adriana varejão
"Mapa de Lopo Homen II", de Adriana Varejão. Foto: Jaime Acioli

Apresentando um amplo panorama da carreira de Adriana Varejão, uma das mais destacadas artistas brasileiras das últimas décadas, a mostra Suturas, fissuras, ruínas ocupa vasto espaço da Pinacoteca do Estado de São Paulo até o início de agosto. Com curadoria de Jochen Volz, diretor-geral da Pinacoteca, a exposição constrói uma narrativa que explicita o olhar reiterado de Varejão para a história da produção visual brasileira, seus diálogos com as tradições iconográficas europeias e com as convenções e códigos materiais do fazer artístico ocidental.

“Sempre acreditei que não há uma versão da história, mas versões, múltiplas e variadas. Ocorre que muitas delas foram perpetuadas. A minha história se baseia em versões às vezes imaginadas, às vezes silenciadas”, explicou a artista em entrevista à Vogue. O olhar de Varejão para esta história, portanto, pode ser visto em mais de 60 obras produzidas de 1985 até os dias de hoje – várias delas mostradas raras vezes no Brasil, já que foram vendidas para o exterior logo após a sua realização. É o caso de Azulejos (1988), primeiro trabalho em que a artista usa como referência um painel de azulejaria portuguesa, encontrado no claustro do Convento de São Francisco, em Salvador.

Seja em esculturas e peças com azulejos ou em pinturas produzidas pela artista ao longo da carreira, as fissuras e suturas – como diz o título – se apresentam em vários trabalhos das mostra. “Desde suas primeiras pinturas barrocas, a superfície da tela nunca é mero suporte; ao contrário, é um elemento essencial da mensagem da pintura. O corte, a rachadura, o talho e a fissura são elementos recorrentes nos trabalhos da artista desde 1992”, diz o texto de apresentação da exposição.

As recorrentes “vísceras” e “carnes” que saltam de uma série de trabalhos de Varejão remetem à violência da história colonial brasileira – e acabam por mostrar um diálogo estreito da artista com alguns dos temas mais atuais tratados na arte contemporânea nacional. “Ela tem essa ideia do que é a arte brasileira e esse olhar cuidadoso para uma história visual que é dominada por um olhar, influência e academicismo europeus, e a partir disso faz a estratégia da paródia”, diz ele. “Está ali inclusive a ideia de antropofagia, da carne, dessa fascinação da ideia de quebrar inclusive alguns tabus. Tudo aparece na obra dela”, diz Volz em entrevista à Folha de S.Paulo.

Para o Octógono, espaço central da Pinacoteca, serão apresentados cinco trabalhos da recente série Ruínas de charque, composta por pinturas tridimensionais de grande escala. Entre elas está Ruína Brasilis (2021), doada pela artista para a coleção da Pinacoteca de São Paulo e que esteve em sua última exposição em Nova York. Nas palavras do curador, “a obra é uma tentativa de resgate das cores da nossa bandeira, que nos últimos tempos se tornou símbolo do que há de mais reacionário e retrógrado no país. (…) A ruína não está ali edificando um projeto glorioso. Ao contrário, é um monumento trágico, que nos revela uma verdade brutal”.

Para saber mais sobre o trabalho da artista, leia aqui matéria de Leonor Amarante sobre a mostra Adriana Varejão – por uma retórica canibal, apresentada em 2019.

SERVIÇO: Adriana Varejão: Suturas, fissuras, ruínas
QUANDO: de 26 de março a 1 de agosto de 2022. De quarta a segunda, das 10h às 18h.
ONDE: Edifício Pinacoteca Luz Praça da Luz 2, São Paulo, SP, 1º andar e Octógono

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