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DEMOCRACIA E REPARAÇÃO VALONGO
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1 Cachimbo de Madeira, 2015;
2 Contas de Vidro Azul, 2015;
3 Dados (Galpão Gamboa), 2014;
4 Pingente Coroa, 2015;
5/6 Fragmentos de louça, 2017
ficaram no papel e houve alteração bastante prejudicial Instalado em cima do cemitério que recebia os corpos
no conselho gestor, enfraquecendo seu papel. Algumas dos desembarcados que não resistiam à brutalidade da
iniciativas mais recentes, como a destinação, no âmbito viagem e dos maus-tratos, o Instituto nasce de uma des-
do Termo de Ajustamento de Conduta relacionado ao coberta casual, feita em 1996, quando a família Guimarães
caso de assassinato de João Alberto Silveira Freitas dos Anjos encontra ossadas sob sua casa durante uma
nas instalações do Carrefour e as políticas de repara- reforma. Desde então a família vem desenvolvendo um
ção vinculadas ao caso, trazem novas perspectivas de importante trabalho de pesquisa e divulgação.
financiamento, com a destinação de R$ 2 milhões para Além das exposições e dos vários trabalhos de pesquisa
financiar a elaboração de projeto museológico na região arqueológica (foram adquiridas áreas vizinhas para ampliar
do Cais do Valongo, de um total de R$ 115 milhões pagos o alcance do Instituto), que devem ser retomados agora
pela empresa. No entanto, a política de desmantelamento em julho, o Instituto realiza um importante trabalho de dis-
implementada pelo governo – expressa na frase de seminação de conhecimento e memória. A partir de 2016,
Bolsonaro de que seu governo precisava “desconstruir oferece gratuitamente uma visita guiada por 13 diferentes
muita coisa” – segue valendo. pontos desse circuito da herança africana nesse núcleo do
Felizmente nem tudo depende dessa estrutura rígida e Valongo, como o Largo da Prainha, o Jardim Suspenso e
negligente entre os poderes, como exemplifica e sinaliza a casa de infância de Machado de Assis, na rua em frente
o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPn), que ao Cais. O principal público-alvo são os educadores e FOTOS 1-4: JOÃO MAURÍCIO BRAGANÇA | FOTOS 5-6: ALEX FERRO
acaba de reabrir sua exposição permanente, traçando o estudantes de escola pública, mas é grande o interesse
percurso de homens e mulheres trazidos como escravos do público em geral, com longas filas de espera.
ao Brasil, mostrando importantes vestígios das diversas “É uma ferida aberta”, afirma Marco Antonio Teobaldo,
escavações realizadas no local e abrindo espaço para um curador do Instituto, traçando um paralelo entre o terror
diálogo permanente com a arte contemporânea, como de nosso passado escravista e a imagem dos restos dos
a mostra atual de Geleia da Rocinha. homens e mulheres pretos novos (como eram chamados
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