Page 18 - artebrasileiros-66
P. 18
GUERRA CULTURAL HISTÓRIA
os outros. E atualmente não existe idéia alguma que, espera-se, venha a exercer
uma autoridade unificadora dessa espécie. Na realidade, é por demais evidente
que os ideais nacionais, pelos quais as nações se regem nos dias de hoje, atuam
em sentido oposto.
Algumas pessoas tendem a profetizar que não será possível pôr um fim à guerra,
enquanto a forma comunista de pensar não tenha encontrado aceitação universal.
Mas esse objetivo, em todo caso, está muito remoto, atualmente, e talvez só pudesse
ser alcançado após as mais terríveis guerras civis. Assim sendo, presentemente,
parece estar condenada ao fracasso a tentativa de substituir a força real pela força
das idéias. Estaremos fazendo um cálculo errado se desprezarmos o fato de que
a lei, originalmente, era força bruta e que, mesmo hoje, não pode prescindir do
apoio da violência.
Passo agora a acrescentar algumas observações aos seus comentários. O senhor
expressa surpresa ante o fato de ser tão fácil inflamar nos homens o entusiasmo
pela guerra, e insere a suspeita, de que neles exige em atividade alguma coisa, um
instinto de ódio e de destruição, que coopera com os esforços dos mercadores
da guerra. Também nisto apenas posso exprimir meu inteiro acordo. Acreditamos
na existência de um instinto dessa natureza, e durante os últimos anos temo-nos
ocupado realmente em estudar suas manifestações.
Permita-me que me sirva dessa oportunidade para apresentar-lhe uma parte da
teoria dos instintos que, depois de muitas tentativas hesitantes e muitas vacilações
de opinião, foi formulada pelos que trabalham na área da psicanálise?
De acordo com nossa hipótese, os instintos humanos são de apenas dois tipos:
aqueles que tendem a preservar e a unir o que denominamos ‘eróticos’, exatamente
no mesmo sentido em que Platão usa a palavra ‘Eros’ em seu Symposium, ou
‘sexuais’, com uma deliberada ampliação da concepção popular de ‘sexualidade’; e
aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo
ou destrutivo.
Como o senhor vê, isto não é senão uma formulação teórica da universalmente
conhecida oposição entre amor e ódio, que talvez possa ter alguma relação básica
com a polaridade entre atração e repulsão, que desempenha um papel na sua área de
conhecimentos. Entretanto, não devemos ser demasiado apressados em introduzir
juízos éticos de bem e de mal.
Nenhum desses dois instintos é menos essencial do que o outro; os fenômenos
da vida surgem da ação confluente ou mutuamente contrária de ambos. Ora, é
como se um instinto de um tipo dificilmente pudesse operar isolado; está sempre
acompanhado, ou, como dizemos, amalgamado por determinada quantidade do outro
lado, que modifica o seu objetivo, ou, em determinados casos, possibilita a consecução
desse objetivo. Assim, por exemplo, o instinto de auto-preservação certamente é
de natureza erótica; não obstante, deve ter à sua disposição a agressividade, para
atingir seu propósito.
Dessa forma, também o instinto de amor, quando dirigido a um objeto, necessita
de alguma contribuição do instinto de domínio, para que obtenha a posse desse
18