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BIENAL DAS AMAZÔNIAS MUSEU EMÍLIO GOELDI
Souza Lima (2020) construiu a história de vida
de uma urna marajoara que foi historicamente
individualizada e descontextualizada
’’
(SOUZA LIMA, ET AL., 2020)
estamos enquanto sociedade na busca de uma nova Pará) desenvolveu uma pesquisa de forma a reconectar
definição de museu que se enquadre melhor a este con- urnas funerárias com os remanescentes humanos, e
texto. A consulta pública à comunidade museal mundial aos contextos em que foram originalmente encontradas
expressa um vislumbre deste novo lugar dos museus, (SILVA et al., 2021). Aqui (no MPEG), os corpos cerâmi-
agora e para o futuro. A nova de definição de Museu, cos estão sendo reunidos aos seus corpos biológicos
aprovada em Praga em 2022, expressa bem essa ideia: (osteológicos), devolvendo a individualidade de cada
“Um museu é uma instituição permanente, sem fins um destes sujeitos Maracá que hoje habita a reserva
lucrativos e ao serviço da sociedade que pesquisa, técnica”. (PR: Aqui a dra. Helena se refere a uma das salas
coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio especiais construídas no museu, fechada ao público,
material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis devidamente climatizada, proibida de ser fotografada,
e inclusivos, os museus fomentam a diversidade e a onde mais de 200 urnas funerárias, estão expostas sobre
sustentabilidade. Com a participação das comunidades, uma plataforma e, embaixo, em gaveteiros catalogados,
os museus funcionam e comunicam de forma ética e jazem os restos osteológicos referentes a cada uma”
profissional, proporcionando experiências diversas para (...) “Com as cerâmicas marajoaras, a abordagem
educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimentos. rendeu importantes reflexões sobre a dispersão, ou
(ICOM, 2022) êxodos, de enormes coleções do Marajó distribuídas
(...) “A curadoria arqueológica é, por definição, um por vários museus, bem como sobre o ato de exibir
campo investigativo interdisciplinar. Ela integra arqueo- estes itens funerários para o grande público.” (...) Neste
logia, museologia, conservação, educação e outras mesmo contexto, Simas nos provoca a refletir sobre
áreas, para nós, de salvaguarda, pesquisa, ensino e questões complexas relacionadas com a conservação
divulgação de acervos. Saliento que a curadoria é tam- e gestão dessas coleções, doações e descontextuali-
bém potencialmente um campo fértil para a pesquisa zação de acervos, políticas de empréstimo e partilha
intercultural. E é esta a ideia, a de fertilização interdis- de coleções de objetos formados por fragmentos ao
ciplinar e intercultural da curadoria arqueológica, que cuidado de diferentes instituições.” (IDEM).
pretendo abordar neste texto. O foco de reflexão se situa Souza Lima (2020) construiu a história de vida de
nas inter-relações entre comunidades, materialidades, uma urna marajoara que foi historicamente individua-
e as coleções arqueológicas musealizadas.” lizada e descontextualizada (SOUZA LIMA, et al., 2020),
(...)“Com vistas a “acordar” os objetos na reserva bem como analisou o processo de reprodução de sua
técnica à novas possibilidades de geração de conhe- imagem em diversos suportes no Marajó e a feitura de
cimento, os estudos para reconexão de acervos (tri- uma réplica artesanal dela na reserva técnica (SOUZA
dimensionais e documentais) e sujeitos têm guiado LIMA, 2023). De fato, a proposta de construir histórias
nossas iniciativas enquanto diretriz para pesquisa e de vida (de pessoas e de objetos, ambos entendidos
gestão. Para as urnas funerárias Maracá, Lucas Silva, como sujeitos) a partir do acervo tem mostrado um
aluno de museologia da UFPA (Universidade Federal do enorme potencial.
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