Page 35 - ARTE!Brasileiros #50
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O pombo cantador que vem de longe, lá do céu, já virou jiboia, do coletivo Mahku (Huni Kuin), na mostra Encontros Ameríndios






                  curadores, galeristas e artistas.  ocidentais, se for pautado pelo olhar  da arte, com temas que já tratava em
                  Segundo Barcelos Neto em entrevis- do intelectual não indígena”, afirma   sua luta no movimento indígena, con-
                  ta recente ao jornal Nexo, a produção   Naine Terena, que no momento traba- segue tocar as pessoas por um viés
                  indígena exposta nos museus de arte   lha na montagem da mostra na Pina- mais ligado à emoção e afetividade.
                  moderna e contemporânea normal- coteca. Ao mesmo tempo, a produção   Essa aproximação com instituições ou
                  mente está restrita àquela feita com   de diversos artistas indígenas con- com o mercado de arte, diferentemen-
                  técnicas e suportes semelhantes aos   temporâneos a partir do que Naine   te do que diria a visão “evolucionista”
                  canonizados pela arte ocidental. De   chama de um “ajuntamento” de téc- do atual governo, não faz destes índios
                  modo geral, aplica-se à produção   nicas – indígenas e ocidentais – têm   menos índios, como fica claro em seus
   MARCOS GRINSPUM FERRAZ | EVERTON BALLARDIN  tros estéticos, plásticos e utilitários   de ser um dos motivos da crescente   estanques, paradas. Todos nós vive-
                                                                                   trabalhos e discursos de afirmação
                                                  contribuído para o desenvolvimento
                  indígena uma classificação própria
                                                                                   de identidades. “As culturas não são
                  à arte ocidental, a partir de parâme- de um fértil campo de criação, além
                                                                                   mos a partir da absorção das coisas
                                                  visibilidade deste trabalho.
                  alheios aos próprios indígenas.
                                                                                   que vem de fora”, afirma Caiuby. E se
                    “Posso te dizer que alguns dos
                                                     Segundo Baniwa, quando esses
                                                  artistas se propõem a utilizar lingua- os índios se transformam no contato
                  artistas e coletivos indígenas com
                                                                                   com os brancos, talvez seja hora de,
                  quem converso não estão preocu- gens não indígenas, trata-se também
                  pados com os conceitos de arte
                                                                                   antes que seja tarde, nos transformar-
                                                  de uma estratégia de conversar com
                                                                                   mos mais profundamente em nosso
                                                  quem não faz parte dessas culturas. Ele
                  ocidental. Nem o que esse termo
                                                                                   contato com os índios.
                  possa significar nas escolas de arte
                                                  afirma ainda que ao trabalhar, através
                                                                                                              35
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