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potência de psicose coletiva. Talvez aí esteja o ponto crucial de todo o complexo de
fatores que estamos considerando, um enigma que só um especialista na ciência
dos instintos humanos pode resolver.
Com isso, chegamos à nossa última questão. É possível controlar a evolução da
mente do homem, de modo a torná-lo à prova das psicoses do ódio e da destrutividade?
Aqui não me estou referindo tão-somente às chamadas massas incultas. A experiência
prova que é, antes de todas, a chamada Intelligentzia a mais inclinada a ceder a
essas desastrosas sugestões coletivas, de vez que o intelectual não tem contato
direto com o lado rude da vida, mas a encontra em sua forma sintética mais fácil
na página impressa.
Para concluir: até aqui somente falei das guerras entre nações, aquelas que se
conhecem como conflitos internacionais. Estou, porém, bem consciente de que o
instinto agressivo opera sob outras formas e em outras circunstâncias. (Penso nas
guerras civis, por exemplo, devidas à intolerância religiosa, em tempos precedentes,
hoje em dia, contudo, devidas a fatores sociais; ademais, também nas perseguições
a minorias raciais.)
Foi deliberada a minha insistência naquilo que é a mais típica, mais cruel e
extravagante forma de conflito entre os homens, pois aqui temos a melhor ocasião
de descobrir maneiras e meios de tornar impossíveis qualquer conflito armado.
Sei que nos escritos do senhor podemos encontrar respostas, explícitas ou
implícitas, a todos os aspectos desse problema urgente e obsessivo. Mas seria da
maior utilidade para nós todos que o senhor apresentasse o problema da paz mundial
sob o enfoque das suas mais recentes descobertas, pois uma tal apresentação bem
poderia demarcar o caminho para novos e frutíferos métodos de ação.
Muito cordialmente,
Albert einstein
EM RESPOSTA, FREUD ESCREVE:
Viena, setembro de 1932
Prezado Professor Einstein,
Quando soube que o senhor pretendia convidar-me para um intercâmbio de
pontos de vista sobre um assunto que lhe interessava e que parecia merecer o
interesse de outros além do senhor, aceitei prontamente. Esperava que o senhor
escolhesse um problema situado nas fronteiras daquilo que é atualmente cognoscível,
um problema em relação ao qual cada um de nós, físico e psicólogo, pudesse ter o
seu ângulo de abordagem especial, e no qual pudéssemos nos encontrar, sobre o
mesmo terreno, embora partindo de direções diferentes.
O senhor apanhou-me de surpresa, no entanto, ao perguntar o que pode ser feito
para proteger a humanidade da maldição da guerra. Inicialmente me assustei com
o pensamento de minha – quase escrevi ‘nossa’ – incapacidade de lidar com o que
parecia ser um problema prático, um assunto para Estadistas. Depois, no entanto,
percebi que o senhor havia proposto a questão, não na condição de cientista da
natureza e físico, mas como filantropo: o senhor estava seguindo a sugestão da Liga
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