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INTERNACIONAL NOVO MoMA
“NOVO MoMA” BUSCA
NOVAS NARRATIVAS
MUSEU NORTE-AMERICANO PRECURSOR NA APRESENTAÇÃO DA ARTE
MODERNA INAUGURA EXPANSÃO REVENDO HISTÓRIA DA ARTE CONVENCIONAL
POR GUSTAVO VON HA, EM NOVA YORK
UMA DAS PRIMEIRAS INSTITUIÇÕES NOS EUA dedi- parcial ao projetar um artista estadunidense na história
cada exclusivamente à exposição de arte moderna, o da arte mundial.
Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), surgiu Se o “novo MoMA” é calcado na primeira ideia de sua
no final dos anos 1920 idealizado, inicialmente, como fundação – menos formalista, talvez – deixa agora, por
um museu em constante mutação. Segundo palavras do outro lado, lacunas entre obras confrontadas entre si,
próprio diretor fundador Alfred H. Barr Jr., “um torpedo tirando a possibilidade de comparar de maneira siste-
se movendo no tempo-espaço com seu nariz avançando mática o que foi produzido antes e depois. Ao mesmo
sempre a partir do presente e sua calda alcançando tempo, o MoMA agora possibilita uma experiência mais
um passado recente de no máximo 100 anos atrás”. A livre, ao fazer e permitir novas conexões com obras
ideia era que, à medida que a coleção do MoMA fosse do acervo em constante diálogo com novos trabalhos.
envelhecendo, suas obras seriam recicladas, vendendo Em seu novo rearranjo, o museu coloca fotografias no
aquelas com mais de cinquenta anos para outros museus mesmo patamar de pinturas permitindo olhar a coleção
- como o Metropolitan e o Whitney – enquanto obras de de outra forma. O que antes era mostrado sempre em
artistas emergentes continuariam sendo compradas. núcleos isolados ou no subsolo, agora se mistura com
Desde 2014, o MoMA vem passando por um processo pinturas, desenhos, gravuras e performances. Há filmes
de expansão. Essa reforma vai muito além da nova “ala passando por toda a parte, mesmo nas galerias que ainda
oeste” do museu: o antigo MoMA se fundiu de forma guardam as “obras primas” do modernismo.
perfeita com os cerca de 14.000 metros quadrados Ainda é possível contemplar um único trabalho em
extras. Andando pelo museu não se percebe mais onde algumas galerias, mas com sua nova configuração o
começa e onde termina a parte nova. O valor real da museu se abre radicalmente para ensaios ao vivo dentro
expansão do “novo MoMA” é resgatar sua missão inicial, do Marie-Josée e Henry Kravis Studio, onde sempre há
um espaço que permita repensar a coleção, transfor- algo inesperado acontecendo de tempos em tempos. É
mando a experiência artística em pensamento crítico um espaço novo dedicado à performance e novas expe-
dentro do museu, e questionar a forma como essa cole- riências de imagem em movimento, fundamental para
ção foi apresentada até hoje, descobrindo novas vozes inserir a coleção do MoMA em uma perspectiva histórica
e novas perspectivas. atual através de novos projetos e artistas emergentes.
O MoMA muitas vezes foi ousado na maneira de se Apesar da apresentação ainda ter um tom cronológico,
posicionar ao inserir artistas americanos em narrativas ela traz ambiguidades, anacronismos e algumas surpre-
mais amplas da história da arte. Exemplo disso é o caso sas. As galerias agora falam de ideias e épocas e não
de Jackson Pollock que durante décadas ficou na sala mais em categorias e vanguardas. A questão conceitual
vizinha da de Monet, equiparando esses dois artistas é o novo fio condutor, inaugurando um museu mais
como o ápice da história da arte e forçando uma leitura permeável e mais alinhado com o mundo de hoje.
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