Page 77 - ARTE!Brasileiros #56
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OS TEMPOS


 ENTRELAÇADOS DE



 ROSÂNGELA RENNÓ












                                                                          À esq., A espera, 1989;
                                                                          abaixo, Olhos de Peixes,
                                                                          1989. Ambas da série
                                                                          Anti-Cinema





            Você trabalha com fotografia desde sempre, não?
               Ainda estava na Escola Guignard – fiz arquitetura e a
               Guignard ao mesmo tempo – quando fiz a optativa de
               fotografia. Foi aí que eu falei: “É isso que eu quero fazer,
               esse é o meu meio principal”. Entre começar a trabalhar
               com fotografia e assumir certas manias, certas cismas (é
               coisa de mineiro. Mineiro cisma!) e eleger certas questões,
               certos temas, foi um tempo muito curto.

            O primeiro trabalho é de 1987. Deve ser inte-
            ressante esse processo de revisitar produ-
            ções antigas.
               Eu usei uma boneca dos anos 1950, que era da
               minha irmã, muito feia, para encarnar a Alice, o
               personagem do Lewis Carroll. Mas na verdade
               era uma espécie de pretexto para fazer algumas
 FOTOS: GABRIELA LIMA | ROSÂNGELA RENNÓ | THIAGO BARROS  que existe um trabalho que se chama Círculos
               experimentações fotográficas. A gente discutiu
               muito sobre coisas recorrentes, inclusive por-

               Viciosos, do acervo da Pinacoteca e que vai estar
               na exposição. Na minha vida tem um monte de coi-
               sas que vão e voltam. Porque eu faço elas voltarem,
               provoco isso. E também tem questões que eu já tratei
               dentro do meu trabalho que não me abandonam. Não
               é que elas voltam, elas nunca saem. Tem problemas
               que estão sempre na minha cabeça porque eles são
               assombrosos. Assombramento, nem sei se existe a
               palavra, é uma coisa do território da fotografia, não?

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