Page 51 - ARTE!Brasileiros #53
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Na página ao lado e
à esq., a exposição
Tarsila, estudo e
anotações, com
curadoria de Aracy
e Regina Teixeira de
Barros, na FAMA,
em Itu, 2020
Não tinha nem catálogo ainda e ele tinha 48 anos não vão à casa dos artistas, não vão às casas dos
de idade. Hoje tem muito artista com 40 anos que já colecionadores. Você pode alegar: não vão porque
tem livro publicado como se fosse uma obra acabada. não conhecem, não têm acesso. Pois é, mas por
Era outro ritmo. O artista produzia, uma pessoa ia que a gente tinha? Por que conseguíamos entrar?
fazer uma bienal ou um grande salão, ia no ateliê Vai ver porque eram pessoas que publicavam em
do artista, escolhia as obras. Hoje o artista faz as jornal e o nome já era conhecido, então eles abriam
obras para o evento. O mercado hoje é avassalador. E as portas para vocês. Mas hoje o curador, um jovem
para a minha geração é um fenômeno novo. É lógico crítico, escreve para o catálogo de galerias. Ou
que para os jovens hoje é o princípio fundamental seja, ele já escreve para o mercado. Ele não tem
da atuação deles. o hábito de frequentar o ateliê do artista nem de
frequentar a casa do colecionador.
Philip Kennicott, do Washington Post, afir-
mou há pouco que se sente “mais livre para gos- Você comentou que os jovens que não veem muito
tar das coisas sem pedir permissão” em função a história pregressa da arte, do que foi produzido
da pandemia. Não lhe parece assustador esse antes deles. Mas a gente também vê muita gente que
reconhecimento? fica parado no tempo e que não vê o que vê depois.
Muitos curadores e críticos que nós conhecemos, Eu acho que hoje a gente vê muitos pesquisado-
que tem entre 30 e 50 anos, estão atrelados ao res da história da arte que ficam trancados no seu
mercado, você sabe disso. Muitas vezes a gente gabinete fazendo mestrado, doutorado, pós-dou-
não nomeia, mas sabemos quem são. A gente torado, livre-docência, que só se preocupam com
trabalhava com museus, com entidades. Se eu a titulação para poder galgar uma garantia de um
tenho que recorrer a uma galeria, eu faço isso com concurso para poder se firmar na universidade ou
um pouco de recato, digamos assim. Porque eu o que quer que seja. Mas eu acho que eles não vão
acho que mercado é uma coisa e quem faz uma ao ateliê do artista. Eles não saem do seu gabinete.
curadoria tem que ter um outro ponto de vista, Isso eu também acho criticável. Eu te garanto que
procurar museus, procurar colecionadores pri- os artistas teriam o maior prazer em receber his-
vados. Agora, muitos curadores ou jovens críticos toriadores... tenho certeza.
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