O artista argentino León Ferrari. Foto: Divulgação
A partir de 20 de abril, o Centro Pompidou, em Paris, apresenta a primeira exposição da obra de León Ferrari (1920-2013) em um museu francês, intitulada La Bondadosa Crueldad. O artista argentino foi autor de uma obra multiforme que combinava inventividade plástica e consciência crítica. Depois de estudar engenharia, começou a aprender desenho em 1946. Mudou-se para a Itália com sua família e fez suas primeiras esculturas em 1952, que foram expostas em Milão em 1955. Ao retornar a Buenos Aires, Ferrari recorreu a novos materiais: madeira e arame que ele usava para fazer construções frágeis e complexas.
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Vista da exposição "La Bondadosa Crueldad" no Centre Pompidou. Foto: Cortesia FALFAA
Vista da exposição "La Bondadosa Crueldad" no Centre Pompidou. Foto: Cortesia FALFAA
Vista da exposição "La Bondadosa Crueldad" no Centre Pompidou. Foto: Cortesia FALFAA
Em 1962, passou a explorar a visualidade da linguagem em “quadros escritos”. Consternado com a violência de seu tempo, particularmente a Guerra do Vietnã, que recebeu ampla cobertura da imprensa, Ferrari dedicou seu trabalho ao destaque da barbárie do mundo ocidental.
Com produção marcada pelo tom feroz contra o cristianismo, em 1965, León Ferrari fez a escultura La civilización occidental y cristiana (civilização cristã ocidental), representando Cristo crucificado em um avião militar americano. Exilado no Brasil no final dos anos 1980, ele continuou sua prática de assemblage e fez uma série de colagens iconoclastas combinando representações bíblicas da tradição pictórica ocidental com imagens de violência publicadas na imprensa. Em São Paulo, Ferrari se vinculou às formações experimentais da cidade com artistas como Regina Silveira, Julio Plaza, Carmela Gross, Alex Flemming, Marcelo Nietsche e Hudinilson.
A exposição é organizada por ocasião do centenário do nascimento de León Ferrari. O Centro Pompidou é a última parada na itinerância de La Bondadosa Crueldad, que percorreu antes o Museu Reina Sofía, em Madrid (Espanha), e o Museu Van Abbe, em Eindhoven (Holanda). La Bondadosa Crueldad propõe um percurso pelas obras, ideias e lutas políticas que atravessaram a vida do artista argentino. Trabalhos que “desmontam as sequências naturalizadas de violência propagadas pela guerra, religião e outros sistemas de poder”, e que “convidam quem os olha a parar, refletir e se posicionar”, segundo a fundação do artista, que participa da organização da mostra e disponibilizou ainda um número significativo de documentos inéditos.
A exposição fica em cartaz até o dia 29 de agosto de 2022.
Vista da exposição "O coração saindo pela boca", de Jonathas de Andrade, no Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza. Foto: Ding Musa/ Fundação Bienal de São Paulo
Reafirmando sua capacidade de resistência, a arte brasileira chega à 59ª edição da Bienal de Veneza com um potente exercício de linguagem, concebido por Jonathas de Andrade especialmente para o pavilhão nacional na mostra centenária. O trabalho do artista alagoano tem como ponto de partida expressões usuais e ao mesmo tempo absurdas, fantasiosas da língua portuguesa, frases e ditos que são reconhecidos pela força do coletivo. São termos que o artista vem colecionando há tempos e que, diz ele, “só funcionam no uso”. Vistos de um ponto de vista literal, remetem a um corpo humano segmentado, despedaçado, mas acabam falando também de um Brasil aflito, à beira do colapso.
Ao chegar ao prédio que abriga as representações da arte brasileira na bienal italiana desde 1964, o visitante se depara com a imagem agigantada de uma orelha. Escultura semelhante foi instalada na porta de saída, numa referência irônica e literal a ideia de “entrar por um ouvido e sair pelo outro”. O projeto idealizado por Jonathas é composto por diferentes intervenções, escultóricas, fílmicas e gráficas (ícones impressos em grandes painéis coloridos e de resolução propositalmente baixa, pixelada), que dialogam entre si, funcionam como alegorias da situação política, social, ambiental do país. Atraem de forma lúdica o espectador para em seguida apresentar camadas mais profundas de crítica e ressignificação da palavra, trazendo uma leitura crua e estarrecedora da realidade. “Bunda Mole”, “Cabeça nas Nuvens” e “Dedo Podre” (esta última na forma de um dedo gigante apertando um botão de votação) são algumas das expressões que compõem o conjunto, perfazendo um caminho tortuoso entre a acidez sarcástica e a sutileza linguística e simbólica, uma das marcas da produção de Andrade. Afinal, como diz ele, “a arte é o lugar da experiência e da radicalidade”. A questão da tradução – já que a grande maioria do público não compreende português – torna-se também uma nova e importante camada de leitura. A decisão de traduzir as frases não pelo seu sentido semântico, mas pelo seu significado literal, agrega uma camada extra de nonsense.
Vista da exposição “O coração saindo pela boca”, de Jonathas de Andrade, no Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza. Foto: Ding Musa/ Fundação Bienal de São Paulo
Foi exatamente a capacidade de Jonathas de reconhecer forças culturais e trabalhá-las como invenção do mito que levou o curador-geral da última Bienal de São Paulo e responsável pela indicação da representação brasileira em Veneza, Jacopo Crivelli Visconti, a convidá-lo para conceber e apresentar essa leitura desafiante e visceral sobre o país, num momento em que escapismos formais não fariam sentido. “Como comentar o Brasil diante desse clima intenso sem ser naif ou documental? Creio que outras estratégias têm que ser possíveis”, se pergunta Andrade, que tem entre seus projetos o desejo de debruçar-se sobre as alegorias do carnaval, não como festa do delírio e da fuga, mas como imagens ambíguas, ricas em sua contradição.
Still de “Nó na garganta”, de Jonathas de Andrade, comissionado e produzido prla Fondazione in Between Art Film. Foto: Divulgação
Entre o lúdico e o ácido, dois trabalhos se sobressaem com grande destaque nesse conjunto, um grande balão inflável vermelho que ocupa o centro do Pavilhão, intitulado O Coração saindo pela Boca, e o filme Nó na Garganta, dois comentários alegóricos sobre o estado de suspensão e aflição em que vivemos. Enquanto a escultura, pulsante e sensual, aponta para o caráter orgânico, visceral, da experiência espacial, o filme assume um caráter mais militante, associando cenas dramáticas de desastres ambientais, tomadas de natureza e imagens de treinadores e cobras interagindo de forma magnética em um zoológico particular em Maragogi (AL). A sucessão de imagens contrastantes e ambíguas da obra dialoga com O Peixe, filme entre o documento e a ficção apresentado por Jonathas em 2016 na 32ª Bienal de São Paulo e que se tornou um de seus trabalhos mais conhecidos.
Vista da exposição “O coração saindo pela boca”, de Jonathas de Andrade, no Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza. Foto: Ding Musa/ Fundação Bienal de São Paulo
Andrade vê nesses trabalhos de caráter colaborativo e que lidam com o aspecto imprevisível da natureza uma certa associação com o realismo fantástico, que busca de estratégias fabulares para falar do local e advoga seu pertencimento à um universo cultural mais expandido, que contempla não apenas o Nordeste (seu ponto de partida) e o Brasil que agora representa, mas de forma mais ampla a América Latina. Outras referências importantes, nem sempre conscientes, se destacam no conjunto. A primeira e mais evidente delas é a aproximação entre o movimento de expansão e contração de O Coração saindo pela Boca e das Bolhas, esculturas infláveis criadas por Marcelo Nitsche no final da década de 1960, ou com a visceralidade fragmentada trabalhada por artistas como Antonio Dias. “Claro que isso tudo está em mim, é uma costura estética que a gente está regurgitando”, diz Andrade.
Vista da exposição “O coração saindo pela boca”, de Jonathas de Andrade, no Pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza. Foto: Ding Musa/ Fundação Bienal de São Paulo
Há ainda uma bem-vinda sintonia entre o caráter fantasioso, enigmático, das peças de Jonathas e o tema geral escolhido para a edição – adiada em um ano por conta da pandemia – desta bienal. Intitulada The Milk of Dreams pela curadora italiana Cecilia Alemani, a mostra inspira-se em livro homônimo da escritora e artista surrealista Leonora Carrington e apresenta-se como um convite à reinvenção pelo prisma da imaginação. Mas também pretende tornar-se um espaço de questionamento e tomada de posição em relação aos enormes desafios que se colocam ao mundo contemporâneo, a crescente desigualdade, a pandemia e os conflitos incessantes pelo mundo. A 59ª Bienal de Veneza será aberta ao público no sábado, dia 23, e conta em sua exposição geral com cinco artistas brasileiros: Rosana Paulino, Jaider Esbell, Lenora de Barros, Luis Roque e Solange Pessoa.
Obra da série Desenhos da Liberdade de Ayrson Heraclito. Foto: Rafael Salim
Debret e Gê Viana são colocados lado a lado. As composições de 1948 de Joaquim Tenreiro tensionam com as obras de Moisés Patrício, Tiago Sant’Ana e Ayrson Heráclito que as avizinham. A cada quadro, buscamos nas paredes datas e nomes dos artistas e, por vezes, um sorriso se forma no canto da boca ao perceber a guerra de narrativas que se costura pela expografia. Foi essa reação que buscou Lilia Schwarcz ao traçar a curadoria de Vários 22, em cartaz na galeria Arte132, em São Paulo. Reunindo 80 trabalhos – entre obras do acervo da casa e de outras 10 galerias e artistas independentes -, a exposição convida a refletir sobre ideias enraizadas e a questionar o imaginário hegemônico e eurocêntrico que ainda permeia o Brasil.
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Vista da exposição. Foto: Suzana Mendes
Vista da exposição. Foto: Suzana Mendes
O título, Vários 22, enuncia um ano que não passa despercebido. Como aponta Lilia no catálogo da exposição: “Se misturam três datas que se contradizem entre si: a semana que projeta o futuro; o bicentenário, o passado; o falecimento de Lima, a morte simbólica de uma República que prometia inclusão, mas entregou exclusão social”. A curadora se refere, respectivamente, ao centenário da Semana de Arte Moderna, aos 200 anos da Independência do Brasil e à morte do escritor Lima Barreto – modernista não convidado à semana paulista que hoje comemoramos como símbolo nacional, homem negro que sofria com o racismo que ainda hoje permeia nossas relações. “Há, ainda, outro marco que inaugura 2022: os 10 anos da política de cotas no Brasil, que vem alterando a estrutura de nosso país, a despeito de os resultados serem insatisfatórios em termos de reparaçãoe igualdade”, complementa Lilia.
As efemérides se encontram com as eleições e a Copa do Mundo, que ocorrem neste mesmo ano. Parecem, então, ter seus desdobramentos ainda mais presentes nas reflexões que se traçam entre passado e futuro, conquistas obtidas, ausências históricas e possibilidades no porvir. “É assim que eu entendo 2022, uma guerra de narrativas”, conta a curadora em entrevista à arte!brasileiros. Foi por esse caminho que ela desenhou Vários 22.
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"Lima", Marlon Amaro. Foto: Wallace Domingues
Intervenção sobre gravura feita por Denilson Baniwa. Foto: Everton Ballardin
A obra "Abrigo", de Marlon Amaro, traz uma pintura pequena em meio a uma imensidão branca, "o que fala muito da nossa branquitude", compartilha Lilia. Foto: Filipe Berndt
Estabelendo diálogo
O convite para que Lilia curasse a exposição naArte132 veio do fundador e diretor Telmo Porto. A ideia inicial era que se partisse do acervo da galeria – resultado da coleção construída pelo próprio Telmo nas últimas décadas -, no qual se encontra um amplo conjunto de esculturas, pinturas e desenhos dos séculos 19 e 20. “Disse ao Telmo que eu teria problemas de fazer uma exposição tão colonial”, conta Lilia. A pesquisadora sentia urgência em lançar um olhar contemporâneo sobre as obras. “Tenho refletido sobre esse ano de 2022, não se trata de derrubar monumentos só; se trata de contrastar, dialogar, fazer pensar o que existia lá, o que faltou, quais são as tensões ainda existentes, quais são as grandes contradições.” Assim, propôs algo diferente: colocar a coleção da Arte132 em diálogo com outros trabalhos e visões de mundo, convidando artistas e galerias a exporem conjuntamente no espaço. “Aí fomos montando esse quebra-cabeças, que era fazer com que obras coloniais ganhassem outro sentido a partir de uma visão mais contemporânea”, conta a curadora, que na escolha de artistas e obras buscou também a intersecção de vários marcadores – como raça, gênero, região, geração etc.
Hoje, participam dessa conversa artistas sem galeria e obras de coleções particulares, com Daniel Lannes, Denilson Baniwa, Jaider Esbell e Jean-Baptiste Debret; e as galerias Casa Triângulo, Estação, HOA, Janaína Torres, Leme, Millan, Nara Roesler, Portas Vilaseca, Sé e Superfície. Em alguns casos, as obras expostas estão à venda; em outros, são apenas um empréstimo das galerias ou coleções, movidas exclusivamente pelo mote curatorial.
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"Mercearia Ordem e Progresso", Luiz Braga. Foto: Divulgação
Vista da exposição; à esquerda, "Céu Azul", de Emanuel Nassar; à direita, "Quantum", de Igi Lola Ayedun, obra comissionada para Vários 22. Foto: Suzana Mendes
Nação é narrativa
Talvez um ponto chave deste ano e da mostra seja a disputa narrativa na construção de uma ideia de Brasil. “A gente sabe que o conceito de nação é uma projeção imaginária. Para formar essa comunidade de cidadãos que se emocionam coletivamente existem alguns elementos fortes: a retratística, a paisagem e os emblemas pátrios”. E foi dessas divisões cânones da academia que Lilia partiu para pensar os três núcleos da exposição. “Gosto muito de mostrar como o presente está cheio de passado, sempre partir de temas clássicos da história da arte – história da arte essa que é um braço do imperialismo – e desmontar por dentro, desmontar a lógica dessas classificações, [mostrar] que nenhuma classificação é ingênua.”
Também não é ingênua essa decisão na expografia. Ao optar por uma divisão em retratística, paisagens e emblemas nacionais, Lilia permite que vejamos lado a lado Aurélio Figueiredo, artista do final do século 19, David Almeida, artista contemporâneo legitimado pelo mercado das artes, e José Antonio da Silva, dito popular. “Por mais que para alguns pareça um desrespeito, uma falta de hierarquia; para mim, é um profundo respeito, porque você mostra os limites, mas também a atualidade dessa obra”, explica.
E é nessa disposição – mesclando gerações, identidades, linguagens artísticas, e borrando as distinções entre ‘arte letrada’ e ‘arte popular’ – que os tensionamentos se tornam tão perceptíveis ao público. “Eu tenho pouca empatia pela hierarquia. Acho que a gente deve, de alguma maneira, se despir desses critérios evolutivos construídos pela história da arte, porque nós também não pensamos só evolutivamente”, compartilha Lilia. E completa: “Então eu quis promover esse tipo de diálogo. Porque é uma conversa. Se a gente fizesse uma coisa ‘evolutiva’, poderíamos desmerecer e desrespeitar também os artistas mais consagrados, os artistas modernistas. Acho que é ao contrário, damos atualidade a essas obras, não as deixando naquele lugar imaculado”.
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Vista da exposição. Foto: Suzana Mendes
Vista da exposição. Foto: Suzana Mendes
Na sala principal, uma cena se trava entre as esculturas. Em cantos opostos da sala Índio com arco e flecha, de Ottone Zorlini, e O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui, de Flávio Cerqueira. Em um extremo, a obra traz a representação de um indígena imaginário e guerreiro, pintado por um homem branco ítalo-brasileiro nascido no final do século 19; no outro, um indígena de sandálias havaianas e estilingue no bolso, feito em 2016, “traz em seu corpo as contradições e os ruídos do processo de urbanização”, explica Lilia no catálogo. A escultura de Zorlini parece ter em sua mira a obra de Andrey Zignatto, Alicerce 1 (2020), que nos mostra uma cerâmica indígena amassada por um bloco de concreto – bloco este que o próprio artista define como uma alegoria da ‘civilização’. Na diagonal da obra, vemos um trabalho da série Bandeirantes de Jaime Lauriano, que nos traz uma miniatura de um desses personagens históricos, fundida em latão e cartucho de munição utilizada pela Polícia Militar e forças armadas brasileiras.
“Esse jogo do objeto escultórico para mim era muito importante, porque a escultura foi o lugar de projeção das elites políticas, econômicas e sociais”, destaca Lilia. É possível pensar algo semelhante em relação ao grande número de retratos de pessoas não brancas – pintados por artistas não brancos – que encontramos pela galeria. “O retrato nasceu para elevar, é uma extensão da historiografia europeia, né?”, então o que acontece quando trocamos os sujeitos retratados?
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"Identidade", Larissa de Souza. Foto: Wallace Domingues
"Homem do Pescoço Grande", José Bezerra. Foto: Germana Monte-Mor
Obra da série Desenhos da Liberdade de Ayrson Heraclito. Foto: Rafael Salim
Porém, é preciso lembrar que essa disputa de narrativas no mundo das artes (e no Brasil como um todo) vai além dos quadros nas paredes e das esculturas em diálogo nas galerias e museus. As ausências históricas nos Brasis já narrados e as presenças nos Brasis possíveis – ambas destacadas em Vários 22– por vezes se percebem também nos públicos das mostras e ecoam após a saída desta e de outras exposições.
SERVIÇO
VÁRIOS 22
ONDE: Arte132 | Av. Juriti, 132, Moema, São Paulo
QUANDO: 19 de março a 21 de maio
VISITAÇÃO: segunda a sexta, das 14h às 19h; sábados, das 11h às 17h. Entrada gratuita
Davi Kopenawa em cena do documentário "A Última Floresta". Foto: Divulgação.
Dos dias 19 a 21, o Sesc Pompeia realiza um ciclo de debates sobre a situação dos povos indígenas no Brasil com a participação do fotógrafo Sebastião Salgado, lideranças indígenas, ativistas e especialistas. Como parte da programação da exposição Amazônia, os encontros são abertos ao público, gratuitos, e também serão transmitidos ao vivo pelo canal do YouTube (aqui).
A abertura do ciclo de debates acontece no teatro do Sesc Pompeia, dia 19, às 20h, onde Sebastião Salgado, Davi e Dário Kopenawa conversam sobre a situação dos indígenas diante da invasão do garimpo e devastação da floresta amazônica nestes 30 anosda demarcação da terra Yanomami. Na quarta-feira (20), Biraci Brasil, Francisco Pyiako e Wewito falam sobre a situação indígena no Acre e conflitos gerados com construções de estradas que cortam a região. O encontro acontece na Área de Convivência, às 20h. Para encerrar a programação, Sebastião Salgado, Beto Marubo, Sydney Possuelo e Tiago Moreira conversam sobre a situação de populações indígenas isoladas e do recente contato com outras comunidades, às 18h, da quinta-feira (21), também na Área de Convivência do Sesc Pompeia. Os três eventos são gratuitos e somente o primeiro necessita de retirada antecipada de ingressos, que deve ser feita na bilheteria com uma hora de antecedência.
Sobre os convidados
Biraci Brasil é cacique e líder espiritual do povo Yawanawa.
Beto Marubo é indígena da etnia Marubo e membro da organização Univaja – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari.
Davi Kopenawa é escritor, xamã e líder político Yanomami. Atualmente é presidente da Hutukara Associação Yanomami, uma entidade indígena de ajuda mútua e etnodesenvolvimento.
Dário Kopenawa é líder político Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, uma entidade indígena de ajuda mútua e etnodesenvolvimento.
Francisco Pyiako é lider do povo Ashaninka, coordenador da Opirj, ex-assessor da Presidência da Funai e ex-secretário de Estado do Acre.
Marcos Wesley é antropólogo, coordenador do programa Rio Negro no ISA (Instituto Socioambiental). Trabalha há mais de 20 anos junto aos Yanomami.
Sydney Possuelo é indigenista, ativista social e etnógrafo, considerado a maior autoridade com relação aos povos indígenas isolados do Brasil.
Tiago Moreira é antropólogo, analista de desenvolvimento e pesquisa socioambiental. Faz parte da equipe do ISA (Instituto Socioambiental).
Vista da exposição no Sesc Pompeia, em São Paulo. Foto: Everton Ballardin/Cortesia Sesc
Abril Indígena
A atividade faz parte do Abril Indígena no Sesc-SP. Realizado desde 2019, ele foi idealizado com o objetivo de valorizar e difundir a diversidade cultural desses povos no Brasil, especialmente por meio de atividades que suscitam espaços de protagonismo para indígenas – provenientes tanto de aldeias, comunidades e terras indígenas quanto de contextos urbanos. Segundo Tatiana Amaral, assistente da Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc, “essa ação em rede pretende colaborar para a desconstrução da ideia estereotipada do indígena selvagem e isolado, revelando a atualidade e a dimensão local de suas existências, resistências, demandas, saberes e fazeres”, explica.
Já no dia 30 de abril, é inaugurada na plataforma virtual do Sesc a série Amazônia, Arqueologia da Floresta com direção e montagem de Tatiana Toffoli, produção da Elástica Filmes e realização do SescTV. Confira mais sobre cada capítulo da série:
Capítulo 1 – A Terra dos Povos
Monte Castelo é um sambaqui fluvial, uma ilha artificial, que foi construído e ocupado há pelo menos 6 mil anos. Localizado na bacia do rio Guaporé, em Rondônia, esse sítio foi escavado pela primeira vez pelo arqueólogo Eurico Miller na década de 1980. Trinta anos mais tarde, foi relocalizado por uma equipe de arqueólogos e as escavações foram retomadas, dando início a uma nova etapa de descobertas surpreendentes.
Capítulo 2 – Conchas e Ossos.
Há 4 mil anos o clima da região mudou e novas camadas de conchas e terra foram adicionadas ao sítio. A equipe encontra muitos vestígios de um cemitério datado dessa época. Adornos e uma galhada de veado são encontrados junto aos ossos humanos. Os arqueólogos acompanharam os Tupari até a antiga aldeia do Laranjal, local em que viviam e do qual tiveram que sair por causa da criação da Reserva Biológica do Guaporé, em 1983.
Capítulo 3 – O Tabaco e a Cerveja.
O sudoeste da Amazônia é uma região de grande diversidade natural e talvez por essa razão foi também um importante centro de domesticação de plantas. Os vestígios desse processo de domesticação e cultivo de plantas são encontrados nos sítios arqueológicos da região. Quando os Tupari abriram a aldeia Palhau, que está localizada sobre um sítio arqueológico, a mandioca dos antigos, usada para fazer chicha, brotou no solo. Muitas espécies aparecem espontaneamente na roça. O milho, por exemplo, cultivado há6 mil anos, até hoje é plantado pelos Tupari numa demonstração de que o passado e o presente estão profundamente conectados na região.
Capítulo 4 – Cemitério Bacabal.
Neste episódio, novos sepultamentos são encontrados. A composição química das conchas que formam o sambaqui Monte Castelo ajudou a preservação de ossos e sementes. Através desses vestígios é possível saber o que os antigos comiam e bebiam. Os ossos e os dentes humanos, as amostras de solo, as cerâmicas e objetos de pedra nos ajudam a contar a história de ocupação dessa região.
"Refino #2", 2017, de Tiago Sant'Ana. Foto: Divulgação
O Museu de Arte Moderna da Bahia – localizado no histórico edifício do Solar do Unhão, em Salvador – inicia uma intensa programação para os próximos meses com a abertura da exposição ENCRUZILHADA. A mostra propõe um diálogo entre o acervo moderno e contemporâneo do MAM-BA e a Coleção de Arte Africana Claudio Masella do Solar do Ferrão (Dimus/IPAC).
Com curadoria do artista Ayrson Heráclito – atualmente com mostra individual na Pinacoteca de São Paulo – e do curador geral da instituição soteropolitana, Daniel Rangel, ENCRUZILHADA apresenta uma dinâmica dialógica entre um vasto acervo de sujeitos criadores. “É uma reunião de artistas de diversos contextos históricos, sociais e raciais que articulam tensões na produção de visualidades, cuja centralidade dos seus interesses criativos é ativada a partir do universo das culturas afrodiaspóricas”, diz Heráclito no texto de divulgação.
Sem Título, Carybé. Foto: Divulgação
Segundo Rangel, a proposta de ENCRUZILHADA traz uma conexão material-espiritual espaço-temporal que busca revelar a potência da presença africana na produção artística brasileira, do modernismo ao contemporâneo. “Temos também temas que transitam entre o sagrado e as emergências cotidianas, e ainda, referências estéticas e abordagens de cerca de 18 etnias provindas de diferentes regiões da África”.
Sobre o título da exposição, os curadores afirmam que ENCRUZILHADA reconhece o MAM como um histórico local de encontros, desde o trapiche do século XVII até o museu da atualidade – reformulado por Lina Bo Bardi entre os anos 1950 e 1960. “É um espaço de chancela de fazeres, diálogo entre artistas, obras e público”, diz Rangel. Já nas palavras de Heráclito: “Reunimos nessa exposição um amplo debate público na ‘encruzilhada museu’, considerando museu enquanto um espaço de encruzilhada, desde as abordagens de antropólogos visuais a artistas de diferentes cores, diferentes origens étnicas e lugares de fala, até artistas-sacerdotes e um amplo panorama da chamada arte jovem-preta-afro-brasileira”.
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Ibejis. Foto: Divulgação
"Axé Odara", 1980, J. Cunha. Foto: Divulgação
"Retrato", de Di Cavalcanti. Foto: Divulgação
"Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte", 1992, de Adenor Gondim. Foto: Divulgação
"Omulu", 1959, de Mário Cravo Jr. Foto: Divulgação
Máscara Gueledé. Foto: Divulgação
A Coleção Claudio Masella de Arte Africana – que leva o nome do industrial italiano que morou 35 anos na Nigéria e Senegal – é formada por mais de mil objetos que representam etnias de 15 países da África, como máscaras, estatuetas, instrumentos e utensílios, confeccionados em materiais que variam entre terracota, madeira, metal e marfim. Esse acervo é caraterizado pela riqueza e diversidade da produção cultural africana do final do século 19 e do século 20.
Sobre a programação do MAM-BA (Av. Contorno, s/n°, Solar do Unhão) para os próximos meses, o diretor da instituição, Pola Ribeiro, relata que entre abril e agosto, além de ENCRUZILHADA o MAM terá o Acervo da Laje no Programa de Residências Artísticas, dois shows já previstos da ‘JAM no MAM’, três cursos gratuitos nas ‘Oficinas do MAM’, o projeto ‘Museu-Escola’ com a Secretaria de Educação, além de dezenas de atividades e pesquisas com professores e alunos da UFBA – via termo de cooperação assinado com o vice-reitor Paulo Miguez e uma parceria com a UNIJORGE para o segundo semestre.
Até o dia 30 de abril é possível visitar a exposição Christo e Jeanne-Claude no Uruguai, sediada no MACA – Museo de Arte Contemporáneo Atchugarry. A instituição cultural é novidade em Punta del Este, no Uruguai, tendo sido inaugurada ainda em 2022, no começo de janeiro. Seu espaço faz parte da Fundação Atchugarry, criada em 2007 pelo artista plástico Pablo Atchugarry, cuja ambição era a de criar um museu para sua coleção de pintura e escultura latino-americana. Com projeto arquitetônico de Carlos Ott, o MACA aloja quatro salas de exposições e um auditório/cinema para 72 espectadores.
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MACA Uruguai. Foto: Hélio Campos Mello.
MACA Uruguai. Foto: Hélio Campos Mello.
Interior do MACA Uruguai. Foto: Hélio Campos Mello.
Escultura de Bruno Munari no jardim do MACA Uruguai. Foto: Hélio Campos Mello.
Escultura de Octavio Podestá no jardim do MACA Uruguai. Foto: Hélio Campos Mello.
Sua abertura foi marcada com a mostra em homenagem a Christo e Jeanne-Claude, sendo esta a primeira vez que a obra da emblemática dupla é exibida no Uruguai. Ao todo, o MACA trouxe um conjunto de mais de 50 obras que ocupam o grande salão do primeiro andar; com isso, apresenta-se um panorama da sua produção em diferentes formatos: fotografia, desenhos, colagens e esculturas.
Christo e Jeanne-Claude são lembrados por seu trabalho monumental, por exemplo: Valley Curtain (1972, Colorado, EUA), consistia em 18.600 metros quadrados de tecido de nylon laranja, pendurado sobre um vale entre montanhas. Em Surrounded Island (1983), em Biscayne Bay, perto de Miami, eles cercaram onze ilhotas com um pano rosa flutuante. The Umbrellas in California and in Japan (1991) foi uma instalação de mais de três mil guarda-chuvas, e The Gates (2005) em Nova York consistiu em uma sequência de mais de sete mil portas laranja dispostas nos caminhos do Central Park. Tendo Jeanne-Claude falecido em 2009 e Christo em 2020, o último projeto idealizado pelo casal foi o “empacotamento” do Arco do Triunfo, em Paris.
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"Valley curtain", Colorado, 1972. Foto: Wolfgang Volz.
"The umbrellas", Japão. Foto: Wolfgang Volz.
"The gates", no Central Park, Nova York, 2005. Foto: Wolfgang Volz.
Exposição de Christo e Jeanne-Claude no MACA. Foto: Nicolas Vidal.
Exposição de Christo e Jeanne-Claude no MACA. Foto: Nicolas Vidal.
Exposição de Christo e Jeanne-Claude no MACA. Foto: Nicolas Vidal.
Eles incluíam, junto com suas esculturas de proporção maciça – muitas vezes invólucros de tecido ao redor de construções históricas -, as documentações relacionadas à burocracia necessária para a realização da obra; os relatórios de impacto ambiental; os desenhos e diagramas feitos nas etapas de planejamento desses trabalhos. Propunham, dessa forma, uma nova forma para a arte pública ser compreendida, onde o trabalho é mais que o próprio objeto final realizado. Parte dessas documentações e desenhos está na mostra no MACA, que também produzirá um catálogo bilíngue espanhol-inglês com uma entrevista íntima com Christo e imagens de todas as obras expostas na exposição.
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Vista da mostra de León Ferrari no MACA. Foto: Hélio Campos Mello.
"Autopista del sur" (1982), León Ferrari. Cortesia Museo de Arte Moderno de Buenos Aires.
Já no edifício anexo ao museu, até o dia 18 de abril, está montada a exposição Heliógrafos do artista argentino León Ferrari, quem, ao longo de sua extensa produção, explorou diferentes suportes e meios expressivos; desde seus primórdios com a cerâmica e suas incursões no desenho, até livros de artista, arte-objeto, escultura e litografia. A maior parte de suas realizações está ligada à crítica social e à relação entre arte e política.
As obras que dão título à mostra são uma série de vinte e sete impressões heliográficas de imagens compostas por figuras Letraset, um meio amplamente utilizado por designers gráficos desde meados da década de 1950. Elas variam em orientação e tamanho, embora todas sejam grandes o suficiente para se assemelhar a plantas arquitetônicas. Essas peças foram criadas durante um período de experimentação, enquanto Ferrari estava exilado em São Paulo.
A fotógrafa Letizia Battaglia. Crédito: Shobha/Divulgação IMS
Morre aos 87 anos Letizia Battaglia, a primeira repórter fotográfica da Itália a cobrir notícias policiais. Pode-se dizer que a fotógrafa italiana foi um símbolo não só da luta contra a Máfia, mas também, do uso refinado da fotografia como instrumento dessa luta. “Nasci em tempos de paz, mas logo veio a guerra. Meu pai era marinheiro e passei minha infância viajando pela Itália, desviando de bombas, de Civitavecchia, em Trieste, a Nápoles. Voltei para a Sicília quando tinha dez anos”, contou Battaglia. Para escapar da autoridade paterna, ela se casou aos 16, tendo o matrimônio, no entanto, feito pouco pela sua liberdade. Aos 36 anos ela tomou a decisão de abandonar o marido e partiu para Milão, levando consigo duas das três filhas já adolescentes. Da necessidade de fazer o seu e o sustento de suas filhas, ela começou a tirar fotos. Em Milão ainda, foi correspondente do palermitano L’Ora para o qual retornou à capital da região siciliana com o intuito de organizar sua equipe de fotojornalismo.
“Nós éramos o jornal: em uma tarde poderíamos fotografar a coroação de uma rainha da beleza, uma casa desmoronada e um assassinato. Nosso campo de ação era a vida de uma cidade – uma cidade triste, selvagem e também alegre”, disse Battaglia em entrevista a Giovanna Calvenzi, para a Aperture.
O juiz Roberto Scarpinato com seus guarda-costas, no topo do tribunal de Palermo, 1998. Letizia Battaglia/Divulgação IMS.
Sua denúncia à Máfia, a parte mais reconhecida de seu trabalho, se intensificou após o assassinato do ativista de esquerda Giuseppe Impastato, em 1979. Battaglia começou a organizar mostras com esses registros e percorreu a Sicília com elas. Em uma ocasião, ela recontou, uma praça inteira esvaziou-se em questão de dois minutos após perceberem que entre as imagens estava a prisão Luciano Liggio, cabeça da Máfia, como capturada pela fotógrafa. “As pessoas estavam apavoradas de que um dia pudessem ser apontadas como cúmplices de nossas fotografias”.
Anos mais tarde, Battaglia foi a recipiente do prêmio W. Eugene Smith de 1985. Com o reconhecimento do seu trabalho veio também a cobrança por mais: “[O prêmio] foi a virada. Entendi que deveria fazer mais. Não bastava apenas fotografar”.
Ela se filiou ao emergente Verdi, concorreu ao cargo e foi votada como membro do conselho da cidade. O prefeito de Palermo na época era o democrata católico Leoluca Orlando, que travou uma feroz batalha contra a corrupção dentro de seu partido. “Durante quatro anos me dediquei à cidade. E dela recebi amor e gratidão. Foram os melhores anos de minha vida”, ela escreveu.
Crianças brincam com armas. Palermo, 1986. Crédito: Letizia Battaglia/Divulgação IMS
“Não é fácil de entender – viver em uma cidade dominada pela máfia significa tê-la em sua casa, em cada família. A professora de seus filhos, seu vizinho de baixo, seu irmão. Qualquer um pode estar envolvido – e você não sabe disso. Estamos apenas começando a saber quem são os grandes chefes. E por isso é muito importante estar lá – amar estar lá. Considero-me absolutamente afortunada por poder viver esta experiência de resistência à injustiça.”
Quando, em 1989, o serviço fotográfico do L’Ora mudou de dono, sua nova chefia relutou em contratar uma fotógrafa com papel político tão forte. Dedicada à vida pública e sem vontade de ser fotógrafa apenas em seu tempo livre, Battaglia parou de fotografar por um tempo. Nos anos seguintes, foi deputada da Assembleia Regional da Sicília e se dedicou a publicar as revistas Grandevú (com papel importante para os movimentos sicilianos de contracultura) e Mezzocielo (dedicada a trabalhos de mulheres). Além disso, fundou a editora Edizioni della Battaglia, centrada em poesia, literatura e ensaios ligados à região siciliana.
Em 2016, criou o Centro Internacional de Fotografia de Palermo, para abrigar o arquivo fotográfico da cidade.
Thiago Martins de Melo, "Anunciação (Amazonia Mega Drive)", 2022. Foto: Cortesia Tropix
Foi impossível passar pelo estande da inovadora Tropix na SP-Arte e não parar por um momento para se inteirar da novidade ou simplesmente exclamar consigo mesmo “ah, então isso é o tal da NFT!”. Quem visitou a feira de 6 a 10 de abril viu o estande da plataforma cheio o tempo todo, com várias pessoas curiosas, seja pelo básico de como funciona o NFT ou pelos lançamentos de obras que foram trazidos. Outros espaços, como o da Galeria Kogan Amaro e o da Blombô+Aura, também tiveram os olhares voltados de maneira especial para a tecnologia.
Gustavo Von Ha, “Automatic Writing”, 2022. Foto: Cortesia Tropix
A Tropix é destaque neste “novo mercado”, já que surgiu há menos de um ano essencialmente como um marketplace de arte digital com certificação em NFT, mas acabou se tornando uma plataforma além disso. Ela tem sido porta-voz da nova tecnologia no Brasil e conectado os players do mundo da arte entre si: o artista, o galerista, o colecionador, a feira e até mesmo as instituições. Afinal, a plataforma foi a responsável pela doação da obra Von Britney, de Gustavo von Ha, no mês passado, para o MAC-USP, que se tornou o primeiro museu brasileiro a ter uma obra em NFT em seu acervo.
A iniciativa, que partiu de uma equipe liderada pelo empresário Daniel Peres Chor, ganhou um reforço em fevereiro deste ano, com a entrada de Fabio Szwarcwald (que foi diretor do MAM Rio e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage). Ele conta à arte!brasileiros que vêm acompanhando esse mercado desde 2021, curioso por esse novo momento, que veio as criptomoedas e depois com os contratos de NFT. As criptomoedas, aliás, já eram realidade no mercado da arte há bastante tempo, muitas galerias e artistas já aceitavam pagamentos em criptomoedas para obras físicas antes mesmo da criptoarte surgir.
“A produção de arte computacional acontece já há mais de 30 anos. Essa coisa do artista produzir obras de arte usando o computador como pincel já existe há muito tempo. Temos como exemplo Bill Viola e Janet Cardiff”, comenta Szwarcwald. O problema antes, ele explica, é que a tecnologia de armazenagem para esse tipo de produção ficava obsoleta muito rápido, o que poderia tornar as obras efêmeras. O contrato digital inteligente gravado na blockchain, que é o NFT, faz com que isso não seja mais um problema, já que a obra estará para sempre na carteira digital do colecionador.
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Thiago Martins de Melo, "Anunciação (Amazonia Mega Drive)", 2022. Foto: Cortesia Tropix
Gretta Sarfaty, "Spresiano Shower in the Thai-Si", 1980-2022. Foto: Cortesia Tropix
Estande da Tropix na SP-Arte. Foto: Divulgação
Na SP-Arte, a Tropix trabalhou com 12 galerias, 20 artistas e 35 obras, em um estande que teve curadoria de Marcio Harum. “Foi muito bacana e muito sério o trabalho feito pelo nosso curador, no qual ele traz artistas mais renomados junto a artistas que estão trabalhando há menos tempo com essa tecnologia. Tínhamos nomes como a Gretta Sarfaty, que teve seu trabalho considerado como um dos melhores da feira, e outros mais jovens, como o PV Dias”, Fabio pontua. Um dos grandes eventos do estande foi o lançamento da obra Anunciação (Amazônia Mega Drive), de Thiago Martins de Melo, exibida em 3D como um holograma, mostrando que as obras digitais não são apenas para ficarem nas televisões.
Diferente de outras plataformas, a Tropix tem como foco trabalhar com grandes galerias do Brasil e também do exterior. Dentre as parceiras estão nomes como Jaqueline Martins, Verve, Leme, Millan e Zipper. “Entendemos que as galerias já têm um trabalho curatorial para selecionar os artistas e os ajudam muito nessa estratégia de entrar nesse mercado de arte computacional. Mas também entendemos que existem vários profissionais que não têm galeria e que fazem um trabalho muito interessante”, explica Szwarcwald. O artista envia o seu projeto para a Tropix, que passa por uma avaliação do time curatorial da plataforma. Fabio adiciona que essa inclusão de artistas independentes também vem pelo fato de que quem produz arte digital/computacional não era um artista que as galerias se interessavam tanto anteriormente, mas que com a tecnologia do NFT, que torna tudo mais seguro e transparente, esse interesse foi surgindo.
Algumas galerias renomadas, inclusive, fizeram a sua própria galeria de arte digital. É o caso da Leme, com a Leme NFT, e a Kogan Amaro, com a Kogan Amaro Digital Gallery. A primeira utiliza como marketplace a plataforma da Tropix. Já a segunda, utiliza a plataforma Foundation para promover suas vendas. O diretor da Kogan Amaro, Ricardo Rinaldi, conta que a equipe vem acompanhando com entusiasmo esse novo mercado e que o projeto da galeria de arte digital vinha sendo estruturado desde o ano passado.
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Estande da Galeria Kogan Amaro na 18a SP-Arte. Foto: Divulgação
Mundano, "Semana de Arte Mundana", 2022. Foto: Cortesia Galeria Kogan Amaro
O primeiro lançamento de obra em NFT feito pela Kogan Amaro foi em parceria com a Tropix, com uma uma animação em stop motion feita por Mundano. A obra é uma parte da exposição que o artista realizou na galeria no início deste ano, intitulada Semana de Arte Mundana. Agora, utilizando outra plataforma para vendas, a galeria teve um espaço dedicado às obras em NFTs na SP-Arte.
Em um estande híbrido, com obras físicas e digitais, a galeria montou um grande painel vertical de LED para exibir os trabalhos em NFTs. A Kogan Amaro trabalha com artistas que já faziam apenas obras digitais, mas também tem incentivado seus artistas representados a produzirem obras em NFTs, como Daniel Mullen, Fernanda Figueiredo, a dupla Tangerina Bruno e o próprio Mundano. Rinaldi conta também que eles têm auxiliado os colecionadores a entrarem nesse novo mercado, ajudando-os a construir a sua própria carteira digital, por exemplo. A galeria também criou um sistema para aceitar pagamento em dinheiro por essas obras, não só em criptomoedas.
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Fernanda Figueiredo, "Land of no Future (meteor)", 2022. Foto: Cortesia Galeria Kogan Amaro
Daniel Mullen, "Active Beacon", 2022. Foto: Cortesia Galeria Kogan Amaro
Mais novidades por aí
Szwarcwald anunciou que a Tropix está trabalhando em um sistema – que será consolidado em um aplicativo – para certificar obras físicas também em NFT, chamado OffPix: “A ideia é oferecermos isso para os galeristas como uma forma de conseguirmos criar toda essa certificação via blockchain, com contrato de NFT, trazendo uma segurança muito maior para o mercado no geral”. Além de obras de arte em todos os suportes, poderão ser certificadas outras coisas que possuem assinaturas e certificados, como móveis. Essa certificação garantirá uma segurança maior na negociação das obras, além de maior transparência.
Outros setores que utilizam os NFTs, como o de jogos, têm investido muito na ideia de metaverso, levando até mesmo lojas e shows para dentro de seus “mundos” virtuais que simulam a realidade a partir de ferramentas como a de realidade virtual. A Tropix tem planejado também abrir uma galeria no metaverso, na intenção de expandir o leque de colecionadores, podendo atrair inclusive potenciais colecionadores mais jovens, de uma geração que já está digitalmente conectado em seu dia a dia: “Vemos o metaverso como uma oportunidade que está se abrindo, muito importante para as pessoas começarem a ter uma nova relação com a tecnologia e também com outras pessoas”. Fabio assinala que até mesmo a realização de performances é possível nesse outro ambiente.
Vista aérea de "Um Campo da fome", de Matheus Rocha Pitta.
Parafraseando o escritor italiano Ítalo Calvino, volto sobre meus passos à Usina de Arte, em Pernambuco. O retorno imaginário é a experiência do ver depois, do ver outra coisa, do viver ainda.
As seguidas mutações desse espaço cultural a céu aberto, funcionando em plena Zona da Mata, reforça a ideia de transformar territórios rurais em centros artísticos, múltiplos, vivos e agregadores de comunidades esquecidas. Com a inauguração das obras Paisagem, de Regina Silveira e Um Campo da Fome, de Matheus Rocha Pitta as discussões sobre violência e fome se materializam em dois projetos políticos que adensam o acervo de arte da Usina. Ambas espelham a preocupação desses dois artistas, de gerações e tendências diferentes, com a situação social do País.
O labirinto transparente de Regina foi montado na 34ª Bienal de São Paulo e adquirido pelo empresário Ricardo Pessoa de Queiróz, segundo a artista, depois de uma intermediação das galeristas paulistanas Luciana Brito e Marga Pasquali. As paredes transparentes, “perfuradas” graficamente por tiros, exibem uma cena enigmática. Os alvos apontam para o ponto cego da indagação sobre quem atira e o que é alvejado. A artista se aproxima de formas geométricas que dão essência a esse trabalho provocador, envolto em uma tensão curiosa. Como diz Walter Benjamim, o convencional frui-se sem crítica e o diferente está sujeito a ela. Paisagem pode simbolizar os enfrentamentos vividos no Estado de Pernambuco, notável por suas lutas históricas contra os portugueses, franceses, holandeses ou durante a escravidão nos campos de cana de açúcar. De qualquer ângulo que se olhe esse labirinto, as paredes translúcidas colocam a topografia circundante como pano de fundo. Assim, a instalação envolve e é envolvida pelo entorno. O visitante pode experimentar uma caminhada pelos cem metros quadrados, cujas paredes de 2,50 m de altura exibem, a um pouco mais de um metro, imagens impressas de tiros.
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Vista através de um dos buracos de tiro em "Paisagem", de Regina Silveira
"Paisagem", de Regina Silveira, sendo montada na Usina de Arte.
Vista do alto, Paisagem torna-se um mapa com traçado total, um microcosmo constituído de fragmentos perfeitos. A experiência espacial coletiva ou individual é primordial para constituir um labirinto. Conceitualmente os trabalhos de Regina são recorrentes. Paisagem reforça a série de labirintos gráficos, realizados na década 1970, em torno do mesmo eixo, com marcas gráficas de disparos. Também a série Crash está no alinhavo deste pensamento no qual louças de porcelanas são quebradas.
Vista aérea de “Paisagem”, Regina Silveira.
A artista realiza a instalação com liberdade formal e situação espacial fluídas. Na sociedade contemporânea tudo acontece rápido e simultaneamente tornando só percebido o que sobressai. Sensação é o que arranca a percepção do seu ritmo costumeiro e Regina aplica isso muito bem, seja em suas obras intimistas, seja nos trabalhos públicos superdimensionados. O labirinto translúcido, formalmente limpo e angular da artista, dialoga em contraponto ao labirinto orgânico e aberto, Eremitério Tropical de Márcio Almeida construído com tijolos e lentamente mimetizado pela paisagem. A instalação tangencia a morfologia “radicante”, que se refere às plantas que produzem raízes no processo de deslocamento. A ideia se encaixa no conceito do paisagista Gilles Clément que propõe criar “jardins em movimento”, utilizando exatamente essa característica móvel, ou desterritorializante, do mato e das plantas trepantes.
Com outras gramáticas, mas igualmente político, Matheus Rocha Pitta inaugura hoje sua obra maior, Campo da fome, uma imensa intervenção na paisagem. A instalação abrange o repertório de manifestações visuais que envolve a ecologia, focalizando a destruição do meio ambiente e a fome. O artista ocupa uma área de 700 metros quadrados com uma horta focada em vegetais típicos do Nordeste como o caju, pinha, abacaxi, milho, mandioca confeccionados com barro. A instalação ainda agrega azulejos e pedaços de concretos que ele chama de materiais ordinários. Como explica o artista, “devido à sua recém-implantação a obra pode dar a impressão de incompletude e instabilidade por causa do terreno que ainda não está sedimentado”. Sua arte transgressora é tingida pela cor ocre da terra e pelo discurso da fome. A instalação está dividida em espaços rigorosamente iguais com repetição serialista e que se apoia no manifesto A estética da fome, de Glauber Rocha, a cartilha do Cinema Novo, na qual o diretor defende uma linguagem emancipadora a partir da falta de comida e avisa. “Enquanto não erguer as armas, o colonizado é um escravo”. Rocha Pitta também traz para a discussão a descrição de um campo da fome localizado ao leste da Acrópole, na Grécia Antiga. Segundo a lenda ninguém poderia adentrar naquele terreno onde a fome estava presa, para que ela não chegasse a outros territórios. “Minha ideia foi desenvolver um trabalho como contenção da fome, um lugar quase sagrado, para deixar que a falta de comida permanecesse ali congelada”. A horta é composta por 30 canteiros onde estão dispostos legumes, frutas ou raízes da região. “Ao todo, a instalação reúne cerca de nove mil peças produzidas por Domingos, artesão de Tracunhaém, cidade conhecida pelo trabalho em cerâmica”. Cobertos pela cor intensa do barro os alimentos são melhor percebidos a partir de uma aproximação visual.
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Vista aérea de "Um Campo da fome", de Matheus Rocha Pitta.
Vista aérea de "Um Campo da fome", de Matheus Rocha Pitta.
Detalhe de "Um Campo da fome", de Matheus Rocha Pitta.
Detalhe de "Um Campo da fome", de Matheus Rocha Pitta.
Detalhe de "Um Campo da fome", de Matheus Rocha Pitta.
Detalhe de "Um Campo da fome", de Matheus Rocha Pitta.
As transformações da Usina de Arte acompanham a tomada de consciência sócio artístico ambiental e são pilotadas por seus proprietários e atores principais, a arquiteta Bruna e o empresário Ricardo Pessoa de Queiroz, bisneto do fundador da Usina Santa Terezinha que era sobrinho do presidente Epitácio Pessoa, que governou o Brasil de 1919 a 1922. A usina foi a maior produtora de álcool e açúcar do Brasil nos anos 1950. Ricardo é o responsável pela transformação desse patrimônio desativado. Ele acredita que o projeto só tem sentido se impulsionar a transformação da comunidade vizinha, composta em parte por ex-funcionários da usina. “Esse é um dos objetivos com os quais trabalhamos na difusão da arte”.
Colecionar também pode ser fruto da necessidade de estar perto das coisas que nos dão prazer. Todo colecionador é um intermediário que se transforma em autor no processo de procurar, armazenar, classificar e zelar pelo objeto artístico. Bruna e Ricardo trabalham neste sentido desde o início da Usina de Arte quando optaram por criar um acervo a céu aberto. Ela enfatiza que eles não têm a intenção de criar pavilhões, como em Inhotim, e Ricardo reforça a ideia de que obras de arte podem estar em diálogo direto com a natureza.
Chiaroscuro (Claro-escuro): metal, acrílico e lâmpadas LED sobre o comentário do pensador Antonio Gramsci. Foto: Sesc Pompeia.
O acervo de arte conta com mais 40 obras que foram curadas, inicialmente, pelo artista paraibano José Rufino, com a participação de Ricardo e Bruna. Há três meses o crítico francês Marc Pottier assumiu o posto e uma de suas propostas foi a de colocar o neon Chiaroscuro (Claro Escuro) do artista chileno Alfredo Jaar na fachada do deteriorado prédio onde funcionou a usina. O trabalho de 18 metros é composto pela frase O velho mundo agoniza, um novo mundo tarda a nascer e, nesse claro-escuro, irrompem os monstros, dofilósofo Antonio Gramsci escrita na década de 1930, em plena ascensão do fascismo na Itália e que dialoga com o tumultuado momento que o Brasil vive. O curador ainda cita outro projeto a ser implementado, os bancos para descanso criados por Claudia Jaguaribe que serão espalhados por todo o espaço.
O acervo de arte reúne artistas como Carlos Vergara, Iole de Freitas, Frida Baranek, Artur Lescher, Júlio Villani, Geórgia Kyriakakis, Saint Clair Cemin, José Spaniol, Juliana Notari, Denise Milan, José Rufino, Marcio Almeida, Flávio Cerqueira, Bené Fonteles, Hugo França, Paulo Bruscky, Marcelo Silveira, Liliane Dardot e Vanderley Lopes. Com exceção da obra de Rufino, instalada dentro do antigo hangar, as demais estão espalhadas pelo imenso jardim que circunda os três lagos artificiais, projetado pelo paisagista Eduardo Gomes Gonçalves. Em meio ao reflorestamento com cerca de 10 mil plantas de aproximadamente 600 espécies, o Jardim Botânico plantado em 33 hectares constitui-se em mola propulsora de outras ações para gerar desenvolvimento e renda à comunidade de seis mil pessoas que vivem próximas ao projeto.
Um dos destaques do complexo cultural é o Festival Arte na Usina, nascido em 2015, que reúne artistas e intelectuais em torno de shows, residências, oficinas literárias e de arte, abertas aos moradores da comunidade. Também tem relevância a escola de música, equipada com diversos instrumentos, oferecendo aulas diárias aos moradores. “Conseguimos uma parceria com o Conservatório Pernambucano de Música, nossos alunos vão até o Recife e os professores vêm à Usina alternadamente”, ressalta Bruna. Ainda chama a atenção a biblioteca climatizada com mais de cinco mil exemplares catalogados, além de uma FabLab com terminais de computadores conectados à internet, impressoras em 3D e cortadora a laser para projetos da comunidade, além de parceria com as unidades escolares. Desde a sua criação a Usina de Arte transcende as experiências artísticas e tenta exercer a alteridade na transformação socio/cultural da comunidade.
A partir de 9 de abril, o IMS Paulista apresenta a primeira grande retrospectiva de Daido Moriyama na América Latina. A mostra reúne mais de 250 trabalhos, além de uma centena de publicações e escritos do fotógrafo japonês, um dos principais nomes da fotografia contemporânea mundial. Através de dois andares do instituto preenchidos com o trabalho do artista é possível vislumbrar diferentes momentos de sua carreira, desde o interesse pelo teatro experimental dos anos 1960, passando pelos trabalhos contestadores dos anos 1970, até a documentação das cidades e a reinvenção do seu próprio arquivo nos últimos anos. A curadoria da exposição é de Thyago Nogueira, coordenador da área de Fotografia Contemporânea do IMS, sendo o resultado de três anos de pesquisa, visitas ao arquivo de Moriyama em Tóquio, e consulta com os pesquisadores japoneses Yutaka Kambayashi, Satoshi Machiguchi e Kazuya Kimura.
Nascido em 1938, em Ikeda-cho, Osaka, Moriyama passou a infância em diversas cidades. Após se formar em design, mudou-se para Tóquio em 1961, onde começou a fotografar para jornais e revistas de grande circulação, em um período de crescimento econômico e fortalecimento da cultura de massas. Logo, tornou-se conhecido por suas fotografias em preto e branco, granuladas e de alto contraste. Moriyama desafiou as ideias convencionais de fotografia documental e de realidade fotográfica em sua abundante produção, na qual livros e publicações independentes têm participação fundamental; a produção do fotógrafo está muito associada à indústria editorial, mais do que ao circuito da arte.
O primeiro andar da exposição destaca as décadas de 1960 e 1970, momento inicial de Moriyama influenciado por mestres do pós-Guerra, como Eikoh Hosoe e Shōmei Tōmatsu, e artistas americanos, como William Klein e Andy Warhol. Durante tal período, o fotógrafo documentou a efervescente cultura japonesa, marcada pela destruição da guerra, a ocupação das tropas americanas, o desaparecimento dos modos de vida tradicionais e a ocidentalização do país. Em 1969, Moriyama integrou a equipe da contestadora revista Provoke, formada por artistas e intelectuais que questionavam a submissão das imagens às palavras e o realismo engajado. A publicação consagrava o estilo are, bure, boke (granulado, tremido, desfocado), que marcaria a fotografia japonesa do período. Alguns anos depois, Moriyama produziu o livro Adeus, fotografia! (1972), uma coletânea de imagens feitas de negativos rasurados, riscados e inutilizados, quase indiscerníveis. Segundo o curador, a publicação, que completa 50 anos em 2022, revela “a revolta de um artista contra sua submissão ao código fotográfico, a expressão máxima da descrença no poder de transformação das imagens”. Sobre esse período, o próprio artista afirma: “Tentei desmontar a fotografia, mas acabei desmontando a mim mesmo”.
No segundo andar, a retrospectiva apresenta o retorno de Moriyama ao fazer artístico, nos anos 1980, após um momento de depressão e crise criativa. Entre as obras, estão as famosas séries Luz e sombra e Memórias de um cão, publicadas entre 1982 e 1983. A mostra também traz o arquivo completo da revista Record, seu diário pessoal iniciado em 1972, que chega à 50ª edição em 2022. No centro do andar, uma grande mesa-biblioteca exibe diversos livros do artista, muitos deles disponíveis para leitura do público.
Serviço Onde: Avenida Paulista, 2424 – São Paulo (SP) Quando: A partir de 9 de abril até 14 de agosto de 2022. Funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segunda) das 10h às 20h. Ingresso: A entrada é gratuita, liberada mediante apresentação do comprovante de vacinação contra Covid-19 (para todos acima de 5 anos). Uso de máscaras é recomendado.