Em 2016, Paulo Tenani, há 20 anos professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, criou um grupo de estudos sobre a Economia do Mercado da Arte dentro do FGV Invest, centro de estudos da instituição. Dois anos depois, juntou-se a ele e ao grupo sua ex-colega de graduação na Universidade de São Paulo, Katya Hochleitner, cuja carreira acadêmica enveredou, após o bacharelado em Ciências Econômicas, para um mestrado em Estética e História da Arte e um doutorado em Estética e História da Arte, ambos na USP. Ao longo de sete anos, o grupo cresceu, abrigando hoje mais de 60 membros. Com a pandemia, expandiu suas fronteiras para fora, por meio dos encontros por videoconferência, atraindo participantes do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e dos EUA. Consolidado, o grupo realiza em 21 de setembro o I Seminário Acadêmico de Economia do Mercado da Arte, evento que até o dia 30/6 está aberto para propostas de trabalhos.

Segundo comunicado da FGV, o objetivo do evento é “gerar um espaço de discussão para acadêmicos, pesquisadores e profissionais do mercado da arte, promovendo e divulgando pesquisas científicas e aplicadas relacionadas à economia do mercado da arte”. Para Tenani, o seminário é um desenvolvimento natural do grupo de estudos, que buscou cobrir toda a literatura existente acerca do tema. “Até 2020 tentamos descobrir quem eram os profissionais, onde estavam e quais as publicações já existentes. A partir daí surgiram as primeiras teses. Vieram também vários cursos ligados ao tema na escola, primeiro na graduação, em que o estudante acrescenta a cultura aos seus estudos de mercado. E, em seguida, veio um MBA na área. O momento agora é de expandir as fronteiras do conhecimento por meio do seminário”, diz o professor. Já Hochleitner destaca que o evento “é uma celebração de nosso grupo de estudos, que se abre para o mundo, com o objetivo de reduzir a falta de transparência do mercado”.

A falta de transparência, ressalta Hochleitner, é um dos obstáculos para o crescimento do mercado de arte no Brasil. Segundo ela, a chamada assimetria informacional, ou seja, a desigualdade no nível de informação entre diferentes agentes do mercado – galerias de arte, marchands, casas de leilão etc. –, pode ocasionar preços altos artificiais e favorecer, por exemplo, a comercialização de obras falsificadas, aspectos de ordem econômica que impedem a expansão do mercado.

Tenani compara o mercado de arte brasileiro ao financeiro, nos anos 1980, “quando ele vivia sob o domínio de Naji Nahas”, empresário libanês radicado no país, que atuou como especulador e em 1989 foi acusado como responsável pela quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. “As pessoas tinham medo de entrar. O mercado financeiro criou instituições para superar isso. O mercado da arte também tem tentado e, se um dia conseguir superar, talvez ele possa crescer como o financeiro cresceu. Ver outros casos para entender melhor o que se passa na arte é fundamental”, afirma Tenani. O economista argumenta que, ainda que a comparação não seja bem-vinda para muitas pessoas do segmento, o mercado de luxo pode dar lições ao da arte. “Ambos têm o mesmo tipo de consumidor, entre outras características em comum”.

Hochleitner lamenta a falta de estudos periódicos sobre o mercado, como o The Art Market, realizado anualmente pela Art Basel e pelo banco UBS, e em que o Brasil aparece apenas no contexto regional da América Latina. Até 2018, a Associação Brasileira de Arte Contemporânea divulgava uma pesquisa setorial, mas o trabalho foi pausado. “Foi o melhor que a gente teve no Brasil, até aquele ano. Mas esse relatório da Abact se limitava somente às galerias associadas e não tinha um enfoque quantitativo de vendas tão detalhado”, diz a professora.

Acerca do estado do mercado de arte no Brasil, Hochleitner argumenta que sua economia está diretamente ligada à do país. Quando a economia brasileira esteve bem, o mercado de arte seguiu a tendência, com as feiras nacionais recebendo diversas galerias estrangeiras de peso, como White Cube e Gagosian, entre outras. “Em 2013, o Brasil era a bola da vez, segundo o The Art Market, que hoje em dia aponta seu foco para a China, a África e já destacou também o mercado russo. Naquele início dos anos 2010, o Brasil aparecia na capa da revista britânica The Economist como país em ascensão, com o Cristo Redentor subindo como um foguete. A partir do momento em que a China explodiu e se internacionalizou, nosso mercado se voltou para dentro, mesmo. E quem compra arte, no Brasil, são os poucos colecionadores de sempre”, conclui.


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