Lucas Dupin, Sem título, Série 7 performances para a Pça. do Patriarca, 2018. FOTO: Alessandra Haro

Um homem atrai os pombos da Praça do Patriarca jogando comida para eles. Deixa que se aproximem. Quando se forma um bom grupo de aves em volta dele, solta uma bombinha para dispersá-los. Esse roteiro é o que conduz um vídeo-performance sem título que é exibido na exposição Rés do Chão, de Lucas Dupin, na galeria Lume até 28/7.

“A mão que afaga é a mesma que apedreja”, o artista usa verso icônico de Augusto dos Anjos para resumir a ideia por trás da performance citada. Ela é uma das sete que ele preparou para executar na Praça do Patriarca, em São Paulo. Natural de Belo Horizonte, o artista já perambulou bastante pelo Brasil e pelo mundo para estudar arte e participar de residências. Dupin foi vencedor do 2º Prêmio Energias da Arte, dado pelos institutos Tomie Ohtake e EDP. Participou de residências no Canadá, no Reino Unido e mais recentemente na FAAP, em São Paulo.

Os trabalhos apresentados na exposição na Lume são resultado de vários processos de Lucas ao longo dos anos. Apesar de terem contextos que remetem ao tema urbano, não foram pensados em um contexto grupal para a exposição. “Não tinha a intenção de fazer uma retrospectiva, tampouco de pegar um tema”, comenta e continua: “Depois pensei e vi que tinha tudo a ver como chão, com esse olhar para baixo”, diz.

Lucas Dupin, Jardins Suspensos, 2015-2018

Lucas também afirma que gosta de ouvir o que suas obras dizem: “Eu não faço nenhum projeto a partir de uma premissa, é sempre a partir de um processo de diálogo, de escuta. Por isso, tem trabalhos de inúmeras linguagens, inúmeros formatos e inúmeros assuntos”. Para ele, é uma dificuldade no mundo de hoje, onde as coisas têm que encaixar de forma muito fácil.

Acabou vendo, então, a intersecção entre os trabalhos que tem anos de distância a partir da execução e caiu em um texto de Antônio Cândido. Em A vida ao rés do chão, o sociólogo e crítico literário que completaria 100 anos em 2018, comenta a duração do gênero crônica, que estaria sempre “ao rés do chão”, por ser transitória e tratar de temas comuns.

Assim, Dupin chegou ao título da mostra e declara o quão próximo de uma crônica sua exposição e todo o seu trabalho de pesquisa são: “Me interessa justamente tomar aquilo que é o mais banal e prosaico possível, deslocar e lançar um outro olhar. Gosto de levar as coisas para um outra lugar”.

Desenhos de estalinhos estourados no chão e mesmo fotografias de elásticos de jornais lançados na rua são algumas dessas coisas simples que Lucas coloca em outra perspectiva. Na obra mais falada da exposição, Jardins Suspensos, ele cultiva entre os vãos das pedras portuguesas pendentes plantinhas intrusivas que retirou da calçada em frente à galeria.

“Apesar de ser Rés do Chão, de ter essa proposta de olhar para baixo, os trabalhos têm a dimensão do tempo, da permanência”, diz. Isso porque o artista está sempre buscando a marca do tempo nos objetos que usa para seus trabalhos, seja nos restos de calçadas de pedras portuguesas, populares no século 19, ou na duração do processo de feitura da obra, como pintar bituca por bituca de cigarro em aquarela. É desta forma que o artista mostra que o cotidiano banal ainda importa para a arte.

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