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ENTREVISTA DENILSON BANIWA
academia europeia. A partir daí, começaram a olhar outros projetos nos quais está envolvido hoje?
para esses temas. É tudo muito complexo nesse A rádio Yandê é um dos projetos mais importantes
discurso, a começar pela academia só ter levado em que eu já consegui realizar. Hoje ele é copiado por
consideração quando um homem, hétero, branco e vários indígenas, é tido como uma referência em
europeu falou sobre. E também é uma questão que comunicação, escutado acho que em 40 países. É
ainda é discutida por pessoas que não são desses um marco no Brasil. Rádios desse tipo já existiam na
lugares “descolonizados”. Acho que, inclusive, nós América do Norte e do Sul há muito tempo. A gente
indígenas quando assinamos “decolonize” ao invés fez isso em 2013, distante do que já era produzido
de “descolonize” é um modo de nos colocarmos em na América Latina. Hoje é um marco no que é comu-
um lugar diferente do que a academia ocidental dis- nicação, no que é acesso à comunicação, no que é
cute. É um modo de colocar que é um pensamento estratégia. Quando eu decidi que ia me dedicar ao
diferente, talvez não o pensamento, mas uma posição trabalho artístico, não consegui mais dar conta da
diferente dentro da discussão. Mas no Brasil isso é Yandê. Eu saí da coordenação e das ações. Então é
muito recente. Em outros lugares da América Latina um projeto muito importante, que eu tenho muito
a discussão é mais antiga. orgulho, que eu participo ainda, mas que eu não
E por que só agora? faço mais parte da linha de frente porque precisaria
O Brasil é muito tardio e também não se entende de uma dedicação maior. Fora isso, eu tenho estado
como colônia. A maior ficção colonizadora que a no movimento indígena, como sempre, e dentro de
gente tem é que o Brasil foi independente ou é inde- discussões sobre acesso à informação e acesso à
pendente. Aqui é o único lugar das Américas que a universidade. Participo das reuniões em universidades
independência veio por parte do rei e não do povo. onde têm grupos indígenas, tenho participado de
Copiamos muito o estilo de vida de outros lugares reuniões de ações de retomada de território. Tudo
porque não nos aceitamos brasileiros, ao contrário o que eu faço agora é ligado a um trabalho artístico,
de outros lugares na América Latina. Na Bolívia, a uma pesquisa artística.
Equador, Chile, você vê que existe um sentimento Quando você decidiu se focar quase inteiramente
no qual as pessoas se consideram filhos daquele ao trabalho como artista?
território. Eu nunca tive um pensamento sobre trabalhar enquan-
Você foi um dos fundadores da rádio Yan- to artista ou viver uma vida de artista. Em 2015 fui
dê, a primeira rádio indígena do país. Tem convidado para fazer a identidade visual, junto com
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