Page 61 - ARTE!Brasileiros #43
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MOSTRA REALIZADA PELO ARTISTA NO CENTRO CULTURAL BNDES REÚNE ELEMENTOS DA CULTURA POP E AFROAMERÍNDIA


                             alucinógeno, que Cabelo recebeu Kopenawa com   dos povos da floresta, ameaçados especialmente
                             um relato bastante fantástico. Ele se recordou que,   pelos garimpeiros, e como são os yanomami que
                             em 1992, durante a Conferência Mundial do Meio   acabam exercendo um papel de resistência e, ao
                             Ambiente, naquele mesmo prédio “do BNDES, que   mesmo tempo, da preservação da Amazônia.
                             financia tantas obras que acabam com os índios”,   “Trabalho de pajé é proteger, preservar a mãe
                             foi ver um concerto e acabou participando de uma   terra”, disse Kopenawa. “Eu sou professor tam-
                             cerimônia de aspiração da yãkõana, o pó usado   bém, professor da humanidade. A gente não usa
                             nos rituais yanomami. “Lembro bem do abraço   lápis, mas usa a fala para ensinar e aprender”,
                             do xamã que proporcionou aquela experiência, e   seguiu por seu caminho dialético.
                             que para mim foi só amor”, contou Cabelo. Mas   Em uma mostra onde se rechaça o papel do artista
                             a história ganhou contornos míticos quando ele   como figura de destaque, que tem uma assinatura
                             disse que somente naquele dia, o 19 de abril de   que o diferencia dos demais, a presença de Kope-
                             2018, quando foi ao aeroporto buscar Kopenawa   nawa ajudou a ampliar a compreensão da própria
                             e contou a ele aquela lembrança, soube que tinha   mostra, sendo até crítico na homenagem pelo dia
                             sido ele próprio quem abraçou Cabelo.
                   FOTO PEDRO AGILSON  A presença de Kopenawa, para além da história   do índio. “Índio nasceu na Índia, eu sou Yanomami”,
                                                                          afirmou de maneira definitiva.
                             pessoal com o artista, de fato tinha todo sentido ali.
                             Por mais de uma hora, ele contou das dificuldades
                                                                          O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da organização da mostra.

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