Ettore Ximenez, “Amizade Sírio-Libanesa”, inaugurado em 1928, bronze, 4m x 2,17m x 2,17m. O pedestal de granito mede 9,15m x 8m x 8m. Localizado na Praça Ragueb Chohfi. Foto: Reprodução
Ettore Ximenez, “Amizade Sírio-Libanesa”, inaugurado em 1928, bronze, 4m x 2,17m x 2,17m. O pedestal de granito mede 9,15m x 8m x 8m. Localizado na Praça Ragueb Chohfi. Foto: Reprodução
Desde 2017 estudo o Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, instalado em 1953 na entrada do Parque Ibirapuera, em São Paulo. Meu interesse é estudá-lo desde as primeiras ideias surgidas na cidade para se erigir um monumento dedicado aos bandeirantes, a escolha do projeto de Brecheret, em 1936 sua inauguração e a recepção da obra pela população e artistas da cidade, nesses 70 anos de implantação.
É claro que não estou só nessa empreitada. Ao meu lado tenho o pesquisador Thiago Virava e duas orientandas: Eliane Pinheiro, que desenvolve um doutorado sobre a obra e Kelly Oliveira, graduanda. Além da produção de textos sobre o assunto, Virava e eu já nos responsabilizamos por duas disciplinas junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da ECA USP, dedicadas ao estudo do Monumento.
Nesse processo, tenho lido muitas crônicas e críticas produzidas por escritores, poetas e jornalistas de São Paulo. Durante tais leituras tenho contactado pela primeira vez, ou então relido, textos importantes sobre São Paulo, de autores como Mário de Andrade, Oswaldo, Guilherme de Almeida, Plínio Salgado e Menotti Del Picchia.
Exatamente, vocês entenderam bem: neste estudo me interessa conhecer melhor o “Lado B” do modernismo de São Paulo – Menotti Del Picchia, Salgado e outros – uma vez que, por trás da escolha do monumento de Brecheret, esses intelectuais estavam bem atuantes. Mas não é sobre nenhum texto deles que resolvi escrever hoje.
Dentro dessa busca por considerações sobre São Paulo, tive a sorte de me deparar com o livro Pela cidade, uma antologia de crônicas escritas por Guilherme de Almeida, entre 1927 e 1928. Esses textos foram assinados pelo poeta com o pseudônimo “Urbano” e publicados no Diário Nacional. Neles, Almeida revela-se um cronista delicado, com uma visão singular sobre a cidade em constante metamorfose.
Sob o sol forte ou sob a garoa fina e fria – e já apressada e com o trânsito caótico –, a São Paulo das crônicas do poeta ainda guarda espaços de sociabilidade que resistiam (não por muito tempo, infelizmente) a todo aquele vertiginoso crescimento.
Para mim – que ando atento a tudo o que diz respeito a monumentos – duas crônicas ali me chamaram a atenção: “O mistério da Várzea”, publicada no dia 24 de março de 1928 e, um pouco mais de um mês depois, “Monumento”, uma espécie de continuação da primeira. Essas duas crônicas me interessaram porque não falavam apenas de um monumento em particular, mas porque ambas me ajudaram e entender a própria lógica dos monumentos escultóricos, ao mesmo tempo em que explicitaram como o poeta entendia a cidade em que morava, a partir de suas relações de amor e ódio com os monumentos que também a habitavam.
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Parque Dom Pedro II nos anos 1930. Foto: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC. aspxhttps.
Como sabemos, todos os monumentos são grandes alegorias: conjuntos de metáforas interrelacionadas de forma arbitrária e que, se destituídas desse fio condutor que lhes conferem um sentido uno, perdem completamente a simbologia concebida pelo artista.
Guilherme de Almeida, em “O mistério da Várzea”[1] , descreve seu estranhamento e o de outros usuários do Parque frente a presença de algumas “metáforas de bronze” flagradas no Parque D. Pedro II, ainda desagregadas do fio que lhes daria o sentido previsto, afirmando que fazia algum tempo as pessoas que passavam em frente do Palácio das Indústrias (localizados no Parque D. Pedro II) estranhavam ver ali “uma armação de madeira coberta de pano branco esticado, velando um pedestal importante de granito rosa”. Todos sabiam que dali surgiria um monumento, mas não sabiam dizer qual:
Há a propósito, palpites, apostas, discussões, profecias, polêmicas e até mesmo brigas. Eu, de minha parte, confesso que estou desconcertado. Não posso fazer a mínima ideia do que se está preparando ali. Tenho observado, naquele lugar, certas coisas que só servem para me desorientar e inquietar. Enormes caixões de madeira chegam ali quase que diariamente: são abertos, tiram-se lhes de dentro grandes peças de bronze que imediatamente são guindadas para trás do veleiro intrigante. Pelas partes desconexas que até agora, a muito custo, consegui lobrigar, sou incapaz de imaginar o todo[2].
Foi por ter ficado tão intrigado que Guilherme de Almeida chamou a atenção para aquela situação de mistério da Várzea. Assim ele termina o texto:
[…] Também não sei jogar puzzle: não tenho paciência para, juntando pedacinhos arbitrários de um desenho recortado, reconstruir a estampa completa […] Não vejo, entre eles, relação alguma. A primeira peça que me caiu sob os olhos foi a estátua de uma Vestal clássica. Tempos depois, vi carregarem lá para cima uma roda dentada. Depois, um Rei Assírio, muito digno e muito barbudo. Depois um índio nacional. E, afinal, ontem, um grande bode de bronze. Estou ficando com medo[3]
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Parque D. Pedro II em 1953. Foto: Reprodução
Pouco mais de um mês depois, Guilherme de Almeida volta a escrever sobre “mistério da Várzea” em outra crônica, com o título Monumento[4]. Ali somos informados de que o misterioso monumento era um presente que “a inteligente e trabalhadora colônia síria, aqui domiciliada, acaba de oferecer à cidade”. Curiosamente, embora elogie o grupo escultórico, Guilherme de Almeida não se preocupa em declinar o título do monumento e tampouco seu autor. Por que tamanho desinteresse? Por que declarar que houve a inauguração do monumento no dia anterior e, logo na sequência, passar a falar, como veremos, da série de monumentos da cidade, sem nomear a obra em questão e nem seu autor?
Apesar de ter visto o resultado com bons olhos, no monumento recém-inaugurado nada desperta atenção especial de Guilherme de Almeida ou, pelo menos, não da mesma maneira que despertavam seus pedaços desconexos, quando ainda não configuravam um conjunto com conteúdo ou “significado” preestabelecido pelo escultor italiano Ettore Ximenes, autor tanto dessa obra quanto do Monumento à Independência, instalado em frente ao Museu Paulista. Antes, aqueles pedaços de bronze eram “significantes” sem “significados” aparentes e, por isso, pulsavam repletos de mistério. Soltos e anônimos, eram muito mais atraentes e sedutores do que quando encaixados formando uma alegoria que lhes dava um significado arbitrário – uma homenagem sírio-libanesa ao Brasil. Essa identificação direta retirava delas qualquer possibilidade de apenas tensionar o real, sem explicá-lo.
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Ettore Ximenez, "Amizade
Sírio-Libanesa",
inaugurado em 1928. Foto: Reprodução
Ettore Ximenez, "Amizade
Sírio-Libanesa",
inaugurado em 1928. Foto: Reprodução
Ettore Ximenez, "Amizade Sírio-Libanesa", inaugurado em 1928, bronze, 4m x 2,17m x 2,17m. O pedestal de granito mede 9,15m x 8m x 8m. Localizado na Praça Ragueb Chohfi. Foto: Reprodução
Após tê-la elogiado brevemente, Guilherme de Almeida integra a obra de Ettore Ximenes no conjunto de monumentos que, a partir das comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922, passaram a ornamentar a cidade de São Paulo. Ele afirma:
Depois da passagem do primeiro centenário da nossa emancipação política, há já seis anos, São Paulo ganhou uma porção de presentes. Alguns bons, dignos, apresentáveis, que a gente põe logo na sala de visitas ou no living-room; outros, envergonhantes, difamatórios, comprometedores, que a gente coloca na dispensa, entre réstias de cebolas e latas de feijão, na impossibilidade de “passar adiante”, de oferecer a um inimigo fidagal, no dia do seu aniversário. No nosso salão estão: o monumento do Ipiranga, o de Carlos Gomes, este da colônia síria, o Índio Pescador, “Eu sou Ubirajara”, a “Eva”, de Brecheret… No nosso quarto de despejo estão: a Coluna da Fundação a Cidade, o Bilac, o Feijó, o Bonifácio, o Verdi, o Garibaldi do Jardim da Luz, a tal Fonte Monumental da avenida São João… e outros bibelots, outras pastelarias, outros bolos de noiva, outras abóboras em que andam tropeçando por aí, o nosso bom gosto e a nossa dignidade […][5]
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Ettore Ximenez, "Amizade
Sírio-Libanesa",
inaugurado em 1928. Foto: Reprodução
Ettore Ximenez, "Amizade
Sírio-Libanesa",
inaugurado em 1928. Foto: Reprodução
Ettore Ximenez, "Amizade
Sírio-Libanesa",
inaugurado em 1928. Foto: Reprodução
Interessante como no texto, tendo agora São Paulo como cenário e lugar onde os monumentos citados estão instalados, Guilherme de Almeida também os perceba como metáforas, como as peças soltas que formavam o Monumento à Amizade Sírio-libanesa, antes de sua conclusão.
Os monumentos paulistanos citados pelo poeta são vistos como conjuntos estanques de metáforas, cujo sentido geral só seria alcançado, caso a cidade fosse pensada como um grande monumento e eles suas partes integrantes. Guilherme de Almeida entende São Paulo como uma residência que deveria estar sempre muito bem arrumadinha, em que os bibelôs de gosto discutível deveriam ser escondidos das visitas e aqueles mais bonitos e significativos, exibidos a todos.
Sem querer ser anacrônico, penso que caberia indagar quais outros elementos da cidade o poeta gostaria de esconder? De fato, a cidade vinha tirando da frente tudo o que poderia obscurecer (e a palavra aqui não é gratuita) e não condizer com uma ideia de cidade europeia implantada na América do Sul. Se os monumentos escultóricos de bom-gosto ficariam nas salas e os bibelôs mal-arranjados na dispensa, onde ficariam, para onde seriam mandados os índices precisos de uma sociedade desigual, como aquela São Paulo dos anos 1920?
Em 1928 – ano das crônicas –, pelo menos para o poeta, São Paulo era percebida como uma casa imensa, uma grande alegoria da civilização ocidental abaixo do Equador. Uma casa que, apesar de incompleta, parecia aspirar a um dia chegar ao momento de plenitude em que estaria completa.
Hoje, em 2022, o Monumento à Amizade Sírio-libanesa transformou-se num mictório público, coberto por tapumes e mau cheiro. Por sua vez, São Paulo parece ter perdido qualquer condição de manter-se como alegoria de uma casa (para quem quer que seja), de um lugar e um sentido unificado pois, quase cem anos depois, toda sua expansão revelou-se produção de fragmentos – corpo estraçalhado, sem totalidade possível, um não monumento.
[1] – ALMEIDA, Guilherme de. “O mistério da Várzea”, Diário Nacional, 24 de março de 1928. Apud Pela cidade. Edição preparada por Frederico O Pessoa de Barros. São Paulo: MARTINS Fontes, 2004, pág. 279 e segs. Em tempo: no título da crônica o autor faz referência ao Parque da Várzea do Carmo, também conhecido como Parque D. Pedro II.
Bandeira exposta no hall central do Sesc Bom Retiro, feita pelo Coletivo Tem Sentimento e pela artista Maré de Matos. Foto: Marcos Ferraz
Em cartaz até 27 de fevereiro no Sesc Bom Retiro, a mostra coletivo Birico: poéticas autônomas em fluxo apresenta trabalhos de artistas e coletivos atuantes na chamada Cracolândia, no centro de São Paulo. Entre moradores da região ou pessoas que lá atuam há muitos anos, a exposição reúne mais de 40 participantes e ajuda a quebrar com estigmas e preconceitos sobre as pessoas que habitam ou frequentam a Cracolândia.
Como diz o texto curatorial, assinado pelo coletivo Birico: “Olhar para a Cracolândia é ver um território de imenso afeto, coletividade e criatividade, que ousa sobreviver à intolerância, abstinência e repressão. É conhecer políticas reais de redução de danos e, sobretudo, muita solidariedade. É se deparar com a mais encantadora alma das ruas que, para surpresa de muitos, é capaz de transmutar a dor da exclusão em festa de cura, em pagode, em cultura pulsante, em fluxo contínuo de trocas, em diversidade, em poesia, em sentimento de humanidade”.
A exposição reúne criações em diversas linguagens, como lambe-lambes, fotos, peças sonoras, obras tridimensionais e peças gráficas, entre ouros. A arte!brasileiros visitou a mostra. Assista ao vídeo abaixo:
Participam da exposição Birico: poéticas autônomas em fluxo: Alberto Pereira, Aline Motta, Aluízio Marino, Ananda Giuliani, Chip Thomas, Cleverson I. Salvaro, Coletivo Transverso, Daniel Mello, Dentinho, Equipe do filme “Diz A Ela Que Me Viu Chorar”, Fábio Rodrigues, Felipe Risada, Frederico Filippi, Grupo Mexa, Helen Salomão, Hideki Nomies, Índio Badaross, Iskor, Jaick MC, João Leoci, Joh Bittencourt, Juliana Dos Santos, Julio Dojcsar, MC Kawex, Kelly Reis, Kika Carvalho, Lau Guimarães, Mag Magrela, Maré de Matos, Mônica Ventura, Mundano, Ozi, Pablo Vieira, Paty Bonani, Paulestinos, Paulo Pereira, Pri Barbosa, Raphael Escobar, Raul Zito, Renata Felinto, Sato do Brasil, Sol Casal e Yori Ken.
SERVIÇO:Birico – Poéticas autônomas em fluxo ONDE: Sesc Bom Retiro – Alameda Nothmann, 185, São Paulo. QUANDO: Até 27 de fevereiro de 2022; de terça a sexta, das 14h às 20h; aos sábados, das 10h às 16h.
Entrada gratuita
Palacete do Parque Lage. Foto: Renan Lima/ Divulgação
Entre os dias 25 de janeiro e 6 de fevereiro de 2022, interessados nos cursos livres oferecidos pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV Parque Lage) poderão pleitear bolsas integrais oferecidas pela instituição carioca. Serão 40 selecionados para os cursos do primeiro semestre e mais 40 para os do restante do ano – com chamada aberta no segundo semestre.
“O edital reafirma o compromisso da EAV, como instituição pública ligada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, de promover a difusão cultural e a democratização das artes”, afirma o texto de divulgação do programa. “Nosso objetivo é ter 50% de alunos bolsistas, através de ações sustentáveis que garantam o caráter público desta escola que tem a formação de artistas como vocação, privilegiando pessoas racializadas e oriundas de territórios periféricos”, diz Yole Mendonça, diretora da instituição. “Não é filantropia, é a EAV atuando como agente de transformação”.
Alunos durante curso na EAV Parque Lage antes da pandemia. Foto: Divulgação
As bolsas sociais serão custeadas através da venda da Coleção Impacto – que integrou o programa de benefícios Amigo EAV – levada à 8ª edição da ArtRio em setembro de 2021. Em um estande na feira carioca, a Escola de Artes Visuais apresentou uma série de obras para comercialização: duas fotografias com tiragem limitada de Felipe Azevedo; uma obra inédita da artista Flavia Junqueira; e obras de acervo doadas por nomes como Angelo Venosa, Antonio Dias, Brígida Baltar, Carlos Vergara, Ernesto Neto, Iole de Freitas, Laura Lima e Luiz Zerbini.
As bolsas são válidas para qualquer curso online ou presencial da grade curricular. Através de carta de intenção, os candidatos devem informar suas trajetórias (não necessariamente nas artes visuais) e expectativas em relação ao curso pretendido, considerando as seguintes questões: Qual a sua relação com o campo das artes e como ela acontece? Como o curso escolhido pode contribuir para sua trajetória? O que você espera alcançar durante e/ou após sua participação? Não há exigência de portfólio e o formulário – que pode ser conferido no site da instituição – ficará disponível até às 23h59 do dia 06 de fevereiro. A divulgação dos selecionados será feita em 25 de fevereiro, com abertura de matrículas já no dia seguinte.
Discussões sobre arte e literatura indígena, patrimônio afro-brasileiro, cultura LGBTQIA+ e grafite dão início ao novo projeto da Casa Mário de Andrade. Com Faces de um Brasil Contemporâneo, a instituição cultural paulistana – integrante da Rede de Museus-Casas Literários de São Paulo, ligada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do estado – busca promover acessibilidade de artistas e escritores vindos de grupos marginalizados da sociedade, que costumavam ser pouco pautados em programações culturais. Para os organizadores, realizar essa iniciativa no ano do centenário da Semana de Arte Moderna é também simbólico, pois “é um caminho para apontar contrapontos e sugerir atualizações” do que seria o marco modernista se ele ocorresse nos dias de hoje, aponta o release.
Casa Mario de Andrade. Foto: André Hoff
Uma série de palestras gratuitas em ambiente virtual, cujas inscrições ficam abertas até 19 de janeiro (inscreva-se), dá início ao projeto. Os encontros acontecem sempre às quartas-feiras, das 19h às 21h, mediados por Marcelo Tupinambá, coordenador da programação cultural da Casa Mário de Andrade. Confira a programação completa:
19/01, às 19h – Artes e literatura indígena: A palestra contará com a participação de Márcia Kambeba, indígena do povo Omágua/Kambeba, ouvidora geral da Prefeitura de Belém (PA) e escritora, e Daniel Munduruku, professor, escritor, doutor em Educação pela USP e indígena do povo Munduruku;
26/01, às 19h – Patrimônio afro-brasileiro: Debate com o sociólogo, pesquisador e escritor Tadeu Kaçula e Abilio Ferreira, jornalista e coautor do livro Tebas: um negro arquiteto na São Paulo escravocrata;
2/02, às 19h – Arte urbana e grafite como expressão artística contemporânea: Conversa entre Artur Spada, empresário e diretor do bloco carnavalesco Bateria Bem Bolada, e Bento Andreato, sócio da Andreato Comunicação e Cultura e diretor executivo do Almanaque Brasil;
9/02, às 19h – Artes, performance e cultura LGBTQIA+: A palestra reunirá Lufe Steffen, cineasta, roteirista e jornalista que vem produzindo obras ligadas ao público LGBT desde os anos 1990; e Victor Kinjo, compositor, cantor e pesquisador pós-doutor no Instituto de Estudos Avançados da USP/ Centro de Síntese USP Cidades Globais.
Para além das palestras, Faces de um Brasil Contemporâneo tem por objetivo realizar cursos ao longo de 2022. Dando início a essas ações formativas, a partir de 20 de janeiro a Casa Mário de Andrade oferece Panorama do cinema indígena, voltado à análise das produções cinematográficas realizadas por diretores indígenas. A cada encontro, um cineasta convidado fará uma breve apresentação profissional, seguida da exibição de trechos de seus filmes. Serão quatro aulas online às quintas-feiras, das 19h às 21h, com a mediação de Cristina Flória, especializada em Gestão Cultural pelo Senac/SP, cientista social pela PUC-SP e diretora do documentário Piõ Höimanazé – a mulher Xavante em sua arte. O curso acontecerá virtualmente às quintas-feiras, das 19h às 21h. As vagas são limitadas e serão distribuídas de acordo com a ordem de inscrição (inscreva-se). Confira o cronograma de aulas:
20/1 – Convidado: Divino Tserewahú – Cineasta Xavante da aldeia de Sangradouro, município de General Carneiro, MT;
27/1 – Convidado: Alberto Alvares – Cineasta indígena da etnia Guarani Nhandeva, MS;
3/2 – Convidada: Marcia Djerá Retê Mirim – Pertence ao povo Mbya Guarani, vive na Tekoá, SP;
10/2 – Convidado: Caimi Wassé Xavante – Pertence ao clã Poreza´õno e grupo Hötörã, MT.
À frente, "Distraídos Perderemos", de Kauê Garcia. Foto: Marcos Ferraz
Entrelaçando trabalhos de mais de 30 artistas e coletivos atuantes principalmente nas últimas duas décadas, a mostra Estamos Aqui apresenta alguns eixos temáticos principais: em primeiro lugar, a relação com o território, destacadamente aquele onde a própria unidade do Sesc Pinheiros está inserida, na região paulistana próxima ao Largo da Batata; junto a isso surge o debate sobre o espaço público, seus usos, carências e as constantes disputas políticas que o marcam, além da possibilidade de transformação e melhoria urbanas; por fim, tudo está conectado pelo fato de todos os participantes da mostra terem ligações com espaços e plataformas independentes de arte, o que destaca a existência de um circuito pujante – mesmo que tantas vezes invisibilizado – que não é composto por grandes instituições e galerias.
Com organização do Ateliê397 – um dos mais longevos espaços independentes de arte de São Paulo, criado há quase 20 anos – e curadoria de Thaís Rivitti, a exposição fica em cartaz até 24 de abril no Sesc Pinheiros e apresenta uma produção de forte tônica política e social. “Esses espaços são pólos aglutinadores em torno dos quais os artistas podem discutir projetos e realizar obras mais experimentais. É preciso reconhecer que há vários circuitos dentro do sistema da arte”, afirma Rivitti. “E claro que não são sistemas que não se conversam. Por exemplo, o Jaime Lauriano, ele está lá e cá, num grande sistema e também no independente.” Para além do Ateliê397, Rivitti cita como exemplo desses espaços a Casa da Xiclet, que é ao mesmo tempo ateliê, local expositivo, galeria “e um ponto onde as pessoas se reúnem para tomar cerveja e conversar”.
Cena de “ESTÃO VENDENDO NOSSO ESPAÇO AÉREO”, 2004, do coletivo Bijari. Foto: Divulgação
Pensar o espaço público pode se dar tanto através da ação de artistas que intervém diretamente no ambiente urbano – como mostram os vídeos dos coletivos Bijari e a Revolução Não Será Televisionada -, como também obras que tratam do assunto sem ações diretas, através do espaço virtual, de entrevistas em áudio, câmeras de vigilância ou imagens apropriadas. Mas, em um caso ou no outro, todos possuem preocupações em comum: “Uma ideia de entender a arte como algo que tem um compromisso dessa ordem política. Não como algo apartado da cidade e do tempo em que a gente vive, mas que reflete sobre as questões importantes do nosso tempo”, diz Rivitti. “Acho que isso é um pressuposto tanto do Atelie397 quanto dos outros espaços com os quais a gente foi construindo essa rede.”
À frente, obra de Raphael Escobar; ao fundo, “Biroska Lanches”, de Chico Togni e Kadija de Paula.
Outro aspecto marcante da mostra no Sesc Pinheiros é a expografia, assinada por Edu Marin, em projeto que dialoga com um debate corrente no circuito independente. O questionamento da ideia do cubo branco e a desconstrução de modos convencionais de expor se dão por meio de estruturas abertas, sem paredes ou painéis, priorizando a transparência – inclusive a visão dos versos das obras – e uma circulação mais livre. “A desconstrução do cubo branco é importante pois, apesar de uma suposta neutralidade, ele tem toda uma carga ideológica, uma aposta numa ideia de arte apartada do mundo, que tem que ser contemplada por suas relações internas autônomas”, explica Rivitti.
“32 formas de gravar resistência”, 1999, de Rebeca Ramos
Todo o debate presente não deixa de nos remeter às dificuldades vividas pelos espaços de arte – nas mais diferentes instâncias – no Brasil governado por Bolsonaro, onde o ataque à área cultural se mostra cada vez mais forte. “A ameaça é geral, mas, pensando neste circuito independente, tudo o que nós ajudamos a construir durante governos passados – com o Ministério da Cultura, a ideia de acesso à cultura e um pensamento sobre a nossa própria rede econômica – foi simplesmente jogado no lixo. Todas as formas de fomento, inclusive. E então nesse novo cenário, infinitamente pior, estamos aprendendo a fazer outras articulações, inclusive com a iniciativa privada”, diz a curadora. “Mas, sim, há um desmonte geral e o que era muito difícil está agora no limite do impossível.”
O título Estamos Aqui, portanto, se abre para diferentes interpretações e leituras: da ideia de “estamos aqui resistindo”, como sinaliza o trabalho 32 formas de gravar resistência, de Rebeca Ramos ou o filme do coletivo Foi à Feira – que mostra a resistência de povos indígenas ao longo do tempo; ao fato de “estarmos aqui” constantemente ocupando, atuando e transformando territórios. “Me lembra até aqueles mapas que dizem ‘você está aqui’, brinca Rivitti, ressaltando ainda que as coisas são temporárias, transitórias, e que podemos estar cada hora em um lugar. Por fim, “Estamos Aqui é uma afirmação de todo um circuito, de uma multidão de pessoas que estão discutindo, fazendo e pensando arte e que ficam tantas vezes invisibilizadas”, conclui a curadora.
Cena de “O Castelo”, 2015, filme de Alexandre Wahrhaftig, Guilherme Giufrida, Helena Ungaretti e Miguel Antunes Ramos. Foto: Divulgação
Além dos artistas já citados, participam de Estamos Aqui: Alexandre Wahrhaftig, Guilherme Giufrida, Helena Ungaretti, Miguel Antunes Ramos; ali: leste; Aline Motta; Ana Matheus Abbade; Bruna Kury; Bruno Baietto; C. L. Salvaro; Chico Togni & Kadija de Paula; Erica Ferrari; Guillermina Bustos; Heloisa Hariadne; Isabela Alves; Jaime Lauriano; Kauê Garcia; Laixxmo; Lícida Vidal; Luana Lins; Manuela Costa Lima; Mari Nagem; Natalie Braido; Pedro Gallego; Raphael Escobar; Raphael Franco; Sergio Pinzón, Serigrafistas Queer e Yiftah Peled.
SERVIÇO – Ocupação Estamos Aqui ONDE: Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195 QUANDO: De 12 de janeiro a 24 de abril de 2022
Terça a sábado, das 10h30 às 20h30. Domingos e feriados, das 10h30 às 18h30 QUANTO: Entrada gratuita
*Para entrada na unidade é necessária a apresentação de certificado de vacinação contra a Covid-19 com as duas doses ou dose única.
Vista da exposição "Fabricação Própria - Lotus Lobo", no Sesc Pompeia. Foto: Everton Ballardin
A artista mineira Lotus Lobo. Foto: Lucas Galeno / Divulgação
“Como revelar as muitas fabricações, experimentações e invenções que Lotus Lobo empreendeu desde os anos 60 até os dias de hoje?” Essa pergunta guia a individual da artista mineira em cartaz no Sesc Pompeia. Com curadoria de Marcelo Drummond, Fabricação própria reúne trabalhos históricos e obras comissionadas, apresentando-se como uma mostra panorâmica. “A ideia é trazer essa espécie de polifonia que a gente enxerga na produção da Lotus Lobo”, explica o curador.
Há mais de 50 anos, a artista empreende uma pesquisa que cruza a litografia autoral artística com a litografia industrial. Nascida em Belo Horizonte, foi em 1969 que Lotus entrou em contato com a produção de embalagens em folha de flandres da Estamparia Juiz de Fora, em Minas Gerais. Na fábrica, coletou matrizes das primeiras décadas do século 20, e a partir delas, por meio da apropriação e manipulação de imagens, produziu obras que desvelam o caráter criativo dos ambientes fabris.
A proposta de Drummond para esta exposição é de apresentar, em estreito diálogo com o ambiente da antiga Fábrica da Pompeia (atual Sesc Pompeia), o resgate e a preservação do importante acervo de matrizes provenientes da estamparia, com as quais Lotus articula sua vasta produção artística. Assim, por vezes, o público fica em dúvida se aquilo que vê é acervo histórico ou uma criação de Lotus Lobo. “É impossível a gente hierarquizar em campos rígidos o que é uma coisa, o que é outra. Me pareceu interessante deixar que o público possa se posicionar de maneira sensível e crítica entre uma coisa e outra”, completa o curador.
“Para além de proteger do esquecimento um certo passado, a exposição Fabricação própria dialoga com as lembranças de outros tempos e lugares que insistem em permanecer no imaginário, mesmo à revelia dos sujeitos. Para o Sesc, a apresentação de trabalhos de arte contemporânea, associada à divulgação de um acervo que remonta aos primórdios do design nacional, sugere que as memórias entrelaçam revelação e preservação, elaboração e ressignificação permanente”, comenta Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.
A arte!brasileiros visitou a exposição e conversou com o curador. Assista ao vídeo:
Fabricação Própria fica em cartaz até 30 de janeiro de 2022 e pode ser visitada gratuitamente mediante apresentação de comprovante vacinal. É obrigatória a utilização de máscara durante toda a visita e a medição de temperatura dos visitantes na entrada da unidade. Acesse o site do Sesc Pompeia e agende sua visita.
Num jogo entre o que está visível e invisível, implícito e explícito, Ausente Manifesto: ver e imaginar na arte contemporânea se constrói. Em cartaz no Sesc Mogi das Cruzes, a mostra dá início ao programa de exposições da nova unidade e inaugura parceria entre o Sesc São Paulo e o Museu de Arte Moderna da cidade (MAM-SP).
Com curadoria de Cauê Alves e Pedro Nery, respectivamente curador-chefe e museólogo do MAM-SP, “a mostra trata da natureza simbólica que uma coleção [de arte] é capaz de abrigar. Obras metalinguísticas que abrem acesso ao problema central do acervo de um museu, e da própria produção contemporânea, que está empenhada em diluir as divisas das linguagens e da separação com o mundo exterior enfrentando problemas conceituais e da consciência do que é fazer arte. Algumas obras discutem objetivamente o problema proposto, evidenciando justamente o que não está presente ao espectador, remontando ao que está invisível e que pode ser imaginado”, comentam os curadores.
Como explica Alves, Ausente Manifesto busca “mostrar o quanto se manifesta aquilo que está ali de modo invisível, silencioso, ausente no interior de uma obra de arte. Não de modo direto, objetivo ou escancarado, mas como uma camada que pode ser desvelada”.
A exposição reúne 35 obras do acervo do MAM-SP. Entre desenhos, instalações, vídeos, fotografias e representações encontramos trabalhos de artistas como Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Carlito Carvalhosa, Coletivo Garapa, Efrain Almeida, José Damasceno, Lenora de Barros, Rivane Neuenschwander, entre muitos outros.
A arte!brasileiros visitou a mostra e conversou com os curadores e com o coordenador de programação do Sesc Mogi das Cruzes, Leonardo Borges. Assista ao vídeo:
Ausente Manifesto fica em cartaz no Sesc Mogi das Cruzes até 20 de fevereiro de 2022 e pode ser visitada gratuitamente mediante apresentação de comprovante vacinal. É obrigatória a utilização de máscara durante toda a visita e a medição de temperatura dos visitantes na entrada da unidade. A parceria com o MAM-SP prevê itinerância da exposição, que ao longo do próximo ano deve ocupar outras unidades do Sesc SP.
"Atlântico" (2016), Arjan Martins. Foto: A Gentil Carioca.
Entre biografias de grandes nomes modernistas e teorias que questionam os olhares hegemônicos sobre a cultura, passando por dramaturgias, livros de fotografia, indagações sobre os fazeres contemporâneos e coletâneas de entrevistas, muitas publicações que envolvem o mundo das artes foram publicadas (e reeditadas) em 2021. A arte!brasileiros preparou uma lista com 12 livros lançados recentemente que nos provocam a repensar a arte no Brasil e no mundo.
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"Arte Contemporânea: modos de usar", de Paula Braga. Editora Elefante, 2021 (312 p.). Foto: Tadeu Breda
"Arte e ativismo: antologia", organizado por André Mesquita, Charles Esche e Will Bradley. MASP/Afterall, 2021 (568 p.). Foto: Reprodução
"Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela", de
Leda Maria Martins. Editora Cobogó, 2021 (256 p.). Foto: Reprodução
Entre capítulos teóricos e crônicas, Paula Braga nos guia pelo universo da arte contemporânea. Ao analisar trabalhos de criadores consagrados como Hélio Oiticica, Cildo Meireles e Beatriz Milhazes, além de nomes menos conhecidos do grande público, a professora de Filosofia da UFABC se propõe a discutir as formas pelas quais a arte afeta e é afetada pela realidade. Cada capítulo tem dois momentos: primeiro uma crônica, na qual Paula Braga flerta com a autoficção; depois, e em diálogo com o texto que o antecede, um ensaio crítico, mais acadêmico – que em nada corresponde aos estereótipos sisudos da academia. “A combinação de estilos segura a mão da gente em um rolê aleatório pelo labirinto da arte contemporânea, sem fio condutor. A proposta é se deixar levar por uma autora que enxerga a arte como caminho para a investigação existencial, a produção de pensamento e a formação de subjetividades desviantes da norma, sem deixar de pontuar as mazelas do neoliberalismo e a desintegração do tecido social brasileiro nestes tempos distópicos”, como sugere o release.
Publicado pelo MASP, o livro reúne 84 textos sobre as relações entre prática artística e ativista nos campos político, social, institucional, ambiental, de gênero e de raça através dos tempos em todo o mundo. Entre manifestos, ensaios teóricos, declarações públicas de artistas e coletivos, encontramos palavras de Augusto Boal, Decolonize This Place, León Ferrari, Cildo Meireles, Guerrilla Art Action Group, Internacional Situacionista, entre tantos outros autores e grupos. Os textos abordam questões como os compromissos políticos das vanguardas modernistas e suas rejeições em favor do protesto, da crítica, do experimento social utópico ou da propaganda revolucionária. O volume é organizado cronologicamente, começando com escritos do final do século 19, como os do pintor francês Gustave Courbet, até as práticas de coletivos de ativismo artístico nos séculos 20 e 21. A Antologia é o resultado de uma parceria entre o MASP e o Afterall, centro de pesquisa da University of the Arts, Londres.
A ensaísta, poeta, dramaturga e professora Leda Maria Martins explora as inter-relações entre corpo, tempo, performance, memória e produção de saberes. Dialogando com pensadores como Alfredo Bosi e João Guimarães Rosa, a autora desconstrói a dicotomia entre oralidade e escrita enfatizada pelo Ocidente e, “assim, descoloniza o pensamento Ocidental e requalifica a África como continente pensante. A palavra também se inscreve no corpo, na memória, no tempo”, sugere a descrição do livro. Em um conjunto de ensaios, a autora consolida o conceito de tempo espiralar, que surge pela observação de práticas comunitárias e no fundamento de vários grupos étnicos africanos. No livro, a autora propõe que a experiência e a compreensão filosófica do tempo podem ser expressas por uma inscrição não necessariamente discursiva, mas não por isso menos significativa e eficaz: a linguagem constituída pelo corpo em performance, das liturgias do Reinado às artes cênicas.
Publicada em dois livros, a coletânea da editora Circuito se debruça sobre a arte produzida no Brasil, reunindo ensaios de artistas, pesquisadores, críticos e curadores de arte contemporâneos. No primeiro volume foca no período de 1970 a 1999, reunindo 39 textos de importantes nomes como Guy Brett, Lisette Lagnado e Tunga (entre tantos outros). No segundo volume, encontramos as palavras de profissionais do mundo das artes como Aracy Amaral, Ayrson Heráclito, Cauê Alves, Tiago Sant’Ana e Tadeu Chiarelli, que buscam traçar um amplo panorama das duas primeiras décadas do século 21, abordando o ativismo nas artes, o papel da crítica e da curadoria no circuito artístico, as artes dos diferentes Brasis e sua relação com os projetos políticos em questão.
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"O que vem depois da farsa?", de Hal Foster. Editora Ubu, 2021 (192 p.). Foto: Divulgação
"Entrevistas brasileiras vol. 2", de Hans Ulrich Obrist. Editora Cobogó, 2021 (432 p.). Foto: Reprodução
"Ubu Rei", de Alfred Jarry. Editora Ubu, 2021 (128 p.). Foto: Reprodução
“Como o mundo da arte participa dos dilemas de sua época? O que a política da pós-verdade e da pós-vergonha implica para artistas e críticos?” Essas são algumas das perguntas que guiam o novo livro de Hal Foster, no qual o autor traz uma análise do contexto social, político e cultural da atualidade, implicando artistas, curadores, museus e instituições e críticos. Os ensaios reunidos na publicação discorrem sobre mudanças na arte, na crítica e na ficção diante do “atual regime de terror e vigilância, desigualdade extrema, desastre climático e disrupção midiática”, conforme sugere a descrição do livro (Leia o texto de Fabio Cypriano sobre O que vem depois da farsa?).
Reunindo 30 entrevistas do curador suíço Hans Ulrich Obrist com artistas, antropólogos, músicos, cineastas e outros pensadores brasileiros, a publicação busca formar um painel múltiplo do que é pensado e realizado hoje no país. O livro traz conversas que tratam desde questões intrínsecas à construção de um léxico artístico, como o processo de criação e o papel da arte da sociedade, a debates acerca de assuntos prementes, como a luta contra o racismo, a formação de um circuito decolonial de arte, a conquista de uma subjetividade. A publicação dá continuidade ao Hans Ulrich Obrist – Entrevistas brasileiras vol. 1, publicado em 2019, no qual o curador debatia ideias com mestres e pioneiros do século XX.
A peça francesa, encenada pela primeira vez em 1888, ganha edição comemorativa. Com projeto gráfico de Elaine Ramos, o livro conta com lâminas interpostas no miolo com manuscritos e reproduções de artistas das vanguardas – como Dora Maar, Miró, Lina Bo Bardi, Max Ernst, Picasso e Raymond Savignac. A obra traz a história de Pai Ubu, que encarnou a alegoria do político grotesco, estúpido, intratável, que se torna rei trapaceando e governa na base de atrocidades contra o povo e os aliados. A dramaturgia é acompanhada de textos de Firmin Gémier (ator da primeira encenação da peça), Guillaume Apollinaire, Michel Foucault, Otto Maria Carpeaux, além de escritos do próprio Jarry.
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"Arjan Martins", organizado por Paulo Miyada. Editora Cobogó, 2021 (184 p.) Foto: Divulgação.
"Madalena Schwartz: as metamorfoses", organizado por Samuel Titan Jr., Gonzalo Aguilar. Instituto Moreira Salles, 2021 (294 p.). Foto: Reprodução
"Ruy Ohtake, arquiteto", organizado por Abilio Guerra e Silvana Romano Santos. Editora Romano Guerra, 2021 (360 p.). Foto: Reprodução
"Conversas com Cézanne", de Michael Doran (tradução de Julia Vidile). Editora 34, 2021 (320 p.). Foto: Reprodução
"Guignard Anjo Mutilado", de Marcelo Bortoloti. Cia. das Letras (488 p.). Foto: Reprodução
Em edição bilíngue, o livro apresenta um extenso panorama da trajetória do pintor carioca, compilando um ensaio escrito pelo curador Paulo Miyada, outro pelo crítico e historiador de arte Michael Asbury, uma entrevista feita com Arjan Martins pela historiadora Raquel Barreto e imagens de 100 obras do repertório do artista. Arjan Martins dialoga com a tradição moderna da pintura ocidental, incorporando um repertório visual e uma narrativa afro-brasileiros. As imagens de imigrantes e descendentes africanos são parte fundamental do repertório do artista, mostrando-os em ações cotidianas, e as quais trazem questões eminentes a serem discutidas: herança colonial, identidade étnica, negritude, segregação, invisibilidade. Seus trabalhos percorrem também cartografias, que chegam como elementos significativos do período histórico das navegações.
Acompanhando a exposição individual de Madalena Schwartz, ocorrida no primeiro semestre de 2021 no Instituto Moreira Salles de São Paulo, foi lançado o catálogo As metamorfoses. A publicação testemunha a importante produção da fotógrafa, que retratou – em plena ditadura militar – o universo de travestis e transformistas. “Madalena Schwartz interessou-se em pé de igualdade pelas pessoas que fotografou, das figuras já célebres às estrelas quase anônimas, de brilho breve e intenso, que orbitavam pelo centro de São Paulo”, aponta o release. Completa este volume um panorama da produção latino-americana sobre o mesmo tema durante aqueles mesmos anos de chumbo em todo o continente, com obras de Paz Errázuriz, Estúdio Luisita, Leandro Katz, Hélio Oiticica, Sergio Zevallos, Vasco Szinetar, Adolfo Patiño, Armando Cristeto e imagens do Arquivo Quiwa e do Arquivo da Memória Trans Argentina.
Falecido em novembro de 2021, Ruy Ohtake foi um dos nomes mais influentes da arquitetura brasileira contemporânea. Autor de centenas de projetos, ele foi ganhador de 25 prêmios, conquistou o Colar de Ouro do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB (2007), recebeu os títulos de Professor Emérito da Faculdade de Arquitetura de Santos e de Professor Honoris Causa da Universidade Braz Cubas. “Sua produção tem sido registrada em revistas e livros, mas até o presente momento não havia sido feita uma publicação contendo balanço crítico isento e aprofundado, que permita a inserção de sua obra em merecido lugar da história da arquitetura brasileira. A finalidade maior deste projeto cultural é cumprir esse objetivo”, escrevem Abilio Guerra e Silvana Romano Santos, organizadores da publicação.
Pesquisador do Courtauld Institute, de Londres, Michael Doran busca traçar um retrato vivo de Paul Cézanne, reunindo e comparando os principais testemunhos daqueles que conviveram com o pintor entre 1894 e 1906 – e registraram tanto o conteúdo de suas conversas e a originalidade das concepções do artista, bem como seu cotidiano, seus hábitos e idiossincrasias, “seus procedimentos diante do motivo pictórico e até a ordenação das cores em sua paleta”. Por meio de cartas, artigos de jornal, relatos de conversas e ensaios críticos e biográficos, “o Cézanne que emerge destas conversas e testemunhos”, escreve Paulo Pasta no posfácio.
O livro retoma a obra e vida de Alberto da Veiga Guignard, pintor cujas obras – em especial suas paisagens de Minas, as reais e as imaginárias – foram marcantes no modernismo brasileiro. O “anjo mutilado” – como o chamou o poeta Manuel Bandeira –, recebeu essa alcunha por sofrer de caso severo de lábio leporino. A partir de uma pesquisa extensa, Marcelo Bortoloti faz não apenas uma reconstrução da biografia do pintor, mas também um retrato histórico da Europa entreguerras e do Brasil modernista.
Entre 1891 e 1946, mais de 500 objetos sagrados das religiões afrobrasileiras foram apreendidos pela polícia do Estado do Rio de Janeiro, que movia então intensa perseguição aos rituais do candomblé e da umbanda que chegaram ao Brasil com cidadãos negros escravizados. Expostos como “Coleção de Magia Negra”, permaneceram por um século sob a posse do Museu da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Mães e pais de santo eram acusados de charlatanismo e curandeirismo e seus objetos rituais eram apreendidos como provas do “crime”.
Em julho do ano passado, após quase cem anos sob tutela da polícia, as 519 peças do acervo foram doadas ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e transferidas para o Museu da República, sendo incorporadas ao patrimônio brasileiro. A cessão foi resultado de uma luta popular encabeçada pela ialorixá Mãe Menininha de Oxum a partir de 2018. Os objetos são os mais antigos do tipo que se tem notícia, o que mobilizou a comunidade museológica e trouxe euforia à militância afrobrasileira. Anéis de metal que pertenceram a líderes religiosos, joias, 22 cachimbos, 60 esculturas, 13 tambores, cerca de 10 peças de indumentária (200 dessas peças já eram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, o primeiro tombamento etnográfico do País). Uma história subterrânea emergia da preciosa coleção, abrigada pelo Museu da República na rua do Catete, 153, no coração do Rio de Janeiro, no dia 21 de setembro de 2020 – os símbolos e desenhos talhados no material possibilitam ampliar a compreensão dos cultos, das origens, da força e das estratégias de sobrevivência de uma época em que as manifestações religiosas de matriz africana eram alvo de perseguição no país.
Há alguns dias, entretanto, aquilo que sugeria um final feliz (como a consolidação de um notável avanço civilizacional, histórico, etnológico, cultural e social) trombou de novo com aquela antiga barreira do preconceito e da ignorância que tinha criminalizado a umbanda e o candomblé no passado. Quando o Ibram já fotografava, descrevia e preparava a coleção para expô-la ao público, se deparou com uma súbita e inesperada ordem de cima para interromper todo o trabalho de documentação e para enclausurar o material.
Exu Ijelú (escultor: Arthur Cunha) – Exu, Legbara e Nzila são os mensageiros entre os humanos e o divino, respectivamente das nações Ketu, Jeje e Angola. Da coleção de Museu da República. Foto: Oscar Liberal/ Divulgação
Segundo apurou a reportagem, a ordem de interromper a preparação da coleção teria vindo direto do Diretor de Cooperação e Fomento do Iphan, Tassos Lycurgo, um pastor e extremista cristão, frequente orador da igreja Defesa da Fé. As peças do Acervo Nosso Sagrado (assim rebatizado pela reivindicação da comunidade negra) já estavam em pleno exame no Departamento de Difusão, Fomento e Economia do Ibram. Mas porque o pastor Lycurgo, que é do Iphan, outra autarquia federal, ganhou essa autoridade sobre uma coleção do Ibram sob a guarda do Museu da República? Acontece que Lycurgo, colocado no atual cargo há um mês, dirige agora o Sistema Nacional de Patrimônio Cultural (SNPC) do país, responsável por coordenar ações do setor que tratam da cooperação nacional e internacional, promoção e difusão, formação e pesquisa aplicada e a gestão documental e do conhecimento.
Ninguém sabe dizer quando (ou se) serão retomados os trabalhos no Acervo Nosso Sagrado. A equipe do Museu da República conseguiu, a duras penas, montar uma mostra virtual antes da lacração. A ação do Ibram se insere numa cruzada extremista que já se espalha como uma metástase por todo o sistema de cultura do País, casos da Ancine, do Iphan, da Fundação Casa de Rui Barbosa e da Fundação Cultural Palmares. Lycurgo, pastor do Ministério da Defesa da Fé em Natal (RN), afirmou em seu site que uma de suas missões é “apresentar de maneira científica, histórica e filosófica razões para seguir Jesus Cristo”.
Quando Tassos Lycurgo assumiu no Iphan, em dezembro de 2020, a arquiteta Marcia Sant’Anna, uma das maiores especialistas em patrimônio cultural e histórico da Bahia, advertiu, como se em uma premonição: “Muitos bens culturais registrados no Brasil como patrimônio imaterial estão vinculados a sistemas religiosos que precisam ser respeitados e acolhidos como importantes manifestações da cultura e das distintas visões de mundo que caracterizam a sociedade brasileira. Assim, a política de salvaguarda não pode e nem deve estabelecer hierarquias ou juízos de valor com relação a essas manifestações. As postagens e declarações do senhor Tassos Lycurgo não nos autorizam a pensar que esses princípios serão observados”.
Adê de Oxum – “Adê” é uma palavra do idioma iorubá que significa “coroa”. Da coleção de Museu da República. Foto: Oscar Liberal/ Divulgação
A implosão do sistema museológico tem dupla função: além de impor a agenda do extremismo ideológico, religioso e fundamentalista do governo, possibilita também a ocupação funcional, o preenchimento do chamado cabide de empregos – boa parte dele destinado ao contingente de oficiais da reserva a reboque do bolsonarismo. No Ibram, foi nomeado em 16 de junho o coronel da reserva do Exército Paulo Guilherme Ribeiro Fernandes como diretor do Departamento de Planejamento e Gestão Interna dos museus. Mais que um militar, Fernandes vem de uma aventura temerária: era coordenador-geral de Planejamento do Ministério da Saúde na malfadada gestão do general Eduardo Pazuello, que assumiu o ministério quando haviam 15 mil mortos pela pandemia de Coronavírus e, quando foi demitido, já contabilizava 280 mil mortos em seu currículo. Uma das ações de “planejamento” do grupo de Pazuello, a cargo justamente do setor do coronel Fernandes, foi a distribuição de oxigênio para hospitais, que terminou com um morticínio de dimensões indescritíveis em Manaus, no Amazonas.
Acomodado agora nos museus, após a queda de Pazuello, o coronel Fernandes já apresentou suas armas: ele pretende tirar da condição de unidades gestoras autônomas (Unidades Administrativas de Serviços Gerais, as UASGS) todo o sistema museológico brasileiro. Os museus do Rio de Janeiro, por exemplo, que são atualmente unidades gestoras (Museu Nacional de Belas Artes, Museu Villa Lobos, Museu Histórico Nacional, Chácara do Céu, Museu da República) deixarão de ser autônomos e suas ações ficarão concentradas num único escritório regional. O que possibilita ao coronel fazer tal ingerência é uma portaria do Ministério da Economia publicada no dia 12 de dezembro de 2019 (Portaria 13.623) que permite o “redimensionamento do quantitativo das Uasg pelos órgãos da administração pública federal”.
Revestida de uma casca de legalidade imoral, o avanço do obscurantismo tem graves efeitos coletarais. Qualquer resistência a essa cruzada motiva perseguições e hostilidade nas agências (vide o caso recente da Anvisa, Agência Nacional de Saúde, que está sob ataque violento de negacionistas por decisões sobre vacinação infantil), assim como autarquias e instituições públicas de cultura. Isso levou os servidores contatados pela reportagem a negarem-se a dar depoimentos para o texto.
Cocar de penas – Usado por Caboclos, entidades espirituais de grande relevância na umbanda e no candomblé. Da coleção de Museu da República. Foto: Oscar Liberal/ Divulgação
O autoritarismo e a falta de transparência tingem de insegurança e espírito antidemocrático praticamente todas as instituições dos setores museológico e patrimonial na esfera federal. Parecem atos aloprados, de fanáticos, mas têm método e sistemática. Um dos ataques mais recentes foi contra a estrutura do Prêmio Rodrigo Melo de Andrade Franco, premiação de excelência da área do patrimônio, com 34 anos de existência. A edição 2021 do prêmio sofreu uma série de alterações substanciais na dinâmica da premiação nesta 34ª edição, notadamente na etapa final, que é nacional. As alterações, feitas sem consulta prévia e anuência da equipe que integra a Comissão Organizadora da Premiação, atentam contra os princípios de transparência e lisura preconizados pelo serviço público, além de afetar a dinâmica do concurso e da rede de técnicos e experts que participam da premiação. O tempo exíguo para que o júri faça o exame dos 125 inscritos também contou negativamente na qualidade do processo.
O setor museal é uma área estratégica em todas as Nações desenvolvidas. Em países como França e Inglaterra, sua capacidade de autogestão e força curatorial atuam como âncoras econômicas e de desenvolvimento. No Brasil, a preocupação com o setor é relativamente recente, começando a ser política de Estado só a partir dos anos 1930, no governo Vargas. Hoje, parte substancial das políticas da área é tocada pelo Ibram, que ainda é responsável pela administração direta de 30 museus federais.
Subordinado à Secretaria Especial de Cultura, por seu turno submetida ao Ministério do Turismo, o Ibram vive o pesadelo de toda a cultura nesse período: a centralização autoritária e o espectro da censura. Por exemplo: uma circular do secretário Mario Frias, de 2020, obriga hoje a que todas as instituições vinculadas submetam a ele, com sua vasta experiência de ex-ator de soap opera, todas suas publicações – sejam em sítios, perfis, mídias digitais e portais oficiais, “visando uniformizar a comunicação”. Imaginem o Museu do Louvre tendo de passar por algo assim. A autonomia museológica é o único antídoto para tal postura.
Cachimbo – No candomblé, os cachimbos representam a divindade da cura. Na umbanda, são muito usados por Pretos Velhos, espíritos associaædos ao arquétipo do velho sábio. Da coleção de Museu da República.
Os museus vivem já há algum tempo uma aguda encruzilhada face às novas tecnologias e demandas do mundo contemporâneo. Para além dos problemas atuais, que são arcaicos, provocados por um governo arcaico, a museologia tem os desafios de “sacudir, diversificar, experimentar novos caminhos de inovação e superar as tradicionais discussões”, segundo diagnosticaram especialistas do País todo reunidos em um simpósio este ano. Essas exigências vão ser testadas no ano que vem, quando voltam à ativa os gigantes Museu do Ipiranga, em São Paulo, e o Museu Nacional, no Rio (destruído por um incêndio em setembro de 2018).
A pandemia de Covid-19, malgrado todos os danos, é consenso que ensinou aos museus uma lição. Ao se verem paralisados, sem seu público, sem visitação, eles trataram de modernizar seu papel na vida social e a abordagem pública. Museus de paleontologia e antropologia passaram a incrementar sua função para além da educação, do caráter exibicional e da geração de ciência, passando a gerar também conhecimento. Aprenderam a fazer todo o planejamento de forma remota e a desenvolver as estratégias expositivas à distância, de uma forma que vem sendo considerada muito satisfatória. Incrementaram o uso de holografia e interatividade e a comunicação e o diálogo com a sociedade. Para além dos fantoches do autoritarismo, do retrocesso e do desmonte, os museus já projetam o futuro.
"Monumento à Bandeiras", Victor Brecheret, 1953. Peça – Granito (8m x
7m x 40m), Pedestal – Granito (2,54m x 8,40m x 43,80m). Foto: Reprodução
O Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, também conhecido como Empurra-empurra e por Deixe que eu empurro, tem mais de cem anos, se levarmos em conta que sua primeira maquete é de 1920. Situado no principal parque da cidade de São Paulo – o Ibirapuera – ele e sua imagem servem de suporte para que várias camadas da população projetem seus anseios e fantasias sobre a cidade e seu passado, sobre o Brasil e seu futuro.
Esculpido em 240 blocos de granito e pesando muitas toneladas, o Monumento não simboliza, ou não simboliza apenas, a “saga” dos bandeirantes paulistas que, no período colonial, invadiram o território da então colônia portuguesa, ampliando seus limites enquanto preavam indígenas e buscavam ouro e pedras preciosas; o Monumento também, desde antes do início de sua construção, em 1936, simbolizava a elite paulista do século 20, identificada com aqueles seus supostos ancestrais. Na década de 1930, quando o Monumento começa a ser erguido ele era, para essa elite, o símbolo de seu próprio reerguimento enquanto potência no âmbito da nação, depois dos descalabros da Revolução de 1930 e da Revolução Constitucionalista, de 1932, quando São Paulo perdeu sua hegemonia.
Porém, o Monumento significou e significa mais. Embora ele se mantenha impávido lá no Ibirapuera, íntegro em sua concretude de pedra, cada geração, cada grupo social tende a conferir-lhe novos significados, atualizando-o e problematizando sua presença no cotidiano da cidade.
Este texto deve ser lido como o esboço de um panorama sobre como o Monumento vem sendo percebido por paulistas e brasileiros, desde suas primeiras maquetes, realizadas em 1920, até os dias de hoje.
“Maquete do Monumento às Bandeiras”, 1920, Victor Brecheret. Foto: lustração Brasileira, RJ, set. 1920. Col. IEB USP.
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Iniciada sua construção em 1936, ela foi rapidamente comprometida, tanto pelo golpe que instituiria o Estado Novo, em 1937, quanto pela eclosão da II Grande Guerra, dois anos depois. Tais eventos ajudaram a atrasar a execução da obra e apenas as mudanças ocorridas a partir de 1945[1] fizeram com que a construção do Monumento fosse retomada, até ser inaugurado em 1953, dando início às festividades dos 400 anos de São Paulo[2].
Os brasileiros em geral, e os paulistas em particular, adotaram o Monumento às Bandeiras como símbolo da cidade, do Estado e do Brasil, e tal posicionamento pode ser visto pela sua rápida transformação em cenário para que todos performassem como integrantes de um país que alcançava seu futuro: desde sua inauguração, o Monumento serve de fundo para fotos que celebram encontros entre colegas, familiares e grupos de turistas encantados com a “pujança” da cidade. Desde sempre também foi comum que noivos recém-saídos da cerimônia de casamento posassem frente ao Monumento: o casal – célula da família e, portanto, do país – tendo ao fundo um dos maiores símbolos da pátria.
A imagem do Monumento às Bandeiras não ficou restrita a fundo de fotos de encontros de paulistas e turistas – função que mais recentemente seria exacerbada com a chegada dos selfies. O Monumento também alimentou a indústria de lembranças da cidade, impondo a todos uma memorabilia que, sempre com a imagem do Monumento, ilustra capas de cadernos, bandejas, chaveiros, panos de prato etc.[3]
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Pouco mais de dez anos após a inauguração do Monumento, no entanto, o golpe civil-militar de 1964 fez com que a fé no presente e no futuro do país se tornasse discutível. Os protagonistas do novo regime tentaram instrumentalizar a imagem do Monumento, relacionando-o ao clima “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Assim, aos poucos, aquele conjunto escultórico foi sendo associado ao poder que comandava o país e seu papel até então repleto de positividade começou a desmoronar.
“Brazil Today, Natural Beauties”, 1977, Regina Silveira. Serigrafia sobre cartão postal, 10,5 x 15 cm. Foto: Reprodução
De símbolo de uma utopia (para poucos, é certo), o Monumento às Bandeiras passou a ser um dos símbolos da distopia que havia se transformado o Brasil durante os anos 1960/70 – e essa dimensão nada edificante ganhou visibilidade em trabalhos de arte, como Proposta para Monudentro, 1973 (publicação On/Off 2) e Brazil Today, Natural Beauties, 1977, ambos de Regina Silveira.
Na década seguinte, com o início da abertura política, a dimensão simbólica do Monumento chegou a ser revista, projetando um Brasil em transformação, em que o “povo brasileiro” – representado pelas figuras do Monumento – se rebelava contra o status quo –, caso do HQ Entradas e bandeiras, de Luiz Gê, de 1985[4].
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“Entradas e Bandeiras”, Luiz Gê, 1985. In: Revista Chiclete com banana. São Paulo n.1. Foto: Reprodução
Jaime Lauriano. "Monumento às Bandeiras", 2016, tijolo vermelho e réplica do Monumento às bandeiras fundida em latão e cartuchos de munições utilizadas pela Polícia Militar e Forças Armadas Brasileiras, 8 x 18 x 9 cm, Coleção Particular. Foto: Divulgação
Vitor Flynn Paciornick, "Xondaro". São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo, Elefante, 2016. Foto: Reprodução
Mas essa vertente não teve continuidade.
Entrando nos anos 1990 e, em seguida, no novo século – e com a emersão de outras vozes no campo da democracia brasileira –, diferentes interpretações foram sendo agregadas ao Monumento. Para esses novos protagonistas, era preciso deixar evidente que o Monumento às Bandeiras não representava a glória do passado e do futuro do país; ele, de fato, homenageava milicianos assassinos, estupradores e traficantes de seres humanos.
Se até então o Monumento havia sido utilizado apenas como imagem e/ou pano de fundo para celebrações as mais diversas, agora ele se tonava também um marco específico e suporte para atividades de contestação ao poder instituído, visto como discriminatório e cruel em relação aos segmentos subalternizados da sociedade brasileira.
A manifestação ocorrida em São Paulo, em dois de outubro de 2013, a favor da demarcação das terras indígenas – e que culminou com a tomada do Monumento às Bandeiras pelos manifestantes –, é emblemática. Ali, simbolicamente, os povos indígenas e outros segmentos da sociedade tornaram a obra de Brecheret símbolo da ignomínia brasileira, sentido depois igualmente extravasado pela produção de alguns jovens artistas da cidade, como Sidney Amaral, Jaime Lauriano e Flávio Cerqueira[5].
Manifestação indígena contra a PEC 215 em 2 de outubro de 2013. Foto: CIMI/ https://bit.ly/3ed52Wk
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Estabelecido este panorama, seria importante refletir sobre o que levou o Monumento às Bandeiras a ganhar essa proeminência dentro do imaginário brasileiro. O que haveria de especial em sua concepção, o que haveria de tão original em sua forma, capaz de explicar o protagonismo que ele foi alcançando com o passar do tempo, protagonismo este para o bem e para o mal.
O elemento mais importante daquele conjunto escultórico talvez seja a sensação de movimento produzido por Brecheret, parecendo que todo o grupo “caminha” para frente e para cima. Esta solução proposta pelo artista sintetiza o próprio tema da obra, introjetando no granito o frêmito das entradas dos bandeirantes no sertão brasileiro e, por associação, os paulistas dos anos 1930, comandando, de novo, o Brasil rumo ao futuro. Sem individualizar nenhum personagem em especial, Brecheret juntou duplas ou pequenos grupos que, em conjunto, parecem caminhar. Tal solução, por sua vez, imprimiu-lhe um caráter de horizontalidade, sublinhado pela sutil elevação das figuras, em seu início. Esta característica traz originalidade ao Monumento às Bandeiras se comparado com outros monumentos do final dos 19 e início do 20, produzidos aqui e fora do país. Se no Monumento o que sobressai é seu caráter horizontal e seu movimento, na concepção de seus congêneres impera a verticalidade e a imobilidade[6].
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Se atentarmos para os documentos fotográficos da maquete para o Monumento, datados de 1920, veremos que Brecheret não realizou apenas uma maquete, mas duas: a primeira, denominada Monumento às Bandeiras, ao que se sabe, teria sido a única a ganhar um memorial descritivo, publicado na revista Papel e Tinta, em julho de 1920, assinado pelo artista[7]. Porém, em setembro do mesmo ano, na revista Ilustração Brasileira, além da maquete citada, foram publicadas duas fotos de uma segunda maquete, esta referente ao monumento A Volta. As fotos ilustravam um breve artigo intitulado “Victor Brecheret”, assinado com as iniciais D.C., contando ainda com uma foto do então jovem escultor.
“Maquete para o Monumento A Volta”, Victor Brecheret. Ilustração Brasileira, RJ, set. 1920. Col. IEB USP. Foto: Reprodução
Embora com outro título, A Volta era também um projeto para um monumento dedicado às bandeiras e aos bandeirantes, como percebemos pelas palavras do articulista:
São reproduções de seus últimos trabalhos: A Volta, grupo monumental inspirado na epopeia magnífica dos bandeirantes. A marcha funeral que movimenta o grupo, cheia de elasticidade e ritmo, não poderia estar melhor representada pelo escultor. As figuras que acompanham, sob a proteção de uma figura de Madona, o corpo do conquistador morto, são bem as figuras de Brecheret, como são dele os cavalos dos guiadores – magníficos de concentração nervosa e de força. Há originalidade, há criação, não é nada copiado com servilismo. Participando de uma alma, resultando de um esforço cerebral, têm vida…[8]
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A maquete que recebeu o “Memorial descritivo”, destaca-se das outras versões que, no futuro, o escultor faria do seu projeto do Monumento às Bandeiras, justamente pelo protagonismo que concedeu ao pedestal escalonado criado para depositar o grupo principal. Esse elemento replica a tradição dos monumentos do final do 19 e início do 20, em certa medida diluindo a ênfase à horizontalidade concedida ao grupo principal, assim como seu caráter levemente ascensional. Por outro lado, o pedestal alocava as figuras alegóricas da Terra Brasileira, da “Guarda Ânfora” (que deveria segurar um recipiente com água do rio Tietê) e das insídias que assombravam os bandeirantes durante suas viagens pelo interior. Como também é possível perceber, sobre os bandeirantes foi esboçada a figura de uma Vitória (que o articulista chama de Madona) – outro dispositivo da estatuária mais convencional.
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“Maquete para o Monumento aos Andrada”, Victor Brecheret. Revista do Brasil, SP, out. 1920. Col. IEB-USP. Foto: Reprodução
Raul Polillo, o crítico do Jornal do Comércio durante os anos 1920, atenta para alguns fatos relativos à maquete do Monumento às Bandeiras, e aquela outra, produzida pelo artista para o concurso ao Monumento aos Andrada, que ocorreria em Santos, SP também em 1920. Escrevendo sobre a maquete que o escultor concebeu para esse concurso, Polillo atentará para a repetição que Brecheret fará de determinados elementos que apareciam tanto nessa maquete, quanto naquela dedicada às Bandeiras:
Nesta “maquete” é fácil de se notar uma perfeita analogia de concepção e de construção com a “maquete” já exposta nesta Capital e destinada à comemoração dos “Bandeirantes”.
Há ali os mesmos cavalos, aumentado, porém, em número a mesma figura da vitória, um jogo bastante análogo de figuras e uma adaptação idêntica de símbolos.[9]
Após tecer considerações negativas a essa atitude do artista em transferir soluções de uma maquete para a outra, Polillo fornece uma importante informação: “Sabemos de fonte segura que a ‘maquete’ de Santos foi executada antes do projeto para os Bandeirantes”[10].
Este dado é significativo porque corrobora a hipótese levantada em outro texto, em que afirmei que Brecheret, entre 1920 e 1936, não parou de discutir plasticamente determinados elementos formais, percebidas em suas primeiras maquetes para o Monumento às Bandeiras, transformando-os ou fundindo-os a cada novo projeto, burilando sua concepção a partir de um fazer e refazer contínuo de maquetes e desenhos, tornando sua concepção formal cada vez mais precisa.[11] Polillo, com sua crítica ao uso concomitante que Brecheret faz de formas idênticas, tanto numa maquete quanto em outra, apenas enfatiza o quanto o escultor, ao eleger certos problemas plásticos, os desenvolvia de uma maquete para outra[12].
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“Templo de minha raça”, Victor Brecheret, 1921, bronze, 181 x 45 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo (data de aquisição 1998). Foto: Reprodução
No projeto do monumento A volta, nota-se o desenvolvimento de algumas ideias que apareceram na maquete do Monumento aos Andrada e do Monumento às Bandeiras, e introduz outros que, mais tarde, serão desenvolvidas até o projeto definitivo, de 1936. A horizontalidade e o movimento ascensional do conjunto são radicalizados, se comparados com o Monumento às Bandeiras. A estilização das figuras caminha também para uma síntese mais pronunciada e, ao que tudo indica, é quando o artista acrescenta ao todo do projeto os elementos que transformarão o Monumento às Bandeiras em um cortejo fúnebre.
Em 1921, já em Paris, Brecheret conceberá uma outra maquete – Fragmento do Templo da minha raça[13]. Apesar de trazer algumas singularidades que não serão desenvolvidas posteriormente pelo artista, chama a atenção a permanência da barca e da Vitória alada – além da profunda estilização formal.
No estudo para a implantação do Monumento no Parque Ibirapuera, datado de 1936, nota-se que ele foi colocado sobre um pedestal escalonado, no meio de uma praça retangular, cujas entradas monumentais eram guardadas por quatro esculturas colossais representando indígenas. A alegoria da Terra Brasileira, colocada à frente do conjunto, ainda se encontrava presente nessa versão.
Existe ainda um registro fotográfico de uma última maquete para o Monumento em que persiste a escadaria, mas a figura alegórica da Terra Brasileira desaparece. Na sequência, o artista toma uma decisão fundamental para a configuração final do Monumento: retira-lhe o pedestal escalonado, fazendo com que o conjunto pareça brotar diretamente do solo, o que enfatiza qualidades paradoxais da obra: ela se impõe como um monumento moderno, na medida em que se apresenta despido de pedestal, fundindo horizontalidade (outro dado típico da escultura moderna) e movimento ascensional; ao mesmo tempo, porém, ele guarda um aspecto de arcaísmo ahistórico, numa interpretação do fazer escultórico, típico daquele período.
“Maquete do Monumento às Bandeiras”, Victor Brecheret, 1937. Fonte: Arquivo IEB- USP. Acervo: Mário de Andrade, código do documento: MA-F-1831. Apud: LIMA, Verônica Ribeiro. Monumento às Bandeiras – Uma obra testamento? Dissertação. Campinas, SP : Unicamp, 2021. Foto: Reprodução
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Como espero ter deixado claro, o projeto do Monumento às Bandeiras não deve ser visto a partir de uma ótica romântica, que entende o artista quase como um ser divino, capaz de, do nada, ou de muito pouco, conceber uma obra do porte desse conjunto; pelo contrário, o Monumento às Bandeiras é o resultado de um processo em que Brecheret, com todo o seu talento e perseverança, avançou em suas ideias, retrocedeu, seguiu em frente de novo, até atingir o resultado formal que hoje podemos apreciar no Parque Ibirapuera.
Espero de alguma forma, também ter contribuído para que possamos entender melhor as razões que levaram o Monumento a ganhar tantos significados, desde sua primeira maquete: homenagem aos velhos bandeirantes e aos “novos”; símbolo de uma cidade e de um país que se acreditava fadado ao futuro; depois, símbolo de um país militarizado; símbolo do genocídio étnico brasileiro. Enfim, gostemos ou não do Monumento às Bandeiras, o fato é que ele encarna todas essas possibilidades de interpretação, justamente porque Brecheret, com muito trabalho, conseguiu transformar aquele conjunto de blocos de granito num imenso significante à mercê dos significados que cada geração e grupos sociais a ele agregam.
Para finalizar este panorama, gostaria de aludir ao papel que o Monumento desempenhou como matriz de outras obras de arte, mesmo antes de sua finalização, na primeira metade dos anos 1950 – o que muito informa sobre sua potência.
Embora este seja um tópico a ser devidamente aprofundado, estou certo de que caberia aqui pelo menos aludir aos trabalhos de dois artistas que podem ser índices de outro tipo de impacto causado pelo Monumento no imaginário local.
Sem título, Antelo del Debbio, década 1930, gesso. MAC-USP. Foto: Reprodução
A primeira obra que demonstra o impacto que a proposta de Brecheret causou em alguns artistas, antes mesmo de estar finalizado[14], é o relevo sem título de Antelo Del Debbio, produzido nos anos 1930 e hoje pertencente ao acervo do MAC USP. Como já salientou o estudioso Luciano Migliaccio[15], é visível como o relevo se comporta como uma adaptação livre do projeto original de Brecheret, característica evidenciada pela ênfase na horizontalidade e no movimento ascensional da proa também representada (onde está situado a figura de um bandeirante).
Além dessas características, atento para o fato de que ali, todas as “raças” que formaram o Brasil estão representadas “atrás” da figura do bandeirante (como no Monumento). Por outro lado, evidencia-se, igualmente, a figura da Mãe Terra ou da Terra Brasileira. Se na resolução final do Monumento às Bandeiras, Brecheret resolveu expelir a figura do conjunto, é interessante como Del Debbio a manteve candidamente deitada, alocando-a na outra extremidade do relevo, em frente à popa da embarcação, candidamente deitada.
O segundo artista a ser lembrado aqui é Livio Abramo que, em 1940, realizou uma série de ilustrações para o livro de Cassiano Ricardo, Marcha para o Oeste[16].
Abramo não tomou apenas a proposta de Brecheret para o desenvolvimento de suas imagens; produções de Debret, Portinari, Segall e Tarsila também serviram de base para suas produções que recontextualizavam imagens produzidas por aqueles artistas.
Ilustração de Lívio Abramo para a primeira edição de “Marcha para o Oeste” (1940), pp. 344-345.
Em três ilustrações para o livro, Abramo “naturaliza” de vez a alusão ao movimento do conjunto do Monumento às Bandeiras, fazendo uso da mesma estratégia para, no plano bidimensional, situar a ação dos bandeirantes, entendida um conjunto de investidas contra os limites impostos à então colônia portuguesa pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, pelos governos espanhol e português naquela cidade da Espanha.
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Todas as questões aqui levantadas apenas atestam o que já foi explicitado: apesar de sua maquete original ser já centenária, o Monumento às Bandeiras ainda suporta uma série de estudos que desenvolvam não apenas o processo de sua produção, mas, igualmente, as várias nuances da recepção que ele foi (e vem) recebendo através do tempo.
Este é um dos grandes trunfos da história da arte: ser sempre contemporânea, e isto porque seu objeto de estudos está preso ao presente, mesmo quando produzido há décadas ou séculos, e mesmo quando o historiador finge não perceber tal fato, acreditando, falsamente, que apenas estuda obras do passado.
[1] – Final da Segunda Grande Guerra; processo de redemocratização do país e, entre outros fatos, a aproximação das comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo, em 1954).
[2]– Essa projeção de um estado de São Paulo grande e poderoso, inscrito nas pedras do Monumento, transbordaria, aos poucos, para a projeção de um Brasil grande que apontava para o futuro. Não podemos esquecer, que, nesse processo, Juscelino Kubitschek e a construção de Brasília, foram interpretados como um resgate da ideia do bandeirante, o que levava o mito do pioneiro paulista a alcançar dimensão nacional.
[3] – Se, entre os anos 1950 e a década seguinte, essas lembranças tornaram-se itens de decoração em muitas casas brasileiras, hoje elas se transformaram em itens de coleção.
[4] – Publicada em Chiclete com Banana. São Paulo, n.1, 1985.
[5] – Também no âmbito da HQ, é importante lembrar da história Xondaro, de Vitor Flynn Paciornick que registra a ocupação de 2 de outubro de 2013 (São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo, Elefante, 2016). Sobre os trabalhos de Flynn, Luiz Gê e outros, consultar: “O Monumento ‘as Bandeiras como processo: do presente ao passado”. Thiago Gil de Oliveira Virava e Domingos Tadeu Chiarelli. Quiroga. Revista de Patrimonio IberoAmericano. N. 16, Julio-Ddecembre, 2019. https://revistaquiroga.andaluciayamerica.com/index.php/quiroga/article/view/340
[6] – Esta situação ficará clara ao leitor, se comparar o Monumento às Bandeiras, ao Obelisco, de Galileo Emendabili (também no Ibirapuera, vizinho ao Monumento às Bandeiras), o Monumento ao Duque de Caxias (também de Brecheret, na Praça Princesa Isabel) e o próprio Monumento à Independência, ( de Ettore Ximenes, em frente ao Museu Paulista) entre outros.
[7] – O texto teria sido escrito por Menotti del Picchia.
[8] – “Victor Brecheret”, IN Ilustração brasileira. Rio de Janeiro, set. 1920. Apud BATISTA, Marta R. Bandeiras de Brecheret. História de um Monumento (1920-1953). São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1985, pág.34.
[9] – “O Monumento aos Andrada”, Raul Polillo. Jornal do Comércio. São Paulo, Setembro de 1920.
[11] – No texto “Andar por São Paulo faz com que São Paulo também ande em nós”, publicado no catálogo da exposição Metrópole: experiência paulistana, escrevi: “Sabe-se que Brecheret, mesmo vivendo em Paris, realizou nos anos seguintes [a 1920] uma série de outras maquetes para novos monumentos, em que não deixava de depurar sua ideia original…”. Na sequência deste texto ainda farei algumas observações sobre esse processo de Brecheret que, a cada projeto, desenvolvia elementos já tratados anteriormente. “Andar por São Paulo faz com que São Paulo também ande em nós”. CHIARELLI, Tadeu (cur.). Métropole: experiência paulistana. São Paulo. Pinacoteca de São Paulo, de 8 de abril a 18 de setembro de 2017. Pág. 21.
[12] – Embora aqui não seja o melhor local para discutir tal questão, é importante lembrar que Polillo, ao criticar também o uso que Nicola Rollo faz de soluções concebidas anteriormente (e mesmo de apropriação de outros artistas), o crítico chama a atenção para um ponto que um dia ainda deverá ser estudado com calma: os pontos de contato entre certas soluções formais do trabalho de Rollo e daqueles de Brecheret: “Notamos também que os cavalos que figuram nesta “maquete” e os da “maquete” do sr. Brecheret são perfeitamente idênticos: há também igualdade flagrante de técnica, o que surpreende, visto que se trata de dois artistas jovens, ambos de grande talento, ambos de indescritível capacidade de criação”. “O Monumento dos Andrada”. Jornal do Comércio. São Paulo: 15 de julho de 1920.
[13] – Fundida em 1998 e hoje pertencente à Pinacoteca do Estado.
[14] – Desenvolvo este raciocínio sobre essa obra de Del Debbio levando em conta sua datação – anos 1930 -, conforme consta no livro: SIMIONI, Ana Paula C./ MIGLIACCIO, Luciano. Art Déco no Brasil. Coleção Fulvia e Adolpho Leirner. São Paulo: Olhares, 2020, pág. 88/89.
[15] – “Antelo Del Debbio”, Luciano Migliaccio. IN SIMIONI, Ana Paula C./ MIGLIACCIO, Luciano. Op. Cit. Pág. 86.
[16] – RICARDO, Cassiano. Marcha para o Oeste. A influência da “Bandeira” na formação social e política do Brasil. (Ilustrações de Livio Abramo). Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1940.