Grand Palais Ephemere, onde ocorreu a Feira Internacional de Arte Contemporânea (FIAC) de Paris em 2021. Foto: Hélio Campos Mello
Grand Palais Ephemere, onde ocorreu a Feira Internacional de Arte Contemporânea (FIAC) de Paris em 2021. Foto: Hélio Campos Mello

Em inúmeros países da Europa, a volta para a montagem de mostras, feiras e eventos tem conseguido reunir visitantes cautelosos, mas radiantes por poder reencontrar seus colegas, seus clientes e um amplo público ávido por experimentar novamente o contato com a obra.

Existem ainda dificuldades de programação, já que vários países enfrentam diferentes cenários quanto à vacinação, trazendo como consequência novos picos de contaminação. Com a chegada do inverno no hemisfério norte e novas cepas do vírus, recrudesce a predisposição para a doença, o que está levando ao endurecimento de medidas por parte dos governos, inclinados a tornar obrigatória a vacinação. Já na França, mesmo usando máscaras de forma rigorosa, o visitante não pode entrar em nenhum estabelecimento, seja restaurante, drogaria ou museu sem a apresentação do Passaport Sanitaire francês ou do país de origem traduzido e reconhecido.

Especificamente, a tradicional feira francesa FIAC, que aconteceu do dia 21 a 24 de outubro, em Paris, voltou completamente repaginada no Grand Palais Éphémère, já que seu endereço original, o Grand Palais, entrou em uma reforma pesada desde 2019. Este novo espaço, construído especialmente para a feira, foi autorizado na Reunião Nacional de Museus junto ao Comitê dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Foi construído pelo arquiteto Jean-Michele Wilmotte no espaço ao lado da Place Joffre, no Champ de Mars, levando em consideração materiais sustentáveis (madeira, lona) passíveis de serem desmontados com facilidade e repaginados.

A feira, na abertura, se apresentou quase improvisada, com um bom sistema de segurança, mas com inúmeros problemas de atendimento ao público. Sistema precário de agenda, atendimento à imprensa e visitantes e alguns estandes pouco cuidados. Não foram pensados espaços confortáveis para se recolher, ler e se planejar no trajeto entre os estandes.

Isso, que diz mais sobre a gerência administrativa da feira, quase uma certa arrogância, no entanto não chegou a opacar o brilho dos expositores que concorreram de vários países da Europa, África e Ásia e que sempre trazem excelentes elencos.

Galerias históricas e tradicionais como Thaddaeus Ropac mostraram obras do Georg Baselitz, coincidindo com a nova retrospectiva do artista alemão que acaba de abrir no Centro Pompidou, e que permanecerá até 7 de março de 2022. A Thaddaeus Ropac  vendeu, do artista, Bad in Flur (2021), no valor de 1.2 milhões de euros.

A Galeria 1900-2000, fundada em 1972 sob os conselhos de Man Ray, focou no início no dadaísmo, nos surrealistas, no pop, e nos hiper-realistas e foi ampliando seu elenco para o Fluxus e contemporâneos como George Condo e Jean-Michel Basquiat. Ela mostra tradicionalmente tesouros de Picabia, Max Ernst e Man Ray, do Alighiero Boetti e Joseph Kosuth.

O artista brasileiro Julio Villani,  radicado em Paris desde 1982, forma parte do núcleo de artistas da galeria. Sua obra, 65 cm de pintura, acrílica sobre tela de 1992, foi vendida  no primeiro dia.

Várias obras figurativas reaparecem como estrelas. Alice Neel, Chen Ke, Jean-Michel Othoniel, Yves Laloy, que foram vendidas logo no começo. Victoria Miro apresentou uma série belíssima de 10 pastéis de Chantal Joffe, What I did not see, 2019. E artistas negros também passam a ter maior expressão no circuito. A Templon trouxe uma obra muito original de Omar Ba, senegalês nascido em 1977, Dispersion Devant l’impasse, 2021.

Na toada da inclusão de artistas representantes da art brut ou art outsider no “circuito oficial do mercado”, que vem crescendo desde a exposição Palazzo Enciclopedico, na Bienal de Veneza de 2013, e se inserindo em museus como o Met e o MoMA, a Christian Berst Art Brut, de Nova York, apresentou o artista checo Luboš Plný, cujo potente trabalho é produto da sua fascinação com a iconografia médica. Ele chega a provocar e estudar situações no próprio corpo, quase como performances, testando seus limites. Seu trabalho já foi apresentado na 17a Bienal de Veneza e no Museu National d’Art Moderne de Paris, em 2013.

No setor de arte contemporânea, a brasileira Jaqueline Martins, que abriu recentemente uma filial em Bruxelas, apresentou uma paisagem construída com esculturas em madeira, cada uma fazendo parte de uma composição ficcional. 

Como sempre a FIAC tomou a cidade em associação com o Museu do Louvre, apresentando Hors les Murs, cerca de 20 obras e instalações distribuídas ao longo do Jardin des Tuileries e no centro de Paris.

Visitar a FIAC, para quem compra ou para quem está atento aos movimentos internacionais de arte moderna e contemporânea, é um imenso prazer, ainda mais porque permite percorrer os museus e instituições francesas cujas curadorias e exposições são sempre um novo descobrimento.

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