Obra de Lorenzato, parte do livro homônimo publicado pela Ubu Editora. Foto: Reprodução

As artes visuais são uma área ampla e que se estende muito além dos grandes nomes historicamente legitimados. Entre figuras antes reduzidas a ingênuas, pintores que se debruçam sobre cenários cotidianos e pessoas de Brasis ainda pouco vistos, estão trajetórias e obras que alguns críticos e pesquisadores buscaram ouvir e documentar nos últimos tempos. A arte!brasileiros preparou uma lista com livros lançados recentemente que enfocam a carreira e vida de cinco diferentes artistas do país.

Lorenzato

Entre três e cinco mil pinturas: este é o corpo de obras estimado de Amadeo Luciano Lorenzato. Apesar dos temas e iconografias diversos, o diálogo com a biografia do mineiro e sua relação com a paisagem de Belo Horizonte percorrem toda a trajetória do artista. Organizada pelo curador e crítico de arte Rodrigo Moura, a nova publicação bilíngue da Ubu Editora reúne os principais trabalhos de Lorenzato e ressalta como sua experiência como pintor-decorador o levou a criar uma técnica pictórica original. Isso é perceptível ao lermos como os instrumentos de decoração de paredes eram adaptados e utilizados em seus quadros; ou ao sabermos que a sensação de movimento presente em suas obras é fruto da fusão de cores e texturas obtida ao raspar a tinta sobre a tela repetidas vezes com um pente. No livro, mergulhamos na trajetória de um artista que durante muitos anos esteve limitado a um círculo pequeno de admiradores e foi considerado primitivo e ingênuo, mas que vem conquistando novas audiências nos últimos vinte anos, consolidando seu lugar entre os artistas modernos brasileiros. Saiba mais sobre no site da Ubu Editora.

Silva: um gênio na Coleção Orandi Momesso

Silva também faz parte dos artistas frequentemente categorizados como ingênuos. Pintor, escultor, escritor e repentista autodidata, nasceu em uma fazenda em Sales Oliveira, interior de São Paulo. Em São José do Rio Preto, foi responsável pela fundação do Museu Municipal de Arte Contemporânea (1966), junto com a biblioteca daquela cidade, e, posteriormente, ajudou na criação do Museu de Arte Primitivista “José Antônio da Silva” (1980). Tornou-se uma importante referência na produção artística brasileira, chamando atenção para questões que continuam atuais, como as queimadas, a relação com a natureza e o meio ambiente. Organizado a partir da coleção de Orandi Momesso – que há cerca de 50 anos tem cultivado um olhar sobre a produção artística brasileira – o livro da Via Impressa Edições de Artes apresenta 70 obras da extensa produção de José Antônio da Silva e um amplo trabalho de pesquisa, que inclui documentação inédita disponibilizada pela família do artista. Integram o livro textos da historiadora de arte Ana Paula Nascimento, do poeta Augusto de Campos, de Olívio Tavares de Araújo – responsável pela curadoria da maior exposição de Silva, realizada na Pinacoteca de São Paulo em 1998 -, do artista Paulo Pasta, do crítico de arte Paulo Venancio Filho e do colecionador Orandi Momesso.

Capa do livro ARTE POR UM FIO: ARTHUR BISPO DO ROSARIO
“Arte por um fio: Arthur Bispo do Rosario”, de Solange de Oliveira. Estação Liberdade, 2022 (384p.). Foto: Divulgação
Arte por um fio: Arthur Bispo do Rosário

Arthur Bispo do Rosário sofreu diversas ordens de exclusão: etnia, origem, quadro clínico e posição social. Neste volume, a artista e Doutora em Psicologia Social Solange de Oliveira apresenta um novo estudo sobre o artista sergipano que permaneceu recluso em asilo psiquiátrico cerca de 50 anos de sua vida. “A experiência intramundos de Arthur Bispo do Rosário se desdobrou entre as tradições de sua
localidade natal e a sociabilidade improvisada do Rio de Janeiro, respectivamente, a memória
da origem e a memória do destino”, escreve a autora. O livro busca circunscrever as instâncias de intuição, memória, condição existencial e a forma como se constitui a produção de Bispo do Rosário – criador iletrado artisticamente – e proporcionar um mergulho na história do artista, que “professa uma prece bordada em memória da sua Japaratuba natal, do catolicismo rústico, das tradições artesanais e folguedos populares sergipanos, de um Brasil abolicionista”, como propõe a editora Estação Liberdade no texto de apresentação.

Lucia Laguna

Lucia Laguna pinta a partir do entorno do subúrbio onde mora – o bairro do Rocha, no Rio de Janeiro. A artista opera uma colagem de referências que passam pela história da arte, o jardim de seu ateliê e uma extensa vista da cidade. “Entre a figuração e a abstração, as pinturas reunidas neste livro sussurram a insistência desordenada da vida a partir de flores, folhas e galhos de encontro às linhas urbanas: a linha do trem, a linha do mar, a Linha Vermelha, a Linha Amarela, a Avenida Brasil’, explica o release. Publicado pela editora Cobogó em 2022, o livro Lucia Laguna traça um panorama da carreira da artista em edição bilíngue. Com organização do curador Marcelo Campos, a publicação conta com três textos inéditos: A artista de janelas abertas, no qual o escritor e historiador Luiz Antonio Simas discorre sobre o bairro do Rocha e a influência do subúrbio na obra de Laguna; Em busca do Jardim de Laguna, escrito pela curadora Diane Lima, se debruça sobre a relação da artista com os grandes mestres da pintura, assim como com seu próprio jardim; e A travessia de mundos banais, ensaio em que Marcelo Campos articula elementos fundamentais para compreender a obra da pintora, como a observação do cotidiano, a influência da geografia da cidade, o método, a disciplina e as referências à história da arte. Saiba mais.

Saboneteiras: Ana Elisa Egreja

As saboneteiras saíram da arquitetura e do imaginário afetivo de Ana Elisa Egreja, materializando-se nas telas da artista. Das telas, ganharam as páginas do livro bilíngue Saboneteiras, lançado pela Act. Editora, em parceria com a Galeria Leme. “Pintar banheiros e saboneteiras já fazia parte do meu trabalho. O que eu fiz foi dar um zoom num detalhe que já era presente na minha pintura de interior”, explica Egreja. Materiais e texturas são parte da identidade das obras que buscam, retratando elementos vistos como banais, transportar a memórias e lugares de afeto associados ao ambiente doméstico. “Encontrei nesse microcosmo uma capacidade tão potente quanto numa pintura mais ampla. Foi o que senti quando pintei a primeira saboneteira”, declara a artista. São 31 as saboneteiras estampadas nas páginas da publicação, que conta com quatro opções de capa, prefácio de Jac Leirner, poema de Carola Saavedra, texto crítico de Ann Gallagher, edição de Marina Dias Teixeira e organização de Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes.

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