Page 38 - ARTE!Brasileiros #59
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DEMOCRACIA E REPARAÇÃO BIENAL DE VENEZA
Acima, instalação de Sonya Boyce no pavilhão britânico, com as artistas Errollyn Wallen, Tanita
Tikaram, Poppy Ajudha, Jacqui Dankworth; na página ao lado, Simone Leigh, Brick House, 2019
Artistas mulheres de fato estão muito bem repre- representações naCionais
sentadas em amplos conjuntos, caso da portuguesa Nesta edição, que vai até 27 de novembro, a artista
Paula Rego, que morreu agora em junho aos 87 anos, e que ganhou o Leão de Ouro como melhor participa-
da alemã Rosemarie Trockel, com um impressionante ção na mostra internacional foi a norte-americana
grupo de “pinturas” feitas através de bordados realizados Simone Leigh, que abre e encerra The Milk of Dreams
por máquinas. no Arsenale, além de representar os EUa nesta bienal.
Há uma valorização da manualidade na elaboração As representações nacionais, aliás, seguem sen-
das obras, que faz com que nesta mostra haja de fato do uma confusão, onde ao contrário de um excelente
muitos trabalhos bordados, costurados, produzidos de nível na mostra internacional, padecem de uma dis-
forma um tanto individualizada, dentro do ateliê. Nesse crepância impressionante, de pavilhões com ótimos
segmento, entre as obras mais impressionantes estão as trabalhos a outros bastante constrangedores, como
esculturas de grandes dimensões em barro do argentino ocorreu desta vez com Jonathas de Andrade, pelo
Gabriel Chaile. Em formatos antropomórficos, as cinco Brasil. Ao levar para o pavilhão expressões populares
esculturas representam sua família e dialogam com a brasileiras, ilustrando algumas delas com esculturas
tradição das culturas pré-colombianas na América Latina. um tanto cafonas, o conjunto parecia perdido em
Do Brasil, além de Roque e Esbell, participam também traduções, sem levar em conta o contexto interna-
Lenora de Barros, Solange Pessoa e Rosana Paulino. cional da mostra.
As duas últimas comparecem com grandes conjuntos, O que se destaca: a Polônia, com uma imensa
especialmente Pessoa, que além de 14 imensos painéis instalação em tecido de Malgorzata Mirga-Tas; a
com figuras orgânicas dentro do Arsenale, também Bélgica, com Francys Alÿs e seus vídeos de crianças
ocupa esculturas de pedra-sabão. brincando em várias partes da Terra; a França, com FOTOS: CRISTIANO CORTE / BRITISH COUNCIL | FABIO CYPRIANO
Cinco pequenas mostras dentro da curadoria de Zineb Sedira, em um divertido filme sobre seu amor
Alemani complementam ainda esta edição da bienal, pelo cinema; e a Inglaterra, que recebeu o Leão de
cada uma sendo consideradas uma “cápsula do tempo”, Ouro por melhor pavilhão, com Sonia Boyce e um
algumas a cargo de curadoras externas. Elas simulam trabalho que parte das vozes de cantoras negras.
gabinetes de curiosidade, com suas vitrines e cores A questão agora é como manter essa representa-
próprias, a partir de designers do estúdio Formafantasma. tividade toda nas futuras edições.
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