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ANA CARLA FONSECA E KATIA DE MARCO
“Nós começamos o século de uma maneira muito promis- desembocaram no obscuro quadro atual, surgem fenôme-
sora, com muitas esperanças, tendo esse binômio cultura nos como a escassez dos recursos, o crescimento caótico
e desenvolvimento de uma maneira muito aberta e muito das cidade, o terrorismo, os fluxos migratórios e a ascensão
livre”, afirmou. “A cultura surgiu nesse momento em sua da extrema-direita. “E nesse cenário, para pensar o futuro
dimensão ampliada, interagindo com diversas camadas do do planeta é preciso criar saídas, alternativas, novas ins-
conhecimento, da vida instrumental, no intercâmbio com a titucionalidades, novos modelos de negócio e conceitos”,
economia, como suporte de políticas de desenvolvimento, afirmou a professora. As respostas, muitas vezes, partem
como canal de comunicação entre diversos campos.” dos artistas, “se pensarmos que a arte é como um radar
No Brasil, segundo ela, isso foi refletido no trabalho do que antevê e ao mesmo tempo reflete o seu tempo”.
Ministério da Cultura, pautado em uma visão humanística “Uma coisa que parecia impensável, e que estamos
e social. A partir daí ela traçou um panorama de algumas vivendo, é esse autoritarismo com apelo à censura na
ideias, conceitos e eventos que ilustraram esse período, arte. E isso está impactando tanto o meio cultural por-
num contexto de falência do modelo neoliberal no fim que no Brasil cerca de 70% dos equipamentos culturais
do século 20. Com a realização de diversos encontros e estão atrelados à gestão pública, aos governos. E aí a
a concretização de acordos internacionais, emergiram gente para pensar que talvez seja hora de se desatrelar
conceitos que passam pelas ideias de sustentabilidade, um pouco do Estado, criar mecanismos de uma autono-
tecnologia, gestão, cidadania, bem-estar e inclusão. Nesta mia nas instituições artísticas”, defendeu Katia. Surgem
transição aparece também uma necessidade de atuação soluções como os fundos patrimoniais, por exemplo,
e empoderamento da sociedade civil, como explicou a entre outras alternativas para “esse momento em que
presidente da ABGC. “Isso antes do apagão humanístico não temos mais aquela atmosfera da primeira década
que estamos vivendo nessa segunda década”, comentou. deste século, da cultura sendo expressa em políticas
Considerando as questões sociais, ambientais e políti- culturais inclusivas e de socialização”, concluiu.
cas que percorreram essas duas décadas do século 21 e Assista a íntegra em: artebrasileiros.com.br/seminarios
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