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Acho que a pedagogia é importante porque temos que retreinar
nossos sentidos sobre o que vemos, como ouvimos, como
cheiramos, como mudamos nossos sentidos, porque todos nós
’’
temos uma educação estratégica para servir ao capital. Precisamos
dizer de forma diferente, olhar de forma diferente e ouvir de forma.

FRANÇOISE VERGÈS

liberdade não ocorrem necessariamente em um rápido voltamos ao normal. Então, é esse movimento
museu ou em uma bienal. de imaginação radical que temos que encarar agora.

Mas ao menos a documenta apontou que há Temos que desaprender...
possibilidades... Sim! É tão difícil, sabe? A certa altura, fiz um exer-
Sim, há possibilidades. Mas, na verdade, o que eu cício sobre o que seria um museu decolonial há
quero dizer é que é preciso dar às pessoas o poder quatro anos. A resposta foi: vamos mudar o texto.
de efetivamente agarrar e fazer o que elas quiserem. Eu disse não, porque é claro que podemos trazer
Sugeri a um amigo em Paris que fizéssemos uma mais diversidade e textos diferentes, mas ainda será
bienal do bairro com as pessoas daquele bairro. É a mesma arquitetura. A casa principal tem que ser
preciso começarmos com as pessoas, os vizinhos demolida. Para mim a questão da arquitetura é muito
serão a equipe de curadoria e trabalharemos com elas. importante porque vejo que todo espaço público
Pode ser que saibamos também a melhor maneira está sendo projetado de forma que quando você
de fazer isso ou aquilo, mas podemos trabalhar entra você sabe onde está entrando e se comporta
juntos. Esse seria o tipo de bienal, tudo a partir dos como se espera que se comporte naquele espaço.
moradores de um bairro. É a ditadura da arquitetura.

Ao mesmo tempo, há uma espécie de paradoxo no Em seu livro você cita a Pedagogia do Oprimido,
trabalho com arte, já que na Ocupação 9 de Julho de Paulo Freire, como uma ferramenta para se
o que eles colocam dentro da galeria Reocupa é, desaprender...
de alguma forma, uma arte convencional, com Sim, acho que a pedagogia é importante porque
molduras... temos que retreinar nossos sentidos sobre o que
Na verdade, é para esse debate que eu vou. Nun- vemos, como ouvimos, como cheiramos, como
ca fomos representados, nossas vozes não foram mudamos nossos sentidos, porque todos nós temos
ouvidas, então vamos participar, mas aí o modelo uma educação estratégica para servir ao capital.
é tão hegemônico que acabamos fazendo o que foi Precisamos dizer de forma diferente, olhar de forma
feito antes, apenas mostrando coisas diferentes na diferente e ouvir de forma. Então é necessária uma
parede. No final não sabemos fazer nada diferente. pedagogia no sentido de que reaprender, desapren-
Então é aqui que quero que estejamos agora: o que der e aprender novamente é necessário. Precisamos
faremos. Queremos mostrar algumas lembranças e ouvir uns aos outros. No workshop eu digo que não
como vamos fazer? Se estamos caindo novamente há ideias estúpidas. Se uma ideia é muito simples,
no modo ocidental, isso é compreensível, afinal talvez possamos fazer de uma maneira diferente, ou
temos feito este trabalho por um tempo, haverá depois de uma longa discussão concluímos que não
alguma ideia da tradição ocidental que tomaremos funciona e abandonamos essa ideia, mas então se
emprestada. Mas precisamos libertar nossa mente abandonarmos sabemos por quê. Significa que não é
disso. Tenho trabalhado muito com artistas e faço a ideia que será mais importante, mas a forma como
workshops coletivos. Sempre percebemos o quão decidimos é que precisa ser a chave do processo.

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