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GUERRA CULTURAL HISTÓRIA



                                    contra os quais lutamos. Deve-se admitir que eles se situam mais perto da Natureza do
                                    que a nossa resistência, para a qual também é necessário encontrar uma explicação.

                                      Talvez ao senhor possa parecer serem nossas teorias uma espécie de mitologia
                                    e, no presente caso, mitologia nada agradável. Todas as ciências, porém, não
                                    chegam, afinal, a uma espécie de mitologia como esta? Não se pode dizer o mesmo,
                                    atualmente, a respeito da sua física? Para nosso propósito imediato, portanto, isto é
                                    tudo o que resulta daquilo que ficou dito: de nada vale tentar eliminar as inclinações
                                    agressivas dos homens.


                                       Segundo se nos conta, em determinadas regiões privilegiadas da Terra, onde a
                                    natureza provê em abundância tudo o que é necessário ao homem, existem povos
                                    cuja vida transcorre em meio à tranqüilidade, povos que não conhecem nem a coerção
                                    nem a agressão. Dificilmente posso acreditar nisso, e me agradaria saber mais a
                                    respeito de coisas tão afortunadas. Também os bolchevistas esperam ser capazes
                                    de fazer a agressividade humana desaparecer mediante a garantia de satisfação
                                    de todas as necessidades materiais e o estabelecimento da igualdade, em outros
                                    aspectos, entre todos os membros da comunidade. Isto, na minha opinião, é uma
                                    ilusão. Eles próprios, hoje em dia, estão armados da maneira mais cautelosa, e o
                                    método não menos importante que empregam para manter juntos os seus adeptos
                                    é o ódio contra qualquer pessoa além das suas fronteiras.

                                       Em todo caso, como o senhor mesmo observou, não há maneira de eliminar
                                    totalmente os impulsos agressivos do homem; pode-se tentar desviá-los num grau
                                    tal que não necessitem encontrar expressão na guerra.

                                       Nossa teoria mitológica dos instintos facilita-nos encontrar a fórmula para
                                    métodos indiretos de combater a guerra. Se o desejo de aderir à guerra é um efeito
                                    do instinto destrutivo, a recomendação mais evidente será contrapor-lhe o seu
                                    antagonista, Eros. Tudo o que favorece o estreitamento dos vínculos emocionais
                                    entre os homens deve atuar contra a guerra. Esses vínculos podem ser de dois tipos.

                                       Em primeiro lugar, podem ser relações semelhantes àquelas relativas a um
                                    objeto amado, embora não tenham uma finalidade sexual. A psicanálise não tem
                                    motivo porque se envergonhar se nesse ponto fala de amor, pois a própria religião
                                    emprega as mesmas palavras: ‘Ama a teu próximo como a ti mesmo.’ Isto, todavia,
                                    é mais facilmente dito do que praticado.

                                       O segundo vínculo emocional é o que utiliza a identificação. Tudo o que leva
                                    os homens a compartilhar de interesses importantes produz essa comunhão de
                                    sentimento, essas identificações. E a estrutura da sociedade humana se baseia
                                    nelas, em grande escala.


                                       Uma queixa que o senhor formulou acerca do abuso de autoridade leva-me a
                                    uma outra sugestão para o combate indireto à propensão à guerra. Um exemplo
                                    da desigualdade inata e irremovível dos homens é sua tendência a se classificarem
                                    em dois tipos, o dos líderes e o dos seguidores. Esses últimos constituem a vasta
                                    maioria; têm necessidade de uma autoridade que tome decisões por eles e à qual,
                                    na sua maioria devotam uma submissão ilimitada. Isto sugere que se deva dar mais
                                    atenção, do que até hoje se tem dado, à educação da camada superior dos homens

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