Page 65 - ARTE!Brasileiros #43
P. 65
Abney...), afirma Hélio Menezes, um dos curadores
da exposição ao lado de Lilia Schwartz, Adriano
Pedrosa e Ayrson Heráclito.
Estudioso da produção afro-brasileira contemporâ-
nea, Menezes diz não se iludir com o atual interesse
que o mercado de arte vem dedicando a essa produ-
ção, que durante anos ficou ignorada. Mas, segundo
ele, não há dúvida de que esses artistas vieram para
ficar: “Estão se tornando incontornáveis ao debate”.
Outro aspecto interessante que ele destaca na pes-
quisa é a diversidade. Apesar da ênfase em poéticas
mais vinculadas à luta política, é preciso contemplar
a ampla gama de linguagens e temas trabalhados
por esses artistas. O curador exemplifica que o
núcleo Modernismos Afro-atlânticos concentra-se na
produção de artistas negros da África e da diáspora
africana, cujos trabalhos são mais voltados para
diálogos internos da história da arte.
SAMUEL RAVEN, CELEBRATING THE EMANCIPATION OF SLAVES IN BRITISH DOMINIONS, AUGUST 1834. 32,1 X 23,5 CM
Como diz Menezes, “cada exposição é um mundo”.
O interessante é que, tanto pela dimensão gran-
diosa como pela fricção que promove entre a
produção internacional e a cena nacional, Histórias
Afro-atlânticas promete ampliar o conhecimento
e o debate em torno da produção africana num
país contraditório como o Brasil que, apesar – ou
talvez por isso – de ter sido o primeiro país a trazer
RODOLPHO escravos, ter recebido a larga maioria da popu-
LINDEMANN,
C., RETRATO DE lação africana escravizada ao longo de mais três
AMA NEGRA COM
CRIANÇA BRANCA séculos (calcula-se que 40% dos negros vendidos
PRESA ÀS COSTAS,
1880. CARTÃO como escravos tenham aportado por aqui) e de ter
POSTAL [CARTE DE
VISITE], SALVADOR. sido a última nação ocidental a abolir tal prática,
COLEÇÃO
APPARECIDO ainda desconhece enormemente sua história e os
JANNIR SALATINI.
10 X 6 CM APROX. laços que o une à cultura negra.
65