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Sítio Arqueológico do Cais do Valongo e Cais da Imperatriz em 2014


            sob a guarda da Fundação Palmares e em estado bastante   A precariedade reinante no Docas Pedro 2  se espraia
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            precário, a construção necessita de medidas efetivas de pro-  pela área toda. O sítio onde funcionava o Cais – por
            teção e restauro. Além de encontrar-se na área tombada em   onde, calcula-se, desembarcaram quase um milhão de
            âmbito internacional, abrigar (mesmo que precariamente) todo o   escravizados em pouco mais de três décadas – tam-
            material levantado nas pesquisas arqueológicas da região e ser   bém encontra-se bastante comprometido. Se ao longo
            o local que naturalmente deve sediar o centro de referência da   do século 20, a região foi abafada por um manto de
            Celebração da Herança Africana e os trabalhos do Laboratório   esquecimento e um evidente desejo de branqueamento
            Aberto de Arqueologia Urbana (laaU), o prédio é ainda uma um   de uma área central conhecida como Pequena África,
            marco fundamental da história arquitetônica do Rio de Janeiro.   ao longo do século 21 ainda reina uma estratégia de
            Projetado pelo engenheiro negro André Rebouças, é a primeira   desmonte de políticas de enfrentamento do racismo
            construção no País a não usar mão de obra escrava.    e da desigualdade.
               No entanto, os planos de recuperação ainda estão bastan-
            te distantes e inadequados. Vale destacar, por exemplo, que   novas perspeCtivas
            a Fundação Palmares tem planos de instalar parte de seus   Como afirmam os pleiteantes no relatório de candidatura
   FOTO: JOÃO MAURÍCIO BRAGANÇA  memorialística do local. Ou que o projeto ora em tramitação no   precisa de todo um esforço da sociedade para que seu
                                                                  à Unesco, “um sítio arqueológico não fala sozinho”, ele
            escritórios nesse endereço, deturpando e diminuindo a vocação
                                                                  caráter e simbolismo venham à tona. Há resistência e
            Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) não
            prevê o retorno do prédio às condições originais do século, mas
                                                                  há esforço da comunidade, que se organiza para fazer
            incorpora mudanças estruturais realizadas ao longo do tempo,
                                                                  frente ao descaso governamental, sobretudo na instância
                                                                  federal que, mais uma vez, põe em prática a estratégia
            como algumas alterações realizadas quando o galpão funcio-
                                                                  do desmonte. Vários acordos firmados no passado
            nou como depósito de armamentos, durante a ditadura militar.
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