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Mostra reúne obras de Melvin Edwards no MAM da Bahia

Melvin Edwards, 'Boa sorte, primeiro dia'. (FOTO: Ding Musa)
Melvin Edwards, ‘Boa sorte, primeiro dia’. (FOTO: Ding Musa)

 

Mostra de Melvin Edwards, originalmente criada e apresentada no espaço auroras, em São Paulo, tem a sua segunda itinerância. Após ser exibida de agosto a outubro no Museu da República, no Rio de Janeiro, a exposição segue para o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), onde tem abertura no dia 8 de novembro, das 19h às 22h. A iniciativa é parte da programação do projeto HuMAMnamente Negro, que celebra o mês da Consciência Negra. A individual de Melvin é uma realização do auroras em parceria com a instituição baiana, com apoio da galeria Almeida e Dale.

Relembre matéria de Marcos Grinspum Ferraz, publicada no site da ARTE!Brasileiros na ocasião em que a mostra esteve em cartaz no auroras:

Nos 15 dias que passou no Brasil para montar sua exposição no auroras – espaço independente sediado em uma casa no Morumbi, em São Paulo –, o artista americano Melvin Edwards, de 81 anos, teve um verdadeiro surto criativo. Não só produziu as 16 esculturas e instalações que integram a mostra, como pintou, no que seria o seu “dia de folga”, 12 aquarelas que também estão expostas na casa.

“Falei para o Melvin pegar leve, mas ele dizia que estava aqui para trabalhar”, conta Ricardo Kugelmas, 40, fundador e diretor do auroras. “O próprio galerista dele comentou que há tempos ele não criava tanto.” A produção foi tão prolífica que pela primeira vez uma mostra ocupa todos os espaços da casa, desde a sala e o jardim até a sala de projetos, o corredor e um dos quartos do piso superior.

O resultado são obras abstratas – compostas de correntes, ferramentas de ferro, arames farpados e peças de aço – que facilmente remetem à segregação, preconceito, violência racial e escravidão, apesar de certa resistência do artista em afirmá-lo. “Se a cortina de arames nos faz pensar no muro de Trump ou em um campo de concentração, o Melvin não diria isso. Ele fala, inclusive, que correntes podem ser vistas como elos de conexão”, afirma Kugelmas.

O artista em frente a uma das obras da mostra. FOTO: Ricardo Kugelmas

Em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo, o artista ressaltou: “Expressar-se socialmente no trabalho é natural, nós criamos a sociedade. Meu trabalho é uma expressão social, e não protesto social. Não está limitado a isso”. Se de fato sua obra transcende essas questões, é impossível não lembrar que Edwards nasceu no Texas em 1937 e vivenciou na pele a intensa segregação racial que dominava o sul dos EUA.

Anos mais tarde intitulou sua mais conhecida e longeva série de obras de Fragmentos Linchados, em referência aos linchamentos sofridos pelos negros após a abolição da escravatura nos Estados Unidos. Em 1970, Edwards foi o primeiro artista afro-americano a realizar uma mostra individual no Whitney Museum of American Art, em Nova York, e a partir desta época se aproximou também das culturas africanas, tendo inclusive estabelecido um atelier no Senegal nos anos 2000.

Proximidade com o Brasil

Fragmentos Linchados, que começou a ser produzida nos anos 1960 e continua até os dias de hoje – no auroras há seis novas peças da série – foi tema da primeira individual de Edwards no Brasil, uma retrospectiva no MASP realizada no ano passado. Foi durante a montagem da mostra que o galerista do artista, Alexander Gray, propôs a Kugelmas realizar uma exposição no auroras, onde o artista poderia mostrar outras facetas de sua obra, com peças criadas no próprio Brasil.

Foto antiga do artista com um de seus “Fragmentos Linchados”

Os materiais foram todos comprados em São Paulo, como conta Kugelmas. “Ele adorou quando entrou no primeiro ferro velho. Disse que naquelas peças estava parte da história dos últimos 150 anos do Brasil. Mas, ainda assim, ele sempre afirma que sua maior preocupação não é com a origem dos materiais, mas sim com suas possibilidades plásticas, de compor algo novo em que por vezes nem reconhecemos os objetos”, conta Kugelmas.

A relação de Edwards com o Brasil não é de hoje. Em 1986, acompanhando a poeta e ativista Jayne Cortez, sua mulher à época, viajou por diversos cantos do país. Conheceu artistas como Emanoel Araujo – hoje diretor do Museu Afro, que tem no acervo obras de Edwards – e produziu, pouco depois, trabalhos que remetem ao país, como “Palmares” – que estava exposto no MASP e acaba de ser incorporado ao acervo do museu.

Arte em ambiente doméstico

Agora, é nos vários ambientes da casa modernista de Kugelmas, projetada por Gian Carlo Gasperini em 1957, que as obras de Edwards se espalham até o dia 16 de março. Fundado em 2016, o auroras é um espaço de arte independente que tem como proposta se diferenciar tanto de galerias quanto de museus. O próprio fato de estar sediado em uma casa – onde viveram os avós de Kugelmas e ele mesmo morou até recentemente – cria um ambiente bastante peculiar.

“É uma casa, tem afeto, tem uma escala muito humana. E vai meio contra tudo o que tem acontecido em São Paulo. O vizinho semana passada subiu um muro de 30 metros, o outro colocou quatro portões… e aqui a gente está abrindo a porta da casa, tentando convidar, trazer alunos de escola pública”, diz Kugelmas, que também montou no local uma biblioteca aberta com livros de arte. Neste sentido, apesar de criticar instituições que se preocupam mais com o número de visitantes do que com a formação de um público interessado – “especialmente museus americanos” –, o diretor do auroras diz que pretende trazer cada vez mais gente para o espaço.

“Se eu já abri minha casa e estou dedicando minha vida a isso, não estou fazendo nem para os meus amigos nem muito menos para a madame que mora aqui no bairro. Estou pensando nos artistas, nos jovens artistas, nos estudantes e no cara da escola pública aqui perto”, diz ele. Após se formar em direito e trabalhar em outras áreas, Kugelmas entrou no mundo das artes em 2006, quando foi convidado para ser diretor de estúdio do artista Francesco Clemente em Nova York.

O auroras foi criado em sua volta ao Brasil, em 2016, em grande parte por influência de Tunga. “Ficamos amigos e ele me dizia que, por já ter formado uma grande rede de contatos nos EUA, eu deveria voltar para o Brasil e fazer algo aqui. Dizia que o Brasil é mata virgem, que tem muita coisa para ser feita por aqui.” Numa coincidência infeliz, Kugelmas voltou dos EUA exatamente quando Tunga morreu. Decidiu nomear o espaço em homenagem ao artista, inspirado em sua série de aquarelas Quase Auroras.

A biblioteca do auroras, que fica aberta ao público. FOTO: Marcos Grinspum Ferraz

Para não ser um projeto totalmente pessoal, o fundador logo formou um conselho com artistas como Fernanda Gomes, Claudio Cretti, Lenora de Barros, Lucia Koch e Bruno Dunley, além de nomes de outras áreas como os músicos Arto Lindsay e Rômulo Fróes e profissionais do mundo editorial como Charles Cosac e Isabel Diegues. Em pouco mais de dois anos de funcionamento, a casa apresentou exposições individuais ou coletivas com nomes de peso como os brasileiros Flavio de Carvalho, Antonio Dias, Tunga, Carmela Gross, Leda Catunda, Jac Leirner, Paulo Monteiro e Emmanuel Nassar e os estrangeiros Robert Rauschenberg, Cecily Brown, Alex Katz e David Salle. A próxima mostra será do artista conceitual americano Tom Burr.

Os trabalhos por vezes estão à venda, o que ajuda a manter o espaço – que sobrevive sem patrocínios ou editais, ao menos por enquanto –, mas segundo Kugelmas isso não é critério para incluí-los nas exposições. “Como não há uma preocupação grande em vender, como numa exposição de galeria, nem uma preocupação tão grande com a carreira, digamos assim, como numa exposição em um museu ou grande instituição, o artista tem uma enorme liberdade criativa. Ele sabe que está num espaço de projetos, onde pode arriscar.”

O auroras fica aberto apenas aos sábados ou com agendamento prévio nos outros dias. Esse sistema diminui os custos e possibilita uma existência razoavelmente barata para o espaço. Em um momento em que as artes recebem cada vez menos apoio estatal e que mesmo grandes instituições culturais se veem ameaçadas, Kugelmas considera que espaços independentes terão um papel ainda mais importante, “quase de resistência”. “Acho que com o andar da carruagem, o jeito de sobreviver será atuar cada vez mais colaborativamente, com mais articulação entre artistas, curadores, galeristas, instituições, espaços de projeto… E também realizar cada vez mais pequenas ações, arregaçar as mangas e fazer acontecer”, conclui.

Melvin Edwards 

Até 16 de março de 20019
auroras –  Avenida São Valério, 426
Entrada gratuita

Prêmio Parque Lage vai oferecer residências artísticas em Nova York

O edifício do Parque Lage. Foto: Ana Lauriano/Flickr
O edifício do Parque Lage. Foto: Ana Lauriano/Flickr

Como parte do projeto de internacionalização da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (Rio de Janeiro), o diretor da instituição, Fabio Szwarcwald, anuncia na próxima quarta-feira, dia 13 de fevereiro, a primeira edição do Prêmio Parque Lage, realizado em parceria com a organização nova-iorquina AnnexB.

Alunos e ex-alunos formados no último biênio da EAV Parque Lage podem se inscrever para concorrer ao prêmio, que terá júri formado por representantes das duas instituições. O contemplado terá direito à residência artística de dois meses, com todas as despesas pagas, em Nova York.

Sediada no Parque Lage, em edifício tombado pelo IPHAN, a EAV é uma das mais importantes instituições educacionais de arte do país. Voltada prioritariamente para o campo das artes visuais contemporâneas, abrange também outros campos de expressão como música, dança, cinema, teatro e literatura. As atividades da EAV contemplam tanto as práticas artísticas como seus fundamentos conceituais, com foco também na formação de público através da realização de exposições, eventos, de uma biblioteca e de seu arquivo documental.

A AnnexB é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2016 e dedicada a divulgar e promover a arte brasileira em Nova York. Através de residências artísticas, exposições e programas públicos, a AnnexB trabalha especialmente com artistas contemporâneos em início ou meio de carreira. Já estiveram em residência na instituição mais de 50 artistas, entre eles nomes como Carla Chaim, Nino Cais e Mateu Velasco.

CCSP apresenta diálogos entre artistas brasileiros e sul-africanos

Trabalho da artista Ana Hupe. FOTO: Divulgação

Resultado de um projeto mais amplo de pesquisa e colaboração entre artistas de diferentes países do Sul, a exposição Conversas em Gondwana apresenta, a partir do dia 7 de fevereiro no Centro Cultural São Paulo (CCSP), trabalhos criados em parceria por artistas brasileiros e sul-africanos.

Gondwana é o nome do supercontinente que há cerca de 200 milhões de anos reunia as massas continentais do que hoje chamamos América do Sul, África, Antártica, Austrália e Índia. Como explicam as curadoras Juliana Caffé e Juliana Gontijo, “o projeto evoca esse passado geológico distante a fim de intensificar o fluxo de práticas e pesquisas entre artistas, curadores e pesquisadores dessas regiões”.

Para a primeira edição de Conversas em Gondwana formaram-se cinco duplas, sempre com um artista brasileiro e um sul-africano: Aline Xavier e Haroon Gunn-Salie; Ana Hupe e Gabrielle Goliath; Clara Ianni e Mikhael Subotzky; Daniel Lima e Ismail Farouk; e Paulo Nimer PJota e Siwa Mgoboza. A exposição no CCSP apresenta, ainda, uma seção intitulada Arquipélago, com trabalhos de Kemang Wa Lehulere, Penny Siopis, Cinthia Marcelle, Jean Meeran, Thiago Rocha Pitta, Marcelo Moscheta e Renata de Bonis.

Nas palavras das curadoras: “Deste modo comunicacional aliado à invenção estética, talvez possamos entrever algo do que Walter Mignolo chama de ‘pensamento crítico de fronteira’: aquele que parte das epistemologias subalternas e irrompe a geopolítica dominante do sistema-mundo colonial e capitalista para deslocar fronteiras, horizontalizar diálogos e diversificar conhecimentos”.

No próximo sábado, dia 9 de fevereiro, conversas com os artistas abordarão os principais temas tratados na exposição: identidades e representações pós-colonialistas; crise e política; terra e economia; gênero, sociedade e pós-colonialismo; e violência e aprisionamento.

Conversas em Gondwana

De 7 de fevereiro a 7 de abril de 2019

Centro Cultural São Paulo – Rua Vergueiro, 1000

Entrada gratuita

Conheça os cursos de pós-graduação em artes na FAAP

Com um valoroso histórico de comprometimento com o universo da arte, a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) tem inscrições abertas para turmas de pós-graduação que se iniciam em neste ano letivo. O candidato pode se inscrever para cursos de Estudos e Práticas Curatoriais, História da Arte e Práticas Artísticas Contemporâneas.

Também é importante lembrar o histórico da FAAP com residências artísticas, open studios e exposições coletivas com trabalhos de alunos de todo o núcleo de artes da faculdade, além de um incansável trabalho com o Museu de Arte Brasileira (MAB-FAAP).

Alguns cursos mais antigos e outros mais recentes reunem grupos extremamente envolvidos de profissionais no corpo docente, são eles artistas, mediadores, pesquisadores, editores e educadores de arte. Todos eles se dedicam a ensinar de forma interdisciplinar e multidisciplinar, interligando a arte com outros horizontes e promovendo atualizações. O curso de História da Arte, por exemplo, “propõe a apresentar pesquisas recentes, que questionam as visões consagradas, oferecendo uma visão crítica e atualizada”.

Museu de Arte Brasileira – Centro – Residência Artística. “Open Studio”. FOTO: Divulgação

Já o curso de Práticas Artísticas Contemporâneas oferece aos ingressantes que se debrucem sobre a atuação profissional no sistema da arte contemporânea, percorrendo quatro eixos: experimentações em poéticas visuais, sintaxes e processos artísticos pautados em diálogos transdisciplinares, exercícios práticos e discursivos que ampliem a percepção acerca do fazer, elaboração de proposições e projetos artísticos em embate com contextos político-culturais, e construção e discussão das poéticas individuais. Tudo isso ocorre com acompanhamento constante do professor, no que chamam de “critic class”.

O aluno que preferir os caminhos de Estudos e Práticas Curatoriais também encontrará uma forte presença da arte dos anos 60 até o momento no currículo, sendo um dos primeiros objetivos a compreensão justamente das práticas artísticas contemporâneas, visando “desenvolver formas singulares de produção de conhecimento prático que lidem com forças semelhantes àquelas que movem a produção artística, pensando a partir dos trabalhos de arte para constituir uma rede de fricções capazes de produzir novas maneiras de trazê-los a público, dentre elas exposições de arte, publicações, conferências”.

Registro de aula na Oficina de Gravura. FOTO: Sabrina Meira/Agência FAAP.

Nomes como Ana Luiza Dias Batista, Thiago Honório, Veronica Stigger, Ana Pato, Georgia Kyriakakis, Ana Paula Cohen e Edilamar Galvão são alguns que fazem parte do corpo docente dos cursos oferecidos. No curso de Estudos e Práticas Curatoriais, os alunos também receberão visitas de Cinthia Marcelle, Ivo Mesquita, Mabe Bethônico, Suely Rolnik para palestras e terão como artistas convidados a dupla
Barbara Wagner e Benjamin de Burca, Jaime Lauriano, Mark Lewis e Sofia Borges.

As inscrições para a realização dos cursos permanecem abertas, sendo o período letivo iniciado em março de 2019. Confira informações sobre requisitos para inscrições, preço e horários dos cursos no site da faculdade.

Pedro Moraleida, a beleza da dor

Sentindo Um Cansanço Mortal Por Representar o Humano, Sem Fazer Parte do Humano, Serie Germânica de Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina
Obra presente na mostra no Instituto Tomie Ohtake. FOTO: Divulgação

Pedro Moraleida, “menino” que se suicidou pouco após completar 22 anos, em 1999, teve sua obra artística, de uma força excepcional, silenciada por anos.

Após sua morte, seus pais, Luiz Bernardes e Nilcéa Moraleida, convidaram o professor Gastão Frota e colegas como Cinthia Marcelle, Sara Ramo e Emilio Maciel para olhar para o conjunto da obra produzida pelo artista em tão curto tempo. Desde então, pesquisadores e curadores como Rodrigo Moura e Veronica Stigger se debruçaram também sobre suas mais de 450 pinturas e quase 1450 desenhos.

Nas palavras de Paulo Miyada, curador da mostra no Instituto Tomie Ohtake, Moraleida “decidiu que a arte precisava ser sempre um grito, uma pústula, uma canção do sangue fervente. Alimentar-se de nossos desejos e traumas inconfessáveis, ao invés de polir a superfície cromada dos ambientes sofisticados”.

Aparentemente o percurso de Moraleida na arte esteve influenciado pela sua enorme curiosidade em filósofos que, nos anos 90, serviram de base para o pensamento contemporâneo. Bataille, Artaud, Deleuze, Derrida e Lacan estão, de uma ou outra forma, presentes em suas obras, que trazem a escatologia, a sexualidade e o corpo e utilizam-se delas sempre como uma afronta.

A intensidade e a violência da pintura de Moraleida perturba, necessariamente, porque na sua beleza radica uma profunda dor. Um ser que implode tudo o tempo todo, inconformado, que não consegue ter prazer. Corpos dilacerados, mãos amputadas. As mesmas mãos capazes de produzir essa obra. “O traço decidido de seus desenhos e a potência cromática de suas pinturas são alguns dos ingredientes que multiplicam a dureza de suas palavras”, diz Miyada.

Isto tudo pode ter lhe custado a vida. Afinal, romper com cânones morais e também estéticos sempre tem um preço.

Pedro Moraleida – Canção do Sangue Fervente 

Até 17 de fevereiro

Instituto Tomie Ohtake –  Av. Brigadeiro Faria Lima, 201

 

 

 

 

Individual na galeria Luciana Brito apresenta diferentes facetas de Fernando Zarif

Fernando Zarif
Obra de Fernando Zarif presente na mostra. FOTO: Divulgação
Fernando Zarif
Obras de Fernando Zarif presentes na exposição. FOTO: Divulgação

Artista dono de uma extensa e diversificada produção interdisciplinar – que transitou pela pintura, escultura, colagem, performance, literatura, música e teatro –, Fernando Zarif (1960-2010) ganha exposição individual na Luciana Brito Galeria com cerca de 50 obras pouco ou nunca antes exibidas.

A mostra, que fica em cartaz até 9 de março, apresenta três séries de obras bastante distintas entre si: pinturas maiores em tinta acrílica; esculturas verticais de metal; e um conjunto de colagens sobre tela em pequeno formato, num universo “duchampiano” onde surgem objetos como chaves, cadeados, fósforos e tesouras.

Morto precocemente aos 50 anos de idade, em 2010, Zarif fez sua primeira exposição em 1982, pouco tempo após abandonar o curso de arquitetura. O artista, que transitava com naturalidade entre a cultura erudita e o “underground”, tem sido retomado nos últimos anos em mostras, debates e pesquisas, num trabalho intenso realizado por parentes e amigos.

Em 2011, um ano após sua morte, a família do artista criou o Projeto Fernando Zarif, destinado a catalogar, preservar e difundir a vasta obra deixada. Localizado em São Paulo, o projeto abriga a biblioteca pessoal do artista, além de documentos, fotografias e escritos. Até o momento, já foram catalogadas e restauradas cerca de 2 mil obras.

Fernando Zarif

De 2/2 a 9/3

Luciana Brito Galeria – av. Nove de Julho, 5.162, São Paulo

Entrada gratuita

 

Anita Malfatti e o salão do Palacete do Conde Lara

O prédio hoje está numerado como 336 da rua Libero Badaró. O térreo, que sedia o restaurante Pirandello, é o número 332.

Na edição do último domingo, 27 de janeiro, o jornal O Estado de São Paulo publicou matéria na qual o pesquisador Edgar Santo Moretti teria descoberto o local exato onde teria sido realizada uma das primeiras – e mais importantes – exposições de Anita Malfatti, em dezembro de 1917.

O espaço que hoje se refere ao prédio no número 336, com térreo 332, na rua Líbero Badaró, no centro de São Paulo, àquela época era o número 111. Em 20 de maio de 1916, um engenheiro chamado Gustavo Lara Campos recebeu alvará da prefeitura pra construir um prédio ali. O seu contratante era Antonio de Toledo Lara, o conde Lara (1864-1935).

Antes de ser erguido um prédio, o local foi sede de uma loja de cerâmicas e também uma fábrica de coroa de flores para finados. Após o soerguimento do edifício, o Conde Lara começou a ceder o espaço do térreo para que fossem realizadas exposições de arte, especialmente as que ousassem. O local ficou conhecido como Salão da Líbero Badaró 111 ou como Salão do Palacete Lara.

Também existem referências históricas que nomeiam como Palacete Lara o número 185 da rua Álvares Penteado e também o prédio que hoje é conhecido como Palacete Tereza de Toledo Lara – nome da filha do conde – e hoje é sede da Casa de Francisca. O local é conhecido como ‘A Esquina Musical de São Paulo’  por já ter sido sede da Rádio Record e de várias lojas de instrumentos ao longo do século passado. Isso indica que todos os imóveis que pertenciam ao empresário, fundador da fábrica de bebidas Antarctica, recebiam o título de ‘Palacete Lara’.

Além de ter abrigado a exposição de Anita que serve como marco do movimento modernista, o salão anteriormente já havia recebido exposições de Alfredo Norfini e do argentino S.M. Franciscovich, dentre outros. Essa exposição de Malfatti, inaugurada em 12 de dezembro de 1917 e intitulada Exposição de Pintura Moderna, não foi a primeira mostra da artista, como muitos creem, mas foi fundamental pela substancialidade do modernismo em suas telas, que causou debates calorosos no meio cultural da época, culminando na Semana de Arte Moderna de 1922.

 

 

Frieze Art Fair realiza primeira edição em Los Angeles

Obra da artista Lisa Anne Auerbach, que terá projeto solo na feira. FOTO: Divulgação

Com o intuito de inserir definitivamente Los Angeles no circuito das grandes feiras de arte internacionais, a Frieze Art Fair realiza este ano sua primeira edição na metrópole californiana, reunindo 70 galerias em Hollywood entre os dias 15 e 17 de fevereiro.

Apesar de ser a segunda maior cidade americana – a maior da costa oeste – e de abrigar importantes museus, galerias e instituições culturais, Los Angeles ainda não hospedava uma feira de arte deste porte.

O evento se soma às já estabelecidas edições da Frieze em Londres e Nova York e, apesar de apresentar um número menor de galerias em relação à suas parceiras, traz casas de peso como David Zwirner, Gagosian e White Cube. Mendes Wood e Vermelho serão as duas galerias brasileiras presentes na edição.

A Frieze Los Angeles acontece nos estúdios da Paramount Pictures e conta também com uma intensa programação de conversas com artistas, debates e shows. Uma das táticas dos organizadores para atrair público e dar visibilidade ao evento foi inseri-lo no calendário da cidade entre a realização do Grammy, no dia 10, e do Oscar, no dia 24.

Campos de Invisibilidade – SESC Belenzinho

No dia 08 de novembro, o Sesc Belenzinho abriu as portas da exposição “Campos de Invisibilidade.” A curadoria é de Cláudio Bueno, Ligia Nobre e assistência curatorial de Ruy Cézar Campos, que também apresenta duas obras.

Por meio da organização de 23 produções de 18 artistas brasileiros e estrangeiros, propõe-se a imersão e reflexão sobre o que há efetivamente por trás das várias conquistas tecnológicas presentes no dia a dia do sujeito contemporâneo. Ou seja, quais os processos industriais e impactos geopolíticos por eles gerados. Fotografias, vídeos, áudios, mapas e instalações questionam o mito da imaterialidade implantado pelas tecnologias e denunciam os altíssimos custos para o meio ambiente.

Campos de Invisibilidade concentra trabalhos que carregam diferentes bagagens dos artistas brasileiros, ingleses, britânicos, colombianos, canadenses, franceses, africanos e franco-guianenses, com a reflexão comum.

Confira texto completo sobre a exposição, por Nayani Real, clicando aqui.

Na FAMA, Regina Parra explora a dinâmica dos corpos

Ainda pequena, Regina Parra colocou na cabeça que queria muito ser artista. O pai trabalhava com tecnologia e a mãe era dona de casa, ambos relutaram, mas nada faria com que aquela jovem mudasse de ideia. Com 11 anos, começou a ter aulas de pintura e se dedicar ao ofício que queria ter para o resto da vida. Mais tarde, começou a cursas Artes Visuais, porém deixou o curso para se dedicar às artes cênicas, onde ficou por três anos nos cursos ministrados por Antunes Filho no Centro de Pesquisas Teatrais (CPT).

A trajetória de Parra com as artes do corpo fica bem evidente na sua história, tendo em vista que logo após o CPT, voltou a estudar artes visuais, começando pela École Nationale Supérieure des Beaux Arts de Paris e depois se graduando bacharel na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo.

Desde sua formação, Regina mantém uma frequência rotineira em exposições coletivas e individuais. Só em 2019, ela participou de sete coletivas e duas individuais. Uma dessas mostras solo é intitulada Eu me levanto, apresentada na Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA), em Itu. Fruto de um edital de ocupação lançado pela instituição, está em cartaz desde 17 de dezembro e será mantida até 9 de março.

O título da exposição vem de um poema da estadunidense Maya Angelou, que também deu origem ao nome da mostra que Sônia Gomes apresenta no MASP e na Casa de Vidro. A coincidência acontece em um momento que os escritos de Angelou, falecida em 2014, começa a ter forte presença nas discussões interseccionais de gênero no Brasil.

Assista o vídeo da performance Lasciva, realizada na abertura da mostra em dezembro.