Page 69 - ARTE!Brasileiros #56
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Na página anterior, vista da exposição; à
esq., Escada, Versão única, 1950; abaixo,
Sem título, 1952
Latina morarem em Paris não me pareceu peculiar e eu fundaríamos um jornal muito mais sério e apro-
na época, talvez porque eu ainda não soubesse que fundado, chamado Macula (este também não durou
Nova York havia “roubado a ideia da arte moderna”, muito), mas quando cruzei com Jean pela primeira
para usar o bordão de Serge Guilbaut. 1 vez, eu era um adolescente.
Aqui vai o episódio completo, apresentado como
(...) novela de época: era o ano de 1967 e eu estava no
Mas chega de generalidades. Sigamos agora, como equivalente francês da décima série. Morava na bela
prometido, para o modo autobiográfico – não que eu cidade de Toulouse, no sudoeste da França, e ia a
tenha alguma atração particular pelo gênero, mas Paris sempre que ganhava nos meus vários pequenos
porque simplesmente não consigo separar meus empregos o suficiente para cobrir a viagem de
pensamentos sobre dois artistas e sua “ansiedade de trem – os alunos tiram muitas pequenas férias na
influência” particular da minha interação pessoal com França. Não sei bem de onde veio essa ideia, mas
eles. Uma é Lygia Clark; o outro é Mathias Goeritz. queria me tornar artista e passava o tempo todo
Eu os conheci muito antes dos meus gostos intelec- sonhando com minha próxima viagem a Paris, onde
tuais e artísticos estarem totalmente formados – na visitava o máximo possível de galerias e museus. Eu
FOTOS: PATRICIA ROUSSEAUX | JAIME ACIOLI / DIVULGAÇÃO Encontrei muitos artistas em minha vida, mas apenas fui convidado a uma festa à noite, em comemoração
verdade, eles desempenharam um papel importante
ficava na casa de meu tio e tia, mas eles só me viam
no jantar, depois do qual eu desmaiava, tendo batido
em minha formação e especialmente em minha
perna o dia todo. Aí houve uma quebra nessa rotina:
consciência da arte moderna na América Latina.
esses dois funcionaram para mim como mentores.
à inauguração de uma galeria de arte – a nova filial
Conheci os dois por meio de um jornal chamado
da Galerie Denise René no Rive Gauche, Boulevard
Saint Germain, para ser exato, bem ao lado da galeria
Robho, publicado em Paris no final dos anos 1960 (o
título é uma sigla; ninguém sabe o que significa). Era
de Alexandre Lolas (representantes de Magritte e
Fontana) – e meu tio concedeu que eu fosse, contanto
uma daquelas pequenas revistas de vanguarda que
que Jean Clay, que ele conhecia superficialmente,
desaparecem rapidamente, e foi editada por Jean
estivesse lá para me acompanhar. Meu tio me levou
Clay, um homem que tinha uma influência considerá-
vel na época como crítico de arte. Anos depois, Jean
até a galeria enquanto eu cruzava os dedos no carro:
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