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GUERRA CULTURAL HISTÓRIA
Mediterrâneo a inestimável pax romana, e a ambição dos reis franceses de ampliar
os seus domínios criou uma França pacificamente unida e florescente.
Por paradoxal que possa parecer, deve- se admitir que a guerra poderia ser
um meio nada inadequado de estabelecer o reino ansiosamente desejado de paz
perene, pois está em condições de criar as grandes unidades dentro das quais um
poderoso governo central torna impossíveis outras guerras. Contudo, ela falha
quanto a esse propósito, pois os resultados da conquista são geralmente de curta
duração: as unidades recentemente criadas esfacelam-se novamente, no mais das
vezes devido a uma falta de coesão entre as partes que foram unidas pela violência.
Ademais, até hoje as unificações criadas pela conquista, embora de extensão
considerável, foram apenas parciais, e os conflitos entre elas ensejaram, mais do
que nunca, soluções violentas. O resultado de todos esses esforços bélicos consistiu,
assim, apenas em a raça humana haver trocado as numerosas e realmente infindáveis
guerras menores por guerras em grande escala, que são raras, contudo muito
mais destrutivas. Se nos voltamos para os nossos próprios tempos, chegamos a
mesma conclusão a que o senhor chegou por um caminho mais curto. As guerras
somente serão evitadas com certeza, se a humanidade se unir para estabelecer uma
autoridade central a que será conferido o direito de arbitrar todos os conflitos de
interesses. Nisto estão envolvidos claramente dois requisitos distintos: criar uma
instância suprema e dotá-la do necessário poder. Uma sem a outra seria inútil. A
Liga das Nações é destinada a ser uma instância dessa espécie, mas a segunda
condição não foi preenchida: a Liga das Nações não possui poder próprio, e só pode
adquiri-lo se os membros da nova união, os diferentes Estados, se dispuserem a
cedê-lo. E, no momento, parecem escassas as perspectivas nesse sentido.
A instituição da Liga das Nações seria totalmente ininteligível se fosse ignorasse
o fato de que houve uma tentativa corajosa, como raramente (talvez jamais em tal
escala) se fez antes. Ela é uma tentativa de fundamentar a autoridade sobre um apelo
a determinadas atitudes idealistas da mente (isto é, a influência coercitiva), que de
outro modo se baseia na posse da força. Já vimos que uma comunidade se mantém
unida por duas coisas: a força coercitiva da violência e os vínculos emocionais
identificações é o nome técnico) entre seus membros. Se estiver ausente um dos
fatores, é possível que a comunidade se mantenha ainda pelo outro fator.
As idéias a que se faz o apelo só podem, naturalmente, ter importância se
exprimirem afinidades importantes entre os membros, e pode- se perguntar quanta
força essas idéias podem exercer. A história nos ensina que, em certa medida, elas
foram eficazes. Por exemplo, a idéia do pan- helenismo, o sentido de ser superior
aos bárbaros de além-fronteiras, ideia que foi expressa com tanto vigor no conselho
anfictiônico, nos oráculos e nos jogos, foi forte a ponto de mitigar os costumes
guerreiros entre os gregos, embora, é claro, não suficientemente forte para evitar
dissensões bélicas entre as diferentes partes da nação grega, ou mesmo para
impedir uma cidade ou confederação de cidades de se aliar com o inimigo persa, a
fim de obter vantagem contra algum rival. CREDITO IMAGENS XXXXXXXXXXXX
A identidade de sentimentos entre os cristãos, embora fosse poderosa, não
conseguiu, à época do Renascimento, impedir os Estados Cristãos, tanto os grandes
como os pequenos, de buscar o auxílio do sultão em suas guerras de uns contra
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