Page 47 - ARTE!Brasileiros #53
P. 47

E a experiência como monitora da 2  Bienal de
                                                                                                a
                                                             São Paulo, como foi?
                                                                Uma coisa leva a outra. Como eu dizia, em São
                                                                Paulo na década de 50 havia muita vivacidade. Ao
                                                                mesmo tempo eu fiz um pouco de dança contem-
                                                                porânea com a Yanka Rudzka, fiz mímica com Luís
                                                                de Lima, me inscrevi para fazer cinema até que
                                                                me aprovaram e eu fiquei apavorada, sai de medo.
                                                                Fiz o Teatro Paulista do Estudante, estreamos no
                                                                mesmo dia que estreou o Guarnieri, o Vianinha.
                                                                Antonio Henrique, meu irmão, também participou
                                                                dessa peça. Era tudo assim, todos tinham todas as
                                                                aberturas possíveis. Então a jovem geração ficava
                                                                muito contaminada. A gente se encontrava no final
                                                                da tarde, todos iam ao Museu de Arte Moderna
                                                                na rua Sete de Abril ver as exposições, discutir,
                                                                assistir os filmes que o Paulo Emilio Salles Gomes
                                                                projetava, todo mundo participava de tudo. Os que
                                                                eram curiosos iam se nutrir da história da arte, da
                                                                história do cinema, de exposições, conferências
                                                                também na Biblioteca Municipal... A gente assistia
            Em 1951, entrevistando o diretor do MoMA,           tudo. Ficávamos até atordoados com tantas pos-
            René d’Harnoncourt, para o jornal da Faculdade      sibilidades, tão multidirecionais que a gente tinha.
                                                                Daí um partiu para o cinema, outro partiu para o
                                                                teatro. Minha irmã Ana Maria foi fazer criação de
               Esso, queria saber onde estava a Alemanha, quem   direção de teatro, foi morar em Nova York, e depois
               estava invadindo, se a França estava recuperando o   ela foi fazer teatro de bonecos, ser professora na
               território, sobre o bombardeio da Inglaterra. Enfim,   eCa, ganhando prêmios internacionais. Suzana foi
               vivenciávamos esse clima.                        fazer cinema, Antonio Henrique foi pintar. Era uma
                                                                coisa assim contagiante.
            Foi esse apelido de repórter Esso que te levou ao
            jornalismo?                                      Acho que você tem uma capacidade surpreen-
               Minha formação é de jornalista e meus primeiros   dente de mudar de assunto e de se apaixonar por
               empregos foram como jornalista. Trabalhei na A   novos temas.
               Gazeta, no Diário de São Paulo, fiz uma coluna de   Sim, isso para mim é fundamental, porque ficar
               correspondências na Folha de S.Paulo. Mais tarde,   parada num lugar só, com um tema único, é impos-
               no começo da década de 1970 trabalhei também     sível. Tanto que eu fiz uma série de pesquisas sobre
               como redatora de publicidade, na mesma agência   o modernismo. Primeiro “Artes Plásticas na semana
               em que trabalhou Décio Pignatari e o jornalista   de 22”, depois, a partir de Tarsila, eu vi tanta coisa
               Fernando Lemos. Éramos redatores. Fiz até um     na casa dela, tanto material documental, que acabei
               programa sobre arte na rádio Jovem Pan. Ele se   fazendo, antes mesmo do trabalho sobre ela, o livro
               chamava “Vamos falar de Arte?”. Parecia que não   Blaise Cendrars no Brasil e os Modernistas. Por-
               era nada, só dois minutos por dia. No começo eu   que me dei conta de como tinha sido importante a
               fazia assim, ao vivo, direto, depois comecei a gravar   presença e a influência dele sobre Tarsila e Oswald
                                                                de Andrade. Depois veio o livro sobre Tarsila, que
               e comecei a redigir porque as pessoas posterior-
     Fotos: Acervo pessoal  mente me cobravam, por correspondência, por   eu apresentei como doutorado na usp, na eCa. Daí
                                                                eu fiquei farta de modernismo, porque as pessoas
               chamadas, por carta. E eu tinha toda a liberdade.
                                                                só me chamavam para falar disso, sabe? Então
               Acho muito interessante esse meio de comunicação,
                                                                pensei: preciso partir para outra. Então eu fiz a
               que não foi superado nem pela televisão nem pela
               internet nem por nada.
                                                                Expo-Projeção-73, sobre os jovens que estavam
                                                                                                         47
   42   43   44   45   46   47   48   49   50   51   52