Indígena do povo Guarani, caminha em meio a floresta durante a noite, para combater o incêndio próximo a Aldeia Tekoa Itakupe na Terra Indígena Jaraguá, na zono oeste de São Paulo capital, 2020. Foto: Felipe Beltrame.
Indígena do povo Guarani, caminha em meio a floresta durante a noite, para combater o incêndio próximo a Aldeia Tekoa Itakupe na Terra Indígena Jaraguá, na zono oeste de São Paulo capital, 2020. Foto: Felipe Beltrame.

É inegável, mesmo para aqueles que fingem não ver, que o fotojornalismo está cada vez mais reassumindo seu lugar de destaque no mundo midiático e contemporâneo, como uma linguagem fundamental para a compreensão e reflexão do mundo. Passada a fase das “modinhas” estéticas, o fotojornalismo na sua aparente mudez se reapresenta e apresenta sua eloquência e sua força avassaladora. 

A fotografia como evidência histórica, como afirma o pesquisador Boris Kossoy: “Dentre as diferentes modalidades de informação transmitida pelas mídias, as imagens, em geral, constituem um dos sustentáculos da memória”. A fotografia jornalística traz para a história o conhecimento do cotidiano, da experiência das pessoas comuns. Se torna crítica da sociedade e, sem dúvida, causa impacto na reconstrução histórica. Elas são criadas para comunicar, querem nos contar alguma história. 

Um exemplo disso que estamos refletindo é a exposição TURI, sobre as queimadas que vem sistematicamente destruindo nossas florestas e biomas.

Imagens que se fazem necessárias neste mundo tão devastado, tão ferido e, por que não, desesperado. A Terra pede socorro! Nesta terra onde o meio ambiente, o habitat é cada vez mais desrespeitado, onde a cada dia somos inundados por notícias de tragédias climáticas, a ARFOC (Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado de São Paulo) nos traz uma exposição que, de forma sensorial, nos apresenta o desastre anunciado: as queimadas e a devastação das nossas florestas.

A ideia começou a ser desenvolvida quando a ARFOC foi convidada a participar do Festival de Fotografia de 2021, em Paranapiacaba. O tema daquele ano era água, mas eles ofereceram a outra ponta do problema, as queimadas, conforme nos contou o presidente da Associação Toni Pires. Tomaram conta de uma das casas da cidade e montaram uma exposição onde várias linguagens se misturavam, de fotografias, a vídeos, até gravações de sons: “A ideia era que as pessoas mergulhassem na tragédia desta devastação.”, relata Pires. É trazer para a visibilidade sensorial o que permanece muitas vezes distante, mediado por uma tela de computador ou televisão. Sair das imagens que escorregam para enfrentarmos imagens que nos tocam, que nos desafiam.

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em seu livro A Salvação do Belo, nos propõe este desafio de sairmos de uma estética lisa, sem rugosidades, sem sobressaltos, sem ruídos, ou seja plana e sem afetividade para recuperamos as imperfeições, o espanto, a indignação. Sairmos dos likes das redes sociais para recuperar o valor da experiência. 

Assim é a exposição TURI, que em tupi-guarani significa fogo e todo seu saber ancestral. Nela, apresenta-se uma coletiva de 24 fotógrafos que, em diferentes épocas, registraram a destruição do ecossistema brasileiro: Amazônia Legal, Pantanal, Mata Atlântica. Profissionais da imprensa, agências internacionais, ativistas, documentaristas e fotógrafos independentes. Olhares com intencionalidades diversas. Narrativas históricas que se complementam e que se tornam, de certa forma, uma narrativa única.

A mostra teve a curadoria da própria ARFOC, que trouxe para o centro de São Paulo, na Odisseia Casa Cultural, luzes, cores, gritos, que de alguma forma nos tiram da anestesia para nos ajudar a entrar em outro universo. As fotografias de jornalismo que abandonam seu lugar de sagrado e se misturam – ampliadas em papel, tecido, ou qualquer outro suporte que se faça necessário – para uma comunicação mais efetiva. Como nos lembrava a pesquisadora francesa Martine Joly: “Somos consumidores de imagens; daí a necessidade de compreendermos como a imagem comunica e transmite suas mensagens; de fato não podemos ficar indiferentes a uma das ferramentas que mais dominam a comunicação contemporânea”. 

Serviço

Onde: Odisseia Casa de Cultura 
- Alameda Min. Rocha Azevedo, 463 – Cerqueira César
Quando: Até 5 de junho de 2022
Aberto para visitação: quintas e sextas-feiras – das 16h às 20h; sábados e domingos – das 14h às 19h
Entrada franca

 

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