Page 33 - ARTE!Brasileiros #50
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que vivemos na cidade, muita gente   plumária – colocada em diálogo
                                                  não tem a menor ideia do que está   com fotografias de nomes ociden-
                                                  acontecendo.” A mostra no Museu   tais como Albert Frisch, Marc Ferrez,
                                                  Afro reúne uma grande diversidade   Maureen Bisiliat e Nair Benedicto
                                                  de produção material de povos como   e quadros de José Roberto Aguilar,
                                                  os Karajá, Marubo, Kayapó, Panará   Claudio Tozzi e Rubens Ianelli. Há
                  Mulher na                       e Juruna – entre máscaras, adornos,   ainda uma grande construção em
                  cerimônia do                    cestarias e um rico acervo de arte   sapé feita por membros da etnia
                  Yamaricumã, de                                                   Mehinako, nomeada  Casa dos
                  Maureen Bisiliat,
                  1975, na mostra                                                  Homens, e trabalhos contemporâ-
                  no Museu Afro                                                    neos de Denilson Baniwa.
                                                                                     “Essa exposição celebra a vida
                                                                                   desses povos das florestas que atra-
                                                                                   vés de séculos vivem e sobrevivem
                                                                                   sendo achacados pelos homens
                                                                                   brancos. (...) Esse povo que aqui
                                                                                   estava e que aqui continua em ter-
                                                                                   ras onde sempre foi o dono, para
                                                                                   sempre”, escreve o curador em texto
                                                                                   sobre a exposição. Araujo destaca
                                                                                   ainda que a mostra não possui exa-
                                                                                   tamente um caráter antropológico ou
                                                                                   acadêmico, mas propõe uma reunião
                                                                                   de peças que passam uma “ideia de
                                                                                   deslumbramento” e que mostram a
                                                                                   sabedoria dos povos indígenas. Ele
                                                                                   se refere também a algo que Darcy
                                                                                   Ribeiro chamou certa vez de “vontade
                                                                                   de beleza”, ou seja, um cuidado esté-
                                                                                   tico presente em toda a produção dos
   DIVULGAÇÃO/ COLEÇÃO RUY SOUZA E SILVA | DIVULGAÇÃO/ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES
                                                                                   povos indígenas que vai das coisas
                                                                                   mais efêmeras às mais duradouras.
                                                                                     “Existe essa beleza notável nas
                                                                                   coisas”, concorda Caiuby, se refe-
                                                                                   rindo à produção ameríndia. “Por-
                                                                                   que aquilo que é certo, que é bem
                                                                                   feito, tem que ser bonito. E isso se
                                                                                   relaciona com outra característica
                                                                                   desses povos que é a de não dife-
                                                                                   renciar coisas que nós considera-
                                                                                   mos como esferas separadas: ética,
                                                                                   estética e moral. Então aquilo que é
                                                                                   esteticamente belo é porque é eti-
                                                                                   camente correto e moralmente é o
                                                                                   certo.” E ela exemplifica: “A gente
                                                                                   pode admirar um pôr do sol com
                                                                                   poluição, porque dizemos que fica
                                                                                   mais vermelho, mas isso para eles
                                                                                   é inadmissível”.


                                                                                                              33





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