Início Site Página 109

Feira Tijuana acontece neste fim de semana na Casa do Povo

Primeira feira de publicações e livros de artista organizada no Brasil, a Tijuana comemora 10 anos de existência neste fim de semana (dias 3 e 4 de agosto) com a realização de sua 23ª edição. Organizada em parceria pelo Ministério da Cidadania, Casa do Povo, Edições Tijuana e Galeria Vermelho, a Tijuana se especializou, a partir de 2009, em conectar editoras da América Latina. Com o tempo a feira se tornou itinerante, com edições em São Paulo, Rio de Janeiro, Lima, Buenos Aires e Porto.

Atualmente, o evento trabalha com uma rede de editoras que abrange a produção de países como Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, Uruguai e Venezuela, entre outros. Nesta edição, com o intuito de ir além dos limites da arte impressa, a Feira Tijuana tem uma programação curada pela pesquisadora Beatriz Lemos e o artista Fabio Morais, incluindo encontros e performances que incluem linguagens como o slam, inserções sonoras e outras.

A feira será realizada mais uma vez na Casa do Povo, no bairro paulistano do Bom Retiro (leia aqui matéria sobre a Casa), com mais de 100 editoras participantes. Na programação de debates serão tratados temas como relações raciais contemporâneas e africanidades no Brasil, causas indígenas e autonomismo político. Clique aqui e veja a programação completa.

23ª Feira Tijuana
Casa do Povo – Rua Três Rios, 252 – Bom Retiro
Dias 3 e 4 de agosto de 2019
Entrada gratuita

Galeria Karla Osório inaugura três individuais simultâneas

Rodrigo Garcia Dutra, A Linguagem da Serpente, 2019.

A partir do dia 27 de julho, o público poderá conferir uma sólida programação na Galeria Karla Osório, em Brasília. Serão três exposições individuais abertas simultaneamente a partir das 17h. As mostras de Rodrigo Garcia Dutra, Gustavo Silvaamaral e Bruno Duque ocuparão os ambientes internos da galeria, nos pavilhões I e II, e também a parte externa, nos muros e no pátio. O espaço tem 5 mil metros quadrados e está localizado no Lago Sul.

Em A Linguagem da Serpente, na galeria 4 do pavilhão II, Rodrigo Garcia Dutra apresenta uma série de códigos criados a partir de recortes em dobraduras de papel. Intuitivamente, os códigos criam uma suposta linguagem abstrata e geométrica. O resultado é uma enigmática forma de comunicação entre espécies humanas e não-humanas. Estes recortes foram transformados em desenhos cortados a laser em placas de madeira e pintados com tinta acrílica.

Já Bruno Duque leva à Karla Osório a mostra Expedições, situada nas galerias 1, 2 e 3 do pavilhão I, que dialoga com as mais tradicionais formas representações. A exposição apresenta três séries – Matas, Alter e Ebó – que têm em comum a referência fotográfica e se relacionam mais por contraste do que por contiguidade. Os animais de “Alter” seguem isolados das paisagens de “Matas” e ambos se mantenham livres de seres humanos. Em “Ebó” não é a cultura e o simbolismo que são exaltados, mas a própria vida que os orixás evocam.

Por fim, Gustavo Silvamaral propõe a intervenção Três quadrados amarelos na parte externa da galeria. O trabalho é composto de três painéis, em muros distintos, apresentando diversos elementos da pesquisa do artista que vem se desdobrando em uma série de ações, objetos, instalações, desenhos e pinturas. Todas as exposições podem ser conferidas até 7 de setembro.


Gustavo Silvamaral: Três quadrados amarelos + Bruno Duque: Expedições + Rodrigo Garcia Dutra: A Linguagem da Serpente
Galeria Karla Osório: St. de Mansões Dom Bosco CJ 31 – Lago Sul, Brasilia
De 27 de julho até 7 de setembro
Mais informações: (61) 3367-6303

Simpósio internacional discute transformações nas artes visuais

Acima, Néstor García Canclini e Nathalie Moureau; abaixo, Paul O'Neill e Moacir dos Anjos. Foto: Divulgação.

Com a participação de Moacir dos Anjos (Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recide/PE), Maria Lucia Bueno Ramos (docente permanente do PPGCSO, da UFJF), Mônica Hoff (artista, curadora e pesquisadora), Nathalie Moureau (professora de economia e pesquisadora no laboratório ART-Dev), Néstor García Canclini (doutor em Filosofia pelas universidades de Paris e de La Plata), e Paul O’Neill (curador, artista, escritor e educador irlandês), o 2º Simpósio Internacional de Relações Sistêmicas da Arte acontece entre os dias 29 e 31 de julho no Centro de Pesquisa e Formação (CPF) Sesc São Paulo.

Segundo o texto de apresentação, o evento – que tem inscrições esgotadas – discute as transformações pelas quais as artes visuais passam, abrigando abordagens da ampla gama de relações que permeiam o fazer artístico, sua legitimação, visibilidade, circulação e acesso.

O texto explica, ainda, que “os debates se debruçarão sobre a construção social dos valores estéticos na contemporaneidade, discutindo como falar em História da Arte e Estética ao lidar com objetos e eventos que fogem aos valores originalmente instituídos por tais disciplinas; as revisões  dos valores da estética clássica; as estratégias e discursos que vem sendo institucionalizados e incorporados ao sistema da arte; a reverberação do mercado de arte na legitimação de práticas artísticas emergentes; as formas de reorganização das práticas artísticas, da crítica de arte e das instituições para dar conta das mudanças que ocorrem num mundo global e desigual”.

O simpósio é uma parceria entre o Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAV-UFRGS), o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP) e o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo (CPF Sesc).

A aura, a reprodutibilidade e o vintage

Marcel Giró
“Caixas de Luz”, 1950, de Marcel Giró

O que diria Walter Benjamin se reaparecesse por aqui? Como reagiria frente à arte e sua reprodutibilidade depois, sobretudo, da internet e dos smartphones? Reveria sua crença na perda da aura da obra de arte diante da suposta desartização das obras produzidas com os meios tecnológicos? E quanto ao valor de culto da arte tradicional, Benjamin confirmaria que ele foi, de fato, suplantado pelo valor de exibição?

Entusiasta da propagação da arte pelos meios de reprodução, Benjamin via a fotografia e o cinema como fundamentais para a democratização da obra de arte. Reproduzida ou produzida por esses meios, ela seria finalmente despojada do prestígio ligado à sua suposta origem religiosa, possibilitando, assim, uma outra relação com o homem comum. Nesta nova situação, todos passariam a ser vistos não mais apenas como receptores, mas também como produtores possíveis.

Passadas décadas da publicação do ensaio de Benjamin, “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, filas e filas se formam para ver de perto a Mona Lisa, de da Vinci, no Louvre (cuja imagem foi e é reproduzida inúmeras vezes) – para ficarmos apenas com um único exemplo ligado às artes visuais. Hoje filmes os mais diversos são “cult”. “Cult” é também o título de uma revista dedicada ao culto da cultura e de uma plataforma do Telecine on demand; “cult” é a cantora trans, como também “aquela” fotografia “daquele” fotógrafo.

Segundo Benjamin, a obra de arte tradicional trazia com ela o valor de culto por causa da aura que dela emanava: ela era única, preciosa mas, na medida em que perdeu essas qualidades, devido aos processos de reprodução, passou a ser igual a todos os tipos de objetos, restando-lhe apenas o seu valor de exibição, ou seja, sua capacidade de estar em todos os lugares.

Qualquer fotografia, portanto, teria como base o seu valor de exibição suplantando qualquer possibilidade de possuir ou vir a possuir algum valor de culto. Afinal em sua própria condição de existência, reina sua capacidade de se reproduzir indefinidamente, certo? Não, errado. Não há dúvidas de que as câmeras digitais acopladas a celulares estão levando a proliferação da fotografia a patamares até então impensáveis. Entretanto, ao mesmo tempo em que os smartphones transformam seus proprietários em produtores compulsivos de fotografias que se espalham e se exibem rapidamente por todo o globo, existem fotografias que têm seu valor intrínseco de exibição restringido, sendo a ele sobreposto o antigo valor de culto.

Existe no mundo um conjunto de fotografias cujo valor de culto é criado por terem como característica o fato de serem vintage (foram reproduzidas na época de sua captação pelos próprios autores, elevados agora à condição de artistas e não de “meros” fotógrafos), ou por fazerem parte de uma produção post mortem, porém com um número limitado de exemplares. São essas relíquias sobreviventes de um tempo heroico qualquer – construído pela história e/ou pelo mercado –, que nos fazem peregrinar por museus e galerias a prestar-lhes homenagens, que fazem com que nos desloquemos para esses templos a fim de compartilharmos com poucos o nosso deleite frente àqueles fetiches quase únicos, praticamente únicos.

Os advérbios “quase” e “praticamente”, neste contexto, alertam para um fato na prática inquestionável: postar-se diante de uma fotografia produzida, por exemplo, em 1939, e que teve apenas alguns exemplares produzidos por aquele ou aquela que captou a imagem, é como estar frente a uma pintura. E isso porque, hoje em dia, um exemplar de, por exemplo, seis reproduções idênticas produzidas há 80 anos – num mundo saturado de imagens –, é capaz de fazer emanar uma autenticidade, uma aura de mistério e revelação (não é isso o que os objetos votivos provocam em quem os olha?), que nos embriaga de puro deleite, como se ele fosse único.

Se fitar essas imagens raras é um deleite, possuí-las, então, é um sonho de poder e gozo. E, por mais cara que possa ser uma fotografia vintage, ou de restrita edição, quase sempre ela é mais acessível do que “aquela” pintura ou “aquela” escultura que sobretudo o colecionador médio nunca irá possuir.

                                                              ***

Essas questões surgiram a partir da visita à “Fotografia Moderna 1940-1960”, em cartaz na Luciana Brito Galeria, em São Paulo. A mostra possui uma particularidade: apresenta obras de alguns dos fotógrafos brasileiros modernos mais prestigiados no espaço que antes foi uma residência projetada pelo arquiteto modernista Rino Levi. Difícil melhor container para abrigar alguns vintages de Geraldo de Barros, Thomas Farkas e outros, além de obras de uma única fotógrafa, Gertrudes Altschul. O espaço concebido por Levi traz solenidade às obras, dado que renova/amplia a aura que delas emana (embora a própria aura da casa também não deixe de impregná-las).

Se a exposição se inicia com alguma tibieza, com algumas obras de Paulo Pires, dentro da cartilha do que deveria ser uma fotografia em “estilo moderno”, logo na sequência ela passa a apresentar a dimensão experimental alcançada pela fotografia do período. Se na mostra se destacam os sempre estimulantes Geraldo de Barros e Thomaz Farkas, a grata surpresa foram as fotos de Marcel Giró, um modernista cuja produção mereceria ser mais divulgada.

Se os fotógrafos presentes na mostra, cada um à sua maneira, acreditavam que a fotografia poderia ser encarada e produzida como arte ou, mais como uma das “belas artes” (em alguns casos), não resta dúvida de que conseguiram provar que tais disposições eram possíveis, quer pela obediência às normas foto-clubistas então imperantes, quer pelo rompimento das mesmas. Hoje, devidamente emolduradas e dispostas em um ambiente que as reflete e endossa, reiteram a aparente falência dos constructos teóricos de Walter Benjamin, aqui comentados, em parte solapados pelos próprios fotógrafos, pelo mercado de arte e pelo colecionismo que conseguiram transformar aquelas peças em “quase” originais – objetos de deleite e de culto.

Tanto para aqueles que não se importam com tais questões, quanto para os que as consideram fundamentais para pensar sobre o estatuto da fotografia nos dias de hoje, “Fotografia Moderna – 1940-1960” é uma exposição obrigatória.

Exposição na Casa de Cultura do Parque discute produção tridimensional contemporânea

"Calda", 2005, de Tatiana Blass. Foto: Paulo D’Alessandro e André Conti

Novo espaço cultural da cidade de São Paulo, inaugurado no início deste ano (leia aqui), a Casa de Cultura do Parque apresenta mais uma exposição coletiva a partir deste sábado, dia 27 de julho. Intitulada Do Volume e do Espaço: Modos de Fazer, a mostra reúne obras tridimensionais, discutindo o pensamento atual em torno do trabalho escultórico.

A exposição é dividida em dois eixos principais: um endereçado à figura humana, em diálogo com a história tradicional da escultura; e outro endereçado às formas geométricas, que não surge em oposição à realidade do corpo, mas conjugada a ele. “É o corpo que experimenta a geometria, é ele quem a produz”, explica Ana Avelar no texto de apresentação.

Os artistas participantes são Alexandre da Cunha, Claudio Cretti, Edgar de Souza, Eduardo Frota, Felipe Cohen, Flávio Cerqueira, Ivens Machado, José Rezende, Laura Vinci, Nino Cais, Pablo Reinoso, Ricardo Becker, Rodrigo Cardoso e Tatiana Blass.

No dia da abertura da exposição, a Casa de Cultura do Parque e o Terra Nova, novo módulo de Artes Plásticas da Flip, promovem um encontro com José Miguel Wisnik sobre o processo de criação da performance Máquinas do Mundo, do Núcleo de Arte da Mundana Companhia de Teatro. A obra contempla elementos das artes plásticas, da literatura e do teatro e coloca e em diálogo textos de Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis e Clarice Lispector. A ARTE!Brasileiros esteve presente na apresentação da performance na Igreja da Matriz, em Paraty, durante a 17ª Flip. Veja a galeria de fotos acima.

Do Volume e do Espaço: Modos de Fazer
Casa de Cultura do Parque – Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1300 – Alto de Pinheiros
De 27 de julho a 13 de outubro
Entrada Gratuita

 

Casa Roberto Marinho apresenta mostra com artistas estrangeiros de sua coleção

Obra de Giorgio de Chirico, de 1941. FOTO: Divulgação

A Casa Roberto Marinho, localizada no tradicional bairro do Cosme Velho, no Rio, apresenta até outubro a mostra . Com cerca de 150 obras e curadoria de Lauro Cavalcanti, a exposição apresenta peças da plural coleção do empresário e jornalista carioca que dá nome à casa, morto em 2003.

Pinturas, esculturas, aquarelas, litogravuras, serigrafias e tapeçarias compõem a mostra com obras de artistas de diferentes épocas, entre eles Jean-Baptiste Debret, Giovanni Battista Castagneto, Marc Chagall, Salvador Dalí, Fernand Léger, Maria Helena Vieira da Silva, George Mathieu e Jean Cocteau.

Estrangeiros que adotaram o Brasil como lar também foram incluídos na exposição. Lasar Segall, Tomie Ohtake, Franz Weissmann, Frans Krajcberg, Yutaka Toyota, Joaquim Tenreiro, Maria Polo, Manabu Mabe e Roberto Moriconi são alguns deles.

Simultaneamente, a Casa Roberto Marinho apresenta a mostra Djanira: A Memória de seu Povo, produzida em parceria com o MASP. Com curadoria de Rodrigo Moura e Isabella Rjeille, a exposição expõe o trabalho de Djanira da Motta e Silva, uma das mais importantes pintoras modernistas brasileiras.

Estrangeiros na Coleção Roberto Marinho
Instituto Casa Roberto Marinho – Rua Cosme Velho, 1105
De 19 de junho a 27 de outubro

Muvuca

Yuri Firmeza . Ouro Branco, Inferno Verde #1, 2018

*Por Yuri Firmeza

1.
Enosiofobia é o termo científico que se dá a quem tem medo de ter cometido uma crítica imperdoável. Parte da crítica brasileira parece ter sido acometida, de maneira epidêmica, por esta fobia. E por isso, na contramão, tanto me alegra ler o texto escrito por Bitú Cassundé, Clarissa Diniz e Marcelo Campos. Se, por um lado, o texto é endereçado para outro texto, escrito por Aracy Amaral, não é menos verdade que o texto convoca, numa dimensão política-clínica, ao debate público acerca da “história oficial” da arte brasileira.

2.
Dizem que no carnaval de Olinda estamos sempre no meio. Não tem começo e nem fim e tem “gente” em demasia. Gente em demasia pode gerar epidemia, fujamos das multidões.

3.
Prefiro pensar que corpo demais pode gerar uma alegria indomável. Tem muita gente, mergulhemos na muvuca.

4.
Parte da crítica brasileira parece não gostar de carnaval, pois que o corpo – e de maneira contígua, a escrita – foram produzidos sob a égide da razão moderna e eurocêntrica.

5.
O texto de Tadeu Chiarelli publicado na revista ArteBrasileirXs (e o “X” não se trata apenas de uma implicância com a língua, como ele aponta de maneira simplista no texto) começa descrevendo um ambiente saturado, cheio, entre outras coisas, de gente. Procura um início, pior seria procurar se “nortear”. Parece-me que o esforço encontrado para iniciar a visita à exposição, corresponde ao esforço, a “sofrência” e o melindre a escrever tal crítica.

6.
Pierre Menard, personagem de Jorge Luis Borges, copia letra por letra, palavra por palavra, linha por linha… de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. O texto de Chiarelli parece almejar o mesmo, copiar letra por letra, palavra por palavra, linha por linha… do texto da Aracy Amaral. Não o faz tão diretamente. Acometido estaria pela epidemia enosiofóbica?

7.
Alguém dirá: estamos vivendo o furor Nordeste nas artes visuais, mas é preciso pensar o Brasil como um todo. Esta frase provavelmente será enunciada por este corpo descrito no bloco 4 deste texto. A cegueira historiográfica brasileira não é uma abstração. É constituída, antes, por agentes que têm respaldos e privilégios para inserir-excluir personagens de suas narrativas.

8.
Ainda na esteira do texto do Chiarelli, lemos que a exposição está repleta de obras que pensam o Brasil como um todo. Seria esta frase uma espécie de mea culpa do sulicídio (com L mesmo) operado sistematicamente à toda produção de pensamento fora daquilo que convencionamos chamar (cada vez menos, e essa exposição aponta para isto) de eixo? Pensar o Nordeste seria restritivo demais, vamos combinar, diz ele. De fato, seria. Mas esta exposição-ocupação passa longe de cair neste lugar do ensimesmamento. Ao contrário, e de forma reiterada, boa parte das exposições em São Paulo, feitas por paulistas, em instituições supostamente brasileiras, por exemplo, estão longe de sair deste lugar.

9.
Talvez o que falte é a tal liberdade (tão clamada e tão pouco praticada como forma de vida) em correr riscos. E sobra, quiça, o receio da perda de privilégios historicamente construídos, quando uma suposta ameaça se encontra num meio (múltiplo e que não é, portanto, O Centro).

 

 

 

*Yuri Firmeza é artista e professor

Confira destaques da arte para aproveitar neste fim de férias

Obra de Nunca na exposição Meide in Brazil. Até 27 de julho na Galeria Kogan Amaro.

ARTE!Brasileiros compilou algumas exposições por todo o país que não podem ficar de fora do seu itinerário nas últimas semanas de férias.

ÚLTIMOS DIAS

Nunca: Meide In Brazil, até 27 de julho.

Raul Mourão: Introdução à Teoria dos Opostos Absolutos, na Galeria Nara Roesler, até 20 de julho.

Tarsila popular, no Museu de Arte de São Paulo (MASP), até 28 de julho.

Os anos em que vivemos em perigo, no MAM de São Paulo, até 28 de julho.

Grupo Empreza, na Fábrica de Arte Marcos Amaro, em Itu, até 27 de julho.

Júlio Villani: Por um fio, na Galeria Estação, até 31 de julho.

Obra de Julio Villani na exposição da Galeria Estação. FOTO: Divulgação

Ivan Grilo: Amanhã, Logo à Primeira Luz, na Casa Triângulo (com lançamento de livro do artista).

Invenções Gráficas na Ilustração Ibero-Americana, no Instituto Tomie Ohtake, até 28 de julho.

Novas Efervescências, no Espaço Cultural Porto Seguro, até 21 de julho.

Eduardo Navarro: Predição Instantânea do Tempo, no Pivô, até 27 de julho.

Marina Rheingantz: Todo Mar tem um Rio, na Fortes D’Aloia & Gabriel, até 20 de julho.

Vaivém, no CCBB de São Paulo, até 28 de julho.

A Burrice dos Homens, na Bergamin & Gomida, até 20 de julho.

Crash, na Zipper Galeria, até 27 de julho.

Colapso, na Galeria Athena, até 20 de julho.

Tarsila do Amaral, A Cuca, até 28 de julho no MASP.

EM ANDAMENTO

Rosana Paulino: Costura da Memória, Museu de Arte do Rio, até 29 de setembro.

Anna Bella Geiger: Aqui é o centro, no MAM do Rio de Janeiro, até 4 de agosto.

Grada Kilomba: Desobediências Poéticas, na Pinacoteca de São Paulo, até 30 de setembro.

À Nordeste, no Sesc 24 de Maio, até 25 de agosto.

Nádia Taquary e Ayrson Heráclito, na Galeria Leme/AD, até 03 de agosto.

Adriana Varejão: Por Uma Retórica Canibal, no MAMAM de Recife, até 8 de setembro.

Anna Costa e Silva, Ana Prata e Marcus Galan, no Auroras, até 24 de agosto.

Raul Mourão e Cabelo: Experienza Live Cinema #4, na OM.art, até 4 de agosto.

Anaísa Franco: Psychosomatic Series, na Galeria Lume, até 3 de agosto.

História da Poesia Visual Brasileira, no Sesc Bom Retiro, até 8 de setembro.

#tbt, na Carpintaria, até 17 de agosto.

 

A política inclusiva do Sesc-SP também vale para a arte

Carlito Carvalhosa, Já Estava Assim Quando Cheguei, 2019
Carlito Carvalhosa, Já Estava Assim Quando Cheguei, 2019 - foto Ricardo Ferreira

A abertura de novas unidades, como o recém-inaugurado espaço de Guarulhos, não apenas aumenta a rede de pessoas atendidas, oferecendo à população local uma ampla gama de serviços assistenciais, esportivos e culturais, como viabiliza algo infelizmente ainda escasso no país: a existência de um espaço generoso e amplo que dê abrigo à produção artística, para que ela se realize em contato direto com um público bem mais diversificado e muitas vezes distante do tradicional circuito de museus, galerias e feiras.

Basta entrar no novo prédio, que em seu primeiro fim de semana recebeu 24 mil visitantes, para perceber a importância da arte no contexto geral do projeto. Pontuam o espaço, de maneira sutil ou com um impacto indisfarçável, trabalhos realizados especialmente para o local ou selecionados a dedo na reserva técnica da instituição. Assinados por uma gama bastante variada de artistas, as obras são de autoria e gêneros diversos, compreendendo desde artesãos anônimos, como os autores dos ex-votos que compõem um painel instalado no hall de entrada, até nomes importantes da cena contemporânea. Ao todo mais de 15 autores, alguns com várias criações (como Leonilson e Sidney Amaral), assinam as obras.

Na fachada do Sesc, ainda no exterior, uma grande escultura de Sérvulo Esmeraldo recebe os visitantes. Trata-se de uma peça de grande simplicidade, que contrasta com suas dimensões colossais, com mais de dez metros de altura: dois quadrados, um branco e um azul, que se tocam parcialmente e ativam o espaço a sua volta, como desenhos que se esforçam para adquirir uma força tridimensional.

Adriana Varejão, obras da série Tintas De Polvo
Adriana Varejão, obras da série Tintas De Polvo

Logo na entrada, estabelecendo uma sintonia fina com a arquitetura arejada de Renato e Lilian Dal Pian, foi instalada uma monumental escultura em gesso de Carlito Carvalhosa. Com um formato semelhante ao do morro do Pão de Açúcar, no Rio, e pendurada no vazio de cabeça para baixo, com a ajuda de uma estrutura de ferro e grossos tirantes que a conectam às paredes do prédio, a peça atrai os olhares perplexos, que se perguntam sobre o caráter permanente e ao mesmo tempo instável e precário de uma montanha pesada e invertida que flutua no ar.

Mesmo sendo provavelmente a mais impactante da nova unidade, a peça de Carvalhosa, Já estava assim quando cheguei, não é a única grande obra especialmente concebida para o espaço. No mesmo hall, ocupando uma longa parede no segundo andar do prédio, está o painel criado por Adriana Varejão. Composto por sete grandes círculos com formas geométricas e orgânicas, a pintura mural se insere num projeto já desenvolvido há tempos pela artista, no qual investiga a ampla gama de cores de pele dos brasileiros, a problemática questão da autoidentificação  em uma sociedade marcada por um forte, mesmo que disfarçado, racismo.

É interessante ressaltar que as escolhas de trabalhos permanentes para o novo espaço não têm a pretensão de reinventar poéticas. Pelo contrário, a proposta potencializa o alcance das obras de arte – em grande parte pelo destaque e generosidade do espaço concedidos a elas –, sem contudo sacrificar sua conexão com a poética particular de cada um dos autores. A grandiosidade e as especificidades de um centro cultural de ampla circulação não acarretam em um abandono das pesquisas dos artistas convidados. Pelo contrário, abre-lhes uma possibilidade de viabilizar algo que, na prática, é quase impossível nos nossos centros urbanos densos e fragmentados. É o caso, por exemplo, da gigantesca pintura Paisagem Desaguando, criada por Janaina Tschäpe para o ginásio e que estabelece um interessante paralelo visual com o núcleo contíguo das piscinas. Ou da obra de Eduardo Frota, composta por duas enormes peças que pertencem a sua série já conhecida dos carretéis, situada no jardim. A diferença é que neste caso optou-se pela troca dos já tradicionais perfis de madeira pelo aço, material mais resistente para uma exposição de longa duração.

É curioso notar como o artista consegue, apesar do caráter massivo do ferro, um paradoxal aspecto de leveza. Além da precisão com que é construída, com um encaixe perfeito de centenas de rodelas de aço sobrepostas, a escultura é oca em seu interior, tornando possível ver o céu através dela e dando certa transparência à brutalidade do metal.

Uma coleção fora do sistema

Collezione Maramotti
Sede da Collezione Maramotti, Que serviu como fábrica da Max Mara, em Reggio Emilia, na Itália

Em meio à tendência internacional na qual colecionadores criam espaços de arte que acabam servindo mais para exibir seu poder e reforçar sua própria imagem, a Collezione Maramotti, na cidade de Regio Emilia, na Itália, é uma exceção notável. Criada por Achile Maramotti (1927 – 2005), o fundador da marca Max Mara, há doze anos a coleção Maramotti ocupa o prédio modernista de 1957, que serviu de fábrica para a empresa de moda italiana.

Depois de sua morte, seus três filhos, Luigi, Ignazio and Ludovica, abriram o acervo, então com 450 obras, de forma pública, sem, no entanto, serem os protagonistas da história. “Eles se recusam a dar entrevistas, nem participam de conselhos de museus ou instituições, querem que as obras falem por elas”, conta Sara Piccinini, coordenadora sênior da coleção.

Desde então, o acervo chegou a 1.100 trabalhos. “A coleção começou a ser criada nos anos 1960 com artistas que surgiram naquele período, por isso ela segue hoje com a aquisição de obras de jovens artistas ou em meio de carreira”, explica Piccinini. Da geração inicial, participam nomes como Mario Merz ou Jannis Kounellis, do movimento Arte Povera, dos anos 1960 e 1970, e Sandro Chia, Francesco Clemente e Mimmo Paladino, da Tranvanguarda italiana, termo criado por Achile Bonito Oliva para apontar o renascimento da pintura na década de 1980.

É na tela, aliás, que a maior parte das obras se faz visível. “Creio que 85% das obras são pinturas”, calcula a coordenadora. Por isso, provavelmente, o acervo reúne até trabalhos anteriores aos períodos em destaque, como um Francis Bacon de 1952, além de trabalhos da santíssima trindade da pintura alemã, composta por Anselm Kiefer, Gerhard Richter e Georg Baselitz.

Postnaturalia
Postnaturalia (2017), instalação do artista checo Kristof Kintera, parte da seção Rehang, na mostra permanente da Collezione Maramotti

Rehang

O edifício sede conta com uma área expositiva de 6 mil m2), divididos em 43 salas, que se mantiveram praticamente com a mesma seleção de obras desde sua inauguração. Dez delas, contudo, foram reorganizadas, em março passado, para apresentar alguns dos 30 projetos comissionados a jovens artistas que foram expostos nas salas de mostras temporárias da instituição, nos últimos onze anos. Rehang é título que dá nome a esta nova sessão, onde estão trabalhos do checo Kristof Kintera, do alemão Thomas Scheibitz, e da italiana Alessandra Ariatti, uma pintora que nasceu na própria cidade de Reggio Emilia.

A exposição permanente é aberta ao público quatro dias por semana, quinta a domingo, gratuitamente, sob inscrição. Já as mostras temporárias são de visitação livre. Atualmente, está em cartaz Fontes de Za’atari, um projeto da artista Margherita Moscardini que, desde 2015, faz um mapeamento de fontes de água em um campo de refugiados com 80 mil pessoas na Jordânia. A mostra apresenta uma tipologia e documentação destas fontes e, uma delas, foi copiada em mármore e foi instalada em uma praça de Reggio Emilia.

Não há subsídio público para o museu, e tudo é bancado pela família Maramotti, sem nem mesmo ter como contrapartida metas de público, de acordo com Piccinini. Quando números parecem nortear muitos projetos de arte, é raro ver um local onde a arte de fato seja o centro das atenções como ocorre na coleção Maramotti.


Fabio Cypriano viajou a convite da Collezione Maramotti