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SEMINÁRIO GESTÃO CULTURAL
Inhotim era estimular a volta de visitação e estreitar país. O fato está relacionado a um racismo institucio-
laços com a comunidade local. Após o ocorrido em nal infelizmente ainda muito arraigado na sociedade
Brumadinho, o instituto assumiu um papel de compro- brasileira. Renata destaca que é importante que sua
misso social importante na vida da cidade, ação que posição neste momento sirva para criar uma interlo-
a diretora conhece bem, pois entre 1997 e 1998 foi cução nesse aspecto e ressalta pessoas como Rosana
bolsista da organização Fulbright para observação de Paulino, Renata Felinto, Janaina Barros, Amanda Car-
programas voltados a essa esfera: “Um desafio que acho neiro e Hélio Menezes, que não necessariamente atuam
importante ressaltar, que é importante para Inhotim em como gestores mas têm voz ativa no meio artístico:
específico, mas acho que é para muitos outros espaços “A mim me dá uma impressão de que há caminhos
também, é o desafio da conexão com os territórios onde que se abrem”.
as instituições estão inseridos”, ela comenta. Neste ponto, o curador, artista plástico e professor
No contexto da chegada de Renata ao instituto, foi Claudinei Roberto da Silva afirma que o que se pode
iniciada uma nova fase do programa Nosso Inhotim, “perceber é aquilo que é fácil de ser constatado: existe
que cadastrou até agora apro- uma competência negro-bra-
ximadamente 1500 moradores sileira que foi historicamente
do município de Brumadinho negligenciada”. Ele é formado
para entrada gratuita na ins- em Artes Plásticas pela Escola
tituição e 50% de desconto de Comunicação e Artes da Uni-
nas atividades que ocorrem no versidade de São Paulo (USP),
espaço. Antes, os moradores ex-coordenador do Núcleo de
tinham apenas o direito à meia- Educação do Museu Afro Brasil,
-entrada. “Existe um desejo além de atuar como curador
e uma ação nossa para uma independente e professor de
reconexão ainda mais forte, desenho, pintura e História da
uma criação de vínculo ainda Arte em instituições pelo país.
mais forte com a cidade”. Ela Ele ressalta que a preocupação
ressalta que isso envolve desde em incluir essa competência
os artistas até o reforço de liga- hoje existe, mas em uma pro-
ções com as escolas da região CLAUDINEI ROBERTO porção que poderia ser maior.
e um alcance aos moradores Ele destaca a falta de pessoas
de modo geral, sendo assim uma via de troca, onde a negras em cargos de gerência em instituições pelo
instituição abre suas portas e a cidade realiza um gesto país e afirma: “A instituição não é decolonial porque
de dizer aquilo que é interessante para Brumadinho: promove simpósio de diáspora afro-atlântica, ela vai
“Essa abertura para o território hoje ajuda a definir ser decolonial quando tiver negros, negras e indígenas
o que Inhotim é”. em cargos de diretoria”.
Para a diretora, uma das principais situações ao chegar De acordo com Claudinei, não existe a possibilidade
em Inhotim foi ver com ainda mais nitidez o fato de de se falar de decolonialismo sem trabalhar antes a
instituições serem feitas por pessoas. “Inhotim viveu ideia de anticolonialismo: “Fica muito difícil tratar de
essa tragédia muito na pele porque a pele de Inhotim decolonialismo sem falar de hegemonia, sem falar de
é feita dessas 600 pessoas que trabalham aqui”, diz. hegemonia cultural e de branquitude. As pessoas pre-
Ela conta que a ideia de que uma gestão precisa, em cisam reconhecer o atraso delas nesse momento da
todas suas esferas e decisões, ser humanizada foi uma História”. Suas observações são a partir do que ele
reflexão provocada por esse acontecimento. enxerga em São Paulo. Ele aponta a extrema importância
de se fazer um esforço para trazer à tona uma história,
DECOLONIZANDO A GESTÃO registrá-la em livros, em catálogos ou em documentos
Dentro da esfera de gestão de instituições culturais “extraordinariamente bem realizados”, mas que nada
públicas e privadas no país, é importante ressaltar que é mais fundamental do que observar se no corpo de FOTO: ANTONIO TRIVELIN
Renata Bittencourt é uma das únicas pessoas negras funcionários de instituições museais a presença negra
à frente de uma instituição de grande importância no está contemplada.
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