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FABIO SZWARCWALD E EDUARDO SARON
da democratização do acesso. Essa era a ideia chave nosso papel como transformadores de uma sociedade.”
quando Lula assume, por exemplo”. Deste ponto de Deste modo, arte e cultura podem enfrentar diversos
vista, “girar a catraca” tornou-se um grande indicador dos problemas da sociedade, como educação e segu-
de relevância cultural, com muitos projetos pautados no rança pública, com uma potência e velocidade maiores
que Saron chamou de espetacularização. Foi também do que outras políticas públicas, inclusive com custos
o período de construção de muitos novos edifícios cul- menores, concluiu ele.
turais, em certo detrimento do descuido com prédios Após a fala de Saron, Fabio Szwarcwald contou um
históricos e espaços já existentes. pouco sobre seu trabalho à frente da Escola de Artes
O discurso da democratização acabou por legitimar a Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, onde está
cultura como “instrumento e mecanismo”, não como fim desde 2017. O economista e colecionador, que trabalhou
em si. “E não soubemos dar o salto sobre qual o verda- em bancos por 22 anos, assumiu a direção da EAV após
deiro papel das artes na transformação da sociedade.” alguns anos em seu conselho, e em um período de pro-
Para Saron, a cultura por si mesma deve se localizar funda crise na instituição com a retirada de repasses
como um campo de transformação, e para isso a demo- financeiros do Estado.
cratização não basta. Entra aí a palavra “participação”, “A EAV foi fundada durante a Ditadura Militar, então ela
que ao propor “um campo onde trazemos o indivíduo já tem esse DNA de um lugar de resistência, de luta. Ela
para a atuação, a gente deixa de se colocar como ins- foi criada pelo Rubens Gerchman como um contraponto
trumento e amplia a nossa compreensão no papel da às escolas academicistas que existiam. Então somos uma
cultura na construção do pensamento humanístico, sob escola livre desde o princípio e entendemos que para
a perspectiva da democracia cultural”. ser livre a escola precisa conseguir se bancar, pagar as
“E aí o referencial passa a ser a fruição – o prazer do próprias contas”, afirmou. “Então todo o meu trabalho
outro no contato com a arte –, o fomento – uma política foi para resgatar essa autonomia, essa liberdade de
para as artes no país – e a formação – que é o cerne do atuação tão importante nos dias de hoje”.
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