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objeto. A dificuldade de isolar as duas espécies de instinto em suas manifestações
            reais, é, na verdade, o que até agora nos impedia de reconhecê-los.

               Se o senhor quiser acompanhar-me um pouco mais, verá que as ações humanas
            estão sujeitas a uma outra complicação de natureza diferente. Muito raramente
            uma ação é obra de um impulso instintivo único (que deve estar composto de
            Eros e destrutividade). A fim de tornar possível uma ação, há de existir, via de
            regra, uma combinação desses motivos compostos. Isto, há muito tempo, foi
            percebido por um especialista na sua matéria, o professor G. C. Lichtenberg,
            que ensinava física em Göttingen, durante o nosso classicismo, embora, talvez,
            ele fosse ainda mais notável como psicólogo do que como físico. Ele inventou
            uma ‘bússola de motivos’, pois escreveu: ‘Os motivos que nos levam a fazer algo
            poderiam ser dispostos à maneira da rosa-dos-ventos e receber nomes de uma
            forma parecida: por exemplo, ‘pão-pão-fama’ ou ‘fama-fama-pão’. De forma que,
            quando os seres humanos são incitados à guerra, podem ter toda uma gama
            de motivos para se deixarem levar,  uns nobres, outros vis, alguns francamente
            declarados, outros jamais mencionados. Não há por que enumerá-los todos.
            Entre eles está certamente o desejo da agressão e destruição: as incontáveis
            crueldades que encontramos na história e em nossa vida de todos os dias atestam
            a sua existência e a sua força.

               A satisfação desses impulsos destrutivos naturalmente é facilitada por sua
            mistura com outros motivos de natureza erótica e idealista. Quando lemos sobre
            as atrocidades do passado, amiúde é como se os motivos idealistas servissem
            apenas de desculpa para os desejos destrutivos; e, às vezes, por exemplo, no caso
            das crueldades da Inquisição, é como se os motivos idealistas tivessem assomado a um
            primeiro plano na consciência, enquanto os destrutivos lhes emprestassem um reforço
            inconsciente. Ambos podem ser verdadeiros.

               Receio que eu possa estar abusando do seu interesse, que, afinal, se volta para
            a prevenção da guerra e não para nossas teorias. Gostaria, não obstante, de deter-
            me um pouco mais em nosso instinto destrutivo, cuja popularidade não é de modo
            algum igual à sua importância. Como conseqüência de um pouco de especulação,
            pudemos supor que esse instinto está em atividade em toda criatura viva e procura
            levá-la ao aniquilamento, reduzir a vida à condição original de matéria inanimada.


               Portanto, merece, com toda seriedade, ser denominado instinto de morte, ao
            passo que os instintos eróticos representam o esforço de viver. O instinto de morte
            torna-se instinto destrutivo quando, com o auxílio de órgãos especiais, é dirigido
            para fora, para objetos. O organismo preserva sua própria vida, por assim dizer,
            destruindo uma vida alheia. Uma parte do instinto de morte, contudo, continua
            atuante dentro do organismo, e temos procurado atribuir numerosos fenômenos
            normais e patológicos a essa internalização do instinto de destruição. Foi-nos até
            mesmo imputada a culpa pela heresia de atribuir a origem da consciência a esse
            desvio da agressividade para dentro.


               O senhor perceberá que não é absolutamente irrelevante se esse processo vai
            longe demais: é positivamente insano. Por outro lado, se essas forças se voltam para
            a destruição no mundo externo, o organismo se aliviará e o efeito deve ser benéfico.
            Isto serviria de justificação biológica para todos os impulsos condenáveis e perigosos

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