Início Site Página 143

Agenda: confira os destaques da semana 11 a 17 de agosto

Regina Silveira, projeto da obra ‘Infinities’

Regina Silveira: Exit, individual no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE), abertura em 11/8

Com curadoria de Cauê Alves, exposição reúne diversos trabalhos que se relacionam com a noção de labirinto, abordado por Regina Silveira em sua obra desde o início da década de 1970 até sua produção recente. […] Exit, de Regina Silveira, não se propõe a apontar saídas para as dificuldades e enigmas que os labirintos pressupõem. Trata-se de um convite para que cada um se perca no interior das obras da artista.


Estela Sokol, Sem Título (Greta Garbo)

3ª URBE: Mostra de Arte Pública, coletiva no Largo da Batata, até 19/8

O Largo da Batata é ocupado por obras de Estela Sokol, LiveNoiseTupi e OPAVIVARÁ!, com curadoria de Felipe Brait e Reinaldo Botelho. A mostra segue para sua terceira edição com o objetivo de investigar e ativar o espaço público por meio de práticas artísticas que assimilam a fusão entre obra e lugar com intervenções temporárias, criando um percurso orientado pelo interesse do espectador. Durante a programação da mostra, além das obras, há oficinas, conversas e caminhadas com os artistas, curadores e convidados, que ocorrem no Instituto Tomie Ohtake.


Rodrigo Cass, ‘Históricas Minimas’

Rodrigo Cass: Espiritual-Vivente-Respira, individual no Galpão da Fortes D’aloia e Gabriel, abertura em 11/8.

Rodrigo Cass relaciona seu interesse por filosofia e história da arte à sua própria espiritualidade. O vídeo e as pinturas que integram a mostra mantém uma qualidade escultórica onde o concreto é a síntese do seu pensamento artístico: um elemento espiritual, vivente, e que respira. Para o artista, a respiração está no fundo de toda experiência. “Tudo o que vive respira. E o respirar é ação do espírito.”


Jordi Burch, ‘Sem Título’, 2017

Jordi Burch: Furo, individual na Galeria Janaina Torres, abertura em 16/8

Com curadoria de Marta Mestre, a mostra reúne 14 fotografias e 1 vídeo, resultado de uma pesquisa ainda em curso do artista. Nela, ele explora as múltiplas possibilidades da prática fotográfica, voltando-se, muitas vezes, para o processo do fotografar e para a própria matéria, sem ater-se, necessariamente, a fins e objetos específicos.


Lucas Simões, ‘Perde-se a forma no silêncio’, 2018

Lucas Simões: Ressaca, individual na Casa Triângulo, abertura em 11/8.

A mostra apresenta uma grande instalação composta por 52 painéis metálicos articulados entre si. Os 65 metros de comprimento deste trabalho equivalem a extensão da divisa do terreno da Casa Triângulo com o espaço público. A instalação é um convite aos visitantes reconfigurarem o espaço da galeria gerando novos percursos e espacialidades diversas. Paralelo à instalação será apresentada uma nova série de esculturas intitulada “you text nothing like you look”. 


Rodrigo Sassi, Série “Walk the Line”, 2016

Rodrigo Sassi: Esquinas que me atravessam, individual no Centro Cultural Banco do Brasil em SP, abertura em 11/8.

Com curadoria de Mario Gioia, abriga uma grande instalação central (Corpo Acomodado, 2018), em madeira e concreto, construída a partir dos moldes das fôrmas de concreto armado. No percurso circular proposto pelo próprio espaço expositivo estão as esculturas de parede em menores dimensões, produzidas em madeira, concreto e metal (séries Walk the line e Cestas, e as obras Qualquer dia da semana é primaveraSer reativo eSpyro Gyro); além de uma série de cinco xilogravuras sobre papel, feita a partir de matrizes igualmente originárias dos vestígios de edificações urbanas.


Lenora de Barros, ‘No País da Língua Grande, Dai Carne a Quem Quer Carne’, 1998

Lenora de Barros: Só Línguas, individual no anexo da Galeria Millan, abertura em 14/8

A mostra acontece por ocasião da coletiva “Mulheres Radicais: Arte Latino-americana 1960-1985”, que abre na Pinacoteca de São Paulo dia 18/08 e na qual a artista participa com a foto-performance “Poema” (1979) e o vídeo “Homenagem a George Segal” (1985).


Luiz Zerbini, ‘Cor’, 2018

Elogios da Cor, coletiva na Carbono Galeria, abertura em 11/8

“A quase totalidade dos artistas desta exposição é constituída por pintores. A proposição, no entanto, era a de que pensassem o uso da cor fora dos limites do quadro: dos pincéis, da palheta e do linho. Assim, obras em gravura, fotografia, objetos e dispositivos digitais, foram chamados a elucidar, primordialmente, a distinção da cor como questão de linguagem, como estado de vibração do visível e da anima das imagens”, diz a curadora Ligia Canongia.


André Rigatti: Sol e Neblina, individual na Galeria Virgilio, abertura em 11/8

O título da exposição sugere um olhar para o etéreo, vistas aéreas ou eventuais paisagens. Percebe-se que nas pinturas em grande formato tonalidades cinzas dominam o campo pictórico recobrindo uma série de erros e acertos de planos anteriores compostos por impressões serigráficas, respingos e traços escorridos. Surgem para o olhar do espectador através de recortes, fissuras, brechas ou fendas criadas na superfície. Já nas pinturas em papel os recortes sugerem linhas do horizonte enaltecendo possíveis paisagens ensolaradas e desérticas.


 

Para empoderar as mulheres (e os negros)

Mulheres negras marcham em São Paulo em 2016. FOTO: Tuane Fernandes-Mídia NINJA

Setenta e cinco anos atrás, em 1943, a CLT proibia pagar salários diferentes a homens e mulheres pelo mesmo trabalho. Você sabia disso? Eu, não. O deputado Bolsonaro também não, ele que se opôs, na entrevista à Globo News, a qualquer medida legal que proíba a discriminação entre homens e mulheres. O artigo 461 da CLT foi sendo mudado ao longo dos anos – em 1952 se acrescentou a proibição de discriminar por nacionalidade ou idade, em 2017 (e somente em 2017!) a de distinguir por etnia – mas não é cumprido. Pior, quem é a favor, como eu, não sabe que ele existe, e quem é contra, como o candidato Bolsonaro, também não.

Há porém um meio seguro de torná-lo letra viva, assim como de cortar pela raiz a maior parte das discriminações contra mulheres, negros, indígenas. Ele passa por uma grande mudança de foco: passar das ações afirmativas à disputa pelo poder.

Sempre fui favorável às cotas, mas perdemos a mira, quando nos limitamos a multiplicar os lugares onde devem ser implantadas. Ficamos indo de baixo para cima. O melhor é realizar a igualdade de gênero e de etnia, exatamente no centro de poder talhado para a proporcionalidade: na Câmara dos Deputados.

Como teremos metade de mulheres na Câmara? No Brasil, elegemos os deputados pelo voto proporcional. Devem representar a diversidade de opiniões existente no País. Basta introduzir a lista fechada, que se torna possível garantir o equilíbrio de gênero e de etnia na Câmara – assim como nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Na lista fechada, o eleitor vota no partido já sabendo qual a ordem dos candidatos que serão eleitos. Portanto, se o partido conseguir votos suficientes para cinco deputados, serão os cinco primeiros da lista.

Precisamos apenas emendar a lei eleitoral – só isso – e determinar que na lista deverão ser alternados nomes de homens e mulheres. (Depois, falarei dos negros). Assim, se um partido encabeçar sua lista com um homem, todos os números pares da lista serão de mulheres (e os impares, de homens). Ou vice-versa.

Essa medida resultará praticamente numa paridade. Cerca de metade dos eleitos serão mulheres.

O que isso significará? A lei atual manda cada partido apresentar um terço de mulheres em sua lista, mas muitas estão lá só para inglês ver. Não são votadas, não são eleitas. Agora, se elas se alternarem com os homens nas listas de candidatos, terão poder – e os partidos escolherão as melhores, claro, não apenas figurantes.

Imaginem o resultado. Nunca mais ouviremos um presidente dizer que mulheres são importantes para o país porque comparam os preços nos supermercados… Nem haverá leniência com o feminicídio e crimes de ódio contra elas. O machismo terá os dias contados. Os salários tenderão a se igualar para a mesma função e com a mesma produtividade e perfeição técnica (copio aqui o artigo 461 da CLT).

***

A mesma regra pode ser aplicada quanto às assim chamadas minorias étnicas, que estão em torno de 50% da população – um pouco menos, se pensarmos apenas nos afrodescendentes, um tanto mais, se incluirmos os indígenas e os que descendem deles.

Se tivermos metade de deputados entre descendentes de africanos e de indígenas, acabarão as invasões policiais às favelas. O negro não servirá mais de alvo a exercícios de tiro. O duplo padrão de abordagem policial – delicado nos bairros ricos, agressivo nos pobres – desaparecerá. Mais importante: a qualidade de vida, as oportunidades de emprego, as posições na sociedade gradualmente – mas não a perder de vista! – ficarão mais próximas. Conseguiremos a igualdade de oportunidades, marca distintiva de uma sociedade decente.

***

O difícil, claro, é combinar as duas regras, isto é, estabelecer cotas de eleição tanto para mulheres quanto para negros. Não tenho uma fórmula pronta. Na verdade, o que aqui pretendo é colocar o tema em discussão. Não dá para esperarmos que o mero passar do tempo promova a igualdade real de nossos compatriotas. Quem espera, nunca alcança! diz um contra-ditado, mais verdadeiro do que a mera espera.

O Brasil está atrasadíssimo. No Canadá, quando o atual premier, Justin Trudeau, deu posse a seu gabinete, lhe perguntaram por que havia metade de mulheres: “Porque estamos em 2015”, respondeu. Isso, poucos meses antes de Temer empossar seu ministério, sem nenhuma mulher (ou negro ou indígena). Na Colômbia, o novo presidente – conservador – nomeou estes dias seu gabinete, também com metade de mulheres. Na Espanha, o atual ministério de esquerda tem mais mulheres do que homens. Conservadores na Colômbia, progressistas na Espanha assumem a mesma agenda de direitos.

Enquanto isso, continuamos capengando. Precisamos mudar esse cenário de forma decisiva. É claro que nesta eleição não dá mais. Uma medida dessas tem que ser discutida. Mas está na hora de a colocarmos na agenda brasileira.

Hora de tomar decisões

ARTE!Brasileiros nasceu oito anos atrás, e chega à sua 44ª. edição e à 5ª. edição do seu Seminário Internacional. Sua vocação e seu trabalho, reconhecidos no Brasil e no mundo, precisavam ganhar um espaço mais claro e maior na plataforma digital, além dos seus produtos impressos, a revista bilingue e especiais.

Escutamos nossos leitores e concluímos que, desde o lançamento do paginaB.com.br, ficou muito confusa nossa comunicação, criando um obstáculo para a busca e o acompanhamento do conteúdo que desenvolvemos em torno da cultura e da arte contemporânea, cada vez mais interligadas.

A arte, quase que como uma linguagem síntese, um canal por excelência da singularidade abriga e dá espaço para reflexões na área da filosofia, da psicanálise, da antropologia, da sociologia, assim como tem evoluído na discussão em torno das políticas identitárias e do posicionamento político do agente da arte, que não é outro que cada um de nós.

E a arte como experiência estética e ética está cada vez mais presente e necessária no nosso dia a dia.  Enquanto muitas áreas se tornam refratárias a novos debates, a arte como campo experimental da liberdade tem reunido além dos artistas, acadêmicos e agentes sociais engajados na transformação da sociedade.

É no meio da arte que muitas das reflexões mais urgentes e profundas tem sido realizadas e um dos objetivos de ARTE!Brasileiros sempre foi ser uma plataforma de visibilidade para esses debates. Seja nos seminários, seja na revista, temos buscado dar espaço a obras, artistas e ao pensamento mais necessários para o momento atual.

Neste sentido tomamos a decisão de focar todos nossos esforços de produção de conteúdo na plataforma ARTE!Brasileiros na revista impressa, artebrasileiros no instagram, @artebrasileiros no twitter e a partir do dia 18 de agosto facebook.com/aartebrasileiros onde o usuário poderá acompanhar diariamente toda a nossa cobertura.

Agenda: confira os destaques da semana 4 a 10 de agosto

ABERTURAS

Lygia Clark, ‘Bicho em si’, 1962, 

O Outro Trans-Atlântico: Arte Ótica E Cinética No Leste Europeu e na América Latina Entre os Anos 50 e 70, coletiva no Sesc Pinheiros, abertura em 9/8.

A exposição foi organizada pelo museu polonês em 2017 e, em 2018, esteve em cartaz
no Garage Museum of Contemporary, em Moscou (Rússia). Agora, O Outro Trans-
Atlântico traz ao público brasileiro obras originalmente exibidas em Varsóvia e
Moscou, acrescida de trabalhos latino-americanos, em especial de brasileiros. O
conjunto é apresentado, segundo a curadora, em uma narrativa que reflete fatos
comuns entre seus interesses e intuição criativa.


Valeska Soares, Doubleface

Valeska Soares: Entrementes, individual na Pinacoteca de São Paulo, abertura em 4/8.

Para a exposição na Pinacoteca, a curadora Julia Rebouças selecionou um conjunto de obras provenientes do acervo do museu, de coleções particulares e da própria artista, sendo que algumas dessas últimas são inéditas no Brasil. São pinturas, colagens, objetos, instalações e esculturas que, como o título sugere, apresentam zonas intermediárias de contato: intersecções entre o indivíduo e a sociedade, entre o encoberto/misterioso e o explícito, passado e futuro, etc.


Flavio Cerqueira, “Iceberg”

Arte pra sentir, coletiva na Caixa Cultural de São Paulo, abertura em 4/8.

com curadoria de Isabel Portella, foi pensado principalmente para que fossem exibidas obras de arte acessíveis a todos ao estimularem a percepção através dos cinco sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato) o que dificilmente acontece numa mostra simplesmente de artes visuais. Sendo então extremamente importante garantir o direito a autonomia do público deficiente que deve ter suas necessidades contempladas, assim como seus direitos ao acesso à cultura e o patrimônio como cidadãos respeitados.


Iván Navarro, ‘Extraña devoción (strange devotion)’, 2013

Iván Navarro: The Bright Sun, individual na galeria Luciana Brito, abertura em 4/8.

A produção de Iván Navarro baseia-se na interação entre dois eixos principais: a história da arte e a história da política. Por um lado, sob um ponto de vista formalista, seus trabalhos são cuidadosamente construídos e estabelecem um diálogo direto com o Minimalismo, especialmente através do uso da luz como seu suporte principal.


Paulo Pasta, ‘Variação 3ª’

Compartiarte, coletiva beneficente no Centro Brasileiro Britânico, de 8 a 10/8.

Participam desta edição 70 artistas, entre os quais Erika Verzutti, Lina Kim, Paulo Pasta, Regina Silveira, Sandra Cinto, Andrey Zignatto, Sônia Dias e muitos outros. Todos doam pelo menos 50% do valor arrecadado com venda de suas obras, muitas delas oferecidas com valores mais acessíveis. Juntos, eles apresentam ao público pinturas, esculturas, desenhos, aquarelas, gravuras e fotografias, além dois vasos da Arte Floral Ikebana, criados especialmente por Iran do Espírito Santo e Lilian Tone.


Daniel Moreira, Sem título

Daniel Moreira: Paisagem Ambulante 381, individual no Centro Cultural FIESP, abertura em 8/8.

Numa plena e constante imersão pelo trecho de duzentos quilômetros da BR-381, o fotógrafo mineiro Daniel Moreira registrou a dinâmica social da rodovia por meio de retratos de andarilhos e suas paisagens, levando o espectador a refletir sobre a teia de relações que se estabelece entre o ser e a estrada.


Alan Fontes, Monroe Invertido montado em duas partes, 2018. Foto: Daniel Pinho

Alan Fontes: Exposição Nacional, individual na Luciana Caravello Arte Contemporânea, no RJ, abertura em 7/8.

Serão apresentadas nove pinturas, em óleo e encáustica sobre tela, e quatro livros-objetos, em óleo e afresco sobre concreto, em que o artista dá continuidade ao projeto iniciado há três anos, em que pesquisa o espaço urbano do Rio de Janeiro, trabalhando nas lacunas de uma memória em constante mutação.

2011 | Antonio Dias: construção de um lugar que não acaba

Manivelas (Cranks), 1999. Foto: Divulgação

*Por Moacir dos Anjos

A obra de Antonio Dias (1944-2018) é múltipla. Não se reduz a estilos e tampouco é fiel a técnicas ou à eleição de temas. Ao longo de quase 40 anos, o artista fez pinturas, objetos, instalações, disco, fotografias e filmes, promovendo um desmonte rigoroso de qualquer hierarquia entre os meios de expressão que usa. Por vezes se refere de modo explícito à política, embora nunca resvale para o ativismo. Noutras, discute o funcionamento do meio institucional da arte, preferindo, contudo, o comentário oblíquo, ao que se apresenta como imediato e aparente.

O lugar incerto do corpo no mundo é, a todo instante, também insinuado como questão importante, mas não como relato da memória ou como mecanismo de subjetivação da obra. Ainda que cada conjunto de trabalhos assemelhados de Antonio Dias (agrupados em séries conceitualmente coesas ou apenas por aproximações do suporte usado) possua a marca da singularidade e do acontecimento único – sendo irredutíveis, portanto, a uma totalidade ausente -, não há nessa individuação sinais de dispersão ou isolamento. Considerada em conjunto, sua obra permite contínuos deslizamentos semânticos e se torna lugar de trânsito e contágio entre o que é diferente e distante. Pondo em contato cadeias de significação distintas, a obra de Antonio Dias é rizoma, modelo de realizar alianças provisórias, mas amplas.

Muitos dos trabalhos de Antonio Dias carregam, inscritos em sua forma aparente, as marcas do embate e do enlace simbólicos que perpassam toda a sua produção. Em várias das pinturas da década de 1960, a figuração esquemática trazida da cultura popular e de massa (principalmente do graffiti e das histórias em quadrinhos) é deliberadamente truncada, bloqueando a fluidez narrativa e a capacidade de comunicação ligeira encontradas em suas referências de origem. A contenção cromática desses trabalhos (há neles quase apenas preto, amarelo, vermelho e branco) e a ordenação precisa das figuras no suporte pintado revelam, ademais, a adesão do artista a um código construtivista que tampouco tem aqui preservados seus ideais de afastamento do que é incerto ou impuro. Em Nota sobre a Morte Imprevista (1965), trabalho característico desse período de improvável sobreposição de tradições tão distantes, três dos quatro quadrados em que o suporte se divide são ocupados por imagens que parecem deslizar para fora dos espaços em que estão inscritos, não chegando a compor a história de violência que sugerem existir no mundo. No quadrado que resta de tal superfície, essa dinâmica centrífuga se acentua mais ainda, fazendo com que as imagens ganhem volume e se tornem objeto mole, projetando horizontalmente os signos de morte antes contidos no espaço vertical da pintura. A aproximação entre suporte pintado e lugares vividos e o simultâneo desmanche da rigidez construtiva contidos nesses trabalhos, fazem ecoar, na produção inicial de Antonio Dias, as duas principais vertentes que, à época, se afirmavam em seu entorno: a Nova Figuração brasileira e o Neoconcretismo. Não há qualquer sentido de síntese, contudo, nesse avizinhamento crítico; há, antes, tensionamento entre características daquelas vertentes, agenciado pelos deslizamentos entre significados diversos que marcam a obra do artista.

Essa exuberância sintática é abandonada em grande parte da produção da década seguinte, a qual se volta, ao contrário, para a magreza do conceito preciso. É desse período a série A Ilustração da Arte (1974), composta de trabalhos que investigam a própria demarcação simbólica do que é arte e sua inserção no espaço coisificado das trocas mercantis. Fiel à sua visão inclusiva e contaminada do mundo contemporâneo, Antonio Dias explora nessa série a ideia de circuito, modelo descritivo adequado para apreender o deslizamento contínuo entre valores estéticos e econômicos por meio do qual emerge o consenso – sempre provisório e sempre aspirante à permanência – em torno da suposta validade universal de determinados padrões de juízo. Em A Ilustração da Arte/Um & Três/Gerador (1974-1975), a circularidade cumulativa dessa relação é representada como imagem gráfica que é, ela própria, contudo, também artefato de arte – ambigüidade que apenas confirma o atamento entre os termos sobre os quais se debruça o artista. A volatilidade desse processo valorativo é ainda trazida por Antonio Dias para o âmbito da apresentação formal de sua obra no trabalho A Ilustração da Arte/Um & Três/Chassis(1974-1975): fazendo de quatro hastes metáfora do espaço que o quadro (arte) ocupa no mundo, ele as retrai e expande, como a ilustrar, por meio desse deslizamento físico, dois casos exemplares de sua acomodação aos mecanismos que regem o mercado de produtos artísticos.

A partir do contato que estabelece, em 1976, com artesãos nepaleses que fabricam papel em variadas texturas, Antonio Dias realiza trabalhos que parecem apontar para um campo de investigação criativa em tudo diverso de suas preocupações então correntes. Há também nesses trabalhos, contudo, as marcas da atenção que o artista concede aos fluxos simbólicos que, a todo instante, produzem atritos entre cadeias semânticas distintas. Ao incorporar, de maneira deliberada e precisa, os materiais e as técnicas dos artesãos do Nepal em sua própria obra, Antonio Dias transporta-os para o circuito da arte culta, o qual lhes atribui sentidos e valores diferentes dos que possuíam antes. Esse processo de re-significação opera, entretanto, também no sentido inverso: chamando um desses trabalhos de A Ilustração da Arte (Eu e os Outros) (1977) ou gravando juntas, em A Ilustração da Arte/Ferramenta & Trabalho (1977), a marca de sua mão e a do artesão que lhe dá auxílio, Antonio Dias parece propor a ampliação daquele circuito para que igualmente abarque, de forma crítica, a discussão sobre os limites entre arte e artesania, entre autoria e gesto repetido, entre o interesse somente pelo conceito e o encanto tátil pela matéria crua.

Embora o amolecimento da rigidez gráfica que marca a maior parte da série A Ilustração da Arte ganhe visibilidade apenas a partir de seu contato com outra cultura, trabalhos feitos simultaneamente àqueles incluídos na série e executados em uma variedade grande de mídias, dão forma nova à convulsão simbólica que anos antes inaugurara a obra do artista. São exemplos eloqüentes disso os trabalhos Partitura para Intérpretes Perigosos (1972), Conversation Piece (1973) e Uma Mosca no Meu Filme (1976). É o trabalho intitulado Poeta/Pornógrafo (1973), entretanto, que dentre esses melhor indica, em sua arquitetura simples, o desdobrar constante de significados que é a obra de Antonio Dias. O trabalho é formado por dois pares de semicírculos de neon pendurados desde o teto: um emanando calma luz azul (o poeta) e o outro um rosa luxuriante (o pornógrafo). A despeito da polaridade aludida no título e confirmada pela disposição espacial do objeto, há nesse trabalho sugestão de unidade cindida, de círculos inteiros que se teriam quebrado em metades e deslizado em sentidos opostos. Não existe aqui nostalgia, contudo, de uma situação de suposta completude. A ruptura do que se poderia imaginar inteiro é ontológica e o deslizamento de volta a círculos íntegros, uma possibilidade que não se realiza nunca. Há apenas o pulso contínuo de um movimento que jamais se completa, que se prolonga no percurso infinito que, simultaneamente, aproxima e separa territórios simbólicos distintos.

Essa operação de deslizamento se faz também visível, de outros modos, nas pinturas recentes do artista. Em Caramuru (1992), duas telas de grande dimensão são justapostas e cobertas por, além de tinta acrílica, materiais condutores de energia (grafite, ouro, malaquita), trazendo em potência a idéia de fluxo que o diagrama aplicado sobre elas só acentua. Na recorrência a uma forma que lembra um circuito, há também remissão aos conceitos que marcam a série A Ilustração da Arte – autofagia artística que permanentemente adensa e expande a trama poética tecida por Antonio Dias. Já nas pinturas da série Autonomias (2000), telas de variados formatos e tamanhos são colocadas lado a lado e também sobrepostas, criando a ilusão de que podem deslizar umas sobre as demais e produzir configurações diferentes das apresentadas pelo próprio artista. O fato de porções do suporte serem cobertas por matérias e padrões diversos (do monocromo à mancha) obriga também o olho a mover-se entre as várias texturas e áreas cromáticas de que se compõem esses quase-objetos.

É talvez Anywhere is My Land (1968), contudo, o trabalho do artista que melhor realize essa operação metonímica em relação ao conjunto de sua obra. Salpicando a tela pintada de negro com tinta branca, Antonio Dias cria sobre sua superfície uma miríade de pontos desordenados e de diversos tamanhos. Superpõe, ainda, a este espaço, uma malha reticulada e larga, igualmente pintada, conferindo valor idêntico a qualquer dos pontos ali situados. Essa anulação de hierarquia – sugerida desde o título do trabalho – faz com que cada um desses pontos seja um acesso possível à metafórica e fluida geografia que representa na tela.

Assim como em Anywhere is My Land, a obra de Antonio Dias é formada por pontos (trabalhos) que se conectam entre si, sem ordenação de importância ou de cronologia. Embora retrospectivamente os trabalhos se agrupem em conjuntos ou séries, eles resistem a enquadramentos estanques e, a todo momento, anunciam deslizamentos rumo às fronteiras que somente aparentam isolá-los de outros tempos ou conteúdos simbólicos. A obra de Antonio Dias é refratária, portanto, a qualquer genealogia formativa, o que permite que trabalhos passados ganhem significações distintas das já assentadas, a partir de seu contato e confronto com trabalhos mais novos. É esse acolhimento generoso de sentidos variados que produz o enervamento extenso e denso da obra.

Por promover conexões entre cadeias semânticas diversas, a obra de Antonio Dias põe em evidência aquilo que está no meio, o que habita os interstícios de campos de significação precisos e o que mina de lugares que se supunham vedados. No trabalho intitulado O Espaço Entre (1969-1999), dois grandes blocos de minério – mármore branco e granito negro – são perfurados em inúmeros pontos e têm seus buracos “recheados” com a matéria extraída do bloco de cor distinta, criando espaços de permuta e contato íntimo entre as duas matérias. Carregando um deles a inscrição The Beginning (O Começo) e o outro a inscrição The End (O Fim), esses dois blocos híbridos evocam, quando aproximados, o que há de possibilidade comunicativa latente no que é comumente tomado por lugar de ausências. Operação semelhante é realizada no tríptico chamado Projeto para o “Corpo” (1970), em que duas telas (uma branca salpicada de tinta preta e outra pintada de modo inverso) acolhem, respectivamente, as inscrições energy (energia) e memory (memória) e ladeiam uma terceira tela, deixada vazia como recipiente para tudo o que o ato criativo engendra. É esse intervalo de infinitos possíveis que Antonio Dias assinala, ainda de outra forma, no disco de vinil chamado Record: The Space Between (1971). Em um lado do disco, se encontra A Teoria do Contar, gravação do som ritmado de um relógio, interrompida, a cada três segundos, por momentos de silêncio de duração idêntica e onde qualquer coisa cabe. No outro lado, pode-se escutar A Teoria da Densidade, registro do ciclo respiratório de uma pessoa, intercalado por pausas que trazem, em potência, toda a força cognitiva da língua e da fala. Por demarcar a distância que separa o ruído mecânico do orgânico, o objeto delgado e leve em que estão gravados, subverte, no plano simbólico, sua própria corporeidade: o disco se torna espesso e denso, plataforma para o que não se conhece. São muitas as maneiras pelas quais o artista enuncia a natureza incompleta e fecunda de sua obra.

Esse lugar de possibilidades diversas é tratado de maneira propositiva no trabalho Faça Você Mesmo: Território Liberdade (1968), diagrama construído no piso que sugere a existência de um espaço simbólico para a experimentação e o invento. Em vez de representado de modo elíptico como em outros trabalhos, tal espaço assume aqui a concreção autoral própria dos mapas, construções feitas a partir do que o cartógrafo assinala como marcos que orientam seu percurso sobre um certo território. É nesse espaço de afirmação das singularidades que Antonio Dias finca a bandeira de O País Inventado (1976), pano vermelho que ostenta a mais recorrente marca de sua obra: a ausência do canto superior direito do que, a olhos habituados aos perímetros de formas regulares, seria um retângulo. Índice de aspecto central da produção de Antonio Dias, essa marca remete a uma falta absoluta, irreparável e difusa; à inexistência de uma totalidade que resuma e explique uma obra em mutação constante – obra que é construção de um lugar que não acaba. O que há nela de permanente e o que ancora a poética firme do artista é justo a afirmação de sua transitoriedade e incompletude. Uma obra por onde deslizam, em torrente simbólica incessante, as impurezas de que se constitui o mundo.

Sesc_VideoBrasil traz mudanças na próxima edição: agora é uma Bienal

Exibição de obras do 20° Sesc_Videobrasil: à esquerda, 'Contornos', de Ximena Garrido-Lecca, e, ao fundo, 'Há terra!', de Ana Vaz. FOTO:: Everton Ballardin

Ao abrir a convocatória para a próxima edição do Sesc_VideoBrasil, as entidades parceiras trouxeram uma novidade: decidiram substituir o título “festival” por “bienal”. A mudança tem como objetivo colocar-se de forma mais explícita no contexto global da arte. Até o dia 10 de agosto, serão recebidas, portanto, as inscrições para a 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_VideoBrasil.

Para Solange O. Farkas, fundadora da Associação Cultural Videobrasil e curadora do projeto, que este ano também tem no painel curatorial Gabriel Bogossian, Luísa Duarte e Miguel López, as atualizações – como a mudança do nome – já são comuns na história do Sesc_VideoBrasil. “Eu chamo de fases. Já passamos por várias delas, fomos de um festival nacional apenas de vídeo para um festival internacional focado nos países do Sul geopolítico. Depois tornou-se um festival mais híbrido, não apenas de uma linguagem como o vídeo, mas pensando em mais linguagens”, explica Solange. Desta forma, as alterações tornaram-se coisas comuns em seu julgamento.

A mudança no nome não modifica bruscamente o projeto. Afinal, ele já tinha todas as características de uma Bienal: acontece de dois em dois anos, volta-se para a arte contemporânea e tem um recorte para uma área do planeta (o Sul). Solange acredita que é esse recorte geopolítico que enfatiza o papel particular do Sesc_VideoBrasil como uma Bienal: “Não é apenas mais uma Bienal, é uma Bienal que tenta suprir uma lacuna importante. Uma Bienal que dá voz a essa produção desse lugar do mundo que ainda tem dificuldade de acesso e visibilidade”.

Proposta

Usando uma estratégia comum a bienais, o projeto adota a iniciativa de partir de um conceito. “A partir de agora, usamos de uma proposta curatorial para selecionar os artistas”, conta a curadora. Para ela, essa talvez seja a grande mudança que o peso do novo título carrega. O open call ainda será considerado para a escolha dos artistas que participarão, mas agora há a sugestão de um ponto de partida para o pensamento e construção da obra.

Nesta edição 21 do Sesc_VideoBrasil, que terá as peças selecionadas expostas no Sesc 24 de Maio entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020, a proposta das instituições aos artistas consiste na ideia de Comunidades imaginadas. Pega de empréstimo de um estudo de Benedict Anderson, a noção de comunidades imaginadas surge para o projeto pegando como exemplo o estudo das comunidades indígenas.

Inclusive, foi aberta a participação para artistas oriundos dessas diferentes comunidades étnicas. “Sabemos que existe uma produção superimportante de artistas que fazem parte de grupos étnicos e que acabam operando apenas dentro de seus universos. O universo das artes não olha tanto para esse lugar. Ainda há certo preconceito contra isso”, conta Solange. Há a perspectiva de inclusão ao voltar esse olhar para a produção desses grupos.

A noção de comunidades imaginadas busca discutir a questão do nacionalismo e de como esses grupos o conduzem na arte. Um episódio ocorrido na Organização Mundial do Comércio, no qual um comunicado criticava a tendência a rejeitar aquilo que se é estrangeiro foi uma das coisas que fomentaram a escolha do tema: “Ficamos olhando por todos os lados, percebendo os espectros políticos disso, como a chave para a compreensão de disputas”.

A escolha também relaciona-se com a pesquisa que o curador Gabriel Bogossian desenvolveu ao se debruçar sobre o trabalho de Pasolini. “A ideia concebida por ele de um terceiro mundo transnacional, que começava nas periferias de Roma e se estendia a países fora dessa categoria, é importante nesse processo”, comenta Farkas. E completa: “Queremos trabalhar com essas comunidades que estão às margens do conceito de Estado ou de nação, ou nas suas brechas, nas suas bordas. Podemos falar de comunidades de artistas, de comunidades indígenas. Estamos falando de comunidades nos sentido de grupos que estão à margem do conceito clássico de comunidade. Às vezes até mesmo banido deste conceito”.

A curadora acredita que o tema é muito atual, do agora. “Eu acho que é necessário pensar e discutir essas questões, falando de certa forma também de comunidades fictícias ou utópicas. Em geral, de comunidades clandestinas, que geram políticas minoritárias”, diz. A intenção também é fazer pensar e refletir sobre formas deturpadas de nacionalismo pregadas por alguns políticos ao redor do globo hoje: “São pontos que, no campo da arte, temos esse poder e essa responsabilidade de através de uma produção do sensível, que é a arte, fazer pensar sobre essas questões que nos afetam muito hoje em dia. Não apenas nos países do Sul, mas principalmente nesse lugar do mundo onde a Bienal Sesc_VideoBrasil opera”, finaliza.

 

Ismaïl Bahri: ‘instrumentos’

Ismaïl Bahri convoca a voz e o pensamento do homem comum que circula pelas ruas de Túnis, como intérpretes de territórios afetivos que um dia ele deixou para trás e que agora resgata poética, intelectual e politicamente no filme Foyer.

Nas ruas, ele filma uma folha de papel em branco, fixada a poucos centímetros da objetiva de sua câmera. O experimento, aparentemente formal, aos poucos é adensado pelas vozes dos transeuntes, intrigados com o estranho artifício em torno do qual se reúnem.

O trabalho faz parte da mostra Instrumentos, em cartaz no Espaço Centro Porto Seguro, até 5 de agosto. Em entrevista à ARTE!Brasileiros ele falou com Leonor Amarante.

Agenda: confira os destaques da semana 28 de julho a 3 de agosto

Ícaro Lira, Museu do Estrangeiro, 2015-2017

Ícaro Lira, Museu do Estrangeiro, 2015-201721ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, convocatória para seleção de artistas, até 10/8

Inscrições de obras em qualquer formato e linguagem vindas do Sul Global, de países de língua portuguesa e de integrantes de povos originários de qualquer país. Os artistas selecionados participam da exposição no Sesc 24 de maio e nas atividades paralelas no Galpão VB (São Paulo, Brasil), entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020 e passam a concorrer a cinco prêmios, concedidos por um júri internacional.


100 anos de Athos Bulcão, individual no CCBB-SP, abertura em 01/8

A exposição, com curadoria de Marília Panitz e André Severo, oferece ao espectador a possibilidade de conhecer o seu especial processo de produção, com a exibição de mais de 300 trabalhos, alguns dos quais inéditos, realizados entre os anos 1940 e 2005. Obras de artistas mais jovens que direta ou indiretamente foram influenciados por Athostambém serão apresentadas.


Thiago Honório, Pau-Brasil, 2014

Verzuimd Braziel: Brasil Desamparado, coletiva no Museu Histórico Nacional, até 16/9

Exposição faz parte de um conjunto de mostras vencedoras do Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça, que estão em cartaz no MHN. Coletiva do curador premiado Josué Mattos tem André Parente, Anna Bella Geiger, Carla Zaccagnini, Cildo Meireles, Clara Ianni, Dalton Paula, Daniel Jablonski & Camila Goulart, Daniel Santiago, Ivan Grilo, Lourival Cuquinha, Regina Parra, Regina Silveira, Santarosa Barreto, Thiago Honório, Thiago Martins de Melo e Vitor Cesar.


 

Rodrigo Torres, série Neolític Express, 2018

Rodrigo Torres: Mr. Fusion, individual na SIM Galeria em São Paulo, abertura em 28/7

O artista expõe 14 obras, de conceito análogo ao gadget cinematográfico, e traça um paralelo entre globalização, passado e futuro por meio de obras de arte em cerâmica. As peças indicam a renovação das formas de trabalhar a escultura, que ganhou novos rumos a partir da década de 1960 no Brasil pelas mãos de personalidades como Tunga, com sua transcendência onírica, e Helio Oiticica, criador dos interativos ‘Bólides’.


Flávio Shiró, Sem título, 2007

Flávio Shiró: Flávio Shiró, individual na Pinakotheke em SP, até 11/8

O artista comemora 90 anos de idade com exposição que remonta 70 deles dedicados à arte. Com curadoria de Max Perlingeiro e do próprio Shiró, a mostra é uma retrospectiva que reúne 26 pinturas, 12 obras sobre papel, fotografias, objetos pessoais e cinco curta-metragens, com direção de Adam Tanaka e Margaux Fitoussi.


Alberto Ferreira, Pé Ante pé, 1960

Alberto Ferreira: Intuição, individual na Lume, abertura em 2/8.

Com curadoria de Paulo Kassab Jr., a mostra apresenta ao público 15 obras do fotógrafo – nove delas inéditas, redescobertas recentemente de seu acervo. “Alberto Ferreira tinha a intuição que faz com que os grandes fotógrafos prevejam os fatos frações de segundos antes de acontecerem. Recortou cada segundo dos lugares por onde passou para tornar cada uma de suas fotografias cada uma imagem definitiva”, afirma o curador.


Vitor Mizael: Naturam Impossibile, individual na galeria Murilo Castro em BH, até 26/8

A exposição é composta de um conjunto de desenhos, pinturas e instalação.
Pássaros que não voam, que estão presos uns aos outros, que não pousam, plantas que florescem mesmo tendo suas raízes expostas.  Além da impossibilidade real da existência dessas criaturas elas também nos remetem ao prazer e a dor de estarmos ligados uns aos outros, de voar sem ter pouso ou repouso, da necessidade de nossas raízes mas do perigo de expor o nosso cerne e o desejo intenso de fazê-lo.


Delson Uchôa, Flor do Cerrado

Delson Uchôa: Autofagia – Eu Devoro Meu Próprio Tempo, individual na galeria Anita Schwartz Galeria de Arte no RJ, até 18/8

Com obras em prestigiosas instituições brasileiras e estrangeiras, uma característica desta produção de Delson Uchôa é o que ele chama de “autofagia”. Frequentemente ele volta a um trabalho antigo e o amplia, enxertando outras pinturas ou pedaços de seu “banco de pele”, as sucessivas camadas de pintura sobre resina retiradas do chão.


Simone Fontana Reis, Nem Tudo que Reluz é Ouro

2o. Círculo de Mulheres, conversa no MuBE, em 2/8

Simone Fontana Reis convida para uma reflexão sobre o papel da mulher na transformação da paisagem e sua ligação com a preservação do meio ambiente. Para direcionar a conversa, modos de vida de sociedades ancestrais amazônicas estarão em pauta. Participam do debate, o curador do museu, Cauê Alves, a ativista indígena Cristine Takuá, entre outras profissionais convidadas: antropólogas, arquitetas, outras lideranças indígenas, artistas, escritoras, biólogas, curadoras, filosofas, arqueólogas, geólogas, paisagistas e decoradoras. O encontro é aberto ao público de todos os gêneros.

Stones: versões brasileiras e bootlegs

Mick Jagger

 

Filhos bastardos

Mick Jagger assoprou 75 velinhas, nesta quinta-feira, 26 de julho de 2018. Um dos maiores ídolos e ícones da história do rock há mais de 50 anos, e em plena atividade, Jagger também carregou ao longo da extensa carreira de bandleader o status de símbolo sexual de sucessivas gerações.

Casado por duas vezes, com Bianca Jagger e Jerry Hall, Jagger teve sete filhos com quatro diferentes mulheres – entre elas, como bem sabemos, a brasileira Luciana Gimenez, mãe de Lucas Jagger, hoje com 19 anos. Mas foram as relações extra-conjugais e o assédio frequente das groupies que fizeram a fama de sex symbol do roqueiro setentão.

Segundo a biografia Mick: the Wild Life and Mad Genius of Jagger (algo como Mick: a Vida Selvagem e o Gênio Louco de Jagger), lançada em 2012, pelo jornalista Christopher Andersen, o esguio e lascivo líder dos Stones teria ido para a cama com mais de 4 mil mulheres. O livro (não autorizado, naturalmente) especula, inclusive, que Jagger teria se envolvido com celebridades do calibre de Angelina Jolie, Uma Thurmann e a ex-primeira dama francesa, Carla Bruni.

Suposições à parte, na virada dos anos 1980 para os 90, cinco bandas de rock britânicas tinham à frente vocalistas com fisionomia muito similar – sem contar os demais trejeitos performáticos no palco e a influência musical – à de Jagger. Saiba quem são eles (na foto, em sentido horário):

Mark Gardener – vocalista e guitarrista base do quarteto Ride, de Oxford. Com o fim do grupo, em 1996, o guitarrista solo Andy Bell integraria, depois, o Oasis, como baixista (veja clipe de Twisterella).

Ian Brown – Vocalista dos Stone Roses, banda de Manchester que misturava elementos dançantes à uma música fortemente influenciada pelo psicodelismo dos anos 1960 (veja apresentação ao vivo de Fools Gold).

Richard Aschroft – Vocalista e principal compositor do grupo Verve, que fez grande sucesso mundial com a canção Bittersweet Symphony, carro-chefe do terceiro álbum Urban Hymns.

Gaz Coombes – Vocalista e guitarrista do Supergrass, banda que surgiu como um trio em Oxford, mas depois tornou-se um quarteto. Influenciada por bandas mod, como The Who e The Kinks, fizeram grande sucesso com a canção Allright

Tim Burgess – Líder dos The Charlatans, grupo de Northwitch, com sonoridade semelhante à dos Stone Roses, mas com acento ainda mais dançante (veja clipe de The Only One I Know).

Versões brasileiras

Inquestionável, o Rolling Stones é uma das bandas mais influentes de todos os tempos. No Brasil, o grupo liderado por Mick Jagger e Keith Richards vem inspirando músicos desde os anos 1960, como os paulistanos do The Brazilian Bitles, que transformaram o hino I Can’t Get No (Satisfaction) em Não Tem Jeito; do The Youngsters, que fizeram uma versão enérgica de I Wanna Be Your Man; e dos Os Baobás, que verteram em português o clássico psicodélico Paint It Black e deram a ele o título literal (e, inevitável dizer, capcioso) Pintada de Preto:

Ouça as músicas:

The Brazilian Bitles – Não Tem Jeito

The Youngsters – I Wanna Be Your Man

Os Baobás – Pintada de Preto

Os reis dos Bootlegs

por Gonçalo Junior

Explicam os dicionários que o termo em inglês bootleg se refere a uma gravação de áudio ou de vídeo do trabalho de um artista ou banda musical, que pode ser realizada diretamente de um concerto ou de uma transmissão via rádio/televisão e até sobras de estúdios. Um bootleg inclui, às vezes, entrevistas e materiais inéditos, descartados por serem considerados inadequados para um produto comercial, bem como passagens de som, ensaios etc. Na prática, define os discos não oficiais, publicados quase sempre de forma pirata e dirigidos principalmente aos fãs mais dedicados de artistas.

Essa condição faz com que esse mercado negro se tornasse um paraíso de aproveitadores e oportunistas que, não raro, apenas muda a foto da capa e relança o mesmo conteúdo. The Beatles foi um dos grupos de rock com mais bootlegs da história da música. Um dos primeiros discos da banda foi o Kum Back, que trazia diversas versões de músicas gravadas para o álbum Let It Be mixadas pelo engenheiro de som Glyn Johns. Na década de 1970, a indústria do bootleg expandiu-se. As gravações ao vivo, ainda que fossem as mais comuns, possuíam qualidade ruim, já que eram feitas em meio ao barulho e gritos da multidão. Outros bootlegs eram feitos diretamente da cabine de som do artista, geralmente sem o consentimento da equipe que trabalhava nos concertos. As capas dos bootlegs também tinham qualidade ruim.

Um bootleg famoso da época é The Greatest Group on Earth dos The Rolling Stones. Em parte por causa de sua longevidade e quantidade de turnês, a banda é, provavelmente, o grupo recordista de LPs, CDs e DVDs nesse formato. A maioria se limita a reproduzir shows raros, de qualidade muitas vezes ruins, sofríveis até. Por outro lado, essa deficiência se justifica a aquisição de certos tesouros. Alguns selos italianos especializados em bootlegs fazem algo muito legal: indicam no verso a qualidade do álbum por uma cotação que vai de 1 a 4 símbolos de “+”. Se são +++ ou ++++, pode comprar que o produto é bom.

Brasileiros selecionou, entre centenas de bootlegs dos Stones, treze álbuns que valem a pena procurar:

“Lennon traz palavras como ‘imagine’ e ‘paz’. Um bom legado”

O jornalista norte-americano James A. Mitchell, autor de John Lennon em Nova York: os anos da revolução (foto: Linda Remilong)
O jornalista norte-americano James A. Mitchell, autor de John Lennon em Nova York: os anos da revolução (foto: Linda Remilong)

A reportagem que abre a seção 30 Dias da edição de setembro de 2015 da Brasileiros foi dedicada ao novo livro do  jornalista norte-americano James A. Mitchell, John Lennon em Nova York: Os Anos da Revolução.

A pesquisa sobre os primeiros dias do ex-beatle na metrópole foi tema da reportagem Desarmado e Perigoso. A seguir, bate-papo virtual com o autor, em troca de e-mails feita dias após o fechamento da edição de setembro.

Brasileiros – Como se deu seu interesse pelos Beatles e John Lennon.
James A. Mitchell – Eu sou jovem para ter sido um dos adolescentes que primeiro responderam à beatlemania, mas cada nova geração, incluindo a minha, descobriu e continua a descobrir a música da banda. A influência dos Beatles era – e ainda é – sentida em áreas que vão além da canção popular. Muito antes de começar o livro, eu estava entre aqueles que admiram a criatividade e a arte dos Beatles, uma banda verdadeiramente única.

O que o motivou documentar os primeiros anos de Lennon em Nova York?
Eu queria abordar o período de uma perspectiva diferente. Existem exaustivos escritos biográficos sobre Lennon, que viveu uma vida extraordinária e fascinante, repleta dos maiores triunfos e das tragédias mais sombrias, mas eu não tinha o interesse de repetir a abordagem dessas obras e fui atraído por essa história singular. A introdução do livro parte de depoimentos dos membros de banda Elephant’s Memory, que passou um tempo considerável com Lennon, no entanto, essa está esquecida. A pesquisa se desenvolve à medida em que, baseada em motivações políticas, a administração do presidente Nixon tenta deportar Lennon dos Estados Unidos. Essa história – que bem reflete tudo o que era bom e ruim sobre meu país durante aquele período – capturou meu interesse.

Além das decisões familiares, você acredita que o distanciamento de Lennon com as causas políticas na segunda metade dos anos 1970 foi dado também por um desencanto ideológico?
Talvez, mas também me parece uma questão de prioridades pessoais. Lennon continuou a, generosamente, dar sua rica contribuição para Nova York em outras causas, mas procurou não ser o centro das atenções do público ou da TV. Havia certamente algum desencanto, conforme narrei no livro, com pessoas que tentaram usar Lennon para suas agendas pessoais. Ele tinha discordado, por exemplo, com os métodos e as mensagens de Jerry Rubin e com isso decidiu lutar sua própria luta – pacificamente e em seus próprios termos. Embora eu não tenha me debruçado sobre sua vida pessoal, a decisão de Lennon de ser mais um pai para Sean do que ele tinha sido capaz de ser para Julian parece ser a busca de um homem a procura de paz com seu passado de pai ausente.

Se Lennon estivesse vivo, em que causas sociais e políticas você acredita que ele estaria envolvido hoje?
Aquelas que são baseadas nos princípios fundamentais para os quais ele se dedicou. É verdade que todos nós podemos mudar algumas opiniões à medida que envelhecemos, mas o registro mostra que Lennon e aqueles que lutaram pelos direitos individuais – seja para grupos minoritários, como o movimento feminista, a causa dos direitos dos homossexuais e dos imigrantes – têm continuado a fazê-lo. O próprio Lennon tinha explicitado que alguns dos “ativistas” estavam mais interessados ​​em ser “contra” certas coisas ou pessoas, como a Guerra do Vietnã e o presidente Nixon, por exemplo. Mas, depois de Nixon, essas pessoas acharam outras causas importantes para protestar, mas Lennon – e Gloria Steinem, John Kerry, Ron Dellums e outra pessoas citadas no livro – certamente manteria valores de defesa das liberdades civis.

Depois de terminar o livro, houve mudanças na forma como você interpreta Yoko Ono?
A crítica de longa data que diz que Yoko separou os Beatles deve ser esquecida. Essa foi uma decisão tomada por John e Paul. Apesar da influência de Yoko, como artista livre, Lennon sempre fez o que queria. Claro, ele nunca encontrou outro parceiro musical que poderia corresponder ao que ele e McCartney fizeram juntos, mas Yoko era verdadeiramente uma parceira de vida, que ajudou a manter os olhos de Lennon bem abertos às novas ideias. Especialmente sobre o feminismo, causa que ele abraçou com entendimento genuíno. Há críticos que apontam para o seu comportamento antifeminista, perceptível em algumas letras, enquanto jovem, mas Lennon era produto de uma geração onde tais atitudes eram comuns. Ele foi um dos primeiros a compreender que esse comportamento era errado.

Que semelhanças você vê entre movimentos dos anos 1960, como Panteras Negras, Panteras Brancas e o Partido Internacional da Juventude, e manifestações recentes, como Occupy Wall Street? Lennon deixou herdeiros revolucionários? Quem são eles?
Sempre houve e sempre haverá organizações como Panteras ou Yippies. Algumas vêm e vão, como a moda ou a música popular. Há um também um legado deixado por Lennon: o casamento do rock-and-roll e do ativismo, na caridade e na política. Algo visto em eventos de grande proporção como Live Aid e na atitude de artistas como Bob Geldof (criador do festival organizado em 1985, que colheu fundos para o combate da fome na África), que reconheceu o poder da mídia e da música para chamar a atenção global quando necessário. Assim como John e Yoko usaram esse mesmo interesse em sua lua de mel para deflagrar uma campanha pela paz, celebridades ativistas de hoje, como Angelina Jolie e Brad Pitt, têm ajudado a salvar muitas vidas. A história tem um jeito especial de mostrar quem estava do lado correto de certas coisas. Nos EUA, quando se pensa no presidente Nixon, se pensa em guerra e corrupção na política. Os pensamentos que John Lennon traz à mente das pessoas são palavras como “imagine” e “paz”. Um bom legado.