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CAPA AFRO-ATLÂNTICAS
UMA ARTE PLURAL,
DIVERSA E MILITANTE
IMPORTANTE EXPOSIÇÃO QUE OCUPARÁ O MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO (MASP) E O INSTITUTO TOMIE
OHTAKE, HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS DISCUTE A COMEMORAÇÃO DOS 130 DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO
POR MARIA HIRZMANN
NESTE ANO COMEMORA-SE os 130 anos da Abo- no Instituto Tomie Ohtake (2014); Territórios:
lição no Brasil, assinada pela Princesa Isabel em 13 Artistas Afrodescendentes no Acervo da Pina-
de maio de 1888. E, no entanto, são vivas e profun- coteca (2015/2016); Diálogos Ausentes, no Itaú
das as marcas da escravidão no País. Diariamente Cultural, e SomxsTodxsNegrxs, no Videobrasil
somos confrontados com as provas concretas da (ambas em 2017), uma quantidade considerável
desigualdade racial, seja por meio de aterradores de exposições, eventos e reflexões poéticas sobre
dados estatísticos ou através de dramas reais, como a situação do negro no Brasil e do mundo.
o assassinato de Marielle Franco, que relembram Neste momento, estão em cartaz simultaneamente
quão profundo e arraigado é o racismo no país. na cidade de São Paulo as exposições Ex-África
Apesar da sensação de que pouco avançamos para (CCBB), que traz a obra de 18 artistas contempo-
combater tal situação, a denúncia dessa segregação râneos africanos e de dois brasileiros, e a mostra
persistente parece pouco a pouco esgarçar o manto de longa duração É Coisa de Preto, organizada
da invisibilidade que recobre a questão. pelo Museu Afro Brasil, que contempla um amplo
Nesse processo de denúncia, reflexão e combate, número de núcleos expositivos.
a arte desempenha um papel fundamental e No próximo dia 29 de junho, começa uma grande
amplificador, apesar de insuficiente para reverter exposição, intitulada Histórias Afro-atlânticas,
um quadro de exploração que se perpetua há concebida por uma parceria entre o Masp e o
séculos. Se até há pouco eram raras as exposi- Instituto Tomie Ohtake, que reunirá aproxima-
ções de artistas afro-brasileiros e africanos, ou damente 400 obras realizadas por mais de 200
em torno de questões vinculadas ao passado artistas da África, do Caribe e das Américas. Além
escravista e ao presente racista – e o Museu Afro dessa mostra gigantesca, que ocupa todos os
Brasil (ver ao lado) parecia ser um foco essencial, espaços expositivos temporários do museu, o
mas isolado, de resistência –, vimos nos últimos Masp tem dedicado toda sua programação de
tempos um florescimento de manifestações neste 2018 à discussão de questões relativas à arte
sentido. Somam-se a mostras históricas realiza- africana e afro-brasileira. Além de um conjunto
das nos últimos anos, como Histórias Mestiças, alentado de mostras de autores negros, como as
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