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GUERRA CULTURAL HISTÓRIA
a instituição, por meio de acordo internacional, de um organismo legislativo e
judiciário para arbitrar todo conflito que surja entre nações. Cada nação submeter-
se-ia à obediência às ordens emanadas desse organismo legislativo, a recorrer
às suas decisões em todos os litígios, a aceitar irrestritamente suas decisões e a
pôr em prática todas as medidas que o tribunal considerasse necessárias para a
execução de seus decretos.
Já de início, todavia, defronto-me com uma dificuldade: um tribunal é uma
instituição humana que, em relação ao poder de que dispõe, é inadequada para
fazer cumprir seus veredictos, está muito sujeito a ver suas decisões anuladas por
pressões extrajudiciais. Este é um fato com que temos de contar; a lei e o poder
inevitavelmente andam de mãos dadas, e as decisões jurídicas se aproximam mais
da justiça ideal exigida pela comunidade (em cujo nome e em cujos interesses esses
veredictos são pronunciados), na medida em que a comunidade tem efetivamente
o poder de impor o respeito ao seu ideal jurídico. “...
...” O insucesso, malgrado sua evidente sinceridade, de todos os esforços,
durante a última década, no sentido de alcançar essa meta, não deixa lugar à dúvida
de que estão em jogo fatores psicológicos de peso que paralisam tais esforços.
Alguns desses fatores são mais fáceis de detectar. O intenso desejo de poder, que
caracteriza a classe governante em cada nação, é hostil a qualquer limitação de
sua soberania nacional. Essa fome de poder político está acostumada a medrar
nas atividades, de um outro grupo, cujas aspirações são de caráter econômico,
puramente mercenário. Refiro-me especialmente a esse grupo reduzido, porém
decidido, existente em cada nação, composto de indivíduos que, indiferentes às
condições e aos controles sociais, consideram a guerra, a fabricação e venda de
armas simplesmente como uma oportunidade de expandir seus interesses pessoais
e ampliar a sua autoridade pessoal.
O reconhecimento desse fato, no entanto, é simplesmente o primeiro passo para
uma avaliação da situação atual. Logo surge uma outra questão: como é possível a
essa pequena súcia dobrar a vontade da maioria, que se resigna a perder e a sofrer
com uma situação de guerra, a serviço da ambição de poucos? (Ao falar em maioria,
não excluo os soldados, de todas as graduações, que escolheram a guerra como
profissão, na crença de que estejam servindo à defesa dos mais altos interesses de
sua raça e de que o ataque seja, muitas vezes, o melhor meio de defesa).
Parece que uma resposta óbvia a essa pergunta seria que a minoria, a classe
dominante atual, possui as escolas, a imprensa e, geralmente, também a Igreja,
sob seu poderio. Isto possibilita organizar e dominar as emoções das massas e
torná- las instrumento desta minoria.
Ainda assim, nem sequer essa resposta proporciona uma solução completa. Daí
surge uma nova questão: como esses mecanismos conseguem tão bem despertar
nos homens um entusiasmo extremado, a ponto de estes sacrificarem suas vidas?
Pode haver apenas uma resposta. É porque o homem encerra dentro de si um
desejo de ódio e destruição.
Em tempos normais, essa paixão existe em estado latente, emerge apenas em
circunstâncias anormais: é, contudo, relativamente fácil despertá- la e elevá-la à
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