Elza (2012-2022), discos de vinil prensados com resíduos de vinis e polímeros coloridos criam 100 discos-pintura únicos, com uma gravação inédita de Elza Soares cantando Aquarela do Brasil, de Ary Barroso. Em 2012, Elza gravou três takes da canção para o disco Sonzeira – Brasil Bam Bam Bam. A gravação que Banfi apresentada é a “take 3”, então considerada visceral e emocional demais pelos produtores para o projeto. As gravações que integram Elza e Cases poderão ser ouvidas pelo visitante na sala 3 da Vermelho. Já em Cases (2022), a artista criou estojos especialmente para emoldurar LPs que trazem sons de fogo e de rios, em cada um de seus lados.

Chiara vive e trabalha no Rio. Formada em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, em 2003, a artista já realizou, além das individuais na Vermelho, mostras como Lugar para estar (GaleryRio, Nantes, França, 2010) e Firehouse (De Vleeshal, Middelburg, Holanda, 2005). Também participou de coletivas no Toyota Municipal Museum of Art (Aichi, Japão, 2008), no Instituto Itaú Cultural (São Paulo, 2008), na Fondation Cartier (Paris, França, 2005) e no Museum of Contemporary Art San Diego (San Diego, EUA), entre outras instituições nacionais e internacionais.

SERVIÇO

Nicolás Robbio – Onde cabe o olho

Chiara Banfi – Take 3

Galeria Vermelho: R. Minas Gerais, 350, São Paulo (SP)

Visitação: 14 de maio a 11 de junho de 2022

Horário: Terça-feira a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, das 11h às 17h

Walter Firmo: Uma apologia da imagem

Vista da exposição “No verbo do Silêncio a Síntese do Grito”, no IMS Paulista. Foto: Helio Campos Mello.
Vista da exposição “No verbo do Silêncio a Síntese do Grito”, no IMS Paulista. Foto: Helio Campos Mello.

Em 1957 um jovem com sua Rolleiflex começou a trabalhar no jornal Última Hora no Rio de Janeiro. Mais de sessenta anos depois e com um acervo de 140 mil fotografias, Walter Firmo – que aos 84 anos continua fotografando, mas de uma forma mais livre, com o olhar solto em seu andar pelas cidades – é sem dúvida um dos nomes fundamentais da fotografia brasileira.

O fotógrafo Walter Firmo. Foto: Helio Campos Mello.
O fotógrafo Walter Firmo. Foto: Helio Campos Mello.

Nascido em 1937 no subúrbio carioca de pais paraenses, pai negro e mãe branca, Walter Firmo, segundo Sérgio Burgi, curador e coordenador de fotografia do IMS: “Construiu a poética e a poesia de seu olhar voltado principalmente para a elaboração de um registro amplo e generoso da população negra e suburbana da cidade, olhar que estenderia em seguida para a população negra de todo o país, em suas lidas cotidianas, religiosidades, festas e múltiplas manifestações culturais, verdadeira ode à integridade, altivez, força, resiliência e resistência das pessoas negras, desejo permanente de justiça num país que insiste em permanecer estruturalmente estamental e segregacionista”. Trabalhou em vários jornais e revistas como o já citado Última Hora, Jornal do Brasil, revista Manchete, Realidade. Foi diretor do Instituto Nacional da Fotografia de 1986 a 1991, publicou livros e ganhou prêmios, como o Prêmio Esso de Fotografia em 1963. 

O fotógrafo que, parafraseando outro fotógrafo o Ricardo Chaves, o Kadão, por meio de suas fotografias “abriu uma porta para o Brasil de verdade”. Um fotógrafo que correu o Brasil retratando a cultura popular, trazendo as cores e o pb, de um país que ele registrou sob muitos aspectos, esportes, política, mas acima de tudo gente. Sempre com um olhar que como ele mesmo conta não queria apresentar “o jornalismo da fratura exposta”, da dor, da notícia, mas a busca por sutilezas, por um aspecto não tão evidente à primeira vista.

Começou fotografando em preto e branco, a única linguagem possível para o fotojornalismo naquela época. Anos mais tarde conhece a cor, nas revistas Manchete e Realidade. Passa a ser reconhecido como um fotógrafo colorista, mas ele sabe muito bem como fazer uso dessas estéticas tão diferentes: “a cor é a fala da paixão, o preto e branco é uma foto mais silenciosa”.

Foi neste mar de imagens que os responsáveis pela exposição – curadores Sérgio Burgi, a curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Grupo de Pesquisa Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra, e com a assistência de curadoria da conservadora-restauradora Alessandra Coutinho Campos e pesquisa biográfica e documental de Andrea Wanderley (integrantes da Coordenadoria de Fotografia do IMS) – mergulharam durante dois anos para extrair 266 fotografias que o IMS apresenta na exposição No Verbo do silêncio a síntese do grito: “Esse tempo foi necessário para entendermos tudo o que Walter Firmo havia produzido, tanto do ponto de vista profissional como de seu trabalho pessoal que acabam se misturando”, conta Burgi. Após essa análise um eixo principal acabou surgindo que foi a sua produção sobre a população negra e as raízes africanas. Foi em 1968, trabalhando nos Estados Unidos que Walter Firmo teve contato com os movimentos negros e a luta pelos direitos civis. Este encontro marcou profundamente sua fotografia. 

O título foi pinçado de um texto que o próprio Walter Firmo escreveu em 1998. Ao ser perguntado sobre a frase ele responde: “O verbo do silêncio é a própria fotografia. Que você se encanta e quer traduzir através do seu sentimento e inteligência o que está na sua frente. A síntese do grito é o registro”.

Em dois andares do Instituo Moreira Salles, Walter Firmo passeia por suas fotografias: “Entro em conversa espiritual com estes personagens que eu fotografei. Eles são os meus totens”. São as fotografias entre tantas de artistas como Pixinguinha, Cartola, Clementina de Jesus, Madame Satã, Artur Bispo do Rosário, que se misturam com as fotos de seus familiares: “Falar somente em auto representação é limitador quando falamos do Walter Firmo”, reflete a profa. Janaina Damaceno Gomes, curadora adjunta: “as fotos do Walter constroem um direito básico que é fundamental que é o direito de olhar, não só porque você se representa, mas porque você também tem direito de olhar o mundo”.

E é olhando o mundo que Walter Firmo, o sedutor das palavras e o sedutor das imagens, nos lembra em uma frase estampada na exposição: “A imagem não pode ser neutra. O poder do olhar deve influenciar as pessoas, porque o ato de fotografar tem que ser político, e não um mero acaso do instantâneo”.

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Individual de Xadalu em Porto Alegre aborda o apagamento da cultura indígena

Obra de Xadalu exposta na Fundação Iberê Camargo
Vista da exposição "Antes que se apague: territórios flutuantes" na Fundação Iberê Camargo. Foto: José Antonio Kalil / Reprodução

“Área Indígena”, lê-se nos lembretes espalhados pelas ruas da capital gaúcha. Os lambes, cartazes, pinturas e bandeiras em que essa frase se grafa são de autoria de Xadalu Tupã Jekupé, artista mestiço de origem Guarani Mbyá. Frente a um silenciamento da presença indígena na região oeste do Rio Grande do Sul, onde diversas etnias foram dizimadas, os trabalhos reivindicam o direito ao território e o reocupam simbolicamente. No próximo dia 14 de maio, essa reflexão chega à Fundação Iberê Camargo com Antes que se apague: territórios flutuantes, individual de Xadalu. Reunindo 19 obras – dentre as quais 14 inéditas -, a mostra retoma as memórias da infância do artista, bem como de sua mãe, de sua avó e de sua bisavó, na antiga Terra Indígena Ararenguá, na beira do Rio Ibirapuitã, em Alegrete.

“O trabalho de Xadalu nos abre uma perspectiva da história a partir da visão dos que perderam as batalhas. Não apenas a Guerra Guaranítica, mas também as pequenas batalhas cotidianas, aquelas que silenciosamente vão sendo travadas e talvez nem sejam percebidas como uma batalha por quem venceu”, destaca o curador. Para ele, os trabalhos contribuem para que outro modo de vida ganhe visibilidade e possa se tornar possível.

E se a mostra busca trazer essas outras cosmovisões e cosmologias (frequentemente apagadas), também é nelas que buscou se construir. Em bate-papo organizado pelo Instituto Ling em parceria com a Fundação Iberê, artista e curador compartilharam um pouco sobre o processo de Antes que se apague: territórios flutuantes e destacaram a participação da comunidade guarani na feitura dos trabalhos. Contaram ainda que durante o processo de elaboração da mostra, Xadalu levou Cauê à aldeia guarani em Porto Alegre, “foi muito mágico aquelas tardes que a gente ficou juntos e a gente foi lá na aldeia, e em volta do fogo pode conversar da vida como arte – e não da arte como vida”, explica o artista.

SERVIÇO

Antes que se apague: territórios flutuantes
Fundação Iberê Camargo: Av. Padre Cacique, 2000 – Bairro Cristal, Porto Alegre (RS)
Visitação: 14 de maio a 31 de julho de 2022
Horário: Quinta a domingo, das 14h às 18h

“Muleta” burocrática para censura no Masp é metástase do autoritarismo

Fotografia de Edgar Kanaykõ Xakriabá que integraria a exposição coletiva da série
Fotografia de Edgar Kanaykõ Xakriabá que integraria a exposição coletiva da série "Histórias Brasileiras", cancelada pelo Masp. Foto: Cortesia do artista

*Alguns dias após a publicação deste artigo, Sandra Benites, curadora adjunta do Masp e primeira profissional indígena na curadoria de um museu brasileiro, pediu demissão. “Não faz sentido que eu continue sem poder ampliar o debate”, declarou Sandra à Folha de São Paulo. Leia a seguir o artigo de Jotabê Medeiros.

O Museu de Arte de São Paulo. Foto: Marcelo Valente.
O Museu de Arte de São Paulo. Foto: Marcelo Valente.

O que é fundamental na concepção de um museu moderno? A preservação dos cânones burocráticos e administrativos ou a criação de novas instâncias ágeis o suficiente para o acompanhamento da realidade, do tempo presente, das demandas urgentes? O Museu de Arte de São Paulo (Masp) parece viver aguda e esquizofrenicamente essa questão.

Em poucos dias, o museu foi denunciado em público por dois casos de “censura burocrática”, expressão que talvez seja um eufemismo mal ajambrado para descrever o que de fato se passou. Há alguns dias, o museu decretou a suspensão de uma exposição coletiva da série Histórias Brasileiras, que abriria em julho, por conta da declarada impossibilidade (para não dizer a real: a falta de vontade) de exibir uma série de fotos sobre o Movimento Sem Terra (MST). Antes disso, em fevereiro, o museu foi denunciado por cancelar quase de véspera o lançamento de um livro de Guilherme Boulos, liderança do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

A exposição cancelada tinha a curadoria de duas profissionais experientes e com alto nível de consciência política: Sandra Benites, a primeira indígena a se tornar curadora-adjunta  do museu, e a crítica e ensaísta Clarissa Diniz, que foi assistente de Paulo Herkenhoff. O argumento para o cancelamento foi a falta de tempo hábil para a contratação e cessão do material fotográfico a ser exibido (curiosamente, justo o recorte mais incômodo para os atuais ocupantes do poder).

Avisadas da suspensão de parte do seu núcleo por “problemas de cronograma”, as curadoras resolveram cancelar toda a exposição. Elas dizem não ter sido avisadas, nem pela produção nem pela curadoria do museu, sobre o suposto prazo que teriam descumprido (leia o esclarecimento oficial publicado pelas curadoras). O Masp, por seu lado, informou que os prazos constavam em contrato. Conforme nota oficial do museu, a instituição afirma que buscou flexibilizar os prazos para solicitação de empréstimo de obras bem como seus licenciamentos, limitados a seis meses (para instituições nacionais) e quatro meses (para galerias e coleções particulares nacionais), e aceitou um pedido de inclusão de cartazes e documentos do acervo do MST, “o que descarta a hipótese de censura”.

Mas não é assim que as curadoras enxergam a decisão. “Impedidas de levar adiante nosso acordo com o Movimento Sem Terra, seus fotógrafos (João Zinclar e André Vilaron) e Edgar Kanaykõ como sanção a um erro que sabemos não ter cometido, sentimo-nos desrespeitadas, injustiçadas e instadas, em consequência de tal decisão, a trair a confiança deste que não é só o maior movimento social do Brasil, como também é a coluna vertebral do Retomadas“, escreveram as curadoras em um comunicado privado (endereçado primordialmente a artistas, ativistas, cineastas, fotógrafos, movimentos sociais, carnavalescos, escritores, atrizes, linguistas, colecionadores, instituições e universidades que integraram ou se juntaram de algum modo ao projeto).

“Aceitar a exclusão das imagens das retomadas em nome da permanência do núcleo nos levaria a ser desleais com os sujeitos e movimentos envolvidos na nossa curadoria – contradição que não estamos dispostas a negociar por não concordar com tamanha irresponsabilidade”, prosseguiram. Indagada na semana passada pela reportagem da arte!brasileiros sobre se a decisão do Masp não configura censura, a curadora Clarissa Diniz declarou: “Eu acho que impedir a representação completa das Retomadas é, em si, uma posição política”.

Ato contínuo, o Museu de Arte de São Paulo retirou de seu site oficial os nomes de Sandra Benites e Clarissa Diniz da sinopse da série Histórias Brasileiras, alertando que prossegue o programa com outros sete núcleos. O segmento é definido da seguinte forma: “A perspectiva privilegiada não é tanto a da história da arte, mas a das histórias sociais ou políticas, íntimas ou privadas, dos costumes e do cotidiano, a partir da cultura visual. Nesse sentido, a mostra tem também um caráter mais polifônico e fragmentado, fugindo de uma decisão definitiva, canônica ou totalizante”.

Ou seja: a decisão do cancelamento parece ser a negação de todo esse princípio. A sequência desses fatos no Masp é indicativa de um surto perigoso. Asfixiados pela burocracia do governo federal (que por sua vez tem um propósito único e assumido: o da perseguição política e ideológica), os museus brasileiros parecem não atentar para o fato de que não são propriedade de um establishment político, mas abrigam o próprio conceito de Nação.

Para negar a cessão de seu auditório a quatro dias do lançamento do livro Sem Medo do Futuro (Editora Contracorrrente), de autoria de Guilherme Boulos (PSOL-SP), que é pré-candidato a deputado federal, o Masp alegou que seu estatuto proíbe a realização de “manifestações de caráter político e/ou religioso”. Ora, toda a arte de seu acervo (adquirido, diga-se, com recursos públicos, no momento em que foi salvo de sequestro judicial por intervenção do então presidente Juscelino Kubitscheck) é de algum modo política, social ou religiosa, desde A Tentação de Santo Antão, de Hieronymus Bosch, do século 15, passando por Renoir, Toulouse-Lautrec, Modigliani e Manet. Embora ressalte que não há ligação entre a suspensão da exposição Retomadas com o veto ao lançamento de Boulos, é impossível não relacioná-los.

Essa metástase de uma censura escorada em argumentos burocráticos, de frágil argumentação teórica e legal, se espalha rápida e preocupantemente desde o poder central do Brasil. Em dezembro, o Museu da República mandou interromper o trabalho de catalogação e preparação da Coleção Nosso Sagrado, um acervo secular composto por 519 peças de arte afrobrasileira que ficou mais de um século sob a guarda da polícia do Rio de Janeiro (criminalizado devido à intolerância religiosa e racial). A ordem de interromper o trabalho e “engavetar” todo o material veio do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão do governo federal, e partiu de um extremista religioso que ocupa cargo de relevo na alta burocracia dos museus.

É preciso lembrar a essas instituições que o alinhamento circunstancial e oportunista de um museu a um ideário de plantão, mesmo que seja por motivos de saúde financeira, tem custos definitivos. A presença do museu na sociedade é estruturante, tem repercussões de natureza formativa, educativa, emancipadora.

SAIBA MAIS: leia nota assinada pelo Acervo João Zinclar, o Coletivo de Arquivo e Memória do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Clique aqui

National Gallery e Guggenheim buscam se desvincular do nome Sackler

A National Gallery de Londres. Foto: Diego Delso/Wikimedia Commons.
A National Gallery de Londres. Foto: Diego Delso/Wikimedia Commons.

Em anúncio feito nesta segunda-feira, 9 de maio, a National Gallery de Londres anunciou a retirada do nome da família Sackler de seus salões. Em comunicado conjunto com a Dr Mortimer and Theresa Sackler Foundation – a instituição de caridade da família no Reino Unido –, a instituição afirma que ambas as partes “concordaram que, após 30 anos, a nomeação da Sala 34 como a Galeria Sackler deveria chegar ao fim”. O movimento do museu segue a crescente demanda para que as instituições se desvinculem dos magnatas farmacêuticos, associados à Purdue Pharma, fabricante do analgésico Oxicodona. Nos últimos anos, os EUA têm vivido uma crise de saúde pública graças ao uso indiscriminado dos opiáceos (família de medicamentos derivados da papoula, dos quais a Oxicodona faz parte). Há, ainda, alegações de que a Purdue Pharma teria ocultado deliberadamente seu potencial de dependência.

Concomitantemente, em Nova York, decisão parecida foi tomada pelo Guggenheim Museum, de forma silenciosa, porém. Durante décadas o museu foi beneficiado com generosas doações dos oligarcas e chegou a honrá-los ao dar seu nome para o Centro de Educação Artística. O site do museu, no entanto, não exibe relação qualquer com os donos da Purdue Pharma.

Antes dos recentes episódios, o grupo Tate, as Serpentine Galleries, o British Museum – todos ingleses -, o Metropolitan Museum of Art de Nova York e o Musée du Louvre, em Paris, já haviam removido a menção ao nome Sackler de suas galerias e edifícios.

Na Inglaterra, a última medida da National Gallery pode aumentar a pressão sobre o Victoria and Albert Museum, que abriu um pátio com o nome dos Sackler em 2017 após uma doação de US$ 9,9 milhões.

Já nos Estados Unidos, um acordo entre os Sackler e o Estado americano – que garantiria à família Sackler imunidade em processos relacionados ao opiáceo – enfrentava oposição de nove procuradores gerais. No começo de março suas objeções foram abandonadas, possibilitando a decisão. Em troca, os Sackler deverão pagar US$ 6 bilhões ao Estado. Alguns críticos ao acordo apontam que, segundo documentos judiciais, a família teria recebido US$ 10 bilhões ao longo dos anos em lucros relativos à Oxicodona, outros apontam que o aporte acordado será logo recuperado pela família e fica aquém do montante de US$ 1 trilhão gasto anualmente pelos EUA com a crise de opiáceos.

“Cartas ao mundo”, exposição-manifesto de Bia Lessa, repensa o mundo a partir de Glauber Rocha

Registro de performance na exposição
Registro de performance na exposição "Cartas ao Mundo" no Sesc Av. Paulista. Foto: Alisson Sbrana

Quem visita o Sesc Avenida Paulista num sábado às 10h, verá uma exposição completamente diferente de alguém que visita o mesmo espaço às 18h. Ambos, porém, estão diantes de Cartas ao Mundo, exposição-manifesto com criação e curadoria da artista Bia Lessa. Calcada na obra do cineasta Glauber Rocha, e no contraste entre distopia e utopia, doença e cura, a mostra se modifica aos olhos dos visitantes, transformando-se a cada hora e criando diferentes ambientes.

Construída como uma instalação, Cartas ao Mundo se estrutura a partir três filmes: Asfixia, Mercadoria O Comum. Em diferentes momentos, cada um dos segmentos videográficos preenche o espaço, com suportes e obras diversas e sendo permeado por performances sequenciais, realizadas por uma dezena de artistas. Nesse processo, temos a experiência de uma miríade de obras de 80 artistas, reunidas com a contribuição especial de Vitor Garcez, Flora Süssekind, Ailton Krenak e Guilherme Wisnik. Aos domingos, o trabalho chega às ruas da Avenida Paulista. “‘Quis/mudar/tudo’: como no poema de Augusto de Campos, esse foi o mote desse projeto. Essa é a meta desse trabalho – o desejo de tomada de consciência e de mudança”, diz Bia Lessa.

arte!brasileiros visitou a mostra e conversou com a curadora Bia Lessa. Assista ao vídeo:

Cartas ao Mundo fica em cartaz no Sesc Avenida Paulista até 29 de maio de 2022 e pode ser visitada gratuitamente mediante apresentação de comprovante vacinal, de terça a sexta, das 12h às 21h, sábados e domingos, das 10h às 18h30. As performances acontecem de terça a sexta, às 19h e 20h30, sábados, domingos e feriados, às 10h, 11h15, 12h30, 14h, 15h30 e 17h15.

5 livros para se aprofundar na trajetória de artistas brasileiros

Obra de Lorenzato, parte do livro homônimo publicado pela Ubu Editora. Foto: Reprodução

As artes visuais são uma área ampla e que se estende muito além dos grandes nomes historicamente legitimados. Entre figuras antes reduzidas a ingênuas, pintores que se debruçam sobre cenários cotidianos e pessoas de Brasis ainda pouco vistos, estão trajetórias e obras que alguns críticos e pesquisadores buscaram ouvir e documentar nos últimos tempos. A arte!brasileiros preparou uma lista com livros lançados recentemente que enfocam a carreira e vida de cinco diferentes artistas do país.

Lorenzato

Entre três e cinco mil pinturas: este é o corpo de obras estimado de Amadeo Luciano Lorenzato. Apesar dos temas e iconografias diversos, o diálogo com a biografia do mineiro e sua relação com a paisagem de Belo Horizonte percorrem toda a trajetória do artista. Organizada pelo curador e crítico de arte Rodrigo Moura, a nova publicação bilíngue da Ubu Editora reúne os principais trabalhos de Lorenzato e ressalta como sua experiência como pintor-decorador o levou a criar uma técnica pictórica original. Isso é perceptível ao lermos como os instrumentos de decoração de paredes eram adaptados e utilizados em seus quadros; ou ao sabermos que a sensação de movimento presente em suas obras é fruto da fusão de cores e texturas obtida ao raspar a tinta sobre a tela repetidas vezes com um pente. No livro, mergulhamos na trajetória de um artista que durante muitos anos esteve limitado a um círculo pequeno de admiradores e foi considerado primitivo e ingênuo, mas que vem conquistando novas audiências nos últimos vinte anos, consolidando seu lugar entre os artistas modernos brasileiros. Saiba mais sobre no site da Ubu Editora.

Silva: um gênio na Coleção Orandi Momesso

Silva também faz parte dos artistas frequentemente categorizados como ingênuos. Pintor, escultor, escritor e repentista autodidata, nasceu em uma fazenda em Sales Oliveira, interior de São Paulo. Em São José do Rio Preto, foi responsável pela fundação do Museu Municipal de Arte Contemporânea (1966), junto com a biblioteca daquela cidade, e, posteriormente, ajudou na criação do Museu de Arte Primitivista “José Antônio da Silva” (1980). Tornou-se uma importante referência na produção artística brasileira, chamando atenção para questões que continuam atuais, como as queimadas, a relação com a natureza e o meio ambiente. Organizado a partir da coleção de Orandi Momesso – que há cerca de 50 anos tem cultivado um olhar sobre a produção artística brasileira – o livro da Via Impressa Edições de Artes apresenta 70 obras da extensa produção de José Antônio da Silva e um amplo trabalho de pesquisa, que inclui documentação inédita disponibilizada pela família do artista. Integram o livro textos da historiadora de arte Ana Paula Nascimento, do poeta Augusto de Campos, de Olívio Tavares de Araújo – responsável pela curadoria da maior exposição de Silva, realizada na Pinacoteca de São Paulo em 1998 -, do artista Paulo Pasta, do crítico de arte Paulo Venancio Filho e do colecionador Orandi Momesso.

Capa do livro ARTE POR UM FIO: ARTHUR BISPO DO ROSARIO
“Arte por um fio: Arthur Bispo do Rosario”, de Solange de Oliveira. Estação Liberdade, 2022 (384p.). Foto: Divulgação
Arte por um fio: Arthur Bispo do Rosário

Arthur Bispo do Rosário sofreu diversas ordens de exclusão: etnia, origem, quadro clínico e posição social. Neste volume, a artista e Doutora em Psicologia Social Solange de Oliveira apresenta um novo estudo sobre o artista sergipano que permaneceu recluso em asilo psiquiátrico cerca de 50 anos de sua vida. “A experiência intramundos de Arthur Bispo do Rosário se desdobrou entre as tradições de sua
localidade natal e a sociabilidade improvisada do Rio de Janeiro, respectivamente, a memória
da origem e a memória do destino”, escreve a autora. O livro busca circunscrever as instâncias de intuição, memória, condição existencial e a forma como se constitui a produção de Bispo do Rosário – criador iletrado artisticamente – e proporcionar um mergulho na história do artista, que “professa uma prece bordada em memória da sua Japaratuba natal, do catolicismo rústico, das tradições artesanais e folguedos populares sergipanos, de um Brasil abolicionista”, como propõe a editora Estação Liberdade no texto de apresentação.

Lucia Laguna

Lucia Laguna pinta a partir do entorno do subúrbio onde mora – o bairro do Rocha, no Rio de Janeiro. A artista opera uma colagem de referências que passam pela história da arte, o jardim de seu ateliê e uma extensa vista da cidade. “Entre a figuração e a abstração, as pinturas reunidas neste livro sussurram a insistência desordenada da vida a partir de flores, folhas e galhos de encontro às linhas urbanas: a linha do trem, a linha do mar, a Linha Vermelha, a Linha Amarela, a Avenida Brasil’, explica o release. Publicado pela editora Cobogó em 2022, o livro Lucia Laguna traça um panorama da carreira da artista em edição bilíngue. Com organização do curador Marcelo Campos, a publicação conta com três textos inéditos: A artista de janelas abertas, no qual o escritor e historiador Luiz Antonio Simas discorre sobre o bairro do Rocha e a influência do subúrbio na obra de Laguna; Em busca do Jardim de Laguna, escrito pela curadora Diane Lima, se debruça sobre a relação da artista com os grandes mestres da pintura, assim como com seu próprio jardim; e A travessia de mundos banais, ensaio em que Marcelo Campos articula elementos fundamentais para compreender a obra da pintora, como a observação do cotidiano, a influência da geografia da cidade, o método, a disciplina e as referências à história da arte. Saiba mais.

Saboneteiras: Ana Elisa Egreja

As saboneteiras saíram da arquitetura e do imaginário afetivo de Ana Elisa Egreja, materializando-se nas telas da artista. Das telas, ganharam as páginas do livro bilíngue Saboneteiras, lançado pela Act. Editora, em parceria com a Galeria Leme. “Pintar banheiros e saboneteiras já fazia parte do meu trabalho. O que eu fiz foi dar um zoom num detalhe que já era presente na minha pintura de interior”, explica Egreja. Materiais e texturas são parte da identidade das obras que buscam, retratando elementos vistos como banais, transportar a memórias e lugares de afeto associados ao ambiente doméstico. “Encontrei nesse microcosmo uma capacidade tão potente quanto numa pintura mais ampla. Foi o que senti quando pintei a primeira saboneteira”, declara a artista. São 31 as saboneteiras estampadas nas páginas da publicação, que conta com quatro opções de capa, prefácio de Jac Leirner, poema de Carola Saavedra, texto crítico de Ann Gallagher, edição de Marina Dias Teixeira e organização de Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes.