Page 58 - ARTE!Brasileiros #43

EXPOSIÇÕES RIO DE JANEIRO

MAPEAMENTO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO É FIO CONDUTOR DA EXPOSIÇÃO.

as câmeras foram então expostos, compondo um vazios a serem ocupados pelas imagens rela-
panorama da diversidade das máquinas analógi- tivas às comunidades espalhadas pelo mapa.
cas e de estilos fotográficos. Com A última foto No final da mostra, as imagens formavam um
Rennó ainda tratou da mudança de paradigma mosaico composto por dezenas de olhares, tanto
analógico para o digital, além de discutir no catá- de moradores, como dos participantes das ofi-
logo da mostra o tem de direito autoral, já que cinas, como da própria artista, sem hierarquia e
a icônica imagem do Cristo Redentor pertence à mescladas.
arquidiocese do Rio. Com tudo isso, Rennó revela as diversas cama-
Agora em #RioUtópico esse procedimento se radi- das que compõem a utopia urbana do Rio de
caliza, tanto por se afastar do clichê da imagem Janeiro para muito além do Corcovado e do
turística carioca, quanto por abrir a possibilidade de Cristo Redentor por textos e imagens. A Vila
colaboração com qualquer um que se dispusesse. Progreso, na Vila Kennedy, por exemplo, um
O resultado se dividiu em dois suportes: na mos- assentamento não urbanizado com 58 mil m2 e
tra, que ficou em cartaz entre dezembro de 2017 cerca de 1.500 moradores, é retratada por Thais
e abril de 2018, e no extenso catálogo de 480 Alvarenga, em imagens com crianças brincando
páginas que reuniu cerca de 500 das mais de mil e ocupando as ruas do local. Como o projeto
fotografias coletadas e textos detalhados sobre seguiu recebendo imagens ainda neste ano ele
a história de cada lugar _em geral iniciada como já abarca a malfadada ocupação militar no Rio,
reassentamento de moradores retirados de favelas como em fotos da Vila Aliança, realizadas por
da zona sul ou como ocupação ilegal de áreas não Alan Lima e Danilo Verpa.
edificadas. Assim, a fotógrafa que não faz mais fotos mas
A exposição foi ainda sendo construída no voltou a fotografar cria uma imagem do Rio de
tempo, como um álbum sendo preenchido aos Janeiro mais para a distopia do que a utopia, um
poucos, enquanto as imagens chegavam ao IMS. retrato de um país de esperanças prometidas e
Um grande mapa da cidade foi plotado no piso não cumpridas, um panorama ao final raro dentro
do espaço expositivo, deixando nas paredes do comportado sistema de artes visuais brasileiro.

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