Page 62 - ARTE!Brasileiros #43
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CAPA AFRO-ATLÂNTICAS






           UMA ARTE PLURAL,


           DIVERSA E MILITANTE





           IMPORTANTE EXPOSIÇÃO QUE OCUPARÁ O MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO (MASP) E O INSTITUTO TOMIE
           OHTAKE, HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS DISCUTE A COMEMORAÇÃO DOS 130 DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO


           POR MARIA HIRZMANN
















           NESTE ANO COMEMORA-SE os 130 anos da Abo-    no Instituto Tomie Ohtake (2014); Territórios:
           lição no Brasil, assinada pela Princesa Isabel em 13   Artistas Afrodescendentes no Acervo da Pina-
           de maio de 1888. E, no entanto, são vivas e profun-  coteca (2015/2016); Diálogos Ausentes, no Itaú
           das as marcas da escravidão no País. Diariamente   Cultural, e SomxsTodxsNegrxs, no Videobrasil
           somos confrontados com as provas concretas da   (ambas em 2017), uma quantidade considerável
           desigualdade racial, seja por meio de aterradores   de exposições, eventos e reflexões poéticas sobre
           dados estatísticos ou através de dramas reais, como   a situação do negro no Brasil e do mundo.
           o assassinato de Marielle Franco, que relembram   Neste momento, estão em cartaz simultaneamente
           quão profundo e arraigado é o racismo no país.   na cidade de São Paulo as exposições Ex-África
           Apesar da sensação de que pouco avançamos para   (CCBB), que traz a obra de 18 artistas contempo-
           combater tal situação, a denúncia dessa segregação   râneos africanos e de dois brasileiros, e a mostra
           persistente parece pouco a pouco esgarçar o manto   de longa duração É Coisa de Preto, organizada
           da invisibilidade que recobre a questão.     pelo Museu Afro Brasil, que contempla um amplo
           Nesse processo de denúncia, reflexão e combate,   número de núcleos expositivos.
           a arte desempenha um papel fundamental e     No próximo dia 29 de junho, começa uma grande
           amplificador, apesar de insuficiente para reverter   exposição, intitulada Histórias Afro-atlânticas,
           um quadro de exploração que se perpetua há   concebida por uma parceria entre o Masp e o
           séculos. Se até há pouco eram raras as exposi-  Instituto Tomie Ohtake, que reunirá aproxima-
           ções de artistas afro-brasileiros e africanos, ou   damente 400 obras realizadas por mais de 200
           em torno de questões vinculadas ao passado   artistas da África, do Caribe e das Américas. Além
           escravista e ao presente racista – e o Museu Afro   dessa mostra gigantesca, que ocupa todos os
           Brasil (ver ao lado) parecia ser um foco essencial,   espaços expositivos temporários do museu, o
           mas isolado, de resistência –, vimos nos últimos   Masp tem dedicado toda sua programação de
           tempos um florescimento de manifestações neste   2018 à discussão de questões relativas à arte
           sentido. Somam-se a mostras históricas realiza-  africana e afro-brasileira. Além de um conjunto
           das nos últimos anos, como Histórias Mestiças,   alentado de mostras de autores negros, como as


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