Page 40 - ARTE!Brasileiros #50
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ENTREVISTA DENILSON BANIWA



                    na aldeia (falando pelo meu povo, que está lá no   o alcance que o prêmio tinha para fora de tudo o
                    Rio Negro), a arte não significa nada, não quer dizer   que eu conhecia. O pIpa foi um divisor para mim,
                    nada esse trabalho de exposições, de galerias. Foi   porque acho que ele me fez ver um pouco mais de
                    uma surpresa porque eu não fazia ideia de que eles   como eu podia trabalhar, de até onde eu chegava e
                    me acompanhavam. Quando teve o pIpa e come-      como eu poderia me comunicar com o mundo pelo
                    çamos a compartilhar o link, várias pessoas lá da   meu trabalho.
                    minha comunidade, dos Baniwa e de outros povos
                    da minha região, mandaram uma mensagem dizendo   Você falou agora sobre sua relação com seu povo.
                    que estavam torcendo por mim. Foi a primeira vez  Você tem um cuidado muito grande para transpor
                    que eu tive noção de que o meu trabalho estava   elementos da sua cultura para seus trabalhos,
                    alcançando esse lugar, que eles sabiam o que eu   como questões religiosas...
                    estava fazendo e que entendiam o que eu estava
                    fazendo. Em segundo lugar, foi bem legal porque   Eu tenho esse cuidado porque dentro da cosmogonia
                    eles se mobilizaram para votar em mim. Isso me   Baniwa, da criação, tem uma ética, digamos assim,
                    deixou muito feliz. Fez eu entender a importância   que tem vários conselhos que a gente tem que seguir
                    de eu estar aqui, que eles confiavam em mim.     durante a vida. Um deles, com o pIpa, eu meio que
                                                                    “quebrei”, que é ter que andar de maneira discreta
                  E depois do prêmio?                                pelo mundo, que suas ações têm que ser maiores
                    Foram três momentos: de entender que os indíge-  que a sua imagem, a sua presença. As ações e o
                    nas da aldeia sabiam do meu trabalho; depois de   trabalho têm que ser maiores que a nossa vaidade,
                    ver um monte de gente que conhecia meu trabalho   talvez essa fosse a melhor tradução. E outra coisa
                    e que me acompanhava; e, no final, de perceber   que me faz pensar sobre o que quero falar e o que






                                                                      Antropofagia musical, 2016,
                                                                      infogravura, tamanhos variaveis








































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