Page 47 - ARTE!Brasileiros #59
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que torna ainda mais imperdíveis
exposições como essa, é uma das
diversas chaves de entrada para a
relação entre sua obra e o amplo
recorte da produção contemporâ-
nea representada na mostra. Pare-
ce predominar na seleção um tipo
de trabalho em sintonia formal ou
poética com aquele desenvolvido
por ele, uma produção artística
que muitas vezes deixa de lado as
noções de obra perene em busca
de uma interação maior entre arte e
vida, que valoriza uma ação prática
e poética no mundo, sem preocu-
par-se com a fragilidade, pureza ou
nobreza dos materiais empregados,
como por exemplo nos carros de
sucata de Arlindo Oliveira, do Atelier
Gaia, projeto coletivo de artetera-
Acima, Arthur Bispo do Rosário, sem título pia mantido pelo mBraC e criado
[Semblantes]; abaixo, Grande Veleiro em 1992 frequentado por artistas
usuários dos serviços de saúde
mental. Outro recorte importante
da seleção é aquele que contem-
pla os artistas que transitaram por
essa fronteira extensa entre arte e
psiquê, retratando e resgatando o
universo da loucura (Regina Silveira
e Monica Nador), incorporando-se
a projetos pioneiros (Maria Leontina,
Almir Mavignier e Abraham Palatnik)
ou usando a criação como forma de
terapia (pacientes da Dra. Nise da
FOTOS: HUGO DENIZART | PATRICIA ROUSSEAUX 2º, que hoje compõem o acervo do
Silveira no Centro Psiquiátrico Pedro
Museu de Imagens do Inconsciente).
Para além dessas referências his-
tóricas ou formais, ecoa por toda a
exposição uma espécie de sintonia
conceitual, afetiva, que une os ges-
tos de Bispo há produção de artistas
de diferentes gerações, autores que
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