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GUERRA CULTURAL HISTÓRIA
das Nações, assim como Fridtjof Nansen, o explorador polar, assumiu a tarefa de
auxiliar as vítimas famintas e sem teto da guerra mundial.
Além do mais, considerei que não me pediam para propor medidas práticas,
mas sim apenas que eu delimitasse o problema para evitar a guerra tal como ele se
configura aos olhos de um cientista da psicologia. Também nesse ponto, o senhor disse
quase tudo o que há a dizer sobre o assunto. Embora o senhor se tenha antecipado
a mim, ficarei satisfeito em seguir no seu rastro e me contentarei com confirmar
tudo o que o senhor disse, ampliando-o com o melhor do meu conhecimento ou
das minhas conjeturas.
O senhor começou com a relação entre o direito e o poder. Não se pode duvidar
de que seja este o ponto de partida correto de nossa investigação. Mas, permita-me
substituir a palavra ‘poder’ pela palavra mais nua e crua de ‘violência’?
Atualmente, direito e violência se nos afiguram como antíteses. No entanto, é fácil
mostrar que uma se desenvolveu da outra e, se nos reportarmos às origens primeiras
e examinarmos como essas coisas se passaram, resolve-se o problema facilmente.
Perdoe-me se, nessas considerações que se seguem, eu trilhar chão familiar e
comumente aceito, como se isto fosse novidade. O fio de minhas argumentações
o exige.
É, pois, um princípio geral que os conflitos de interesses entre os homens são
resolvidos pelo uso da violência. É isto o que se passa em todo o reino animal, do
qual o homem não tem motivo por que se excluir. No caso do homem, sem dúvida
ocorrem também conflitos de opinião que podem chegar a atingir a mais raras
nuanças da abstração e que parecem exigir alguma outra técnica para sua solução.
Esta é, contudo, uma complicação a mais.
No início, numa pequena horda humana, era a superioridade da força muscular
que decidia quem tinha a posse das coisas ou quem fazia prevalecer sua vontade.
A força muscular logo foi suplementada e substituída pelo uso de instrumentos:
o vencedor era aquele que tinha as melhores armas ou aquele que tinha a maior
habilidade no seu manejo.
A partir do momento em que as armas foram introduzidas, a superioridade
intelectual já começou a substituir a força muscular bruta; mas o objetivo final da
luta permanecia o mesmo “uma ou outra facção tinha de ser compelida a abandonar
suas pretensões ou suas objeções, por causa do dano que lhe havia sido infligido
pelo desmantelamento de sua força.
Conseguia-se esse objetivo de modo mais completo se a violência do vencedor
eliminasse para sempre o adversário, ou seja, se o matasse. Isto tinha duas vantagens:
o vencido não podia restabelecer sua oposição e o seu destino dissuadiria outros de
seguirem seu exemplo. Ademais disso, matar um inimigo satisfazia uma inclinação
do instinto, que mencionarei posteriormente. CREDITO IMAGENS XXXXXXXXXXXX
À intenção de matar opor-se-ia a reflexão de que o inimigo podia ser utilizado
na realização de serviços úteis, se fosse deixado vivo e num estado de intimidação.
Nesse caso, a violência do vencedor contentava-se com subjugar, em vez de matar,
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