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O que nos une?

Capa edição 43 - Sem Título - Moisés Patrício
Obra Sem Título da série "Aceita?", de Moisés Patrício. A obra foi capa da nossa edição 43.

Quando o escritor, educador e presidente argentino Domingos Faustino Sarmiento escreveu, em 1845, Facundo: Civilización y Barbárie, tentou retratar a formação nacional argentina por meio das relações do homem do deserto, “do pampa”, versus o homem da cidade e a força que a colonização europeia teria tido nas cidades. A existência de dois países, um  civilizado – branco, ilustrado, integrado com a Europa – e um bárbaro – a Argentina do analfabetismo, dos mestiços, do isolamento, da violência: uma antítese que colocava em jogo a possibilidade de construir um corpo de nação. A obra é considerada fundadora da literatura argentina pelo pioneirismo na ruptura com os padrões do romanticismo europeu.

Em 1930, Sigmund Freud escreveu O Mal-estar na Cultura (na tradução brasileira editado também como O Mal-estar na Civilização). Nesse texto chave da sua obra, Freud (se concorde ou não) coloca por terra qualquer ilusão sobre a possibilidade dos homens virem a coexistir em paz. Ou qualquer teoria que, vinda de um conceito político, econômico ou sociológico, sugira que o homem consiga se relacionar num encontro cordial, solidário, onde supostamente teríamos acesso a um objetivo superior, deixando de nos comportar como animais.

Para ele, “o instinto agressivo não é uma consequência da propriedade, esta já regia quase sem restrições nas épocas primitivas, quando a propriedade ainda era pouca coisa, [a agressividade] já se manifesta na criança, apenas a propriedade perdeu sua forma anal; constitui o sedimento de todos os vínculos carinhosos e amorosos… Se se eliminasse todo direito pessoal a possuir bens materiais, ainda seriam substituídos pelos privilégios derivados das relações sexuais, que necessariamente devem se transformar em fonte da mais intensa inveja e da mais violenta hostilidade entre os seres humanos.”…”Evidentemente ao homem não lhe é fácil renunciar à satisfação das suas tendências agressivas; não fica nem um pouco confortável sem essa satisfação”.

“Por outra parte, um núcleo cultural mas restringido oferece a vantagem de permitir a satisfação deste instinto através da hostilidade frente a sujeitos que ficaram excluídos daquele [núcleo]. Sempre terá mais facilidade para se vincular mais amorosamente entre sí, com a condição de que sobrem outros em quem descarregar seus golpes” (pag. 3049, El Mal-estar en la cultura, Sigmund Freud, Obras Completas, Biblioteca Nueva Madrid, 1981).

Nossa pulsão pela vida e pela morte bate sempre, mais, no não igual.

Esta edição mostra, através de uma primorosa recapitulação de imagens, arquivos e obras apresentadas por artistas, fotógrafos e pensadores, como no passar do tempo não conseguimos sair do lugar: como os conflitos entre norte e sul, entre classes e poder geopolítico estão sempre a serviço de uma subjugação de uns pelos outros. O preto pelo branco, o colonizado pelo colonizador. E também como, exatamente por conta dessa dificuldade, a arte resulta num suporte permanente para trabalhar o desamparo.

PS: Boas notícias: duas Fundações Privadas, uma que faz 45 anos e outra que inaugura, expõem seus acervos ao público! Isso nos une.

PS2: Acompanhe no paginaB todas as materias da edição ao longo das próximas semanas

Arte feita por negros. Você aceita?

Moisés Patrício, ‘Sem Título’ da Série ‘Aceita?’, 2018

À PORTA DO PRÉDIO onde fica seu ateliê, Moisés Patrício, artista e educador, recebe convidados com um sorriso e um abraço. Todo de branco, o artista por trás da série fotográfica Aceita? e da série de performances Presença Negra, que reúne negros para visitas em grupo a aberturas de galerias de arte, explica que ocupa o local, emprestado por uma amiga, há dois anos.

Patrício é artista e é negro. Para ele, as duas coisas não precisam estar sempre acompanhadas, mas não devem ser esquecidas. “Por que toda vez que um artista que é negro faz uma exposição ou projeto as pessoas chamam de Arte Negra? De alguma forma, isso acaba reduzindo tudo a essa única questão. Ninguém diz arte branca quando o artista é branco”, questiona. Para ele, arte é arte, mas Patrício não foge à critica de seu próprio questionamento, pois muitas vezes artistas brancos, mais velhos e conservadores, manifestaram opiniões como se a arte no Brasil estivesse em momento decadente, em referência à arte afro-brasileira e à arte periférica. “Já ouvi, também, de artistas brancos que ‘a arte não tem cor e que, portanto, não há porque privilegiar alguns artistas porque são negros’”, reproduz. Para ele, isso acontece porque uma parcela da classe artística receia perder seus privilégios.

Em 2014, negros (pretos e pardos) já representavam a maior parte da população brasileira, com 54% das autodeclarações étnico-raciais, mas ainda assim sua presença nos espaços artísticos é baixa. Mesmo com a pouca representatividade na arte, afrodescendentes têm dificuldade em escapar dos estereótipos. Negros costumam ser associados artisticamente, na forma mais comum e cotidiana, a temas como a escravidão, ritos tribais de etnias africanas e às religiões afro-americanas.

Mas o cenário começa a mudar e museus brasileiros estão abrindo as portas para a arte contemporânea de origem afro. Em maio de 2018, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) inaugurou a maior exposição de artistas africanos em São Paulo. Foram 90 obras de artistas de oito países africanos e dois artistas afro-brasileiros. Agora Museu de Arte de São Paulo (Masp), considerado cartão postal da cidade, terá pela primeira vez todo o seu espaço dedicado à exposição Histórias Afro-atlânticas. E não acaba aí. O Instituto Tomie Ohtake, no bairro de Pinheiros, outra instituição bastante popular na capital paulista, firmou parceria para expor, junto ao Masp, cerca de 400 obras de mais de 200 artistas na Afro-atlânticas.

Moisés Patrício, ‘Sem Título’ da série ‘Aceita?’, 2017

Moisés está entre os 200 artistas da exposição. No Masp, são de autoria do artista. E o destaque é para sua série fotográfica Aceita?.

A mão preta que envelhece

Andar pela cidade de São Paulo é estar diante de finais e começos o tempo todo. Dos trabalhadores que dão vida à cidade logo nas primeiras horas da manhã, antes mesmo do sol nascer, aos resíduos do consumo dos produtos cotidianos da vida urbana. Embalagens plásticas, papeis, garrafas, roupas, móveis: é possível encontrar todo tipo de objeto nas esquinas da cidade. O lixo, para Patrício, diz muito. A série de fotos Aceita? expõe a inquietação do artista paulistano com a cidade, com tudo aquilo que, segundo ele, deixamos de ver quando descartamos os plásticos, as vidas e uma variedade de bens com ou sem valor.

Moisés explica que a série nasce do seu desespero em ser assimilado pela sociedade ao seu redor e das reflexões sobre a mão de obra do período escravocrata e, atualmente, servil. “A série nasce, também, da busca de olhar para a mão como obra artística. Ela nasce do meu desespero de ser assimilado pela sociedade. De um modo geral, na faculdade, tive muita dificuldade de encontrar minha poética, porque tudo estava ligado a um universo pelo qual sinto mais dor do que amor. Passei quatro anos estudando e me embranquecendo”, conta.  Para se reencontrar, o artista produziu uma serie de autorretratos de nu artístico e outra de fotografias de partes do seu corpo. Mas foi caminhando pela cidade que encontrou o tom. “Eu aprendo e apreendo de outra forma, minha aprendizagem esta muito ligada à dança, à comida, ao tempo das coisas, de fazer junto, olhando. Fui educado assim no terreiro [de Candomblé]. Então, lá, você canta e dança para ter acesso ao conhecimento”.

Filho de Exu no Candomblé, orixá ligado à comunicação, movimentos do corpo, ao caminhar, ao facilitar o trânsito de corpos e ideias, Moisés se deparou com a cidade e seu próprio corpo como obra. Fez uma, duas, três fotos e, então, nasceu a série Aceita?, que busca, entre tantas coisas, discutir o descarte provocado pelo consumo e se apropria desse desprezo como metáfora para o que chamou de “descarte do jovem negro no Brasil”. 

O artista nasceu na periferia. Aos nove anos teve contato com a arte pela primeira vez, ingressando nas aulas promovidas pelo artista argentino Juan José Balzi, que morreu em 2018, aos 89 anos. “Ele [Balzi] disponibilizava os materiais, levava tintas, papeis e jornais para nós. Ele tinha um enfoque político e fazia questão de levar os jornais da semana para compartilhar com a gente. Nos ensinava técnicas de desenho e de pintura, e nos ajudava a desenvolver leitura crítica. Balzi intercalava os encontros no bairro com idas aos museus da cidade, como Pinacoteca, por exemplo”. Hoje, com 33 anos, Moisés conta que conheceu a arte na sua forma mais libertadora, diferente dos formatos engessados que estudou na ECA-USP, Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.

Durante os quatro anos em que estudou, Moisés viveu sua maior crise enquanto artista. Sendo um jovem negro, de periferia, a arte europeia, majoritariamente branca, não proporcionava identificação. “Existe uma prepotência, uma arrogância do ser professor de uma universidade pública para um aluno negro. Eles se deparam com uma deficiência, uma falha e aí a minha maior frustração era que essa insuficiência me impedia de desbravar junto [com os professores] esses temas. Eu os colocava na parede e dizia ‘olha, eu não tenho uma afinidade com o Expressionismo alemão. Onde estão as outras referências?’”. A resposta, segundo Patrício, era de que seu olhar estava condicionado. “Eles costumavam dizer ‘vem aqui, vou te ensinar’. Eu ficava naquele lugar de [ser] muito pequeno, sem crescimento”, critica.

Apesar disso, o cenário mudou, ainda que pouco, para melhor. De acordo com ele, nos últimos quatro anos surgiu um grupo de artistas e estudantes negros da instituição que, juntos, criaram o coletivo Opa Negra, que promove ações de empoderamento e valorização do saber negro. Depois de se reencontrar, ele voltou à ECA como palestrante e, a partir de junho, ocupará no Masp um espaço que já foi menos aberto ao não-branco.

Apesar de ter sido idealizada como uma série de 200 fotos, Aceita? evoluiu para algo mais. Hoje, Moisés planeja chegar às mil fotos e seguir contando. Ele explica que a série continua trazendo reflexões atuais e importantes à sua vida, e que, além disso, enquanto negro, criado na periferia, ele deseja ver sua mão envelhecer a cada novo clique.

Comodato com a B3 leva novidades ao acervo do MASP

Benedito Calixto, 'Porto de Santos', 1890. FOTO: Jorge Bastos

Uma ideia de muitos anos, segundo o assistente curatorial Guilherme Giufrida, acaba de ganhar forma e espaço no MASP. Um comodato, empréstimo por tempo determinado, com a B3, Bolsa de Valores de São Paulo (junção entre a BM&FBOVESPA e a Cetip) colocou no acervo do museu obras que estarão sob seus cuidados pelos próximos 30 anos. É o terceiro comodato acordado pela instituição desde que Heitor Martins assumiu sua presidência, em 2014.

Uma parte dessas obras podem ser vistas em exposição aberta no dia 14 de junho. Acervo em transformação: Comodato MASP B3 reúne 25 obras da seleção de 66 que foram selecionadas pelos curadores Adriano Pedrosa e Olivia Ardui. A curadora conta que a maioria delas vem dos escritórios da B3 em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Ao longo dos anos, todos os trabalhos foram catalogados, inclusive alguns foram expostos em áreas destinadas para exibição na Bolsa e foram cedidos para integrar exposições em instituições. Essa coleção já era sabida pela curadoria do MASP há alguns anos. “Acho que a B3 também estava nesse momento de transformação interna, com reforma do prédio. Então foi o contexto ideal para que eles também atentassem para a importância dessa coleção e de elas não serem apenas vistas pelos frequentadores do escritório da Bolsa”, conta Guilherme.

Além das obras de arte, o acervo da B3 conta com outros elementos como objetos de design e mobiliário, dentre outros. “Recebemos a lista do inventário da coleção e apontamos para algumas linhas que gostaríamos de ter”, explica Olívia. A partir daí, começaram a fazer visitas nos prédios da Bolsa com o departamento de restauro e de conservação. Algumas das obras estão, inclusive, sendo restauradas para serem exibidas posteriormente.

Para Guilherme, o comodato “preenche lacunas importantes de artistas que já existiam no museu e introduzem artistas que não estava contemplados no acervo”. A iniciativa trouxe novidades como Lygia Clark, Ione Saldanha e Abraham Palatnik. O comodato, como um todo, reúne nomes e obras expressivas da arte acadêmica, modernista e abstrata: além dos já citados, mais alguns deles são Edmund Pink, Benedito Calixto, Anita Malfatti e Emiliano Di Cavalcanti.

Neste ponto, como o próprio Guilherme pontua, o MASP tentou manter certo equilíbrio entre as escolas, com uma ênfase maior no modernismo, pois “é uma fase significativa da arte brasileira que tem algumas ausências no museu”, preenchidas com o comodato. Entretanto, o balanceamento permite que o público também veja expoentes da arte abstrata, “algo que não é tão comum nas exposições do museu, posto que os cavaletes têm um foco em arte figurativa ou com diálogo com a figuração”.

A exposição que comemora o comodato, em homenagem aos ex-conselheiros da BM&F e BOVESPA, fica em cartaz até 29 de julho. Apesar disso, já existe uma obra da coleção nos cavaletes. Em breve, outras também integrarão a exposição do 2º andar do Masp, fazendo parte da rotatividade do Acervo em Transformação.

 

O poético sensual em Cícero Dias

Cícero Dias, ‘Coqueiral’, déc 30

 

O imenso painel Eu vi o mundo… Ele começava no Recife não é para iniciantes. Neste trabalho, Cícero Dias, um dos nomes seminais da arte brasileira, traz um fluxo de energia em que mistura Eros e Tanatos, Freud e Proust, Casa Grande e Senzala, brisa e fogo dos canaviais, como multiplicidade heterogênea de um imaginário quase intransponível. Chama atenção no Salão de 1931, no Rio de Janeiro onde é considerada profusa, confusa, dramática, cheia de devaneios eróticos. Apesar dos ataques, a obra consolidou sua trajetória. Cícero Dias é considerado inexplicável. Não para Mário de Andrade, que ao descobri-lo logo o definiu: “Cícero possui uma personalidade surpreendente. Uma expressão formidável e seus valores psicológicos principais são a sexualidade, o sarcasmo e o misticismo”. Concordem ou não com Mário de Andrade, essa trilogia perpassa toda sua obra.

Um corte transversal na retrospectiva Cicero Dias, na Simões de Assis Galeria de Arte, em São Paulo, nos leva a reconhecer sua formulação criadora em pinturas, aquarelas e litografias, por meio de suas várias fases. Colecionar é uma convenção que traduz o fazer artístico, sentimento e anseio. Waldir Simões de Assis, além de galerista é colecionador e assina a curadoria da mostra. Amigo pessoal de Cícero Dias por várias décadas, conviveu com ele, cotidianamente, em Paris, quando ambos residiam na capital francesa. A exposição, aparentemente enxuta com 40 obras, toca em várias fases de Cícero Dias, abrangendo aquarelas e pinturas de 1920 a 1960 e litografias da série Suite Pernambucana. Waldir Simões, no texto do catálogo, lembra que Cícero Dias raramente dedicou-se às litografias. A primeira delas foi em 1933 quando ilustrou o livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. Em Lisboa, em 1944, produziu imagens para o livro Ilha dos Amores, de Os Lusíadas, de Luís de Camões e, em 1983, em Paris, produziu a Suite Pernambucana, adquirida por Waldir Simões.

Exposto lado a lado, esse conjunto de obras diferentes entre si faz conviver trabalhos de movimentos díspares. O Sonho Tropical, aquarela sobre papel, de 1929, pode ser uma ode à vida liberta, uma trilha poética non sense, uma exaltação ao não território. Em contraponto, Coqueiral de 1930, óleo sobre tela, retrata um cotidiano real, vivido em uma vila, com moradores dispersos em dupla ou em trio em posições determinadas. A sexualidade que transborda do imaginário de Cícero Dias parece se concentrar no Encontro no Canavial, de 1930. A cena, inusitada retrata uma mulher nua deitada sobre uma cama, em plena “rua” de um canavial, tendo à sua frente um cavaqueiro, suposto capataz, o todo poderoso da fazenda de cana de açúcar. Cícero se apropria do real, e sonha uma situação limite entre a força e a sexualidade.

 

Em Musicalidade, de 1940, óleo sobre tela desvenda sua chegada ao abstracionismo por meio de formas inspiradas no Recife, assim como o uso das cores impregnadas pela arquitetura local. A influência de Kandinsky se deixa transparecer em meio à luz tropical, coqueiros, bananeiras, como reminiscências já borradas. Alegria de 1970, traz de volta as tonalidades de Pernambuco, agora de forma mais intensa assim com os personagens mais rígidos. Entropia XII de 1960, óleo sobre tela é como águas tintas que o artista deixa escorrer pela tela. O crítico francês Pierre Restany diz que após um grande período abstrato e lírico das Entropias enegrecidas, que abrange o período dos anos 50 e os ultrapassa, o artista na metade dos anos 60 tem uma expansão da noção tropicalista, num retorno às origens da sensibilidade.

Cícero Dias nasce em 1907, no Engenho de Jundya, a 53 quilômetros de Recife, mora no Rio de Janeiro onde estuda pintura. Em 1927 faz a primeira exposição e no ano seguinte abandona a Escola de Belas Artes. Em 1937, cria o cenário do balé de Serge Lifar e Villa Lobos, expõe na coletiva de modernos em Nova Iorque, viaja a Paris, onde se fixa.

O modernismo manifesta-se em São Paulo, na Semana de 22 e espalha-se pelo Rio de Janeiro, por outras vias e climas. Na capital federal, na época, alguns artistas nascidos em outros estados brasileiros começam a chamar a atenção, entre eles Ismael Neri e Cícero Dias. O escritor Mario de Andrade logo se encanta com o imenso painel assinado por Cícero Dias, Eu vi o mundo…, considerado muito erótico para a época. Os dois artistas, escreve Mário, são completamente loucos. “Cícero Dias, mais dentro do sonho, ao passo que Ismael vive dentro de uma realidade, por assim dizer translata”. O crítico Roberto Pontual definia Tarsila como a telúrica, Ismael o poeta-filósofo, Cícero o lírico, “todos os três mergulhando sua característica mais forte num mesmo mar de ondas simbólicas impregnadas de sexualidade”.

Em meio à efervescência daquele momento, Cícero Dias conhece Di Cavalcanti, ligado ao movimento modernista, de quem se torna amigo. Di o incentiva a mudar-se para Paris, onde ele já morava. Ao chegar à capital francesa Cícero Dias participa da Revue D’Anthropologie, publicação muito importante na época, para qual escreviam vários intelectuais. Logo faz amizade com o poeta Paul Élouard, entra para o Grupo Espace e a seguir é convidado a expor na famosa galeria de Denise René. Nessa época se deixa seduzir pelo surrealismo.

Trabalhando no domínio da pura intuição Cícero Dias cria uma antropologia pessoal carregada de cor, luz e liberto à fantasia. Conquista seu espaço na capital francesa e, mais que isso, a amizade de artistas importantes como Picasso e frequenta sua casa e vice-versa. Seu trabalho evolui para uma espécie de combinação da intuição, do enigma e alguma narrativa seja surreal ou verdadeira.

Durante toda a sua vida tentou contextualizar sua obra com o seu tempo e, por isso mesmo talvez tenha sempre surpreendido os críticos com soluções enigmáticas. Roberto Pontual fala das opções contraditórias que cercaram Cícero Dias e da lógica interna de sua obra, enquanto o francês Philippe Dagen simplesmente o classifica como “inexplicável”.

Serviço
Cícero Dias
Local: Galeria Simões de Assis. Rua Sarandi 113 – A, Jardins – SP.

Período de visitação: até 04/08
Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Sábado das 10h às 15h. Fecha aos domingos e feriados.
Telefone: (11) 3062-8980

Grito e silêncio na fúria dos vulcões

NEOARTE - Soluções Fotográficas para o Mercado de Arte / www.neoarte.net

A fúria de um vulcão não intimida Manuela Ribadeneira, artista equatoriana residente em Londres; ao contrário, a instiga científica e artisticamente. De seu desafio sobre a associação entre fenômenos geológicos e sociais como corpo de nova pesquisa nasceu Ouça, exposição que toma todo o andar térreo da Casa Triângulo, até o dia 14 de julho próximo.

Tudo começou há dois anos quando Manuela foi a Armero, cidade colombiana, para conhecer de perto a chamada “Pompeia contemporânea”. Lá, em 1985 aconteceu a grande tragédia que matou a metade dos 50 mil habitantes soterrados nas lavas do vulcão Nevado del Ruiz. “Estar em Armero me impressionou muito ao conversar com as pessoas e saber que o desastre natural, logicamente, não poderia ser evitado, mas a tragédia poderia ter sido bem menor se houvesse um alerta sobre a erupção”.

O resultado desse mergulho no tempo transformou-se em uma mostra científico-poética, repleta de dinâmicas sociológicas, composta por escultura arquitetônica de grande escala, desenho topográfico direto na parede, conjunto de esculturas em vidro soprado, fotografias, vídeo e desenhos sobre papel, além de uma instalação sonora. Na opinião de Manuela, a emergência da história na sociedade contemporânea, rodeada de catástrofes naturais, sociais, econômicas, humanas, políticas, que podem ser previstas pelo homem, é cada vez maior. “A partir daí comecei a fazer investigações de textos científicos e encontrei alguns nos Estados Unidos em que se pode saber quando os vulcões vão entrar em erupção. Os cientistas gravam os sons que não são percebidos pelo ouvido humano, os comprimem para estudá-los e fazem uma representação de sons em barras, como aqueles que são mostrados em celulares quando gravamos algo como sound way. Queria muito trabalhar com os textos deles porque fazem metáforas de ritmos de instrumentos musicais”.  Temblores Armónicos III (Harmonic Tremors III) é um imenso desenho que cobre as paredes de uma das salas, realizado a partir da remoção da superfície pintada, onde Manuela cria um desenho topográfico e sonoro. “Uma instalação sonora”, define.  Ao percorrer a exposição, o visitante vai encontrando a memória da parede e do espaço e tem a noção do que está escondido. Aos poucos percebe os ritmos, os golpes sonoros, como um instrumento, se fazendo cada vez mais frequente e cada vez mais alto, até chegar a um ponto em que o vulcão grita. “Esta imagem não é minha, são os cientistas que fazem estes estudos que descrevem como um zumbido acompanhado de sons percussivos produzidos por um instrumento como um órgão ou uma combinação de instrumentos musicais tocados em frequências muito baixas. ” Estes são chamados de Tremores Harmônicos. A frequência e o tom desses tremores aumentam até o que soa como um grito. Quando a frequência atinge um nível altíssimo e não aguenta mais a pressão, ela fica quieta. São os trinta segundos de silêncio precedem a erupção. “Os cientistas encontraram este padrão de comportamento em alguns vulcões e pensam que, eventualmente, pode ser uma maneira de se prever uma catástrofe como a que se viu agora na Guatemala”.

Uma grande parede escultórica corta a galeria e exibe a palavra Ouça, que dá nome à exposição. É uma parede de sons, pode ser um convite, uma advertência, uma ordem, uma palavra que tem essa ambiguidade. Ainda nesta sala, pequenas esculturas sobre o piso exibem dedos de bronze apontando para diversas direções com o título de Los Culpables (The Guilty One) “São dedos de um braço de um santo colonial colombiano de terracota que eu tinha em minha casa em Quito. Durante um tremor de terra esse braço caiu no chão e os dedos se quebraram. Então os refiz em bronze. São chamados de Culpados, porque sempre que há uma catástrofe os deuses começam a culpar, não importa quem: `Você é o culpado`. ´Vocês são culpados´ e, assim por diante”.

A imagem-referência da erupção vulcânica é progressivamente decodificada como o elemento principal ao redor do qual todos os elementos da exposição orbitam, reaparecendo de diferentes formas ao longo da exposição. Os vidros soprados, expostos em uma vitrine, que formam uma instalação na segunda sala, representam os 30 minutos de silêncio do vulcão, que Manuela pediu para os artesãos cristalizarem. “Eles sopraram exatamente 30 segundos de ar, que formam uma partitura de silêncios. Essas formas, são formas de anotações musicais, uma pausa numa partitura, de trinta segundos”.

Na mesma sala, sobre a parede uma série de desenhos a tinta se referem à pesquisa histórica, assim como todo o seu trabalho. “Esta parte é histórico-científica, olhei muita pintura dos séculos 18 e 19 e de como representavam as erupções vulcânicas e então eu fiz minhas versões dessa representação”. São como anotações de cadernos, uma sequência de pequenos desenhos que formam uma única peça; me interessam as sequências, porque todas sequências são circunstanciais.

Uma foto desta sala mostra a imagem difusa de um homem suspenso no ar por um jato de água. “Essa peça eu tomei de uma fotografia que saiu na imprensa, feita por um fotógrafo durante uma manifestação política em Londres, no momento em que um caminhão tipo “brucutu” atinge um militante e o levanta: a foto mostra o momento antes dele cair no chão. Quis fazer uma relação como um golpe de uma coisa inesperada, como os policiais fazem nessas horas com suas mangueiras de água”.

Fecham a mostra dois diapasões usados para afinação de instrumentos musicais, chamados Harmonia e Dissonância. Uma metáfora de que, apesar de tudo, ainda podemos afinar os sons que nos rodeiam.

A Visita

A visita da escola no Instituto tome Tomie Ohtake foi um dos melhores passeios que eu já tive. Pela primeira vez eu conseguir ver obras de arte que são difíceis de se ver por aí, uma delas é do famoso e renomado pintor Pablo Picasso, uma lenda do mundo das pinturas, o nome dado a essa obra é ”Arlequim Sentado” ela entre todas foi a que mais me chamou a atenção.

A exposição do instituto tem muitas variedades de obras, entre elas havia obras de Salvador Dali, Cândido Do Portinari, entre outros gigantes do mundo da arte.

Quando nós chegamos no local, eu havia deduzido que o passeio seria muito entediante e sem graça, porém quando entendi a origem dos quadros e suas características, eu vi que aquele passeio seria algo bem especial para mim, pois eu nunca havia tido qualquer oportunidade semelhante a essa.

Não há palavras para explicar o sentimento de ver uma obra de Pablo Picasso na sua frente e ainda poder tirar foto da obra, é algo sem igual, resumindo, é uma experiência que eu irei guardar para sempre.

Uma parte do passeio que foi muito interessante, foi quando os funcionários do instituto exploraram nossa criatividade com músicas bastante exóticas e também explorando o nosso lado artístico, todos os alunos se arriscaram a fazer suas obras.

Em relação à estrutura da instituição, também é maravilhosa, com lojas de lembranças, mesmo a loja sendo pequena havia muitas lembranças interessantes. O passeio foi bastante interessante e inovador, porque eu nunca tive nada desse tipo na escola. Até a bagunça no fundo do ônibus foi muito legal, o passeio foi espetacular!

Veja sugestões de revisão do editor

Marcamos o que foi modificado

A visita da escola no Instituto tome Tomie Ohtake foi um dos melhores passeios que eu já tive.  Pela primeira vez eu consegui ver obras de arte que são difíceis de se ver por aí, uma delas é do famoso e renomado pintor Pablo Picasso, uma lenda do mundo das pinturas, o nome dado a essa obra é ”Arlequim Sentado” ela, entre todas, foi a que mais me chamou a atenção.

A exposição do Instituto tem muitas variedades de obras, entre elas havia obras de pintores como Salvador Dali, Cândido Do Portinari, entre outros gigantes do mundo da arte.

Quando nós chegamos no local, eu havia deduzido que o passeio seria muito entediante e sem graça, porém, quando entendi a origem dos quadros e suas características, eu vi que aquele passeio seria algo bem especial para mim, pois eu nunca havia tido qualquer oportunidade semelhante a essa.

Não há palavras para explicar o sentimento de ver uma obra de Pablo Picasso na sua frente e ainda poder tirar foto da obra, é algo sem igual, resumindo, é uma experiência que eu irei guardar para sempre.

Uma parte do passeio que foi muito interessante, foi quando os funcionários do instituto exploraram nossa criatividade com músicas bastante exóticas e também explorando o nosso lado artístico. Todos os alunos se arriscaram a fazer suas obras.
Em relação à estrutura da instituição, também é maravilhosa, com lojas de lembranças, mesmo a loja sendo pequena havia muitas lembranças interessantes. O passeio foi bastante interessante e inovador, porque eu nunca tive nada desse tipo na escola. Até a bagunça no fundo do ônibus foi muito legal, o passeio foi espetacular!

Visita Ao Instituto Tomie Ohtake

No dia 25 de maio de 2018 visitei o Instituto Tomie Ohtake, onde vi muitas obras interessantes e legais, foi lá onde eu vi pela primeira vez as obras dos pintores famosos como Salvador Dalí, Henri Matisse, Candido Portinari entre outras obras espetaculares. Uma das obras que eu achei mais interessante foi a de Candido Portinari. O nome da obra é “O lavrador de café” onde me inspirei bastante e ao mesmo tempo vi uma realidade, um homem negro segurando uma enxada de capinar e me parecia que ele estava descansando depois de uma bela capinada. Essa pintura me contagiou bastante, mas falando sobre o Instituto Tomie Ohtake o lugar é lindo, quando você entra lá você se sente com vontade de saber sobre as pinturas, você fica completamente curioso pela arte e sem falar que os educadores são muito bons, te dão atenção, te explicam bem e você aprende mais sobre a arte.

Gostei bastante de conhecer esse belo lugar, vi culturas diferentes, eu tive a chance de desenhar com os meus colegas de classe, expressar o que eu vi em uma obra, foi uma experiência diferente, divertida e ao mesmo tempo uma experiência de aprendizagem.

Tenho que dizer que eu não sou um menino que gosta de pinturas, quando cheguei ao Instituto pensei “Ah, isso vai ser um tédio, nem de pinturas eu gosto”. Mas eu vi o porque eu não gostava de pinturas, pelo simples fato de só vê-las sem ás conhecer, mas depois que eu entrei naquela sala, olhei aquelas pinturas e o educador falando, eu já falei na hora pros meus colegas ”Cara, isso é bem legal, to começando a gostar”. Foi como uma chave para abrir a minha mente para aprender coisas novas.

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Marcamos o que foi modificado

No dia 25 de maio de 2018 visitei o Instituto Tomie Ohtake, onde vi muitas obras interessantes e legais. Foi lá que vi onde eu vi pela primeira vez as obras de dos pintores famosos como Salvador Dalí, Henri Matisse, Candido Portinari entre outras obras espetaculares. Uma das obras que eu achei mais interessante foi a de Candido Portinari. O nome da obra é “O lavrador de café”, onde me inspirei bastante e ao mesmo tempo me deparei com vi uma realidade, um homem negro segurando uma enxada de capinar e me parecia que ele estava descansando depois de uma bela capinada. Essa pintura me contagiou bastante. mas Falando sobre o Instituto Tomie Ohtake, o lugar é lindo. Quando você entra, você se sente com vontade de saber sobre as pinturas, você fica completamente curioso pela arte e, sem falar, que os educadores são muito bons, te dão atenção, te explicam bem e você aprende mais sobre a arte.

Gostei bastante de conhecer esse belo lugar, vi culturas diferentes, eu tive a chance de desenhar com os meus colegas de classe, expressar o que eu vi em uma obra, foi uma experiência diferente, divertida e ao mesmo tempo uma experiência de aprendizagem.

Tenho que dizer que eu não sou um menino que gosta de pinturas, quando cheguei ao Instituto pensei “Ah, isso vai ser um tédio, nem de pinturas eu gosto”. Mas eu vi o porque eu não gostava de pinturas, pelo simples fato de só vê-las sem as conhecer. mas Depois que eu entrei naquela sala e olhei aquelas pinturas e o educador falando, pensei e eu já falei na hora pros meus colegas ”Cara, isso é bem legal, estou começando a gostar”. Foi como uma chave para abrir a minha mente e para aprender coisas novas.

 

Expectativa X Realidade

No início, eu achei que nós iriamos somente visitar o instituto Tomie Ohtake e ver as obras artísticas que haviam lá, mas foi algo muito mais extraordinário. Primeiramente, fomos olhar a obra de Pabllo Picasso, Robert Delaunay e de muitos outros. Vimos a mensagem que cada um quis passar e percebi que todos eles tinham uma forma única de se expressar. Isso foi me deixando cada vez mais intrigado.

O artista que mais me interessou, foi o Robert Delaunay, com a obra La Tour Eifeel.

As cores e a forma que ele pintou, foi única e especial, fazendo com que o tamanho e a beleza da torre, fossem destacados. Até que fomos à uma sala realizar atividades artísticas. Então me perguntei, quais são essas atividades e por que? Foi onde percebi, que não eram só atividades, mas algo muito mais especial, que não há palavras para descrever, apenas tinta e pincel. Foram colocadas três músicas, cada uma distinta da outra, mas ambas faziam com que a pessoa que estivesse escutando, sentisse seu próprio interior.

Portanto, mandaram fechar os olhos e sentir seu corpo, não se importando com as pessoas ao seu redor. Então, colocaram uma música que mexeu muito comigo. Me senti calmo e feliz no começo, como se eu estivesse em um bosque onde tinha apenas o som do vento batendo nas folhas e o piar dos pássaros, mas depois me senti triste e com raiva, como se uma tempestade estivesse dominando o bosque.

Depois das outras duas músicas, os tutores pediram para desenhar tudo o que sentimos ao ouvi-las, então peguei o pincel e comecei a desenhar. Foi como se o pincel deslizasse na tela, deixando todos os meus sentimentos em um papel. Essa experiencia foi uma das mais especiais que já tive. Não fomos apenas aplaudir e contestar a arte de artistas importantes para a história artística, mas tivemos atividades que nos auxiliaram a descobrir nosso próprio interior e a expressar nossos sentimentos da maneira que queremos.

A Arte não é apenas uma pintura, uma escultura ou uma dança bonita, é uma forma de colocar tudo o que sentimos para fora e mostrar às pessoas um outro modo de ver tudo ao nosso redor.

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No início, eu achei que nós iriamos somente visitar o instituto Tomie Ohtake e ver as obras de arte artísticas que estavam lá expostas , mas foi algo muito mais extraordinário.

Primeiro, Primeiramente, fomos olhar as obras de Pablo Picasso, Robert Delaunay e de muitos outros. Vimos a mensagem que cada um quis passar e percebi que todos eles tinham uma forma única de se expressar. Isso foi me deixando cada vez mais intrigado.

O artista que mais me interessou foi o Robert Delaunay, com a obra La Tour Eiffel.

As cores e a forma que ele pintou, foi única e especial, fazendo com que o tamanho e a beleza da torre, fossem destacados. Na sequência Até que fomos à uma sala realizar atividades artísticas. Então me perguntei, quais são essas atividades e por que? Foi então que onde percebi, que não eram só atividades, mas algo muito mais especial, que não há palavras para descrever, apenas tinta e pincel. Foram colocadas três músicas, cada uma distinta da outra, e mas ambas faziam com que a pessoa que estivesse escutando, sentisse seu próprio interior.

Nos pediram para Portanto, mandaram fechar os olhos e sentir nosso seu corpo, não nos se importando com as pessoas que tínhamos ao nosso seu redor. Então, colocaram uma música que mexeu muito comigo. Me senti calmo e feliz no começo, como se eu estivesse em um bosque onde tinha apenas o som do vento batendo nas folhas e o piar dos pássaros, mas depois me senti triste e com raiva, como se uma tempestade estivesse dominando o bosque.

Depois das outras duas músicas, os tutores pediram para desenhar tudo o que sentimos ao ouvi-las, então peguei o pincel e comecei a desenhar. Foi como se o pincel deslizasse na tela, deixando todos os meus sentimentos em um papel.

Essa experiência foi uma das mais especiais que já tive. Não fomos apenas aplaudir e contestar a arte de artistas importantes para a história da arte artística, e sim também mas para experimentar tivemos atividades que nos auxiliaram a descobrir nosso próprio interior e a expressar nossos sentimentos com liberdade. da maneira que queremos.

A Arte não é apenas uma pintura, uma escultura ou uma dança bonita, é uma forma de colocar tudo o que sentimos para fora e mostrar às pessoas um outro modo de ver tudo, ao nosso redor.

 

Erick Jay: O DJ brasileiro duas vezes campeão mundial

Erick Jay_Creditos_Rafael Berezinski
Erick Jay_Creditos_Rafael Berezinski

Em 2016, Erick Jay (Erick Garcia) entrou para a história da discotecagem americana como o primeiro latino-americano (e brasileiro) a consagrar-se, no mesmo ano, vitorioso nos dois maiores campeonatos de DJs do mundo, o DMC World e o IDA World Technical Category.

Hoje, com 35 anos, o DJ representa o Brasil nos mais variados campeonatos ao redor do mundo. O mais recente foi o grande campeonato da Oceania, que aconteceu em Auckland, na Nova Zelândia.

Além das competições, Jay atua como DJ oficial do programa Manos e Minas, um show com plateia que tem como principal objetivo televisionar temas ligados a cultura do hip-hop, rap, funk, reggae e samba. Há 25 anos no ar, o show dirigido por Marcelo Costa integra a grade da TV Cultura e é exibido todos os sábados às 20h15.

O DJ também faz parte do projeto Laboratório Fantasma, um coletivo que produz e vende peças de roupa que, entre muitas coisas, promove artistas do hip-hop e do cenário urbano-periférico. “O Kamau faz parte do Laboratório Fantasma, portanto, quando o coletivo fecha algum show ou evento, eu toco junto. Estou junto com o Kamau desde 2008. É uma parceria da hora”, conta.

Como surgiu o DJ Erick Jay? 

Bom, eu comecei bem cedo, em 1991, quando tinha 11 anos. Comecei a ir para os bailes black e house da época. Mas foi em 1996, quando fui para o Projeto Radial. Eu ficava perto da cabine dos DJs, via como eles conduziam a pista e ficava admirado. Foi ali que comecei a me interessar pela arte da discotecagem e anos depois comecei a tocar nas festas dos amigos, em casamentos, etc.

Sempre estive ligado à música. Já veio de casa, quando meu pai ouvia as músicas dele. Na época, ele tinha uma pequena equipe de DJs com uns amigos. Meu pai tinha vários discos e fitas K7. Eu cresci ouvindo as músicas que ele gostava.

O programa Manos e Minas é um ícone da programação da TV Cultura, como chegou até ele? 

Fui convidado pelo Rappin Hood, devido ao falecimento do nosso grande irmão, DJ Primo, no ano de 2008 e estou lá até hoje. Para mim, é uma grande honra fazer parte do único programa dedicado à cultura Hip Hop da América do Sul e talvez do mundo. A produção me dá muita liberdade para eu fazer meu trabalho da melhor forma possível.

Estar no programa foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida, mudou tudo. O programa me deu mais visibilidade, conheci várias pessoas especiais. É um orgulho muito grande faze parte da família Manos e Minas.

Muitas áreas estão em crise. Como DJ, você sente que a crise chegou também para a música? Qual sua avaliação sobre a cena paulistana? 

Quem está em crise são as pessoas que não sabem diferenciar música boa de ruim. O Brasil é muito rico em sua cultura musical, mas a mídia tradicional, na maioria das vezes, não mostra as coisas boas, mas sim o que “eles” escolhem e que nem sempre é algo legal ou que irá somar. A cena paulistana e brasileira estão muitos boas, bastante bandas, músicos independentes talentosíssimos que só precisam de oportunidades.

Falando dos seus títulos, como foi a experiência durante o DMC World e o IDA World? O que sentiu quando soube que havia conseguido os dois títulos? 

Foi demais! Dois momentos sensacionais na minha vida, dois títulos mundiais em instituições diferentes e ainda sendo o primeiro da América do Sul a conseguir este feito [no mesmo ano]. Quando ganhei o DMC (Disco Mix Club), a ficha só caiu 3 dias depois. Foi incrível a repercussão, nunca imaginei ser tão querido assim. Ver pessoas que sou fã compartilhando minha fotos, me ligando, alguns emocionados… Foi demais. No IDA – (Internacional DJ Associação), foi muito bom também. Foi um pouco mais difícil por falta de patrocínio, mas extremamente motivador graças aos meus amigos e parceiros que me ajudaram muito.

Sendo um DJ negro, eu imagino que tenha enfrentado o racismo em muitas ocasiões. Como você busca lidar com o preconceito? Tem algum caso especifico que gostaria de compartilhar? Se sim, fique à vontade! 

Infelizmente, temos que lidar com isso ainda. Como diria Criolo “uns preferem morrer ao ver um negro vencer”. Quando o assunto é preconceito, o Brasil é especialista. Se o preto for um jogador, cantor ou artista, não vai ser igual aos outros. Sofri com preconceito em 2012, na Polônia, quando fui representar pela primeira vez o Brasil no mundial IDA World. As pessoas me olhavam com desprezo no aeroporto, no mercado. Confesso que fiquei um pouco surpreso inclusive, porque a história da Polônia foi marcada com preconceito e discriminação também. Mas não me abalei. Em 2016, voltei e foi diferente. Ainda bem. Como sou um brasileiro negro, já estou calejado com isso e cada preconceito que sofria era mais uma motivação para minhas conquistas.

E por fim, mas sempre importante lembrar, o que diferencia um produtor de um DJ?

Como o próprio nome diz, produtor só produz músicas, não faz nenhum tipo de performance etc. A maioria dos DJs produzem e tocam porque já dominam a arte dos toca-discos.

 

33ª Bienal de São Paulo: Artistas-Curadores

Wura-Natasha Ogunji, Generators, 2014

Com Wura-Natasha Ogunji, não há distância entre projeto e ação, tampouco entre pensar e se deslocar, mesmo que seja entre continentes. Morando em Austin e Lagos, a afro-americana é uma das artistas mais ativas de sua geração. Atua simultaneamente em várias frentes artísticas e em dois países: Estados Unidos e Nigéria. Ela faz parte do movimento da primeira geração de artistas visuais da diáspora africana.

Performer, desenhista e vídeo artista, aos 48 anos, vai atuar como artista curadora no projeto Sempre, Nunca na 33ª Bienal de São Paulo que abrange exclusivamente obras comissionadas. São seis artistas convidadas por ela: a sul africana Lhola Amira, a francesa Mame-Diarra Niang, a norte-americana Nicole Vlado, a nigeriana Ruby Onyinyechi Amanze e a libanesa Youmna Chlala que se juntam a ela em um processo curatorial colaborativo e horizontal. A produção dessas artistas “concilia aspectos íntimos, como o corpo, a memória e gestos épicos, como a arquitetura, a história e a nação”, explica Wura-Natasha.

“Nossos projetos individuais abarcam práticas e linguagens distintas, que convergem em ideias e questões cruciais para a experimentação, a liberdade e o processo criativo”, conta. O trabalho dessas artistas é afetado por suas histórias individuais e pelas complexas relações que mantêm com sua origem. “Suas obras quebram as narrativas hegemônicas”, comenta a artista curadora.

Wura-Natasha Ogunji, Generators, 2014
Wura-Natasha Ogunji, Generators, 2014

Ao lançar mão de todos os suportes disponíveis, Waru-Natasha faz, criticamente, o uso do bordado, atividade quase exclusivamente feminina, para criar comentários sobre a sociedade contemporânea nigeriana e destaca o papel das mulheres formadoras de uma crítica cultural. Impressionada pela maneira como os nigerianos negociam usando pouca ou nenhuma palavra e como simples gestos incitam ações, ela tenta demonstrar em sua obra o que não é dito. Esses trabalhos com cenas complexas e oníricas executados em papel, parecidos com pano, revelam desenhos delicados que parecem etéreos.

Artista múltipla e circunstancial, Wura-Natasha inventa vários sujeitos que se justapõem no mesmo cenário. Seus trabalhos têm uma relação com o real, mas estão ligadas ao desejo que habita o mundo das experiências. A magnitude de suas performances se expressa pela fisicalidade, resistência, gestos do corpo e a relação com o espaço geográfico, assim como a memória e a história. O movimento do corpo tem o poder de evocar os sentidos com uma finalidade que os transcende. Wura-Natasha em algumas atuações destaca a relação entre o corpo e o poder social, investigando como as mulheres, em particular, ocupam o espaço por meio de ações épicas ou comuns. Seus trabalhos incluem desenhos, vídeos e apresentações públicas e as pesquisas mais pertinentes discutem a presença de mulheres no espaço público em Lagos. Uma de suas performances mais conhecidas, Sweep, foi originalmente realizada durante sua primeira visita à Nigéria. Esse trabalho já foi realizado em vários países, aprofundando seu pensamento sobre a presença de mulheres dentro dessas sociedades e explorando a noção de identidade, pátria e diáspora. Nessa busca de presença contínua, Waru-Natasha se atém aos direitos das mulheres por vivenciá-los em duas sociedades diferentes. Uma de suas exposições foi acompanhada de um folder lembrando Angela Davis, em 1985, quando afirma: “Existem paralelos marcantes entre a violência sexual contra mulheres e a violência colonial contra pessoas e nações”.

A forte presença de Wura-Natasha na Bienal de São Paulo, com certeza será inspiradora, em um momento sombrio em que a impunidade para os assassinos de Marielle, também uma afro descendente atuante, continua sem prazo para uma solução, conforme tem demonstrado a justiça brasileira.