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GUERRA CULTURAL HISTÓRIA
Em 1932, uma troca de cartas entre o pai da física, Albert Einstein,
e o pai da psicanálise, Sigmund Freud, traduziu as inquietações
dos dois intelectuais humanistas naquele primeiro terço do século
20. Nas missivas, ambos se questionam, a partir de perspectivas
completamente distintas, o porquê dos conflitos armados,
pouco antes da deflagração da Segunda Guerra Mundial.
por patricia rousseaux
POR QUE A GUERRA?*
Passados mais de 100 anos, a correspondência entre Einstein e Freud continua mais atual que nunca. E, na
mesma dimensão universal e atemporal deles, nós nos questionamos hoje os limites entre Direito e violência,
entre o terrorismo e o obscurantismo religioso, seja nos ataques de Israel a Gaza, no recrudescimento do neo-
fascismo e da extrema direita na Europa, nos eua e na América Latina.
ESCREVE EINSTEIN:
Potsdam, 30 de julho de 1932
Prezado Professor Freud
A proposta da Liga das Nações e de seu Instituto Internacional para a Cooperação
Intelectual, em Paris, de que eu convidasse uma pessoa, de minha própria escolha,
para um franco intercâmbio de pontos de vista sobre algum problema que eu poderia
escolher, oferece-me excelente oportunidade de conferenciar com o senhor a
respeito de uma questão que, da maneira como as coisas estão, parece ser o mais
urgente de todos os problemas que a civilização tem de enfrentar.
Este é o problema: existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de
guerra? É do conhecimento geral que, com o progresso da ciência de nossos dias,
esse tema adquiriu significado de assunto de vida ou morte para a civilização, tal
como a conhecemos; não obstante, apesar de todo o empenho demonstrado, todas
as tentativas de solucioná-lo terminaram em lamentável fracasso.
... Quanto a mim, o objetivo habitual de meu pensamento não me permite uma
compreensão interna das obscuras regiões da vontade e do sentimento humano.
Assim, na indagação ora proposta, posso fazer pouco mais do que procurar esclarecer
a questão em referência e, preparando o terreno das soluções mais óbvias, possibilitar
que o senhor proporcione a elucidação do problema mediante o auxílio do seu
profundo conhecimento da vida instintiva do homem. CREDITO IMAGENS XXXXXXXXXXXX
... Como pessoa isenta de preconceitos nacionalistas, pessoalmente vejo uma
forma simples de abordar o aspecto superficial (isto é, administrativo) do problema:
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